Na coluna de hoje [9/1] na FSP, Mônica Bergamo anotou que “o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Augusto Nardes se reuniu na segunda (7) com o presidente Jair Bolsonaro para falar de governança pública - série de práticas para otimizar a administração, como o corte de custos e o combate ao desperdício”.
Apesar de registrar que “o TCU diz que órgãos do governo já procuraram a Corte para realizar treinamentos sobre governança”, estranhamente quem representou o Tribunal na audiência não foi nem o presidente nem a vice-presidente do TCU, mas o “encrencado ministro do TCU Augusto Nardes”, como escreveu o jornalista Lauro Jardim [ler aqui].
Por coincidência, Bolsonaro reuniu com Nardes no dia seguinte à nova denúncia publicada por Lauro Jardim [jornal O Globo, 6/1] sobre Propinas e agrados carnavalescos ao ministro do TCU Augusto Nardes, cujo teor segue na íntegra:
“A delação de Orlando Diniz está no STF. Nela, o ex-presidente da Fecomércio/RJ deve detalhar episódios heterodoxos envolvendo o ministro do TCU Augusto Nardes que constam da colaboração do ex-subsecretário de Transportes do Rio de Janeiro, Luiz Carlos Velloso.
Em troca de ‘procrastinar por um ano’ uma investigação contra Diniz no TCU, Nardes passou a receber uma mesada de R$ 100 mil entre 2015 e 2016.
A propina era dada diretamente a Nardes ou a um intermediário indicado por ele. Sempre em dinheiro vivo. Assim, Diniz teria conseguido evitar o bloqueio de seus bens, de acordo com o delator.
Orlando Diniz levantou o dinheiro para Nardes ‘mediante um contrato fictício com um escritório de advocacia de São Paulo’, segundo Luiz Carlos Velloso. Qual? Velloso não especifica. A delação de Diniz vai dar o nome aos bois.
A propósito, quem quiser agradar Nardes deve prestar atenção num trecho da delação de Luiz Carlos Velloso. Lá pelas tantas, Velloso conta que o ministro do TCU é um fã de carnaval. Sabedor disso, anos atrás, Fernando Cavendish comprou um camarote na Marquês de Sapucaí para que o ministro e sua família se divertissem à larga. Em troca, segundo o delator, Nardes segurava processos contra a Delta no TCU”.
São frequentes as denúncias de ilícitos envolvendo Nardes. Apesar disso, ele continua levando a vida normalmente, inclusive visitando o presidente da República sem ser importunado pelo TCU, STF, PGR e pelas operações Zelotes e da Lava Jato que, incrivelmente, fazem de conta que nada acontece, a despeito de farto noticiário em contrário:
– “Nardes, ministro do TCU, recebeu 2,1 milhões em propinas” [O Globo, 21/10/2018, ler aqui];
– “O advogado de Nardes”, no O Globo de 4/9/2018, sobre contratação de advogado para cuidar o “encrencado ministro do TCU Augusto Nardes […] dos seus problemas com a Lava Jato” [ler aqui];
– “Delação envolve ministro do TCU”, no Globo de 25/3/2018 [ler aqui];
– “Augusto Nardes agradece”, no Globo de 25/11/2018, destaca que “O inquérito sobre os rolos de Augusto Nardes na operação Zelotes, aberto em 2015, está desde fevereiro em alguma gaveta de Raquel Dodge na PGR” [ler aqui];
– “Zelotes: RBS pagou 2,5 milhões a ministro do TCU e sobrinho no CARF”, diz o site O Antagonista em 30/11/2018 [ler aqui];
– “Procuradoria diz que ministro Augusto Nardes, do TCU, tinha ‘parceria nos ilícitos’”, publicou o Estado de SP em 30/11/2018 [ler aqui].
Por suprema ironia, em 10/12/2018 a Folha de SP noticiou que “Receita [Federal] cobra de Augusto Nardes, ministro do TCU, impostos sobre suposta propina” [ler aqui] – ato administrativo que equivale a legalizar e tributar dinheiro roubado, deixando o ladrão impune e com a mufufa, livre de impostos, branqueada e no bolso do pilantra.
É preciso recordar que antes do emprego atual no TCU, Nardes foi correligionário e colega do Bolsonaro pelo PP na Câmara dos Deputados.
Em 2015, já empregado como conselheiro do TCU, Nardes usou o cargo para fabricar a farsa das pedaladas fiscais que serviu de pretexto para o trabalho comprado pelo PSDB por R$ 45 mil para Janaína Pascoal preparar o impeachment fraudulento da Dilma [ler aqui].
Se Nardes não representou institucionalmente o TCU na audiência que teve com Bolsonaro, é necessário esclarecer-se qual assunto ele foi tratar de verdade no Planalto com o presidente e o chefe da Casa Civil – outro “encrencado” com Caixa 2 e com 80 notas fiscais emitidas para embolsar R$ 317 mil na Câmara.
É preciso esclarecer se a impunidade do Nardes expressa a gratidão e a retribuição do regime de exceção pelo serviço golpista prestado contra o Estado de Direito.
0 comentários:
Postar um comentário