Por Luis Fernando Vitagliano, no site Brasil Debate:
Ao contrário do que possa parecer aos olhos desatentos, a ascensão de Jair Bolsonaro não tem nada de casual ou acidental, pelo contrário, tem laços internacionais, doutrina testada e muitas semelhanças a outras ameaças no restante do mundo. O nome do movimento que colocou essa figura pouco palatável no poder e ameaça a ordem democrática é o populismo de direita.
Criado pelo conservador estadunidense Steve Bannon, o populismo de direita é o fenômeno que, associado à internet, tem dado ao capitalismo sua forma mais radical depois da crise de 2008. Esse populismo de direita se combina ao nacionalismo para reforçar valores das maiorias. Ao criticar as elites econômicas e políticas, ao chamá-las de corruptas e de manipuladoras, defendem que essas elites atuam para defender seus privilégios e condenar a população ao estado de pobreza e opressão em que vivem.
Essas elites são todas de esquerda, que defendem valores degradantes como casamento gay, uso liberado de drogas, aborto, compensações às minorias para parecerem sofisticadas, portanto, sendo os responsáveis pela degradação social dos países. Assim, desloca em primeiro lugar o debate para os temas de comportamento. A política havia superado o tema para tratar exatamente dos temas econômicos. Mas quando as massas tomam conta da política, parece esse ser um tema inevitável e, a mágica promovida pelo movimento populista de direita é criar determinados nichos – evangélicos que sustentam suas teses no antigo testamento, por exemplo – na base social sob a qual se erguem os pilares dessa nova forma difusão das ideias políticas.
É preciso entender que o populismo de direita é uma cosmologia, uma visão do mundo. A terra pode ser plana nessa noção, os homens de bem são amantes da ordem e da nação. Não há gays nesse mundo, nem aborto. Usar drogas é proibido. Tudo isso vai além de uma simples teologia da prosperidade. Porque a escola cartesiana é inimiga dessa doutrina. Ensinar darwinismo é um abuso. Nação é só a moral ou o comportamento padrão.
Para a doutrina de Steve Bannon é o Estado (sim! O Estado nação) quem promove a difusão de valores impuros, com base na degeneração dos costumes para continuar a dominar e roubar a população. Assim nasce o inimigo de candidatos populares, que tem linguagem simples e lutam contra o sistema.
De qualquer modo, esse grupo pode ser considerado minoritário enquanto visão de mundo em sociedades complexas como a brasileira e a estadunidense. De qualquer modo, o sistema é tão fora da casinha que as pessoas que simpatizam com essa ideologia acham essa parte tão bizarra, que não ligam, acham uma caricatura, algo divertido como um filme do Avatar. Nesse ponto que a internet acaba sendo a ferramenta ideal para que a defesa do populismo ocorra. Porque o discurso vem fragmentado, segmentado por público, aliado a preconceitos que cada pessoa carrega mas tem dificuldade para lidar. Se alguém é homofóbico (e obviamente não se julga como tal), mas como alguém de bom senso nesse quesito, recebe da doutrina informações sobre a propaganda gay que os grandes meios de comunicação fazem e como são contra a família e os valores das famílias. Se alguém sofre algum tipo de violência, basta associar ao tráfico de drogas e de como o Estado é corrupto e não defende o cidadão de bem. Culpa dos direitos humanos.
Para o populismo de direita o mundo real é um caos e precisamos nos defender dele. Precisamos inclusive nos defender do Estado que estimula a prevaricação e subversão dos valores. Como resposta a isso, o Estado se torna mais próximo da religião, coisa que deixou de ser há muitos anos.
Só vai haver sucesso nesses movimentos e nessa doutrina se a crise constante colocar sempre alerta o conservadorismo. Se se manter o liberalismo social e o Estado como inimigos do povo. Como são muito frágeis as bases do conservadorismo de direita e ele não necessariamente responde às necessidades da vida, certamente sabe que são os pobres os seus mais fiéis defensores. Portanto, vai haver programas sociais, muito assistencialismo, assistencialismo ligado à religião, mas que resolve a vida nas localidades.
