Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Pouco a pouco, o debate real da campanha presidencial está ficando claro. Não se trata de petismo x anti-petismo, como insistem Bolsonaro e seus aliados, tentando reviver um clima de Guerra Fria de outras épocas. Em 2018, o conflito é anterior, básico. Envolve democracia x ditadura.
A primeira constatação veio da Economist, que definiu a candidatura de Bolsonaro como um "risco a democracia". A segunda está no editorial da Folha de hoje, observando "sinais alarmantes de desapreço pelas regras do jogo democrático" na campanha de Bolsonaro.
O jornal não só recorda a pregação antidemocrática de seu vice, o general Hamilton Mourão. Também diz que a permanente denúncia de Bolsonaro conta o sistema eleitoral pode servir como preparativo para uma virada de mesa em caso de derrota nas urnas: "alimenta a paranóia, semeia descrença no processo democrático e, de mais imediato, abre caminho para que não se aceite um resultado desfavorável ao pleito".
Ao se mobilizar contra uma candidatura que ameaça seus direitos num país onde a Constituição afirma que todos são iguais perante a lei, o movimento de mulheres contra Bolsonaro deixa claro que a consciência do problema ganha força social.
A questão está colocada, portanto. No futuro ninguém poderá dizer que não sabia de nada nem podia adivinhar o que estava em jogo.
Numa disputa política na qual uma candidatura de natureza fascista encontra-se em primeiro lugar nas pesquisas de opinião, a resposta política lógica, reconhecida por vitórias e derrotas contra movimentos totalitários que assombram as democracias no mundo inteiro, é organizar a unidade capaz de preservar a democracia e as liberdades conquistadas com tanto sacrifício após 21 anos de ditadura militar.
A última pesquisa do Ibope confirma que Fernando Haddad é o candidato em melhor condições de liderar este processo. Em apenas uma semana, sua candidatura cresceu onze pontos, isolou-se em segundo lugar e ganhou envergadura presidencial.
Hoje ele está com 19% dos votos contra 28% para Bolsonaro. Se mantiver essa velocidade, desbravando um eleitorado receptivo, aquele que já garantia 39% dos votos a Lula, na próxima pesquisa estará em empate técnico.
Há outros sinais a favor. Uma pesquisa sobre o segundo turno mostra empate técnico - 40 a 40 - entre Haddad e Bolsonaro. Mas sua rejeição é de 29%, contra 42% para o capital-candidato. Outra diferença é que só tem uma semana de campanha, e nunca se apresentou como candidato presidente até Lula ser impedido pelo TSE, enquanto o capitão-candidato foi para a estrada muito antes da campanha começar.
Conforme o levantamento, Haddad ganha força nas fatias majoritárias do eleitorado, que são homens e mulheres de baixa renda, alvo prioritário de seu programa de governo - e da memória dos governos Lula-Dilma. Vence o rival por 54% a 24% entre aqueles que ganham até um salário mínimo. Examinado pela escolaridade, o quadro é favorável, também. Venceria por 44% a 29% entre aqueles que só tem a 4a série, 47% a 33% para quem chegou a oitava séria, empatando em 41% a 41% no ensino médio, perdendo de 51% a 31% no ensino superior.
Este vento favorável explica os apelos da campanha de Bolsonaro por uma vitória no primeiro turno - hipótese que nenhum dado permite levar a sério, a começar pela brutal rejeição de Bolsonaro.
A experiência ensina que nenhuma eleição é vencida por antecedência - mas somente depois da contagem dos votos. De qualquer modo, o salto de Fernando Haddad abre uma nova etapa na campanha, na qual o debate em torno da unidade para derrotar o fascismo está colocada. Num passo importante nessa discussão, em sua entrevista à CBN Haddad recusou-se a fazer qualquer crítica a Ciro Gomes, reafirmou a disposição para uma ação comum no segundo turno e até disse que apoiará o candidato do PDT se ficasse de fora da disputa - hipótese que parece fora de cogitação em função dos números de ontem.
Para quem foi o último candidato a ser registrado no TSE, a primeira semana não podia terminar melhor, vamos combinar.
