Por Glenn Greenwald, no site The Intercept-Brasil:
Esses ataques estão sendo orquestrados pelos meios de comunicação de propriedade do pastor evangélico bilionário e afogado em escândalos, Edir Macedo, que agora é um defensor explícito de Bolsonaro. O vasto império de mídia de Macedo – que inclui a segunda maior emissora de TV do país (Record), portais online (R7) e outras agências de notícias – está sendo usado para punir e retaliar jornalistas pelo crime de denunciar criticamente Jair Bolsonaro, seu movimento e as empresas de Macedo.
No sábado passado, o Intercept publicou uma denúncia sobre como jornalistas dentro do R7, um enorme portal on-line de propriedade de Macedo, são “reféns” de sua agenda, impedidos de publicar matérias negativas sobre Bolsonaro e completamente forçados a sacrificar sua integridade jornalística a serviço da agenda política extremista de Macedo. O artigo, escrito por Leandro Demori para o The Intercept, baseado em relatos de jornalistas anônimos desesperados do R7, viralizou, tornando-se rapidamente um dos nossos artigos mais lidos esse ano. Na quinta-feira, após a reportagem, a chefe de redação de longa data do principal programa de notícias da TV Record, Luciana Barcellos, pediu demissão.
Ao longo de 2017 e 2018, o Intercept publicou algumas das reportagens críticas ao movimento Bolsonaro mais agressivas e mais lidas do país. O Intercept vem reportando criticamente sobre Bolsonaro há muito tempo. Em 2014, publicamos um artigo chamando-o de o “político eleito mais misógino e odioso do mundo democrático”. No final do ano passado, Bolsonaro, no Twitter, usou um epíteto para LGBTs para me atacar como um bicha depois que eu o descrevi como um fascista.
Desde a publicação, por nós, da reportagem de sábado sobre o R7, os agentes de estimação do Macedo – aqueles que já foram um dia jornalistas, mas agora foram metamorfoseados à força em guerreiros pró-Bolsonaro – foram mobilizados para investigar não apenas os jornalistas do Intercept, mas também as famílias daqueles que fornecem ao Intercept o seu jornalismo. Em poucas horas, eles foram atrás da vida pessoal dos pais de Demori em uma pequena cidade do interior de Santa Catarina, alegando coisas que não têm qualquer relação com ele e com sua carreira, e que remontam a 1992, quando ele tinha apenas 11 anos de idade. Eles cavaram seu passado para encontrar fotografias dele aos 20 e poucos anos.
Eles enviaram e-mails ao Intercept com uma série de acusações implícitas, insinuações de escândalos fabricados e afirmações equivocadas sobre as finanças do meu marido – no e-mail que nos enviaram, eles usaram informações públicas sobre seu patrimônio e seus gastos eleitorais de modo a levantar dúvidas, ignorando outras informações igualmente públicas que poderiam ter sido acessadas nos mesmo lugares e que desmontavam sua versão maliciosa.
Menos de dois dias após a publicação de nossa denúncia sobre o uso de jornalistas do R7 para fazer propaganda pró-Bolsonaro, o portal publicou um ataque imprudente e cheio de falsidades sobre os jornalistas envolvidos nas reportagens publicadas pelo The Intercept, bem como sobre mim e meu marido. Alegou, falsamente, que:
- Eu sou o “dono” do site (não sou e nunca tive nenhuma participação societária e nem ninguém da minha família tem; aliás, eu nem sequer sou o editor do site);
- Somos um veículo estrangeiro que existe para interferir na política brasileira, atacando Bolsonaro e promovendo os interesses do partido do meu marido, o PSOL (os artigos sobre o Brasil publicados no The Intercept são apurados e escritos principalmente por jornalistas brasileiros, que também publicaram numerosos artigos criticando todos os partidos de esquerda – incluindo o de meu marido, que foi alvo de uma crítica mordaz em 2016, de minha autoria);
- E não incluiu nenhum comentário do The Intercept, que enviou uma longa resposta às perguntas na noite anterior à publicação do artigo (dois de seus comentários foram adicionados horas após a publicação).
A fragilidade desses ataques fez com que o tiro saísse pela culatra. Ainda que o artigo tenha sido compartilhado em massa pelos apoiadores do Bolsonaro, a recepção foi largamente negativa, com internautas destacando as afirmações falsas, as acusações incoerentes e a tentativa pueril de atirar lama com esperança de que algo emplacasse.
