segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

“Amigo particular” de Bolsonaro é reprovado

Por Altamiro Borges

São tantas sacanagens no bordel de Jair Bolsonaro que está difícil dar atenção a cada uma delas. Logo após tomar posse, o presidente do laranjal indicou o “amigo particular” Carlos Victor Guerra Nagem para ocupar o cobiçado cargo de gerente-executivo de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras. Agora, a imprensa revela, sem maior alarde, que a estatal reprovou a indicação do cupincha por “falta de experiência para a função”. Como diria um âncora de televisão que concorre ao Oscar de maior puxa-saco do presidente-capetão, “é uma vergonha!”

Na ocasião, quando o novo presidente da Petrobras, o também encrencado Roberto Castello Branco, confirmou a nomeação do “amigo particular” do chefe, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) questionou a sacanagem e alertou para o descumprimento do plano de carreira da companhia. Lembrou que Carlos Nagem nunca assumiu cargo comissionado e não cumpria os requisitos mínimos para ocupar a função. Destacou ainda que as gerências-executivas são o segundo escalão na hierarquia da estatal, abaixo apenas das diretorias, e que a vaga que seria ocupada pelo “amigo particular” do capetão está ligada à presidência e tem salário de cerca de R$ 50 mil.

Na época, o privatista Roberto Castello Branco negou qualquer motivação política na nomeação e afirmou que o amiguinho do chefe tinha “currículo adequado”. Jair Bolsonaro também reagiu ao seu modo, pelo Twitter, às críticas do sindicalismo. “A era do indicado sem capacitação técnica acabou, mesmo que muitos não gostem. Estamos no caminho certo”, postou o presidente falastrão. Talvez alertado por seus comparsas, ele rapidamente apagou o cínico tuíte e postou apenas a biografia do amigão. “A seguir o currículo do novo gerente-executivo de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras, mesmo que muitos não gostem, estamos no caminho certo”.

Todas essas bravatas, porém, agora caíram no ridículo. Segundo matéria de Nicola Pamplona publicada na Folha, o “amigo particular” do capitão foi reprovado pela estadual. “A Petrobras disse à Folha que o nome de Nagem foi submetido aos procedimentos de governança da companhia. ‘Apesar da sólida formação acadêmica e atuação na área, seu nome não foi aprovado porque ele não possui a experiência requerida em posição gerencial que é necessária à função’, disse a empresa. O jornal ainda traz outros dados sobre o “amigo particular” reprovado.

“Nagem já se candidatou pelo PSC duas vezes sob a alcunha Capitão Victor, mas não conseguiu votos suficientes para se eleger. Em 2002, disputou vaga de deputado federal pelo Paraná e, em 2016, se candidatou a vereador em Curitiba. Nessa última campanha, recebeu o apoio do atual presidente da República, que aparece em vídeo pedindo votos para aquele que chama de ‘amigo particular’. ‘É um homem, um cidadão que conheço há quase 30 anos. Um homem de respeito, que vai estar à disposição de vocês na Câmara lutando pelos valores familiares. E quem sabe no futuro tendo mais uma opção para nos acompanhar até Brasília’, disse Bolsonaro no vídeo”.

Esse não é o primeiro revés do presidente-incompetente na Petrobras. Como registra a Folha, “no processo de montagem da nova administração da estatal, o governo Bolsonaro já sofreu duas baixas. Lauro Cotta, nome para a diretoria de Estratégia, alegou motivos pessoais para renunciar ao cargo três semanas após indicação... Indicado ao conselho pelo MME (Ministério de Minas e Energia), o geólogo John Forman declinou após a divulgação de notícias sobre condenação na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) por uso de informação privilegiada”.

Já a colunista Mônica Bergamo, em nota publicada em 17 de janeiro, lembrou que “dois dos três nomes indicados para compor o conselho de administração da Petrobras trabalharam como executivos no Grupo Odebrecht. O governo federal indicou o almirante Eduardo Bacellar Leal Ferreira, ex-comandante da Marinha, e os executivos John Forman e João Cox. Cox trabalhou 13 anos na Odebrecht e atua desde junho de 2016 como membro do conselho de administração da Brasken, braço petroquímico do grupo. Forman, que anunciou a sua recusa em aceitar o cargo, também foi condenado na CVM por uso de informação privilegiada em negociações na bolsa em 2013... Apenas o almirante Leal Ferreira, indicado para presidir o colegiado, não tem passagem pela Odebrecht”.

