O plano golpista era: “primeiro a gente tira a Dilma, depois a gente faz as reformas, retoma o crescimento econômico para, em seguida, legitimar o golpe e suas reformas nas urnas”. Deu tudo errado, o golpe não retomou o crescimento, inviabilizou seus candidatos orgânicos, fortaleceu a esquerda e fez ressurgir a extrema-direita no Brasil.
O golpe de 2016 é uma mudança radical no projeto político e econômico, viabilizada por sujeitos históricos – como o vice-presidente, parte da mídia, do judiciário e do congresso – e por um instrumento extraordinário, o impeachment.
Trata-se da mudança na estrutura de poder para a imposição de uma agenda neoliberal extremamente radical (com DNA tucano, diga-se de passagem) que prometia entregar confiança aos mercados e crescimento econômico para a população.
Mas o fracasso foi rotundo: golpe virou sinônimo de degradação social, desemprego em massa, desamparo aos trabalhadores e deterioração dos serviços públicos.
Esse contexto desolador explica o fortalecimento das candidaturas de esquerda que propõem a revogação das reformas golpistas, como a reforma trabalhista e a emenda do teto de gastos, e a volta do protagonismo do Estado na política social e na indução do crescimento.
O fracasso também explica a hipocrisia do candidato do governo golpista que mostra fotos com Lula e se associa às conquistas econômicas de seu governo. Da mesma forma, os tucanos tentam, sem sucesso, se dissociar do golpe e propor uma agenda social incompatível com a austeridade fiscal que defendem.
O fracasso golpista também explica a ascensão da extrema-direita que é resultado do desamparo, da descrença, da despolitização oriunda de crise econômica, política e institucional. Bolsonaro é subproduto do golpe e das políticas neoliberais que tendem a corroer as democracias e suscitar reações autoritárias.
Como discute o sociólogo francês Cristhian Laval, o fracasso de um sistema neoliberal fundado na racionalidade do cálculo econômico que esvazia a política e sua dimensão moral, em meio à crise social, dá lugar ao resgate da moralidade e de valores tradicionais e religiosos. Nesse contexto, o golpe acelerou um sentimento de descrença nas instituições que foi canalizado por um sujeito que nega a política, a diversidade e os direitos humanos.
Por fim, as eleições devem impor uma importante derrota ao golpismo, mas não se pode subestimar a capacidade do golpe se reinventar: seja ao embarcar na candidatura Bolsonaro e vestindo a camisa de um “novo neoliberalismo”, nacionalista e autoritário, ou coagindo um candidato vitorioso de esquerda a adotar a sua agenda, ou ainda, por meio do abandono das formalidades democráticas e a promoção de outro golpe que atropele novamente as urnas.
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