Agora, porém, os esforços do império midiático do Bispo Macedo estão cada vez mais sérios, mais intimidadores e mais sinistros. Eles notificaram o The Intercept sobre sua intenção de publicar o que eles consideram uma denúncia de grande importância sobre nós, a ser exibida num dos programas de mais audiência da grade da emissora, o Domingo Espetacular, uma espécie de genérico do Fantástico, da Rede Globo. Nessas notificações enviadas, ficou claro que recursos significativos foram empregados para investigar não só o passado dos jornalistas do Intercept, mas também de suas famílias.
Para substanciar a acusação absurda de que Demori é membro do mesmo partido que meu marido, o PSOL, os agentes do Bispo Macedo desenterraram uma foto de mais de 10 anos em que Demori posa com a Luciana Genro, quadro importante do partido. A foto foi tirada após uma entrevista que Genro concedeu a ele, algo que repórteres devem fazer por definição (eu, por exemplo, tirei fotos com todos os candidatos que entrevistei esse ano, bem como os ex-presidentes que entrevistei em 2016).
Ironicamente, no mesmo ano, Demori entrevistou Onyx Lorenzoni, figurão conservador e um dos braços direitos de Bolsonaro, agora cotado para assumir um ministério num eventual governo do PSL. Após a entrevista, Demori e Lorenzoni tiraram uma foto juntos, o que, de acordo com a lógica utilizada pela Record, significa que Demori não passa de um bolsonarista de estrema-direita.
O motivo da Record de vingança retaliatória é óbvia também pelo seu bizarro e súbito interesse nas finanças do meu marido, apenas um membro da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, oito dias antes de uma eleição nacional em segundo turno em que ele não é candidato. Esta decisão de investigá-lo agora é particularmente reveladora dada aparente falta de interesse da Record em um grande escândalo implicando a campanha de Bolsonaro que atraiu a atenção internacional: alegações de que Bolsonaro se beneficiou de dinheiro corporativo ilegal gasto em uma campanha massiva de divulgação de notícias falsas via WhatsApp: uma história que o R7 enterrou.
Em contraste com o que a mídia internacional reportou de forma incisiva, o R7 e, ao que parece agora também a Record, mal estão tentando esconder o fato de que não estão fazendo jornalismo, mas sim uma missão de vingança por nossa reportagem crítica sobre Bolsonaro e seu apoiador bilionário. Como eles agora investigam o passado das famílias de jornalistas do Intercept, a primeira página do portal R7 no dia da reportagem da Folha de S. Paulo não mencionou este escândalo enorme do Bolsonaro:
A provável ascensão ao poder do extremista de direita Jair Bolsonaro já está gerando um clima no qual jornalistas que criticam a ele, ou ao seu movimento – incluindo jornalistas que reportam para The Intercept –, estão sendo expostos a uma campanha agressiva de investigações pessoais, tentativas de intimidações e escrutínios perniciosas de membros de nossas famílias.
Esses ataques estão sendo orquestrados pelos meios de comunicação de propriedade do pastor evangélico bilionário e afogado em escândalos, Edir Macedo, que agora é um defensor explícito de Bolsonaro. O vasto império de mídia de Macedo – que inclui a segunda maior emissora de TV do país (Record), portais online (R7) e outras agências de notícias – está sendo usado para punir e retaliar jornalistas pelo crime de denunciar criticamente Jair Bolsonaro, seu movimento e as empresas de Macedo.
No sábado passado, o Intercept publicou uma denúncia sobre como jornalistas dentro do R7, um enorme portal on-line de propriedade de Macedo, são “reféns” de sua agenda, impedidos de publicar matérias negativas sobre Bolsonaro e completamente forçados a sacrificar sua integridade jornalística a serviço da agenda política extremista de Macedo. O artigo, escrito por Leandro Demori para o The Intercept, baseado em relatos de jornalistas anônimos desesperados do R7, viralizou, tornando-se rapidamente um dos nossos artigos mais lidos esse ano. Na quinta-feira, após a reportagem, a chefe de redação de longa data do principal programa de notícias da TV Record, Luciana Barcellos, pediu demissão.