Mas, por mais contraditório que possa parecer, o populismo de direita não é necessariamente liberal ou neoliberal. O Estado e principalmente seu liberalismo nos costumes apresentam deformações para essa cosmologia. Por isso, teremos várias críticas ao liberalismo. Se as privatizações vão ocorrer e isso vai piorar determinados indicadores, compensações vão ser criadas. Fatos para desviar a atenção vão ser propostos. Dados estranhos vão aparecer. Acredite, o populismo de direita vai inventar seus próprios indicadores. O protecionismo inócuo vai substituir as estratégias de regionalismo e o bilateralismo serviçal com os países do norte ocidental serão suficientes para investimentos que vão contribuir para a economia, ainda que gerando desigualdade e desagregando valor.
No caso do Brasil, o crescimento do pentecostalismo conservador somado ao desgaste do PT enquanto partido fora da ordem e a crise recente que coloca PMDB, PSDB e PT em vários escândalos envolvendo corrupção, e a busca por alternativas, foi captado pelo populismo de direita de Bolsonaro. As plataformas das redes sociais, o uso de recursos privados de fontes descentralizadas, a presença dos oficiais do exército como planejadores da campanha, as concessões ao neoliberalismo privatista do mercado. Bolsonaro pode oferecer-se como solução a todos os problemas e agora as promessas de campanha vão ser cobradas não como doutrina, mas como realidade.
Engana-se quem acha que vai ser fácil vencê-lo, como se enganou quem achava que ele definharia rapidamente. O populismo de direita é um movimento preparado para a crise. Que se alimenta juntamente das crises, que sabe usar em seu favor as críticas – principalmente as críticas padrões de liberdades. Outro fato importante é que a cosmologia da direita populista é minoritária, mas cresce quando atacada em seus valores fragmentados. Sua capacidade se deu justamente em somar os fragmentos para criar o inimigo chamado establishment, e nesse grupo extremamente heterogêneo estão os costumes que defendemos como direitos – desde os direitos humanos aos direitos sociais e políticos.
Convencer a maior parte da população do risco do populismo de direita só vai ser eficiente quando retomarmos a narrativa social e mostrarmos que o mundo que eles querem construir é um fascismo disfarçado de moralismo.
Ao contrário do que possa parecer aos olhos desatentos, a ascensão de Jair Bolsonaro não tem nada de casual ou acidental, pelo contrário, tem laços internacionais, doutrina testada e muitas semelhanças a outras ameaças no restante do mundo. O nome do movimento que colocou essa figura pouco palatável no poder e ameaça a ordem democrática é o populismo de direita.
Criado pelo conservador estadunidense Steve Bannon, o populismo de direita é o fenômeno que, associado à internet, tem dado ao capitalismo sua forma mais radical depois da crise de 2008. Esse populismo de direita se combina ao nacionalismo para reforçar valores das maiorias. Ao criticar as elites econômicas e políticas, ao chamá-las de corruptas e de manipuladoras, defendem que essas elites atuam para defender seus privilégios e condenar a população ao estado de pobreza e opressão em que vivem.
Essas elites são todas de esquerda, que defendem valores degradantes como casamento gay, uso liberado de drogas, aborto, compensações às minorias para parecerem sofisticadas, portanto, sendo os responsáveis pela degradação social dos países. Assim, desloca em primeiro lugar o debate para os temas de comportamento. A política havia superado o tema para tratar exatamente dos temas econômicos. Mas quando as massas tomam conta da política, parece esse ser um tema inevitável e, a mágica promovida pelo movimento populista de direita é criar determinados nichos – evangélicos que sustentam suas teses no antigo testamento, por exemplo – na base social sob a qual se erguem os pilares dessa nova forma difusão das ideias políticas.
É preciso entender que o populismo de direita é uma cosmologia, uma visão do mundo. A terra pode ser plana nessa noção, os homens de bem são amantes da ordem e da nação. Não há gays nesse mundo, nem aborto. Usar drogas é proibido. Tudo isso vai além de uma simples teologia da prosperidade. Porque a escola cartesiana é inimiga dessa doutrina. Ensinar darwinismo é um abuso. Nação é só a moral ou o comportamento padrão.
