Por Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, no site Tutaméia:
Soberania nacional
De seu recente encontro com Lula, a quem visitou na prisão em Curitiba, João Paulo destaca a aguda e precisa leitura que o presidente faz da conjuntura e das tarefas dos democratas no país.
A luta em defesa da soberania nacional é uma das missões mais importantes neste momento, conforme Lula apontou para João Paulo. “Lula acha que as relações do governo Bolsonaro com o governo Trump são muito perigosas para a América Latina e para o Brasil”, diz João Paulo, destacando que toda ação do governo Bolsonaro são para solapa a nação e atacar o povo brasileiro:
“Com o governo Bolsonaro, que segue a política do governo Temer, nós estamos voltando a um Brasil do passado, em que a economia predominante é do agronegócio e extração de minérios. Tudo que vimos até no Brasil Colônia. Não tem nada de novidade: a indústria no Brasil diminuiu, e o pré-sal, que poderia ser usado para o desenvolvimento, está sendo entregue para o capital internacional.”
Acolhendo a voz de Lula, o dirigente do MST aponta os cinco pontos de luta que considera mais importantes como agenda para as esquerdas, os democratas, para o estancamento da destruição do país:
“Temos de reafirmar nosso compromisso com a luta em defesa de um país justo. Acho que a esquerda construiu, ao longo dos últimos meses, alguns temas que possivelmente virão na pauta de mobilizações:
1- A luta por Lula Livre
2- A luta contra a reforma da previdência
4- A luta em defesa dos direitos humanos. Defender os direitos humanos nos dias de hoje é defender os pretos, que estão sendo assassinados, as mulheres pretas, favelas, que estão sendo assassinados.
5- E a luta pela reforma agrária
Lula em Carajás
O presidente Lula visitou a região de Carajás pouco tempo depois do massacre. Ele falou um pouco sobre o crime em pronunciamento durante a cerimônia de posse da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em 1996.
“Eu acho que é um dever nosso não deixar cair em esquecimento o acontecimento de Eldorado dos Carajás. Acho que os metalúrgicos vão ter que aprender com os sem-terra. […] A violência que foi feita contra os trabalhadores rurais pode perfeitamente bem ser feita contra os trabalhadores urbanos.”
E prosseguiu, como você pode ver no vídeo, editado pelo Instituto Lula, a partir de acervo da TVT.
“Essa diretoria que toma posse e essa categoria ainda vão ter que carregar nas costas um trabalho de solidariedade com aqueles que tem menos posse e menos oportunidade do que nós temos. […] O governo tá apostando no esquecimento. O nosso papel é não permitir que caia no esquecimento. Não esqueceremos.”
Preso por policiais militares que, tal jagunços, escondiam a própria identidade, Oziel Alves Pereira foi espancado, arrastado pelos cabelos, algemado com as mãos para trás e então assassinado com quatro tiros, três na cabeça e um no peito. Aos 17 anos, o garoto foi o mais jovem dos 19 mortos em ataque na Curva do S, no Pará, naquilo que a história registra como o Massacre de Eldorado de Carajás.
Ocorrido em 17 de abril de 1996, o crime foi transformado em motivo de resistência e luta para o movimento popular - em especial o movimento camponês - no mundo inteiro, que hoje celebra o Dia de Luta pela Reforma Agrária.
No Brasil, a data é lembrada em cerimônias e manifestações várias, de uma sessão memorial no Congresso, em Brasília, a ocupações, atos públicos, debates e atividades culturais no mais diversos recantos do país.
Para marcar a história, discutir suas consequências e seu legado, Tutaméia entrevistou João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, herdeiro das lutas e da história dos assassinados em Carajás (veja a íntegra da entrevista no vídeo).
“Foi um trauma na luta pela terra no Brasil, um trauma para a esquerda como um todo. Como outros crimes emblemáticos, como os assassinatos de Chico Mendes, na década de 1980, e de Marielle, nos dias de hoje, extrapolou os acontecimentos comuns de violência com ativistas. Por trás, há a violência política, o envolvimento do Estado, interesses muito grandes. O Massacre de Carajás recolocou a questão agrária na pauta. Foi nesse período que aconteceram os grandes debates no país sobre reforma agrária, a Marcha do MST a Brasília, em 1997, que pautou o assunto.”
Ocorrido em 17 de abril de 1996, o crime foi transformado em motivo de resistência e luta para o movimento popular - em especial o movimento camponês - no mundo inteiro, que hoje celebra o Dia de Luta pela Reforma Agrária.
No Brasil, a data é lembrada em cerimônias e manifestações várias, de uma sessão memorial no Congresso, em Brasília, a ocupações, atos públicos, debates e atividades culturais no mais diversos recantos do país.
Para marcar a história, discutir suas consequências e seu legado, Tutaméia entrevistou João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, herdeiro das lutas e da história dos assassinados em Carajás (veja a íntegra da entrevista no vídeo).