Ao longo de 2017 e 2018, o Intercept publicou algumas das reportagens críticas ao movimento Bolsonaro mais agressivas e mais lidas do país. O Intercept vem reportando criticamente sobre Bolsonaro há muito tempo. Em 2014, publicamos um artigo chamando-o de o “político eleito mais misógino e odioso do mundo democrático”. No final do ano passado, Bolsonaro, no Twitter, usou um epíteto para LGBTs para me atacar como um bicha depois que eu o descrevi como um fascista.
Desde a publicação, por nós, da reportagem de sábado sobre o R7, os agentes de estimação do Macedo – aqueles que já foram um dia jornalistas, mas agora foram metamorfoseados à força em guerreiros pró-Bolsonaro – foram mobilizados para investigar não apenas os jornalistas do Intercept, mas também as famílias daqueles que fornecem ao Intercept o seu jornalismo. Em poucas horas, eles foram atrás da vida pessoal dos pais de Demori em uma pequena cidade do interior de Santa Catarina, alegando coisas que não têm qualquer relação com ele e com sua carreira, e que remontam a 1992, quando ele tinha apenas 11 anos de idade. Eles cavaram seu passado para encontrar fotografias dele aos 20 e poucos anos.
Eles enviaram e-mails ao Intercept com uma série de acusações implícitas, insinuações de escândalos fabricados e afirmações equivocadas sobre as finanças do meu marido – no e-mail que nos enviaram, eles usaram informações públicas sobre seu patrimônio e seus gastos eleitorais de modo a levantar dúvidas, ignorando outras informações igualmente públicas que poderiam ter sido acessadas nos mesmo lugares e que desmontavam sua versão maliciosa.
Menos de dois dias após a publicação de nossa denúncia sobre o uso de jornalistas do R7 para fazer propaganda pró-Bolsonaro, o portal publicou um ataque imprudente e cheio de falsidades sobre os jornalistas envolvidos nas reportagens publicadas pelo The Intercept, bem como sobre mim e meu marido. Alegou, falsamente, que:
- Eu sou o “dono” do site (não sou e nunca tive nenhuma participação societária e nem ninguém da minha família tem; aliás, eu nem sequer sou o editor do site);
- Somos um veículo estrangeiro que existe para interferir na política brasileira, atacando Bolsonaro e promovendo os interesses do partido do meu marido, o PSOL (os artigos sobre o Brasil publicados no The Intercept são apurados e escritos principalmente por jornalistas brasileiros, que também publicaram numerosos artigos criticando todos os partidos de esquerda – incluindo o de meu marido, que foi alvo de uma crítica mordaz em 2016, de minha autoria);
- E não incluiu nenhum comentário do The Intercept, que enviou uma longa resposta às perguntas na noite anterior à publicação do artigo (dois de seus comentários foram adicionados horas após a publicação).
A fragilidade desses ataques fez com que o tiro saísse pela culatra. Ainda que o artigo tenha sido compartilhado em massa pelos apoiadores do Bolsonaro, a recepção foi largamente negativa, com internautas destacando as afirmações falsas, as acusações incoerentes e a tentativa pueril de atirar lama com esperança de que algo emplacasse.
Agora, porém, os esforços do império midiático do Bispo Macedo estão cada vez mais sérios, mais intimidadores e mais sinistros. Eles notificaram o The Intercept sobre sua intenção de publicar o que eles consideram uma denúncia de grande importância sobre nós, a ser exibida num dos programas de mais audiência da grade da emissora, o Domingo Espetacular, uma espécie de genérico do Fantástico, da Rede Globo. Nessas notificações enviadas, ficou claro que recursos significativos foram empregados para investigar não só o passado dos jornalistas do Intercept, mas também de suas famílias.
Para substanciar a acusação absurda de que Demori é membro do mesmo partido que meu marido, o PSOL, os agentes do Bispo Macedo desenterraram uma foto de mais de 10 anos em que Demori posa com a Luciana Genro, quadro importante do partido. A foto foi tirada após uma entrevista que Genro concedeu a ele, algo que repórteres devem fazer por definição (eu, por exemplo, tirei fotos com todos os candidatos que entrevistei esse ano, bem como os ex-presidentes que entrevistei em 2016).
