Sete cegos caminhavam por uma estrada quando cruzaram com um elefante. Todos queriam saber como era um elefante. Um deles apalpou a barriga do elefante e disse que elefante era uma parede. Outro apalpou a perna, e disse que elefante era um tronco. Um terceiro apalpou as presas do elefante e concluiu que o elefante era um chifre.
Acontece algo semelhante com a cobertura brasiliense sobre o pensamento militar.
Hoje, o Estadão publica matéria “Decisão de deixar Lula ir a enterro causou 'perplexidade' entre militares”. A repórter é setorista do Palácio do Planalto. Portanto, o genérico “militares” mencionado se refere especificamente ao(s) militar(es) que trabalha(m) no governo Bolsonaro. Trata-se de um recurso recorrente, que serve para pressionar o Supremo Tribunal Federal e para intimidar recalcitrantes. Basta informar que “militares”, assim no coletivo, pensam isso ou aquilo para o pânico se instalar.
Dias atrás, Veja soltou uma nota sobre a reação dos “militares” ao desprezo com que foram tratados em Brumadinho, comparado com a apologia feita aos soldados israelenses. Não há indicação também sobre quem seriam esses “militares”.
Ou seja, basta eu conversar com um militar específico, ele me dizer o que quero ouvir. E, depois, eu escrevo uma matéria sugerindo que “os militares” pensam isso ou aquilo.
Aliás, um recurso muito utilizado nas coberturas é a história de “a reportagem consultou três fontes que confirmaram” etc e tal. Esse número cabalístico surgiu dos livros sobre a cobertura do Washington Post do caso Watergate. Para publicar uma notícia, os repórteres tinham que confirmar a informação com três fontes distintas.
Quem acompanha o dia-a-dia da imprensa brasileira sabe que os repórteres mal e mal conseguem ouvir uma fonte, ainda mais nesses tempos de esvaziamento das redações.
Janio de Freitas, por seu lado, especifica uma diferença essencial entre os militares da reserva, que foram para o governo, depois de atuação política nos Clubes Militares, e o alto comando, profissional, incomodado com a imagem das Forças Armadas no jogo político. Janio sabe das coisas e tem visão analítica: consegue enxergar o elefante.
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