Por Antônio Martins, no site Outras Palavras:
Sumido dos jornais brasileiros, o movimento francês que se opôs ao aumento dos preços dos combustíveis e propôs como alternativa tributar os ricos, segue vivo. Duas matérias publicadas nos últimos dias – uma no New York Times, outra no site alternativo norte-americano Counterpunch são um sinal.
Densa porém elegante, a reportagem do NYTimes, que saiu na edição de 20 de janeiro, é quase um ensaio sociológico. Foi escrita por Alissa Rubin. Parte de um fato desconhecido no Brasil: desde meados de janeiro, o governo Emmanuel Macron proibiu os “coletes amarelos” de acampar nas rotatórias das rodovias. Qual o sentido desta interdição, aparentemente estranha?
Alissa mostra que as rotatórias estavam se convertendo no que os cafés e as agências de correio das pequenas cidades deixaram de ser: pontos em que os cidadãos encontram-se, descobrem-se em seus problemas e esperanças comuns, às vezes falam de política. As cidades, em declínio, são agora meros dormitórios. Nos cruzamentos, a vida social fluía. Por isso, os acampamentos foram todos desmontados pela policia.
A reportagem avança penetrando os dramas sociais dos que aderem aos coletes amarelos. Uma das retratadas é Christelle Béhélin, ex-dona de um salão de beleza que fechou o estabelecimento por não poder pagar aluguel. Agora, ela atende os clientes em casa e tenta completar o orçamento com faxinas e outros pequenos serviços. Estavam num acampamento e explica: “Como cada um de nós está absorvido por seu próprio sofrimento, vamos trabalhar e depois voltamos e nos escondemos em casa. Aliás, não temos dinheiro para sair. (…) Encontro as pessoas nas rotatórias, vizinhos que às vezes vivem no meu prédio e que eu nunca vira antes”.
Na campanha eleitoral para o Parlamento Europeu (pleito entre 23 e 26 de junho), a extrema-direita francesa, de Marinne Le Pen, tentará se apresentar como paladina dos coletes amarelos. A esquerda deveria se assustar com isso? Claro que não, aposta Michèle Brand, uma jornalista indepenente em Paris. O movimento já realizou onze jornadas de protestos – sempre aos sábados. Continua firme e enraizado, embora temporariamente menos vistoso que em dezembro. O amálgama de sujeitos que convergem para ele pode, claramente, assumir posições contrárias às capitalistas, mostra o texto.
“Trabalhadores jovens e velhos, aposentados, artesãos, alguns proprietários de pequenos comércios, agricultores, estudantes, autônomos e desempregados protestam não somente contra as ‘reformas” de Macron em favor dos ultra-ricos, mas especialmente contra o próprio declínio em seus padrões de vida. Um capitalismo cada vez mais agressivo, o desmonte do Estado de Bem-estar Social, a desindustrialização erodiram este padrão por 40 anos. (…) Os que se vestem de amarelo estão fartos de ficar sem dinheiro antes do final do mês, da insegurança no trabalho, dos impostos crescentes para os que trabalham, das aposentadorias em declínio, de trabalhar muitíssimas horas para pagar as contas, do aumento nos preços da energia, da perda de empregos devido à deslocalização das empresas, do número crescente de pessoas sem teto ou obrigadas a pedir.”
Se a esquerda não for capaz de dialogar com um movimento assim, sugere o texto, este fato dirá muito mais sobre ela própria que sobre os “coletes amarelos”…
Sumido dos jornais brasileiros, o movimento francês que se opôs ao aumento dos preços dos combustíveis e propôs como alternativa tributar os ricos, segue vivo. Duas matérias publicadas nos últimos dias – uma no New York Times, outra no site alternativo norte-americano Counterpunch são um sinal.
Densa porém elegante, a reportagem do NYTimes, que saiu na edição de 20 de janeiro, é quase um ensaio sociológico. Foi escrita por Alissa Rubin. Parte de um fato desconhecido no Brasil: desde meados de janeiro, o governo Emmanuel Macron proibiu os “coletes amarelos” de acampar nas rotatórias das rodovias. Qual o sentido desta interdição, aparentemente estranha?
Alissa mostra que as rotatórias estavam se convertendo no que os cafés e as agências de correio das pequenas cidades deixaram de ser: pontos em que os cidadãos encontram-se, descobrem-se em seus problemas e esperanças comuns, às vezes falam de política. As cidades, em declínio, são agora meros dormitórios. Nos cruzamentos, a vida social fluía. Por isso, os acampamentos foram todos desmontados pela policia.
A reportagem avança penetrando os dramas sociais dos que aderem aos coletes amarelos. Uma das retratadas é Christelle Béhélin, ex-dona de um salão de beleza que fechou o estabelecimento por não poder pagar aluguel. Agora, ela atende os clientes em casa e tenta completar o orçamento com faxinas e outros pequenos serviços. Estavam num acampamento e explica: “Como cada um de nós está absorvido por seu próprio sofrimento, vamos trabalhar e depois voltamos e nos escondemos em casa. Aliás, não temos dinheiro para sair. (…) Encontro as pessoas nas rotatórias, vizinhos que às vezes vivem no meu prédio e que eu nunca vira antes”.
Na campanha eleitoral para o Parlamento Europeu (pleito entre 23 e 26 de junho), a extrema-direita francesa, de Marinne Le Pen, tentará se apresentar como paladina dos coletes amarelos. A esquerda deveria se assustar com isso? Claro que não, aposta Michèle Brand, uma jornalista indepenente em Paris. O movimento já realizou onze jornadas de protestos – sempre aos sábados. Continua firme e enraizado, embora temporariamente menos vistoso que em dezembro. O amálgama de sujeitos que convergem para ele pode, claramente, assumir posições contrárias às capitalistas, mostra o texto.
“Trabalhadores jovens e velhos, aposentados, artesãos, alguns proprietários de pequenos comércios, agricultores, estudantes, autônomos e desempregados protestam não somente contra as ‘reformas” de Macron em favor dos ultra-ricos, mas especialmente contra o próprio declínio em seus padrões de vida. Um capitalismo cada vez mais agressivo, o desmonte do Estado de Bem-estar Social, a desindustrialização erodiram este padrão por 40 anos. (…) Os que se vestem de amarelo estão fartos de ficar sem dinheiro antes do final do mês, da insegurança no trabalho, dos impostos crescentes para os que trabalham, das aposentadorias em declínio, de trabalhar muitíssimas horas para pagar as contas, do aumento nos preços da energia, da perda de empregos devido à deslocalização das empresas, do número crescente de pessoas sem teto ou obrigadas a pedir.”
Se a esquerda não for capaz de dialogar com um movimento assim, sugere o texto, este fato dirá muito mais sobre ela própria que sobre os “coletes amarelos”…
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