Por Eric Nepomuceno, no site Carta Maior:
Na terça-feira (29/1), faleceu aos 79 anos o operário metalúrgico Genival Inácio da Silva, vítima de um câncer pulmonar. Era irmão mais velho de Luiz Inácio da Silva e uma figura essencial em sua vida e sua memória.
Quando Lula nasceu, Genival tinha seis. Ao longo de toda a infância e adolescência, foi uma espécie de guia protetor do benjamim de uma família abandonada pelo pai. Era, dos outros seis filhos de Dona Lindú, o mais apegado, o mais íntimo de Lula.
Corrigindo: nesta terça morreu Vavá, o irmão amado de Lula. Assim que soube, Lula pediu, da cela em que se encontra cumprindo sua arbitrária pena, injusta e imoral, uma permissão para comparecer ao velório e ao enterro de Vavá, que acontecia a cerca de 500 quilômetros de distância dali.
Se trata de uma prerrogativa assegurada pela lei, que depende do encarregado do cumprimento da sentença. O último dado oficial corresponde ao ano de 2015, quando mais de 173 mil presos foram autorizados a prestar a despedida final de parentes diretos, devidamente acompanhados por escolta policial.
Começou então um dos mais assombrosos desfiles de perversão, covarde e abjeta perversão, que este país em farrapos já viu ao longo de muitíssimas décadas.
A juíza encarregada de acompanhar a sentença de Lula, uma jovem chamada Carolina Lebbos, não quis usar a prerrogativa que lhe era facultada por lei: optou por consultar os promotores de Curitiba e o superintendente regional da Polícia Federal, em cujas dependências o ex-presidente se encontra recluído. Uma manobra grosseira, para ganhar tempo.
A partir desse momento começou a farsa, uma farsa imoral em que um lado passava a bola para o outro, até que, já durante a madrugada de quarta-feira (30/1), o tribunal de segunda instância decidiu finalmente rejeitar o pedido de Lula.
Os argumentos usados para tanto foram mais que risíveis, grotescos. Ofensivamente grotescos. A Polícia Federal, por exemplo, mencionou a impossibilidade de levar Lula de Curitiba a São Bernardo, devido ao tempo absolutamente escasso e falta de logística. Se esqueceu de dizer que, há duas semanas, ela enviou um avião às pressas a Santa Cruz de la Sierra assim que se soube da prisão do ativista italiano Césare Battisti em terras bolivianas. Naquele gesto ridículo e proposital, o avião foi e voltou vazio. O governo da Itália não quis dar ao capitão presidente o gostinho de se exibir com um troféu alheio.
Se naquela ocasião, o pouquíssimo tempo não impediu a Polícia Federal de realizar tamanha palhaçada, como acreditar que não havia meios para um voo muito mais curto? O Partido dos Trabalhadores (PT) inclusive se ofereceu para cobrir os custos de um voo privado, junto com toda a escolta do presidente. E nada.
Alta madrugada e os advogados de Lula tentaram o último gesto: recorreram ao Supremo Tribunal Federal. Ao meio dia, o presidente da suprema corte brasileira, Dias Tóffoli, teve a oportunidade de mostrar sua face mais clara e evidente, a de pigmeu moral.
À 12h45, ele autorizou Lula a viajar a São Paulo, mas não ao cemitério, e sim a uma guarnição militar, onde poderia se reunir com seus familiares. Generoso, autorizou também que o corpo de Vavá fosse levado a essa guarnição, para que Lula pudesse se despedir do irmão.
Quando a decisão dessa microscópica figura foi oficialmente comunicada, o corpo de Vavá já havia sido levado à sua derradeira morada. Lula reagiu como Lula: rechaçou a oferta imoral, por considerá-la indigna de um homem digno.
Em resumo, é disso que se trata: dignidade. É o que falta a toda a essa gente que morre de medo dele, e que, por esse medo, armou todo um circo de asquerosidade e crueldade. Esses canalhas não suportam sequer a presença e a palavra de um preso que sai da prisão para se despedir de um irmão, e que seria levado de volta no mesmo dia.
Ao ver tudo isso acontecer, em um país dominado pela ignorância, a truculência e a imoralidade, eu me pergunto: no fim das contas, quem é o prisioneiro? Lula ou os que morrem de medo dele?
* Publicado originalmente no jornal argentino Página/12. Tradução de Victor Farinelli.
