Por Bernardo Gomes, no site Vermelho:
Para implementar a sua agenda neoliberal e entreguista, a elite brasileira, após o golpe parlamentar de 2016, decidiu abraçar o fascismo como consequência da violência política contra a esquerda e seus governos democráticos e populares. O outro paralelo na história dessa união resultou na Ditadura Militar, sabemos como isso termina.
Para implementar a sua agenda neoliberal e entreguista, a elite brasileira, após o golpe parlamentar de 2016, decidiu abraçar o fascismo como consequência da violência política contra a esquerda e seus governos democráticos e populares. O outro paralelo na história dessa união resultou na Ditadura Militar, sabemos como isso termina.
Semana passada talvez tenha sido a mais simbólica e emblemática para aqueles que ainda tratavam o governo de Jair Bolsonaro com alguma esperança institucional. O atual Presidente da República – que nunca mentiu quanto aos seus desejos ditatoriais – mostrou toda a sua “inclinação autoritária” segundo editorial da Folha de S. Paulo.
O governo, ou melhor regime, que se encontra no poder vocalizou na voz de seu líder todo o preconceito contra o povo do Nordeste chamando os governadores dessa região de “paraíbas” e ainda demonstrou o seu caráter abertamente anticomunista ao perseguir o estado do Maranhão e o seu governador Flávio Dino, do PCdoB, que segundo Bolsonaro “de todos é o pior, não tem que ter nada com esse cara” ferindo de morte o federalismo da República.
Bolsonaro ainda reforçou em declarações, mentiras que impulsionam a perseguição de seus seguidores a jornalista Míriam Leitão, demonstrou o seu desejo de censurar os projetos da Ancine – Agência Nacional do Cinema, atacou o diretor do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais por divulgar informações sobre o desmatamento, e como de costume segue bradando ofensas ao PT alimentando a falsa dicotomia e o gatilho mental da sua base fascista.
Essas atitudes parecem ter deixado em choque até mesmo a elite que o apoia. O bolsonarismo não era de fato o projeto que ascendeu com a coalizão neoliberal formada no parlamento após o golpe. O impeachment de Dilma Rousseff em 2016 abriu os portões do inferno, além de práticas corruptas e tiranas daqueles que detinham parcelas do poder da alta burocracia do Poder Judiciário, alguns partidos políticos apostaram na ruptura, e a mídia ampliou e deu voz ao ataque à democracia. O ódio e a violência política foram naturalizados de tal forma para se tirar o PT do poder, que depois não conseguiram domar o mostro que criaram. Estava aí o fascismo crescendo em uma velocidade assustadora.
Como bem observou Fernando Haddad em artigo na Folha de S. Paulo 20/07/2019, o projeto lava-jato-mídia-parlamento era fortalecer a agenda Temer/PSDB, porém o projeto desabou com acusações de corrupção que envolvia também os partidos golpistas. Após a facada decisiva em Bolsonaro e a candidatura de Alckmin não decolando, a elite se viu em uma encruzilhada, abraçar o fascismo era a única saída para avançar na agenda neoliberal e entreguista.
Bolsonaro foi eleito, vão dizer os institucionalistas. Teve eleição, oposição, debates e a democracia liberal está preservada. Qual democracia? Primeiro revogaram a soberania popular com um impeachment sem crime de responsabilidade, depois prenderam o líder em todas as pesquisas de opinião, em um conluio vergonhoso entre Ministério Público e Judiciário, tudo coordenado pelo então juiz Sérgio Moro, hoje Ministro da Justiça do Governo Bolsonaro, fora o impacto das fake news que ainda não conseguimos compreender a sua real dimensão.
O que tem que ficar claro é que a elite não mede esforços e nem possui escrúpulos para avançar em seus interesses imediatistas e mesquinhos, com essa visão neocolonial e escravocrata. Já apostaram uma vez na aventura fascista, volta e meia lançam mão de golpes de estado e invencionices jurídicas, não perdem a oportunidade de usarem da tirania para impedir governos nacionalistas de desenvolverem o país.
Na crise da primeira onda de democratização do Brasil entre 1946 e 1964 as direitas que se encontravam opostas na era Vargas encontraram a oportunidade de se unificarem. A renúncia de Jânio Quadros, em 1961, e a ascensão ao poder de João Goulart, do PTB, trazendo o trabalhismo urbano e a sua aproximação com as camadas rurais, levando ao clamor pelas reformas de base, inclusive a reforma agrária, foi a deixa para que as direitas se unificassem em torno de uma coalizão contra o nacionalismo reformista de Goulart.
