Por Joaquim Ernesto Palhares, no site Carta Maior:
Com as energias renovadas, Carta Maior retoma suas atividades neste 2019, um dos mais imprevisíveis anos da nossa história recente. Na tentativa de desvendar o improvável, nada melhor do que analisar a escalação do time do presidente recém empossado, do seu esquema de jogo e objetivos em campo.
De forma geral, o Brasil terá vinte e poucos ministérios, bem além dos 15 prometidos em campanha, em torno de quatro forças principais: a militar, a de Moro, a de Guedes e a dos parlamentares de direita e extrema-direita, incluindo também, os filhos do presidente empossado.
Os militares
Desde a redemocratização, os militares não contavam com tamanho espaço político dentro do Executivo. Além do general Mourão na vice-presidência, foram indicados o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz para a Secretaria de Governo e esperamos que sua experiência na missão de Paz no Haiti seja de grande valia; o general Augusto Heleno no Gabinete de Segurança Institucional, concentrando as atividades de política e de inteligência; o almirante de Esquadra Bento Costa Lima Leite para Minas e Energia, um entusiasta do submarino brasileiro; e o general da reserva Fernando Azevedo e Silva, o militar que passou pelo gabinete de Dias Toffoli (STF), para a Defesa.
Na conta dos militares é possível incluir também o astronauta e escritor de autoajuda Marcos Pontes para Ciência e Tecnologia; o colombiano Ricardo Vélez Rodriguez, defensor do Escola Sem Partido e professor emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, para Educação, aliás, uma indicação do astrólogo e guru da direita Olavo de Carvalho; Tarcísio Gomes de Freitas, ex-diretor-executivo e geral do DNIT, indicado para o futuro ministério de Infraestrutura, que também participou da missão de Paz da ONU, no Haiti, comandada por Santos Cruz; e o militar Wagner do Rosário, funcionário de carreira do CGU, para o ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União.
Os financistas
Todos os postos-chave de áreas e instituições ligadas à vida econômica brasileira (dos bancos ao IPEA) serão ocupadas por gente do mercado financeiro, grande maioria com passagem por instituições financeiras e pela Universidade de Chicago, centro do ultra-neoliberalismo, a começar pelo próprio Paulo Guedes, agraciado com um superministério que englobará Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio Exterior, com direito à Secretaria de Privatizações.
Em síntese: a concentração de renda e a isenção do pagamento de impostos sobre lucros e dividendos continuarão garantindo a boa vida dos ricaços que especulam no Brasil, com Guedes e seus colegas da Universidade de Chicago: Joaquim Levy indicado para o BNDES, Rubem Novaes para o Banco do Brasil e Roberto Castello Branco para a Petrobras. Também fazem parte da “famiglia” defensora dessa elite improdutiva, o especialista em privatizações, Pedro Guimarães indicado para a Caixa Econômica Federal; Roberto Campos Neto, ex-diretor do Santander que comandará o Banco Central; e Carlos von Doellinger, ex-presidente do Banerj, indicado por Guedes para presidir o IPEA.
Marshall
Além dos militares e dos agentes do mercado financeiro, o futuro governo contará com o time montado pelo superministro Sérgio Moro que se tornou uma espécie de xerife-justiceiro, ao assumir o papel de estandarte do antipetismo. Personagem de uma marca construída pela mídia e por setores do Judiciário que lhe deram carta-branca, na posição de ministro da Justiça e Segurança Pública, Moro estará no comando dos seguintes órgãos: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Secretaria Nacional de Segurança Pública (Força Nacional, Departamento Penitenciário, Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, Secretaria Nacional de Justiça, Comissão de Anistia e COAF), além da Funai e Cade. Um superministério que pode abrigar, também, a Controladoria Geral da União. Sejamos sinceros: um treinamento e tanto a qualquer interessado a uma candidatura à Presidência da República em 2020.
Interessante observar que, acumulando tantos poderes e protegido pelo manto midiático, Moro praticamente não poderá ser demitido; aliás, o mesmo acontece em relação a Paulo Guedes. Do xerife, já foram anunciadas as indicações de Érika Marena, a delegada federal (a quem se atribui a responsabilidade pelo suicídio de Luiz Carlos Olivo, reitor da UFSC) para o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional; e de Maurício Valeixo, superindentende da PF no Paraná, para o comando da PF. Nuca é demasiado lembrar que ele esteve à frente da operação que prendeu Lula, impedindo-o de concorrer às eleições de 2018.