Na terça-feira (29/1), faleceu aos 79 anos o operário metalúrgico Genival Inácio da Silva, vítima de um câncer pulmonar. Era irmão mais velho de Luiz Inácio da Silva e uma figura essencial em sua vida e sua memória.
Quando Lula nasceu, Genival tinha seis. Ao longo de toda a infância e adolescência, foi uma espécie de guia protetor do benjamim de uma família abandonada pelo pai. Era, dos outros seis filhos de Dona Lindú, o mais apegado, o mais íntimo de Lula.
Corrigindo: nesta terça morreu Vavá, o irmão amado de Lula. Assim que soube, Lula pediu, da cela em que se encontra cumprindo sua arbitrária pena, injusta e imoral, uma permissão para comparecer ao velório e ao enterro de Vavá, que acontecia a cerca de 500 quilômetros de distância dali.
Se trata de uma prerrogativa assegurada pela lei, que depende do encarregado do cumprimento da sentença. O último dado oficial corresponde ao ano de 2015, quando mais de 173 mil presos foram autorizados a prestar a despedida final de parentes diretos, devidamente acompanhados por escolta policial.
Começou então um dos mais assombrosos desfiles de perversão, covarde e abjeta perversão, que este país em farrapos já viu ao longo de muitíssimas décadas.
A juíza encarregada de acompanhar a sentença de Lula, uma jovem chamada Carolina Lebbos, não quis usar a prerrogativa que lhe era facultada por lei: optou por consultar os promotores de Curitiba e o superintendente regional da Polícia Federal, em cujas dependências o ex-presidente se encontra recluído. Uma manobra grosseira, para ganhar tempo.
A partir desse momento começou a farsa, uma farsa imoral em que um lado passava a bola para o outro, até que, já durante a madrugada de quarta-feira (30/1), o tribunal de segunda instância decidiu finalmente rejeitar o pedido de Lula.
Os argumentos usados para tanto foram mais que risíveis, grotescos. Ofensivamente grotescos. A Polícia Federal, por exemplo, mencionou a impossibilidade de levar Lula de Curitiba a São Bernardo, devido ao tempo absolutamente escasso e falta de logística. Se esqueceu de dizer que, há duas semanas, ela enviou um avião às pressas a Santa Cruz de la Sierra assim que se soube da prisão do ativista italiano Césare Battisti em terras bolivianas. Naquele gesto ridículo e proposital, o avião foi e voltou vazio. O governo da Itália não quis dar ao capitão presidente o gostinho de se exibir com um troféu alheio.
Se naquela ocasião, o pouquíssimo tempo não impediu a Polícia Federal de realizar tamanha palhaçada, como acreditar que não havia meios para um voo muito mais curto? O Partido dos Trabalhadores (PT) inclusive se ofereceu para cobrir os custos de um voo privado, junto com toda a escolta do presidente. E nada.
Alta madrugada e os advogados de Lula tentaram o último gesto: recorreram ao Supremo Tribunal Federal. Ao meio dia, o presidente da suprema corte brasileira, Dias Tóffoli, teve a oportunidade de mostrar sua face mais clara e evidente, a de pigmeu moral.
À 12h45, ele autorizou Lula a viajar a São Paulo, mas não ao cemitério, e sim a uma guarnição militar, onde poderia se reunir com seus familiares. Generoso, autorizou também que o corpo de Vavá fosse levado a essa guarnição, para que Lula pudesse se despedir do irmão.
Quando a decisão dessa microscópica figura foi oficialmente comunicada, o corpo de Vavá já havia sido levado à sua derradeira morada. Lula reagiu como Lula: rechaçou a oferta imoral, por considerá-la indigna de um homem digno.
Em resumo, é disso que se trata: dignidade. É o que falta a toda a essa gente que morre de medo dele, e que, por esse medo, armou todo um circo de asquerosidade e crueldade. Esses canalhas não suportam sequer a presença e a palavra de um preso que sai da prisão para se despedir de um irmão, e que seria levado de volta no mesmo dia.
Ao ver tudo isso acontecer, em um país dominado pela ignorância, a truculência e a imoralidade, eu me pergunto: no fim das contas, quem é o prisioneiro? Lula ou os que morrem de medo dele?
* Publicado originalmente no jornal argentino Página/12. Tradução de Victor Farinelli.
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