Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Até agora, Mourão tem cumprido um papel particular nos debates sobre o assunto. Enquanto o próprio Bolsonaro deixa claro seu alinhamento com Donald Trump - até bateu continência para John Bolton, um dos mais radicais assessores do presidente dos Estados Unidos, com um papel relevante na guerra do Iraque -, o general vice-presidente tem feito o contraponto interno num momento crucial na política externa brasileira.
Como chegou a ser lembrado na campanha eleitoral, basta recordar que a patente de general de Exército, a mais alta da carreira militar, dá a Mourão uma autoridade particular em discussões que envolvem conflitos entre países que podem levar a uma solução militar no governo de um presidente que, várias patentes abaixo, parou de usar a farda quando era capitão.
Mourão viaja na posição de quem vai coordenar a participação do Brasil no encontro de Lima.
Pelo degrau na hierarquia do Estado brasileiro, a posição o coloca formalmente em pé de igualdade com Mike Pence, vice-presidente dos Estados Unidos, com autoridade sobre Eugenio Araújo, ministro das Relações Exteriores que compete com Eduardo Bolsonaro (aquele do boné Trump 2020) na adulação em relação ao presidente dos Estados Unidos.
A pergunta é se, em Lima, Mourão irá manter um comportamento coerente com aquilo que disse e repetiu em Brasília por esses dias.
Até agora, ele deixou uma coleção de afirmações irretocáveis, capazes de silenciar toda tentativa de radicalizar ações contra Maduro após o fiasco de sábado.
Tocou no nervo da discussão ao recordar que o Brasil não tem o menor interesse numa intervenção militar contra o governo Maduro - a menos, claro, que o país vizinho nos ataque primeiro, hipótese absolutamente legítima para qualquer conflito armado e inteiramente fora de cogitação na conjuntura de hoje.
Contrariando uma tentativa óbvia de criar um ambiente artificial de confronto, sob medida para justificar uma intervenção militar, no fim de semana no qual Maduro mandou fechar as fronteiras para impedir a entrada de caminhões que alegadamente levavam remédios e alimentos, Mourão tratou o episódio com naturalidade: "o fechamento da fronteira para nós não significa um ato de agressão. A Venezuela tem liberdade para fazer o que quiser", acrescentou, sublinhando um argumento consagrado nos debates sobre autodeterminação dos povos: "a questão da Venezuela tem de ser resolvida pelos venezuelanos".
Vinte e quatro horas depois que Donald Trump divulgou uma ameaça direta a vários governos latino-americanos ("os dias do socialismo e do comunismo estão contados não apenas na Venezuela, mas também na Nicarágua e em Cuba" ) Mourão fez o possível para impedir uma elevação na temperatura política: "a ameaça (dos EUA) está mais no campo da retórica do que na ação. Seria muito prematuro e fora de propósito os EUA realizarem uma intervenção militar dentro da Venezuela".
Em Lima, os interlocutores de Mourão não serão jornalistas, mas diplomatas e homens de Estado empenhados, até o último fio de cabelo, em derrubar Nicola Maduro como primeiro movimento para acabar com o que chamam de "comunismo e socialismo".
Se diversas entrevistas de Mourão repercutem de forma positiva em círculos de brasileiros desencantados com o governo Bolsonaro, pode-se esperar uma reação de crítica e mesmo hostilidade em Lima, caso ele mantenha a mesma postura.
Referência no encontro, o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, embarcou com uma mensagem assim resumida por sua porta voz: "A luta na Venezuela é entre ditadura e democracia, e o momento é de liberdade. Juan Guaidó é o único líder legítimo da Venezuela, e é hora de Nicolas Maduro ir embora".
Por uma incrível coincidência, o encontro no qual Mourão pode mostrar coerência -- ou não -- irá ocorrer dias antes do Carnaval, uma das grandes festas brasileiras.
Se tiver um papel à altura da situação, em Lima, Mourão voltará ao país maior do que exibia no momento do embarque.
Caso contrário, irá cumprir uma divertida profecia sugerida pelo grande cronista Ruy Castro, num texto publicado no início deste mês, no qual lembrava um dos grandes sucessos carnavalescos, a batucada General da Banda.
A letra, lembrou Ruy Castro, é assim:
“Chegou o General da Banda, ê!... ê!.../ Chegou o General da Banda, ê!... á!.../ Chegou o General da Banda, ê!... ê!.../ Chegou o General da Banda, ê!... á!...// Mourão! Mourão!/ Vara madura que não cai/ Mourão! Mourão!/ Catuca por baixo que ele vai!”.