Fatores decisivos para a unificação da direita foram: o apoio dos grandes jornais da época, O Estado de S.Paulo, O Globo, e Diários Associados que contemplavam a rádio e TV Tupi e serviam como máquinas de propaganda anticomunista; a aproximação da direita udenista com os militares; o apoio da Igreja Católica; a formação de um bloco multinacional associado capitaneado por tecnoempresários vinculados ao capital internacional (Dreyfus, 1987; Kaysel, 2017). Esta aliança resultou no golpe de 1964 que destituiu Goulart, e mergulhou o Brasil em 21 anos de ditadura militar.
Após o período da ditadura militar e no bojo da redemocratização a unidade da direita foi quebrada, sendo que vários empresários ligados ao pensamento liberal aderiram a democracia. Como a ditadura foi muito violenta, antiliberal, e traumatizou a política nacional, se declarar de direita ou conservador era visto com maus olhos, tendo a direita ficado envergonha. Na democratização a direita adotaria a defesa da liberalização econômica como seu principal viés ideológico.
A direita não está mais unida como em 1964, tanto que a extrema-direita que surge após 2013 e se consolida no golpe contra Dilma, avança para cima até mesmo da direita liberal e do chamado “centrão”, com um discurso de purificação nacional, limpeza política e patriotismo “meu partido é o Brasil”. Bolsonaro retoma as práticas da direita integralista ligada ao pensamento fascista, com a volta dos “camisas verde-amarelas”, o anticomunismo militante sob uma nova face criada pela grande mídia, o antipetismo.
Os democratas que ainda se encontram vacilantes, pensando que podem tirar algum proveito da aliança com o fascismo para implementarem a sua agenda, contribuem para a normalização do regime fascista. O custo da agenda neoliberal – sob Paulo Guedes ultraliberal – é acabar com a democracia, pois este modelo econômico não passa mais pelas urnas em amplo debate com a sociedade.
O Governo Bolsonaro já gabaritou todos os requisitos de um regime autoritário em menos de um ano de mandato e, ainda assim, conta com a normalização de parte da mídia e da elite. Parece ser uma questão de tempo até que a casca de institucionalidade democrática caia e o governo totalitário se revele livre de todas as máscaras e amarras. Não cabe mais falar em avanço do fascismo, ele já está instalado no seio do Estado e se espalha como praga na sociedade.
Quem está ainda em sono profundo cabe despertar. Poderá ser tarde demais, o fascismo já provou na história por onde passou que não perdoa ninguém. O debate não é mais sobre projetos políticos, é civilização contra a barbárie, democracia contra a tirania.
Referências Bibliográficas
O governo, ou melhor regime, que se encontra no poder vocalizou na voz de seu líder todo o preconceito contra o povo do Nordeste chamando os governadores dessa região de “paraíbas” e ainda demonstrou o seu caráter abertamente anticomunista ao perseguir o estado do Maranhão e o seu governador Flávio Dino, do PCdoB, que segundo Bolsonaro “de todos é o pior, não tem que ter nada com esse cara” ferindo de morte o federalismo da República.
Bolsonaro ainda reforçou em declarações, mentiras que impulsionam a perseguição de seus seguidores a jornalista Míriam Leitão, demonstrou o seu desejo de censurar os projetos da Ancine – Agência Nacional do Cinema, atacou o diretor do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais por divulgar informações sobre o desmatamento, e como de costume segue bradando ofensas ao PT alimentando a falsa dicotomia e o gatilho mental da sua base fascista.
Essas atitudes parecem ter deixado em choque até mesmo a elite que o apoia. O bolsonarismo não era de fato o projeto que ascendeu com a coalizão neoliberal formada no parlamento após o golpe. O impeachment de Dilma Rousseff em 2016 abriu os portões do inferno, além de práticas corruptas e tiranas daqueles que detinham parcelas do poder da alta burocracia do Poder Judiciário, alguns partidos políticos apostaram na ruptura, e a mídia ampliou e deu voz ao ataque à democracia. O ódio e a violência política foram naturalizados de tal forma para se tirar o PT do poder, que depois não conseguiram domar o mostro que criaram. Estava aí o fascismo crescendo em uma velocidade assustadora.
Como bem observou Fernando Haddad em artigo na Folha de S. Paulo 20/07/2019, o projeto lava-jato-mídia-parlamento era fortalecer a agenda Temer/PSDB, porém o projeto desabou com acusações de corrupção que envolvia também os partidos golpistas. Após a facada decisiva em Bolsonaro e a candidatura de Alckmin não decolando, a elite se viu em uma encruzilhada, abraçar o fascismo era a única saída para avançar na agenda neoliberal e entreguista.