Direita medieval
Assim como os militares, o DEM, antiga Arena e antigo PFL, volta à cena com a nomeação de Onyx Lorenzoni (DEM-RS), até que se prove o contrário, para a Casa Civil; O médico Luiz Mandetta (DEM-MS) que responde processo por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa 2 na implementação de um sistema de prontuário eletrônico; e Tereza Cristina (DEM-MS), mais conhecida como a ˜musa do agrotóxico”, apoiadora do PL do Veneno que, simplesmente, permite a utilização no Brasil de agrotóxicos rejeitados na Europa.
Do PSL, o presidente do partido e amigo de Bolsonaro, Gustavo Bebianno foi indicado para a Secretária-geral da Presidência; e Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG) para pasta de Turismo. O PSDB, naturalmente, também participará do governo Bolsonaro com Ricardo de Aquino Salles, secretário de Meio Ambiente do governo Alckmin, um dos criadores do movimento Endireita Brasil para o Meio Ambiente e, pasmem: ele foi advogado da Sociedade Rural Brasileira.
Continuam no governo, Osmar Terra (MDB) que passa do ministério de Desenvolvimento Social de Temer para o futuro ministério de Cidadania e Ação Social, respondendo, também, por parte da Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (Senad). E o secretário executivo do ministério das Cidades e da Integração Nacional, agora, alçado ao comando da futura pasta de Desenvolvimento Regional.
Várias das figuras acima citadas mereceriam destaque por suas ações e declarações, permitindo-nos dimensionar o tamanho do estrago que virá e, sobretudo, da mediocridade do futuro governo. Algumas, porém, merecem um breve comentário.
O que dizer das revelações da pastora Damares Alves, assessora de Magno Malta (PR), indicada para o ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, que garante ter visto Jesus Cristo em um pé de goiaba?
O que dizer da indicação de Ernesto Araújo para as Relações Internacionais? Um diplomata que acredita que a causa ambiental foi “pervertida” pela esquerda, que a globalização vem sendo pilotada pelo “marxismo cultural” e que escreveu, nos Cadernos de Política Exterior do Itamaraty que “somente Trump pode ainda salvar o Ocidente”?
E o que dizer, meus caros, dos filhos do presidente recém empossado? De suas declarações violentas contra os movimentos e partidos de esquerda; dos escândalos que os cercam, do poder que parecem exercer?
Como vocês podem ver, indicações que revelam uma mediocridade acachapante, para dizer o mínimo. Mas não nos enganemos, por trás dessa escalação e dos superministérios criados, há um arranjo devastador para o Brasil, que acena para a pilhagem e venda de um imenso patrimônio acumulado ao longo de décadas, cujo dono não é o governo Bolsonaro, mas sim o povo brasileiro.
Tal arranjo poderá se desmanchar nas disputas e brigas internas entre os interesses e, sobretudo, os egos que animam essas quatro forças integrantes do futuro governo.
Como ocorre no futebol, o técnico pode ser mudado, o que não desejamos, mas pode... De qualquer forma, a culpa pelos desacertos recairá nos jogadores e, ante o show de horrores que se avizinha, talvez cheguemos ao limite de vermos o nosso Brasil rebaixado para a segunda divisão.
Nós, da Carta Maior, vamos acompanhar o Governo Bolsonaro passo a passo, analisando erros e acertos que, francamente, esperamos que ocorram para o bem do país.
Para que possamos realizar este trabalho, nós precisamos da contribuição de todos. Quanto mais recursos tivermos, maior será nossa capacidade de atuação.
Ajude-nos a conquistar, neste mês de janeiro, mais duzentos parceiros doadores. Isso nos permitirá projetar uma série de atividades que vocês vão acompanhar e participar de perto.
Estamos tentando, a todo custo, manter a Carta Maior um veículo com conteúdo aberto apenas para seus parceiros-doadores. Você, leitor assíduo de Carta Maior, pode nos ajudar nessa luta. Com apenas R$1,00 por dia (R$30,00/mês), você pode garantir que nosso conteúdo permaneça disponível a todos.
Se puder DOE MAIS (clique aqui e confira opções de doação) e não se esqueça de se cadastrar no nosso site (clique aqui) para receber nossos boletins. Mais do que nunca, precisamos estar conectados frente a qualquer eventualidade.
Um excelente ano a todos e sigamos juntos em defesa do Brasil e, sobretudo, dos ideais que nos unem.
Caberá a nós defendê-los.
* Joaquim Ernesto Palhares é diretor da Carta Maior.