Ao participar de uma reunião do grupo de Lima, na qual uma bancada latino-americana de governos submissos a Washington irá discutir os próximos passos para derrubar Nicolas Maduro, o general Hamilton Mourão será submetido a um teste de grande interesse para o país - e também para seu futuro político.
Até agora, Mourão tem cumprido um papel particular nos debates sobre o assunto. Enquanto o próprio Bolsonaro deixa claro seu alinhamento com Donald Trump - até bateu continência para John Bolton, um dos mais radicais assessores do presidente dos Estados Unidos, com um papel relevante na guerra do Iraque -, o general vice-presidente tem feito o contraponto interno num momento crucial na política externa brasileira.
Como chegou a ser lembrado na campanha eleitoral, basta recordar que a patente de general de Exército, a mais alta da carreira militar, dá a Mourão uma autoridade particular em discussões que envolvem conflitos entre países que podem levar a uma solução militar no governo de um presidente que, várias patentes abaixo, parou de usar a farda quando era capitão.
Mourão viaja na posição de quem vai coordenar a participação do Brasil no encontro de Lima.
Pelo degrau na hierarquia do Estado brasileiro, a posição o coloca formalmente em pé de igualdade com Mike Pence, vice-presidente dos Estados Unidos, com autoridade sobre Eugenio Araújo, ministro das Relações Exteriores que compete com Eduardo Bolsonaro (aquele do boné Trump 2020) na adulação em relação ao presidente dos Estados Unidos.
A pergunta é se, em Lima, Mourão irá manter um comportamento coerente com aquilo que disse e repetiu em Brasília por esses dias.
Até agora, ele deixou uma coleção de afirmações irretocáveis, capazes de silenciar toda tentativa de radicalizar ações contra Maduro após o fiasco de sábado.
Tocou no nervo da discussão ao recordar que o Brasil não tem o menor interesse numa intervenção militar contra o governo Maduro - a menos, claro, que o país vizinho nos ataque primeiro, hipótese absolutamente legítima para qualquer conflito armado e inteiramente fora de cogitação na conjuntura de hoje.
Contrariando uma tentativa óbvia de criar um ambiente artificial de confronto, sob medida para justificar uma intervenção militar, no fim de semana no qual Maduro mandou fechar as fronteiras para impedir a entrada de caminhões que alegadamente levavam remédios e alimentos, Mourão tratou o episódio com naturalidade: "o fechamento da fronteira para nós não significa um ato de agressão. A Venezuela tem liberdade para fazer o que quiser", acrescentou, sublinhando um argumento consagrado nos debates sobre autodeterminação dos povos: "a questão da Venezuela tem de ser resolvida pelos venezuelanos".
Vinte e quatro horas depois que Donald Trump divulgou uma ameaça direta a vários governos latino-americanos ("os dias do socialismo e do comunismo estão contados não apenas na Venezuela, mas também na Nicarágua e em Cuba" ) Mourão fez o possível para impedir uma elevação na temperatura política: "a ameaça (dos EUA) está mais no campo da retórica do que na ação. Seria muito prematuro e fora de propósito os EUA realizarem uma intervenção militar dentro da Venezuela".
Em Lima, os interlocutores de Mourão não serão jornalistas, mas diplomatas e homens de Estado empenhados, até o último fio de cabelo, em derrubar Nicola Maduro como primeiro movimento para acabar com o que chamam de "comunismo e socialismo".
Se diversas entrevistas de Mourão repercutem de forma positiva em círculos de brasileiros desencantados com o governo Bolsonaro, pode-se esperar uma reação de crítica e mesmo hostilidade em Lima, caso ele mantenha a mesma postura.
Referência no encontro, o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, embarcou com uma mensagem assim resumida por sua porta voz: "A luta na Venezuela é entre ditadura e democracia, e o momento é de liberdade. Juan Guaidó é o único líder legítimo da Venezuela, e é hora de Nicolas Maduro ir embora".
Por uma incrível coincidência, o encontro no qual Mourão pode mostrar coerência -- ou não -- irá ocorrer dias antes do Carnaval, uma das grandes festas brasileiras.
Se tiver um papel à altura da situação, em Lima, Mourão voltará ao país maior do que exibia no momento do embarque.
Caso contrário, irá cumprir uma divertida profecia sugerida pelo grande cronista Ruy Castro, num texto publicado no início deste mês, no qual lembrava um dos grandes sucessos carnavalescos, a batucada General da Banda.
A letra, lembrou Ruy Castro, é assim:
“Chegou o General da Banda, ê!... ê!.../ Chegou o General da Banda, ê!... á!.../ Chegou o General da Banda, ê!... ê!.../ Chegou o General da Banda, ê!... á!...// Mourão! Mourão!/ Vara madura que não cai/ Mourão! Mourão!/ Catuca por baixo que ele vai!”.
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