“Foi um trauma na luta pela terra no Brasil, um trauma para a esquerda como um todo. Como outros crimes emblemáticos, como os assassinatos de Chico Mendes, na década de 1980, e de Marielle, nos dias de hoje, extrapolou os acontecimentos comuns de violência com ativistas. Por trás, há a violência política, o envolvimento do Estado, interesses muito grandes. O Massacre de Carajás recolocou a questão agrária na pauta. Foi nesse período que aconteceram os grandes debates no país sobre reforma agrária, a Marcha do MST a Brasília, em 1997, que pautou o assunto.”
A violência não foi capaz de paralisar a mobilização camponesa, destaca o líder do MST: “De lá para cá, como resultado de muita luta, o estado Brasileiro assentou 1 milhão de famílias, mais ou menos 400 mil nos governos FHC e 600 mil famílias assentadas nos governos Lula e Dilma”. E resume: “Antes não havia isso. O Massacre de Carajás proporcionou que a luta pela terra ganhasse essa dimensão”.
Segue: “Carajás não tenho dúvida de que é um trauma na vida do povo brasileiro, do povo camponês, mas, ao mesmo tempo, é um marco que nos possibilitou discutir com a sociedade a questão agrária e ter um conjunto de conquistas, não só para o MST mas para todo o debate da questão agrária no Brasil e a nível internacional”.
Apesar das conquistas, muitos problemas não puderam ser eliminados, e até cresceram, especialmente depois do golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, em 2016, e agora, conforme diz Rodrigues:
“Hoje, no governo Bolsonaro, seguindo o que já acontecia no governo Temer, voltou para a agenda da política o tema da violência no campo e os assassinatos. Só no governo Temer, nos dois anos do governo Temer, foram mais de 115 assassinatos no campo. O que demonstra uma situação gravíssima”.
A brutalidade desbragada se soma a uma ação político que ataca as conquistas populares: “Tivemos uma série de maldades ampliando a concentração de terra. Mudanças no regime trabalhista fizeram aumentar o trabalho em regime análogo à escravidão, o perdão das dívidas dos ruralistas provoca aumento da disputa pela terra e, em especial, a disputa com os povos indígenas. E, por último, tivemos um pacote de maldades, o pacote químico do governo, que é a liberação de agrotóxicos e um conjunto de transgênicos, que provavelmente ainda vão nos causar muitos problemas na agricultura. Muitos deles proibidos em outros países, e que estão contaminando as cidades, a água bebida nas cidades.”
No coração desses problemas, afirma ele, está a concentração da propriedade da terra: “Essa concentração é inadmissível em um país como o Brasil: temos 46% das terras na mão de 1% da população. É por isso que há essa demanda gritante para que seja feita uma reforma agrária, que foi feita em todos os países desenvolvidos.”
E não adianta vir com mais violência, adverte o dirigente, ao mesmo tempo em que dá uma receita para o Estado, os rentistas e os latifundiários: “Já se passou todo esse tempo, o MST celebra neste ano 35 anos de existência, e eu sempre falo por aí, e é real, que, para acabar com o MST só existe uma forma, que é fazer a reforma agrária”.
Assange e Lula
A conversa se espalhou para os dias de hoje. Rodrigues denunciou a tentativa do governo de São Paulo de impedir a realização da Feira da Reforma Agrária –evento já tradicional em que assentados do país todos apresentam ao povo brasileira o resultado de seu trabalho, os frutos da agricultura agroecológica e orgânica. E apontou: a feira está adiada, mas vai ser realizada. E a luta continua para que ela aconteça em seu palco tradicional, o parque da Água Branca, na zona oeste de São Paulo.
Na entrevista, João Paulo também falou sobre seus encontros com os dois mais importantes presos políticos do mundo, Julian Assange, o dirigente do Wikileaks, e o presidente Lula.
“Os dois foram atacados por essa guerra jurídica, acusações falsas, sem provas. Lula e Assange são presos políticos, detidos ambos com colaboração dos Estados Unidos”.
Segue: “Carajás não tenho dúvida de que é um trauma na vida do povo brasileiro, do povo camponês, mas, ao mesmo tempo, é um marco que nos possibilitou discutir com a sociedade a questão agrária e ter um conjunto de conquistas, não só para o MST mas para todo o debate da questão agrária no Brasil e a nível internacional”.
Apesar das conquistas, muitos problemas não puderam ser eliminados, e até cresceram, especialmente depois do golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, em 2016, e agora, conforme diz Rodrigues:
“Hoje, no governo Bolsonaro, seguindo o que já acontecia no governo Temer, voltou para a agenda da política o tema da violência no campo e os assassinatos. Só no governo Temer, nos dois anos do governo Temer, foram mais de 115 assassinatos no campo. O que demonstra uma situação gravíssima”.