Com as energias renovadas, Carta Maior retoma suas atividades neste 2019, um dos mais imprevisíveis anos da nossa história recente. Na tentativa de desvendar o improvável, nada melhor do que analisar a escalação do time do presidente recém empossado, do seu esquema de jogo e objetivos em campo.
De forma geral, o Brasil terá vinte e poucos ministérios, bem além dos 15 prometidos em campanha, em torno de quatro forças principais: a militar, a de Moro, a de Guedes e a dos parlamentares de direita e extrema-direita, incluindo também, os filhos do presidente empossado.
Os militares
Desde a redemocratização, os militares não contavam com tamanho espaço político dentro do Executivo. Além do general Mourão na vice-presidência, foram indicados o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz para a Secretaria de Governo e esperamos que sua experiência na missão de Paz no Haiti seja de grande valia; o general Augusto Heleno no Gabinete de Segurança Institucional, concentrando as atividades de política e de inteligência; o almirante de Esquadra Bento Costa Lima Leite para Minas e Energia, um entusiasta do submarino brasileiro; e o general da reserva Fernando Azevedo e Silva, o militar que passou pelo gabinete de Dias Toffoli (STF), para a Defesa.
Na conta dos militares é possível incluir também o astronauta e escritor de autoajuda Marcos Pontes para Ciência e Tecnologia; o colombiano Ricardo Vélez Rodriguez, defensor do Escola Sem Partido e professor emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, para Educação, aliás, uma indicação do astrólogo e guru da direita Olavo de Carvalho; Tarcísio Gomes de Freitas, ex-diretor-executivo e geral do DNIT, indicado para o futuro ministério de Infraestrutura, que também participou da missão de Paz da ONU, no Haiti, comandada por Santos Cruz; e o militar Wagner do Rosário, funcionário de carreira do CGU, para o ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União.
Os financistas
Todos os postos-chave de áreas e instituições ligadas à vida econômica brasileira (dos bancos ao IPEA) serão ocupadas por gente do mercado financeiro, grande maioria com passagem por instituições financeiras e pela Universidade de Chicago, centro do ultra-neoliberalismo, a começar pelo próprio Paulo Guedes, agraciado com um superministério que englobará Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio Exterior, com direito à Secretaria de Privatizações.
Em síntese: a concentração de renda e a isenção do pagamento de impostos sobre lucros e dividendos continuarão garantindo a boa vida dos ricaços que especulam no Brasil, com Guedes e seus colegas da Universidade de Chicago: Joaquim Levy indicado para o BNDES, Rubem Novaes para o Banco do Brasil e Roberto Castello Branco para a Petrobras. Também fazem parte da “famiglia” defensora dessa elite improdutiva, o especialista em privatizações, Pedro Guimarães indicado para a Caixa Econômica Federal; Roberto Campos Neto, ex-diretor do Santander que comandará o Banco Central; e Carlos von Doellinger, ex-presidente do Banerj, indicado por Guedes para presidir o IPEA.
Marshall
Além dos militares e dos agentes do mercado financeiro, o futuro governo contará com o time montado pelo superministro Sérgio Moro que se tornou uma espécie de xerife-justiceiro, ao assumir o papel de estandarte do antipetismo. Personagem de uma marca construída pela mídia e por setores do Judiciário que lhe deram carta-branca, na posição de ministro da Justiça e Segurança Pública, Moro estará no comando dos seguintes órgãos: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Secretaria Nacional de Segurança Pública (Força Nacional, Departamento Penitenciário, Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, Secretaria Nacional de Justiça, Comissão de Anistia e COAF), além da Funai e Cade. Um superministério que pode abrigar, também, a Controladoria Geral da União. Sejamos sinceros: um treinamento e tanto a qualquer interessado a uma candidatura à Presidência da República em 2020.
Interessante observar que, acumulando tantos poderes e protegido pelo manto midiático, Moro praticamente não poderá ser demitido; aliás, o mesmo acontece em relação a Paulo Guedes. Do xerife, já foram anunciadas as indicações de Érika Marena, a delegada federal (a quem se atribui a responsabilidade pelo suicídio de Luiz Carlos Olivo, reitor da UFSC) para o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional; e de Maurício Valeixo, superindentende da PF no Paraná, para o comando da PF. Nuca é demasiado lembrar que ele esteve à frente da operação que prendeu Lula, impedindo-o de concorrer às eleições de 2018.