Ironicamente, no mesmo ano, Demori entrevistou Onyx Lorenzoni, figurão conservador e um dos braços direitos de Bolsonaro, agora cotado para assumir um ministério num eventual governo do PSL. Após a entrevista, Demori e Lorenzoni tiraram uma foto juntos, o que, de acordo com a lógica utilizada pela Record, significa que Demori não passa de um bolsonarista de estrema-direita.
O motivo da Record de vingança retaliatória é óbvia também pelo seu bizarro e súbito interesse nas finanças do meu marido, apenas um membro da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, oito dias antes de uma eleição nacional em segundo turno em que ele não é candidato. Esta decisão de investigá-lo agora é particularmente reveladora dada aparente falta de interesse da Record em um grande escândalo implicando a campanha de Bolsonaro que atraiu a atenção internacional: alegações de que Bolsonaro se beneficiou de dinheiro corporativo ilegal gasto em uma campanha massiva de divulgação de notícias falsas via WhatsApp: uma história que o R7 enterrou.
Em contraste com o que a mídia internacional reportou de forma incisiva, o R7 e, ao que parece agora também a Record, mal estão tentando esconder o fato de que não estão fazendo jornalismo, mas sim uma missão de vingança por nossa reportagem crítica sobre Bolsonaro e seu apoiador bilionário. Como eles agora investigam o passado das famílias de jornalistas do Intercept, a primeira página do portal R7 no dia da reportagem da Folha de S. Paulo não mencionou este escândalo enorme do Bolsonaro:
Quando o R7 entrou em contato com o The Intercept pela primeira vez solicitando comentários, foi enviada uma longa resposta às suas perguntas. Porém, quando vimos que eles publicaram um artigo recheado de falsidades – e que não incluía nem as respostas ou comentários que enviamos na sua versão original –, os editores do Intercept chegaram à única conclusão possível: o que eles estavam fazendo não era de forma alguma jornalismo, mas sim uma campanha de intimidação como punição pelas reportagens críticas a Bolsonaro e ao Bispo Macedo.
Como resultado, quando o programa de TV da Record solicitou uma entrevista para explorar questões muito mais abrangentes sobre tudo isso, a editora-chefe do The Intercept, Betsy Reed, se recusou a fornecer mais respostas, explicando para Diego Costa, da Record:
Eu recebi sua solicitação para uma entrevista. Entretanto, ao invés de falar com vocês, nós forneceremos apenas essa declaração, já que o artigo cheio de erros publicado no portal R7 demonstrou claramente que vocês não são jornalistas e sim operadores partidários da extrema-direita, amarrados à agenda extremista de seu dono. Na resposta que Leandro Demori preparou para o The Intercept, a qual vocês inescrupulosamente não incluíram no artigo publicado pelo R7 na segunda-feira, nós afirmamos que a matéria que vocês estão planejando é obviamente um tática mesquinha de retaliação contra a reportagem viral que publicamos recentemente, na qual documentamos as pressões exercidas por Edir Macedo sobre seus funcionários para que produzam propaganda pró-Bolsonaro de acordo com suas preferências políticas.
Betsy Reed, Editora-Chefe
Ao que tudo indica, incluindo aí novos e-mails repetindo as mesmas perguntas e acrescentando novas, a organização do Bispo Macedo continua em sua investigação sobre o The Intercept, os jornalistas que ali trabalham, e suas famílias, e pretende veicular para milhões de pessoas essas acusações falsas e difamatórias em seu programa de domingo à noite.
Não espanta que com os novos tempos de um regime Bolsonaro que se aproxima, os métodos do jornalismo da Rede Record se assemelhem cada vez mais às intimidações da Igreja Universal de Edir Macedo. Em 2007, a repórter da Folha de S. Paulo, Elvira Lobato, precisou responder a 111 processos em várias cidades do Brasil, movidos por fiéis e pastores da Igreja Universal, porque publicou uma matéria mostrando como Edir Macedo tinha construído seu império. A estratégia de usar ovelhas para processar a jornalista foi tão maldosamente pensada que, num mesmo dia, Elvira chegou a ter audiências no Rio Grande do Sul, no Mato Grosso e no Piauí, na mesma hora.