Bolsonaro foi eleito, vão dizer os institucionalistas. Teve eleição, oposição, debates e a democracia liberal está preservada. Qual democracia? Primeiro revogaram a soberania popular com um impeachment sem crime de responsabilidade, depois prenderam o líder em todas as pesquisas de opinião, em um conluio vergonhoso entre Ministério Público e Judiciário, tudo coordenado pelo então juiz Sérgio Moro, hoje Ministro da Justiça do Governo Bolsonaro, fora o impacto das fake news que ainda não conseguimos compreender a sua real dimensão.
O que tem que ficar claro é que a elite não mede esforços e nem possui escrúpulos para avançar em seus interesses imediatistas e mesquinhos, com essa visão neocolonial e escravocrata. Já apostaram uma vez na aventura fascista, volta e meia lançam mão de golpes de estado e invencionices jurídicas, não perdem a oportunidade de usarem da tirania para impedir governos nacionalistas de desenvolverem o país.
Na crise da primeira onda de democratização do Brasil entre 1946 e 1964 as direitas que se encontravam opostas na era Vargas encontraram a oportunidade de se unificarem. A renúncia de Jânio Quadros, em 1961, e a ascensão ao poder de João Goulart, do PTB, trazendo o trabalhismo urbano e a sua aproximação com as camadas rurais, levando ao clamor pelas reformas de base, inclusive a reforma agrária, foi a deixa para que as direitas se unificassem em torno de uma coalizão contra o nacionalismo reformista de Goulart.
Fatores decisivos para a unificação da direita foram: o apoio dos grandes jornais da época, O Estado de S.Paulo, O Globo, e Diários Associados que contemplavam a rádio e TV Tupi e serviam como máquinas de propaganda anticomunista; a aproximação da direita udenista com os militares; o apoio da Igreja Católica; a formação de um bloco multinacional associado capitaneado por tecnoempresários vinculados ao capital internacional (Dreyfus, 1987; Kaysel, 2017). Esta aliança resultou no golpe de 1964 que destituiu Goulart, e mergulhou o Brasil em 21 anos de ditadura militar.
Após o período da ditadura militar e no bojo da redemocratização a unidade da direita foi quebrada, sendo que vários empresários ligados ao pensamento liberal aderiram a democracia. Como a ditadura foi muito violenta, antiliberal, e traumatizou a política nacional, se declarar de direita ou conservador era visto com maus olhos, tendo a direita ficado envergonha. Na democratização a direita adotaria a defesa da liberalização econômica como seu principal viés ideológico.
A direita não está mais unida como em 1964, tanto que a extrema-direita que surge após 2013 e se consolida no golpe contra Dilma, avança para cima até mesmo da direita liberal e do chamado “centrão”, com um discurso de purificação nacional, limpeza política e patriotismo “meu partido é o Brasil”. Bolsonaro retoma as práticas da direita integralista ligada ao pensamento fascista, com a volta dos “camisas verde-amarelas”, o anticomunismo militante sob uma nova face criada pela grande mídia, o antipetismo.
Os democratas que ainda se encontram vacilantes, pensando que podem tirar algum proveito da aliança com o fascismo para implementarem a sua agenda, contribuem para a normalização do regime fascista. O custo da agenda neoliberal – sob Paulo Guedes ultraliberal – é acabar com a democracia, pois este modelo econômico não passa mais pelas urnas em amplo debate com a sociedade.
O Governo Bolsonaro já gabaritou todos os requisitos de um regime autoritário em menos de um ano de mandato e, ainda assim, conta com a normalização de parte da mídia e da elite. Parece ser uma questão de tempo até que a casca de institucionalidade democrática caia e o governo totalitário se revele livre de todas as máscaras e amarras. Não cabe mais falar em avanço do fascismo, ele já está instalado no seio do Estado e se espalha como praga na sociedade.
Quem está ainda em sono profundo cabe despertar. Poderá ser tarde demais, o fascismo já provou na história por onde passou que não perdoa ninguém. O debate não é mais sobre projetos políticos, é civilização contra a barbárie, democracia contra a tirania.
Referências Bibliográficas
KAYSEL, A. “Regressando ao Regresso: elementos para uma genealogia das direitas brasileiras” In: Direita, volver! : o retorno da direita e o ciclo político brasileiro / Sebastião Velasco e Cruz, André Kaysel, Gustavo Codas (organizadores). – São Paulo : Editora Fundação Perseu Abramo, 2015
DREYFUS, R. A. 1964 – A conquista do Estado: poder e golpe de classe.
Petrópolis: Vozes, 1987. ______. O jogo da direita na Nova República.
Petrópolis: Vozes, 1989.
DREYFUS, R. A. 1964 – A conquista do Estado: poder e golpe de classe.
Petrópolis: Vozes, 1987. ______. O jogo da direita na Nova República.
Petrópolis: Vozes, 1989.
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