Direita medieval
Assim como os militares, o DEM, antiga Arena e antigo PFL, volta à cena com a nomeação de Onyx Lorenzoni (DEM-RS), até que se prove o contrário, para a Casa Civil; O médico Luiz Mandetta (DEM-MS) que responde processo por fraude em licitação, tráfico de influência e caixa 2 na implementação de um sistema de prontuário eletrônico; e Tereza Cristina (DEM-MS), mais conhecida como a ˜musa do agrotóxico”, apoiadora do PL do Veneno que, simplesmente, permite a utilização no Brasil de agrotóxicos rejeitados na Europa.
Do PSL, o presidente do partido e amigo de Bolsonaro, Gustavo Bebianno foi indicado para a Secretária-geral da Presidência; e Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG) para pasta de Turismo. O PSDB, naturalmente, também participará do governo Bolsonaro com Ricardo de Aquino Salles, secretário de Meio Ambiente do governo Alckmin, um dos criadores do movimento Endireita Brasil para o Meio Ambiente e, pasmem: ele foi advogado da Sociedade Rural Brasileira.
Continuam no governo, Osmar Terra (MDB) que passa do ministério de Desenvolvimento Social de Temer para o futuro ministério de Cidadania e Ação Social, respondendo, também, por parte da Secretaria Nacional de Política sobre Drogas (Senad). E o secretário executivo do ministério das Cidades e da Integração Nacional, agora, alçado ao comando da futura pasta de Desenvolvimento Regional.
Várias das figuras acima citadas mereceriam destaque por suas ações e declarações, permitindo-nos dimensionar o tamanho do estrago que virá e, sobretudo, da mediocridade do futuro governo. Algumas, porém, merecem um breve comentário.
O que dizer das revelações da pastora Damares Alves, assessora de Magno Malta (PR), indicada para o ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, que garante ter visto Jesus Cristo em um pé de goiaba?
O que dizer da indicação de Ernesto Araújo para as Relações Internacionais? Um diplomata que acredita que a causa ambiental foi “pervertida” pela esquerda, que a globalização vem sendo pilotada pelo “marxismo cultural” e que escreveu, nos Cadernos de Política Exterior do Itamaraty que “somente Trump pode ainda salvar o Ocidente”?
E o que dizer, meus caros, dos filhos do presidente recém empossado? De suas declarações violentas contra os movimentos e partidos de esquerda; dos escândalos que os cercam, do poder que parecem exercer?
Como vocês podem ver, indicações que revelam uma mediocridade acachapante, para dizer o mínimo. Mas não nos enganemos, por trás dessa escalação e dos superministérios criados, há um arranjo devastador para o Brasil, que acena para a pilhagem e venda de um imenso patrimônio acumulado ao longo de décadas, cujo dono não é o governo Bolsonaro, mas sim o povo brasileiro.
Tal arranjo poderá se desmanchar nas disputas e brigas internas entre os interesses e, sobretudo, os egos que animam essas quatro forças integrantes do futuro governo.
Como ocorre no futebol, o técnico pode ser mudado, o que não desejamos, mas pode... De qualquer forma, a culpa pelos desacertos recairá nos jogadores e, ante o show de horrores que se avizinha, talvez cheguemos ao limite de vermos o nosso Brasil rebaixado para a segunda divisão.
Nós, da Carta Maior, vamos acompanhar o Governo Bolsonaro passo a passo, analisando erros e acertos que, francamente, esperamos que ocorram para o bem do país.
Para que possamos realizar este trabalho, nós precisamos da contribuição de todos. Quanto mais recursos tivermos, maior será nossa capacidade de atuação.
Ajude-nos a conquistar, neste mês de janeiro, mais duzentos parceiros doadores. Isso nos permitirá projetar uma série de atividades que vocês vão acompanhar e participar de perto.
Estamos tentando, a todo custo, manter a Carta Maior um veículo com conteúdo aberto apenas para seus parceiros-doadores. Você, leitor assíduo de Carta Maior, pode nos ajudar nessa luta. Com apenas R$1,00 por dia (R$30,00/mês), você pode garantir que nosso conteúdo permaneça disponível a todos.
Se puder DOE MAIS (clique aqui e confira opções de doação) e não se esqueça de se cadastrar no nosso site (clique aqui) para receber nossos boletins. Mais do que nunca, precisamos estar conectados frente a qualquer eventualidade.
Um excelente ano a todos e sigamos juntos em defesa do Brasil e, sobretudo, dos ideais que nos unem.
Caberá a nós defendê-los.
* Joaquim Ernesto Palhares é diretor da Carta Maior.
0 comentários:
Postar um comentário