Num domingo à noite, a emissora expôs o rosto de Elvira em rede nacional no mesmo programa Domingo Espetacular que pretende usar para nos atacar. "Eles incitavam as pessoas a entrar com ações contra mim. E comecei a entrar em pânico. Eu dizia: ‘Eu vou ser apedrejada na rua! Porque nós estamos falando de fiéis que vão achar assim: ‘Aquela mulher é um demônio! O que ela fez contra a minha fé? Porque é que ela humilhou a minha fé?’”.
No fim de setembro, Macedo confirmou em público o que muitos já suspeitavam: ele apoiaria a candidatura de Bolsonaro à presidência (ele originalmente pareceu apoiar Alckmin, mas abandonou o barco após o fracasso total dessa candidatura). Desde sua declaração pública de apoio a Bolsonaro, os órgãos de imprensa do Bispo Macedo mal disfarçam sua nova função de produção de propaganda pró Bolsonaro.
Nos dias logo antes do primeiro turno das eleições, em 7 de outubro, Bolsonaro anunciou que não participaria do debate da TV Globo – tradicionalmente o momento mais importante dos ciclos eleitorais – alegando estar ainda cuidando dos ferimentos decorrentes do atentado à faca que sofreu. A Record anunciou, entretanto, que exibiria, simultaneamente ao debate da Globo, uma entrevista “exclusiva” com Bolsonaro, com perguntas tão chapa-branca e favoráveis a ele que surpreende que o entrevistador não as tenha feito de joelhos. O TSE assistiu a tudo passivamente.
Foi nesse contexto que o R7 e outros jornalistas da máquina do Bispo Macedo começaram a lamentar, sob proteção do anonimato, que foram transformados de jornalistas a reféns disseminadores de propaganda em favor de um candidato visto crivelmente por amplos setores como fascista. Foi nesse contexto que o The Intercept pôde publicar uma reportagem sobre o funcionamento interno do R7 e as fortes pressões às quais seus jornalistas estão submetidos, sendo forçados a distorcer a verdade e produzir propaganda pró-Bolsonaro e antipetista.
Uma coisa é o bispo Macedo usar sua fortuna e seu império de mídia para eleger um extremista. É outra coisa completamente diferente que ele explore e abuse de seus veículos de mídia – sua TV é uma concessão pública – para intimidar, investigar e ameaçar jornalistas pelo crime de publicar reportagens críticas sobre ele e Bolsonaro. Isso representa uma ameaça séria à liberdade de imprensa: é virtualmente impossível praticar jornalismo sobre Bolsonaro se sabe-se que a imensa fortuna e os veículos midiáticos do bispo Macedo serão usados para caluniar e intimidar não somente os jornalistas responsáveis, mas também suas famílias.
Macedo e sua máquina podem gastar quanto dinheiro quiserem, empregar o quanto quiserem seus megafones para mentir, distorcer e difamar. Isso vai ocorrer, ao menos segundo dizem planejar fazer, na noite de domingo. O The Intercept vai manter seu compromisso inabalável com o jornalismo independente e destemido, que certamente inclui, agora mais do que nunca, o escrutínio agressivo e crítico de Jair Bolsonaro e do bispo bilionário que pretende elegê-lo.
Como resultado, quando o programa de TV da Record solicitou uma entrevista para explorar questões muito mais abrangentes sobre tudo isso, a editora-chefe do The Intercept, Betsy Reed, se recusou a fornecer mais respostas, explicando para Diego Costa, da Record:
Eu recebi sua solicitação para uma entrevista. Entretanto, ao invés de falar com vocês, nós forneceremos apenas essa declaração, já que o artigo cheio de erros publicado no portal R7 demonstrou claramente que vocês não são jornalistas e sim operadores partidários da extrema-direita, amarrados à agenda extremista de seu dono. Na resposta que Leandro Demori preparou para o The Intercept, a qual vocês inescrupulosamente não incluíram no artigo publicado pelo R7 na segunda-feira, nós afirmamos que a matéria que vocês estão planejando é obviamente um tática mesquinha de retaliação contra a reportagem viral que publicamos recentemente, na qual documentamos as pressões exercidas por Edir Macedo sobre seus funcionários para que produzam propaganda pró-Bolsonaro de acordo com suas preferências políticas.