Pouco a pouco, o debate real da campanha presidencial está ficando claro. Não se trata de petismo x anti-petismo, como insistem Bolsonaro e seus aliados, tentando reviver um clima de Guerra Fria de outras épocas. Em 2018, o conflito é anterior, básico. Envolve democracia x ditadura.
A primeira constatação veio da Economist, que definiu a candidatura de Bolsonaro como um "risco a democracia". A segunda está no editorial da Folha de hoje, observando "sinais alarmantes de desapreço pelas regras do jogo democrático" na campanha de Bolsonaro.
O jornal não só recorda a pregação antidemocrática de seu vice, o general Hamilton Mourão. Também diz que a permanente denúncia de Bolsonaro conta o sistema eleitoral pode servir como preparativo para uma virada de mesa em caso de derrota nas urnas: "alimenta a paranóia, semeia descrença no processo democrático e, de mais imediato, abre caminho para que não se aceite um resultado desfavorável ao pleito".
Ao se mobilizar contra uma candidatura que ameaça seus direitos num país onde a Constituição afirma que todos são iguais perante a lei, o movimento de mulheres contra Bolsonaro deixa claro que a consciência do problema ganha força social.
A questão está colocada, portanto. No futuro ninguém poderá dizer que não sabia de nada nem podia adivinhar o que estava em jogo.
Numa disputa política na qual uma candidatura de natureza fascista encontra-se em primeiro lugar nas pesquisas de opinião, a resposta política lógica, reconhecida por vitórias e derrotas contra movimentos totalitários que assombram as democracias no mundo inteiro, é organizar a unidade capaz de preservar a democracia e as liberdades conquistadas com tanto sacrifício após 21 anos de ditadura militar.
A última pesquisa do Ibope confirma que Fernando Haddad é o candidato em melhor condições de liderar este processo. Em apenas uma semana, sua candidatura cresceu onze pontos, isolou-se em segundo lugar e ganhou envergadura presidencial.
Hoje ele está com 19% dos votos contra 28% para Bolsonaro. Se mantiver essa velocidade, desbravando um eleitorado receptivo, aquele que já garantia 39% dos votos a Lula, na próxima pesquisa estará em empate técnico.
Há outros sinais a favor. Uma pesquisa sobre o segundo turno mostra empate técnico - 40 a 40 - entre Haddad e Bolsonaro. Mas sua rejeição é de 29%, contra 42% para o capital-candidato. Outra diferença é que só tem uma semana de campanha, e nunca se apresentou como candidato presidente até Lula ser impedido pelo TSE, enquanto o capitão-candidato foi para a estrada muito antes da campanha começar.
Conforme o levantamento, Haddad ganha força nas fatias majoritárias do eleitorado, que são homens e mulheres de baixa renda, alvo prioritário de seu programa de governo - e da memória dos governos Lula-Dilma. Vence o rival por 54% a 24% entre aqueles que ganham até um salário mínimo. Examinado pela escolaridade, o quadro é favorável, também. Venceria por 44% a 29% entre aqueles que só tem a 4a série, 47% a 33% para quem chegou a oitava séria, empatando em 41% a 41% no ensino médio, perdendo de 51% a 31% no ensino superior.
Este vento favorável explica os apelos da campanha de Bolsonaro por uma vitória no primeiro turno - hipótese que nenhum dado permite levar a sério, a começar pela brutal rejeição de Bolsonaro.
A experiência ensina que nenhuma eleição é vencida por antecedência - mas somente depois da contagem dos votos. De qualquer modo, o salto de Fernando Haddad abre uma nova etapa na campanha, na qual o debate em torno da unidade para derrotar o fascismo está colocada. Num passo importante nessa discussão, em sua entrevista à CBN Haddad recusou-se a fazer qualquer crítica a Ciro Gomes, reafirmou a disposição para uma ação comum no segundo turno e até disse que apoiará o candidato do PDT se ficasse de fora da disputa - hipótese que parece fora de cogitação em função dos números de ontem.
Para quem foi o último candidato a ser registrado no TSE, a primeira semana não podia terminar melhor, vamos combinar.
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