segunda-feira, 18 de junho de 2018

Vão privatizar o Brasil?

Por Maurício Dias, na revista CartaCapital:

A sanha privatizante no Brasil, a de ontem, a de hoje ou a de amanhã, tem sido tão somente, muitas vezes, serviço patrocinado vindo d’além-mar. Lá de fora sempre se ganha mais do que se perde. Assim vão comendo o País em fatias.

Comeram a Companhia Siderúrgica Nacional. A Companhia Vale do Rio Doce, uma das maiores mineradoras do mundo, criada pelos ingleses, foi estatizada por Getúlio Vargas, em 1942, e tornou-se uma das maiores mineradoras do mundo. Foi privatizada em 1997, vendida a preço de banana.

Michel Temer trilhou esse caminho. Chegou a anunciar um pacote de 25 concessões e privatizações. Não foi tão longe. Enfrentou resistência interna e luta, com poucas chances, para privatizar a Eletrobras. Antes dele, Fernando Henrique Cardoso assumiu o poder e prometeu acabar com a “Era Vargas".


A ameaça mais tenebrosa feita por FHC foi a de privatizar a Petrobras. Privatizada passaria a se chamar Petrobrax. Um jeitinho de o governo atrair interesse externo. Como acontece ainda agora com a fabulosa descoberta do pré-sal.

Shell, ExxonMobil, Chevron, BP Energy, Petrogal e Statoil foram vencedoras da quarta rodada de licitação do pré-sal. A Petrobras foi derrotada no leilão de duas áreas. Levantou 3,15 bilhões de reais abaixo do valor mínimo estipulado pelo governo Temer.

Mas o Brasil apoia a privatização do País? Há sintomas diferentes. E não é de agora. Em 1978, o Ibope ouviu cem empresários do Rio de Janeiro para uma avaliação a respeito do governo do general Ernesto Geisel, o penúltimo da ditadura. Duas respostas da pesquisa (ver tabela) surpreendem, caso os empresários não tenham mudado radicalmente de opinião. Eles consideravam necessária a presença do Estado na economia.

Surpreendente é a resposta relativa a empresas como a Petrobras, Vale do Rio Doce e Companhia Siderúrgica Nacional. Elas deviam continuar “controladas pelo Estado”. Das três indicadas só resta a Petrobras. Mesmo assim, embora controlada pelo governo, já está dividida com a iniciativa privada.

A criação da Petrobras, em 1952, com apoio popular, impulsionada pelo lema “O petróleo é nosso”, por décadas não foi objeto de suspeitas nem de ladroagem, a não ser durante o governo Geisel, quando presidida por Shigeaki Ueki. Estranha coincidência.

Ao contrário do que o acontece hoje com o pré-sal, não duvidavam que o Brasil tivesse recursos financeiros e capacidade técnica para sustentar a empresa. Hoje, se possível fosse, privatizariam até os postes das ruas.

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