Para a doutrina de Steve Bannon é o Estado (sim! O Estado nação) quem promove a difusão de valores impuros, com base na degeneração dos costumes para continuar a dominar e roubar a população. Assim nasce o inimigo de candidatos populares, que tem linguagem simples e lutam contra o sistema.
De qualquer modo, esse grupo pode ser considerado minoritário enquanto visão de mundo em sociedades complexas como a brasileira e a estadunidense. De qualquer modo, o sistema é tão fora da casinha que as pessoas que simpatizam com essa ideologia acham essa parte tão bizarra, que não ligam, acham uma caricatura, algo divertido como um filme do Avatar. Nesse ponto que a internet acaba sendo a ferramenta ideal para que a defesa do populismo ocorra. Porque o discurso vem fragmentado, segmentado por público, aliado a preconceitos que cada pessoa carrega mas tem dificuldade para lidar. Se alguém é homofóbico (e obviamente não se julga como tal), mas como alguém de bom senso nesse quesito, recebe da doutrina informações sobre a propaganda gay que os grandes meios de comunicação fazem e como são contra a família e os valores das famílias. Se alguém sofre algum tipo de violência, basta associar ao tráfico de drogas e de como o Estado é corrupto e não defende o cidadão de bem. Culpa dos direitos humanos.
Para o populismo de direita o mundo real é um caos e precisamos nos defender dele. Precisamos inclusive nos defender do Estado que estimula a prevaricação e subversão dos valores. Como resposta a isso, o Estado se torna mais próximo da religião, coisa que deixou de ser há muitos anos.
Só vai haver sucesso nesses movimentos e nessa doutrina se a crise constante colocar sempre alerta o conservadorismo. Se se manter o liberalismo social e o Estado como inimigos do povo. Como são muito frágeis as bases do conservadorismo de direita e ele não necessariamente responde às necessidades da vida, certamente sabe que são os pobres os seus mais fiéis defensores. Portanto, vai haver programas sociais, muito assistencialismo, assistencialismo ligado à religião, mas que resolve a vida nas localidades.
Mas, por mais contraditório que possa parecer, o populismo de direita não é necessariamente liberal ou neoliberal. O Estado e principalmente seu liberalismo nos costumes apresentam deformações para essa cosmologia. Por isso, teremos várias críticas ao liberalismo. Se as privatizações vão ocorrer e isso vai piorar determinados indicadores, compensações vão ser criadas. Fatos para desviar a atenção vão ser propostos. Dados estranhos vão aparecer. Acredite, o populismo de direita vai inventar seus próprios indicadores. O protecionismo inócuo vai substituir as estratégias de regionalismo e o bilateralismo serviçal com os países do norte ocidental serão suficientes para investimentos que vão contribuir para a economia, ainda que gerando desigualdade e desagregando valor.
No caso do Brasil, o crescimento do pentecostalismo conservador somado ao desgaste do PT enquanto partido fora da ordem e a crise recente que coloca PMDB, PSDB e PT em vários escândalos envolvendo corrupção, e a busca por alternativas, foi captado pelo populismo de direita de Bolsonaro. As plataformas das redes sociais, o uso de recursos privados de fontes descentralizadas, a presença dos oficiais do exército como planejadores da campanha, as concessões ao neoliberalismo privatista do mercado. Bolsonaro pode oferecer-se como solução a todos os problemas e agora as promessas de campanha vão ser cobradas não como doutrina, mas como realidade.
Engana-se quem acha que vai ser fácil vencê-lo, como se enganou quem achava que ele definharia rapidamente. O populismo de direita é um movimento preparado para a crise. Que se alimenta juntamente das crises, que sabe usar em seu favor as críticas – principalmente as críticas padrões de liberdades. Outro fato importante é que a cosmologia da direita populista é minoritária, mas cresce quando atacada em seus valores fragmentados. Sua capacidade se deu justamente em somar os fragmentos para criar o inimigo chamado establishment, e nesse grupo extremamente heterogêneo estão os costumes que defendemos como direitos – desde os direitos humanos aos direitos sociais e políticos.
Convencer a maior parte da população do risco do populismo de direita só vai ser eficiente quando retomarmos a narrativa social e mostrarmos que o mundo que eles querem construir é um fascismo disfarçado de moralismo.
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