Sobre a indicação do “amigo particular” e de outros amiguinhos para cargos no governo fascistoide, vale conferir o excelente artigo de Carlos Fernandes, postado no blog Diário do Centro do Mundo:

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O governo Bolsonaro institucionalizou o nepotismo e a promiscuidade
Por Carlos Fernandes - 11 de janeiro de 2019

Com a chegada ao poder executivo nacional da família Bolsonaro carregando a tiracolo o que de mais atrasado existe no já modorrento militarismo brasileiro, o que era uma prática velada no submundo das administrações públicas, virou política de Estado.

Práticas como nepotismo e apadrinhamento, combatidos à exaustão em todo o mundo civilizado, por aqui se transformaram em medida oficial para o chamado fortalecimento dos vínculos familiares e afins.

É, por assim dizer, um case de sucesso. Tudo em apenas dez dias após o começo da “nova era” do Brasil.

Para muito além do amigo Queiroz que após o estrondoso sucesso de faturamento no mercado de compra e venda de carros usados hoje se recupera de uma operação em um dos mais caros hospitais privados do país, a prosperidade reina aos amigos e consanguíneos do primeiro escalão do governo.

Rápida no gatilho, a primeira-dama Michelle Bolsonaro não se fez de rogada e praticamente abriu os trabalhos já com a “nova” forma de indicação política para a alta administração.

Sua amiga Priscila Gaspar viu o seu posto de tradutora de línguas na campanha eleitoral se transformar imediatamente num invejado cargo na Secretaria Nacional da Pessoa com Deficiência, subordinada ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos do qual, sabemos, atualmente queda-se de joelhos conforme as orações da “terrivelmente cristã”, Damares Alves. Uma glória.

Já o vice-presidente, que besta não é, também obrou o milagre da multiplicação do salário para o seu herdeiro.

Antônio Mourão, o filho, presenciou nos primeiros dias do novo ano, o ano novo de sua redenção profissional.

De uma piscadela do pai para uma canetada do novo presidente do Banco do Brasil, uma trilha que pode levar décadas sem nunca ser totalmente percorrida foi saltada como se num passe de mágicas.

Salário triplicado, haja fortalecimento da família.

Tudo confortavelmente sendo arranjado, não seria o presidente Jair Bolsonaro – cujos filhos já ocupam uma espécie de poder paralelo a ser exercido nas redes sociais – que iria deixar os seus a ver navios, óbvio!!!

Carlos Victor Guerra Nagem, “amigo particular” do atual presidente, também ascendeu vertiginosamente na estatal em que trabalha.

A Petrobrás, outrora um “antro de aparelhamento ideológico”, viu um funcionário que se licenciou duas vezes para concorrer a cargos políticos pelo PSC chegar à Gerência Executiva de Inteligência e Segurança Corporativa.

Antes com um salário de cerca de R$ 15 mil, o fracassado aspirante a político a quem Bolsonaro fez propaganda garantindo ser um “defensor dos valores familiares”, Carlos Nagem agora passará a ganhar nada menos que R$ 50 mil. Mas sem ideologia, que fique claro.

Todos os cargos da administração sendo paulatinamente ocupados sob o criterioso perfil de quem bajulou ou não a candidatura vitoriosa, políticas públicas de inclusão social e empresas estratégicas para a soberania nacional caminham a passos largos para se transformaram tão somente numa grande reunião familiar em que os amigos mais próximos são sempre bem-vindos.

Para quem se elegeu sob o discurso do combate à corrupção e o fim do aparelhamento nas empresas públicas, é um início de governo que prova quão mitológica eram suas promessas.

Por fim, a você que votou no “Mito” a partir de todas essas crenças, mas infelizmente não faz parte do privilegiado círculo de sua amizade, resta curtir o “aumento” salarial de R$ 1.006,00 para R$ 998,00 que lhe foi destinado.

Com competência, economia e um pouco de fé, dá até para comprar uma máscara de carnaval e cobrir sua cara de vergonha.

1 comentários:

Unknown disse...

Triste, mas ainda não dá pra ter esperança de reverter. Vamos continuar lutando