A brutalidade desbragada se soma a uma ação político que ataca as conquistas populares: “Tivemos uma série de maldades ampliando a concentração de terra. Mudanças no regime trabalhista fizeram aumentar o trabalho em regime análogo à escravidão, o perdão das dívidas dos ruralistas provoca aumento da disputa pela terra e, em especial, a disputa com os povos indígenas. E, por último, tivemos um pacote de maldades, o pacote químico do governo, que é a liberação de agrotóxicos e um conjunto de transgênicos, que provavelmente ainda vão nos causar muitos problemas na agricultura. Muitos deles proibidos em outros países, e que estão contaminando as cidades, a água bebida nas cidades.”
No coração desses problemas, afirma ele, está a concentração da propriedade da terra: “Essa concentração é inadmissível em um país como o Brasil: temos 46% das terras na mão de 1% da população. É por isso que há essa demanda gritante para que seja feita uma reforma agrária, que foi feita em todos os países desenvolvidos.”
E não adianta vir com mais violência, adverte o dirigente, ao mesmo tempo em que dá uma receita para o Estado, os rentistas e os latifundiários: “Já se passou todo esse tempo, o MST celebra neste ano 35 anos de existência, e eu sempre falo por aí, e é real, que, para acabar com o MST só existe uma forma, que é fazer a reforma agrária”.
Assange e Lula
A conversa se espalhou para os dias de hoje. Rodrigues denunciou a tentativa do governo de São Paulo de impedir a realização da Feira da Reforma Agrária –evento já tradicional em que assentados do país todos apresentam ao povo brasileira o resultado de seu trabalho, os frutos da agricultura agroecológica e orgânica. E apontou: a feira está adiada, mas vai ser realizada. E a luta continua para que ela aconteça em seu palco tradicional, o parque da Água Branca, na zona oeste de São Paulo.
Na entrevista, João Paulo também falou sobre seus encontros com os dois mais importantes presos políticos do mundo, Julian Assange, o dirigente do Wikileaks, e o presidente Lula.
“Os dois foram atacados por essa guerra jurídica, acusações falsas, sem provas. Lula e Assange são presos políticos, detidos ambos com colaboração dos Estados Unidos”.
Soberania nacional
De seu recente encontro com Lula, a quem visitou na prisão em Curitiba, João Paulo destaca a aguda e precisa leitura que o presidente faz da conjuntura e das tarefas dos democratas no país.
A luta em defesa da soberania nacional é uma das missões mais importantes neste momento, conforme Lula apontou para João Paulo. “Lula acha que as relações do governo Bolsonaro com o governo Trump são muito perigosas para a América Latina e para o Brasil”, diz João Paulo, destacando que toda ação do governo Bolsonaro são para solapa a nação e atacar o povo brasileiro:
“Com o governo Bolsonaro, que segue a política do governo Temer, nós estamos voltando a um Brasil do passado, em que a economia predominante é do agronegócio e extração de minérios. Tudo que vimos até no Brasil Colônia. Não tem nada de novidade: a indústria no Brasil diminuiu, e o pré-sal, que poderia ser usado para o desenvolvimento, está sendo entregue para o capital internacional.”
Acolhendo a voz de Lula, o dirigente do MST aponta os cinco pontos de luta que considera mais importantes como agenda para as esquerdas, os democratas, para o estancamento da destruição do país:
“Temos de reafirmar nosso compromisso com a luta em defesa de um país justo. Acho que a esquerda construiu, ao longo dos últimos meses, alguns temas que possivelmente virão na pauta de mobilizações:
1- A luta por Lula Livre
2- A luta contra a reforma da previdência
3- A luta em defesa da soberania nacional e contra as privatizações. Temos de construir um grande movimento em defesa da soberania, temos de ampliar isso.
4- A luta em defesa dos direitos humanos. Defender os direitos humanos nos dias de hoje é defender os pretos, que estão sendo assassinados, as mulheres pretas, favelas, que estão sendo assassinados.
5- E a luta pela reforma agrária
Lula em Carajás
O presidente Lula visitou a região de Carajás pouco tempo depois do massacre. Ele falou um pouco sobre o crime em pronunciamento durante a cerimônia de posse da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em 1996.
“Eu acho que é um dever nosso não deixar cair em esquecimento o acontecimento de Eldorado dos Carajás. Acho que os metalúrgicos vão ter que aprender com os sem-terra. […] A violência que foi feita contra os trabalhadores rurais pode perfeitamente bem ser feita contra os trabalhadores urbanos.”
E prosseguiu, como você pode ver no vídeo, editado pelo Instituto Lula, a partir de acervo da TVT.
“Essa diretoria que toma posse e essa categoria ainda vão ter que carregar nas costas um trabalho de solidariedade com aqueles que tem menos posse e menos oportunidade do que nós temos. […] O governo tá apostando no esquecimento. O nosso papel é não permitir que caia no esquecimento. Não esqueceremos.”
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