Betsy Reed, Editora-Chefe
Ao que tudo indica, incluindo aí novos e-mails repetindo as mesmas perguntas e acrescentando novas, a organização do Bispo Macedo continua em sua investigação sobre o The Intercept, os jornalistas que ali trabalham, e suas famílias, e pretende veicular para milhões de pessoas essas acusações falsas e difamatórias em seu programa de domingo à noite.
Não espanta que com os novos tempos de um regime Bolsonaro que se aproxima, os métodos do jornalismo da Rede Record se assemelhem cada vez mais às intimidações da Igreja Universal de Edir Macedo. Em 2007, a repórter da Folha de S. Paulo, Elvira Lobato, precisou responder a 111 processos em várias cidades do Brasil, movidos por fiéis e pastores da Igreja Universal, porque publicou uma matéria mostrando como Edir Macedo tinha construído seu império. A estratégia de usar ovelhas para processar a jornalista foi tão maldosamente pensada que, num mesmo dia, Elvira chegou a ter audiências no Rio Grande do Sul, no Mato Grosso e no Piauí, na mesma hora.
Num domingo à noite, a emissora expôs o rosto de Elvira em rede nacional no mesmo programa Domingo Espetacular que pretende usar para nos atacar. "Eles incitavam as pessoas a entrar com ações contra mim. E comecei a entrar em pânico. Eu dizia: ‘Eu vou ser apedrejada na rua! Porque nós estamos falando de fiéis que vão achar assim: ‘Aquela mulher é um demônio! O que ela fez contra a minha fé? Porque é que ela humilhou a minha fé?’”.
No fim de setembro, Macedo confirmou em público o que muitos já suspeitavam: ele apoiaria a candidatura de Bolsonaro à presidência (ele originalmente pareceu apoiar Alckmin, mas abandonou o barco após o fracasso total dessa candidatura). Desde sua declaração pública de apoio a Bolsonaro, os órgãos de imprensa do Bispo Macedo mal disfarçam sua nova função de produção de propaganda pró Bolsonaro.
Nos dias logo antes do primeiro turno das eleições, em 7 de outubro, Bolsonaro anunciou que não participaria do debate da TV Globo – tradicionalmente o momento mais importante dos ciclos eleitorais – alegando estar ainda cuidando dos ferimentos decorrentes do atentado à faca que sofreu. A Record anunciou, entretanto, que exibiria, simultaneamente ao debate da Globo, uma entrevista “exclusiva” com Bolsonaro, com perguntas tão chapa-branca e favoráveis a ele que surpreende que o entrevistador não as tenha feito de joelhos. O TSE assistiu a tudo passivamente.
Foi nesse contexto que o R7 e outros jornalistas da máquina do Bispo Macedo começaram a lamentar, sob proteção do anonimato, que foram transformados de jornalistas a reféns disseminadores de propaganda em favor de um candidato visto crivelmente por amplos setores como fascista. Foi nesse contexto que o The Intercept pôde publicar uma reportagem sobre o funcionamento interno do R7 e as fortes pressões às quais seus jornalistas estão submetidos, sendo forçados a distorcer a verdade e produzir propaganda pró-Bolsonaro e antipetista.
Uma coisa é o bispo Macedo usar sua fortuna e seu império de mídia para eleger um extremista. É outra coisa completamente diferente que ele explore e abuse de seus veículos de mídia – sua TV é uma concessão pública – para intimidar, investigar e ameaçar jornalistas pelo crime de publicar reportagens críticas sobre ele e Bolsonaro. Isso representa uma ameaça séria à liberdade de imprensa: é virtualmente impossível praticar jornalismo sobre Bolsonaro se sabe-se que a imensa fortuna e os veículos midiáticos do bispo Macedo serão usados para caluniar e intimidar não somente os jornalistas responsáveis, mas também suas famílias.
Macedo e sua máquina podem gastar quanto dinheiro quiserem, empregar o quanto quiserem seus megafones para mentir, distorcer e difamar. Isso vai ocorrer, ao menos segundo dizem planejar fazer, na noite de domingo. O The Intercept vai manter seu compromisso inabalável com o jornalismo independente e destemido, que certamente inclui, agora mais do que nunca, o escrutínio agressivo e crítico de Jair Bolsonaro e do bispo bilionário que pretende elegê-lo.
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