Por Maíra Miranda, no blog Socialista Morena:
O nome de Tabata Amaral, jovem deputada federal oriunda da periferia de São Paulo e que chegou a Harvard, se fez gigante logo nos primeiros dias do governo Bolsonaro, em que a aplaudimos em embates memoráveis, como aquele com Ricardo Vélez Rodrigues que iniciaria seu processo de saída do ministério da Educação. A pasta é a principal preocupação da deputada, que se define como ativista pela educação.
O argumento da juventude, porém, não serve como justificativa para as escolhas que Tabata tem feito desde então. Como mulheres, estamos cientes do caráter imprescindível do feminismo nos dias atuais, bem como a urgência de ampliar a representatividade feminina em um campo marcado pela presença masculina como a política. Não é fácil proferir críticas a uma mulher parlamentar com uma trajetória como a de Tabata, que “venceu na vida” depois de enfrentar dificuldades da infância pobre. Sim, não podemos tirar o mérito de Tabata.
Mas, enquanto progressistas, é necessário pontuar que precisamos de parlamentares mulheres que defendam os direitos da classe trabalhadora, aliás a classe de origem dela. No vídeo no twitter em que justificava o voto, Tabata diz que ser de esquerda não pode significar ser contra um projeto que torna o Brasil “mais inclusivo e mais desenvolvido”, quando é justamente o contrário. Quando Tabata diz “sim” à reforma da Previdência, diz “não” à classe trabalhadora, já que a reforma irá prejudicar sobretudo os mais pobres.
“Não podemos deixar que o medo da ultradireita nos leve ao feminismo liberal”, disse Nancy Fraser em alguns dias depois do lançamento no Brasil e em oito países do manifesto Feminismo para os 99%, em 8 de março deste ano.
O manifesto foi elaborado por três nomes do feminismo atual. Além de Fraser (filósofa política, intelectual e feminista estadunidense e professora da New School for Social Research), Cinzia Arruzza, feminista italiana, também professora da New School of Social Research e autora do livro Marxismo e feminismo — Entre Casamentos e divórcios, e Tithi Bhattacharya, professora de História do Sul da Ásia e Diretora do Centro de Estudos Globais na Universidade de Purdue (EUA), feminista marxista e uma das organizadoras da Greve Internacional de Mulheres nos Estados Unidos, além de ativista da causa palestina.
A edição brasileira do livro vem com prefácio emocionante da deputada Talíria Petrone, que homenageia Carolina Maria de Jesus, escritora negra, pobre e favelada e nome fundamental da literatura brasileira, mas pouco estudada, “e sua resistência silenciada”. Talíria finaliza o prefácio lembrando Marielle Franco e seu ativismo na causa feminista.
No livro, as autoras criticam o “feminismo do 1%”, o feminismo que impulsiona mulheres no mercado de trabalho a “fazer acontecer”, defendido por personalidades como Sheryl Sandberg, diretora de operações do facebook, mas que enxerga o feminismo, na verdade, como mero serviçal do capitalismo. “Querem um mundo onde a tarefa de administrar a exploração no local de trabalho e a opressão no todo seja compartilhada igualmente por homens e mulheres da classe dominante”, dizem as autoras.
“Embora condene a ‘discriminação’ e defenda a ‘liberdade de escolha’, o feminismo liberal se recusa firmemente a tratar das restrições socioeconômicas que tornam a liberdade e o empoderamento impossíveis para a ampla maioria das mulheres. Seu verdadeiro objetivo não é a igualdade e sim a meritocracia. Em vez de buscar abolir a hierarquia social, visa a ‘diversificá-la’, ‘empoderando’ mulheres ‘talentosas’ para ascender ao topo”, diz um trecho do manifesto.
Com o Feminismo para os 99%, as autoras propõem um feminismo mais abrangente, que alcance todas as classes e que lute por justiça social. “O feminismo para os 99% abarca a luta de classes e combate o racismo institucional. Concentra os interesse das mulheres da classe trabalhadora de todos os tipos: racializadas, migrantes ou brancas; cis, trans ou não alinhadas à conformidade de gênero; que se ocupam da casa ou são trabalhadoras sexuais; remuneradas por hora, semana, mês ou nunca remuneradas; subempregadas; jovens ou idosas. Incondicionalmente internacionalista, esse feminismo se opõe firmemente ao imperialismo e à guerra. O feminismo para os 99% não é apenas antineoliberal, mas também anticapitalista.”
Precisamos sim de mulheres na política. A presença de Tabata na Câmara fortalece a democracia quando oferece esse espaço de representatividade, mas a enfraquece quando a deputada opta por um caminho que contribui com a opressão da classes trabalhadora em vez de lutar por ela.
O nome de Tabata Amaral, jovem deputada federal oriunda da periferia de São Paulo e que chegou a Harvard, se fez gigante logo nos primeiros dias do governo Bolsonaro, em que a aplaudimos em embates memoráveis, como aquele com Ricardo Vélez Rodrigues que iniciaria seu processo de saída do ministério da Educação. A pasta é a principal preocupação da deputada, que se define como ativista pela educação.
O argumento da juventude, porém, não serve como justificativa para as escolhas que Tabata tem feito desde então. Como mulheres, estamos cientes do caráter imprescindível do feminismo nos dias atuais, bem como a urgência de ampliar a representatividade feminina em um campo marcado pela presença masculina como a política. Não é fácil proferir críticas a uma mulher parlamentar com uma trajetória como a de Tabata, que “venceu na vida” depois de enfrentar dificuldades da infância pobre. Sim, não podemos tirar o mérito de Tabata.
Mas, enquanto progressistas, é necessário pontuar que precisamos de parlamentares mulheres que defendam os direitos da classe trabalhadora, aliás a classe de origem dela. No vídeo no twitter em que justificava o voto, Tabata diz que ser de esquerda não pode significar ser contra um projeto que torna o Brasil “mais inclusivo e mais desenvolvido”, quando é justamente o contrário. Quando Tabata diz “sim” à reforma da Previdência, diz “não” à classe trabalhadora, já que a reforma irá prejudicar sobretudo os mais pobres.
“Não podemos deixar que o medo da ultradireita nos leve ao feminismo liberal”, disse Nancy Fraser em alguns dias depois do lançamento no Brasil e em oito países do manifesto Feminismo para os 99%, em 8 de março deste ano.
O manifesto foi elaborado por três nomes do feminismo atual. Além de Fraser (filósofa política, intelectual e feminista estadunidense e professora da New School for Social Research), Cinzia Arruzza, feminista italiana, também professora da New School of Social Research e autora do livro Marxismo e feminismo — Entre Casamentos e divórcios, e Tithi Bhattacharya, professora de História do Sul da Ásia e Diretora do Centro de Estudos Globais na Universidade de Purdue (EUA), feminista marxista e uma das organizadoras da Greve Internacional de Mulheres nos Estados Unidos, além de ativista da causa palestina.
A edição brasileira do livro vem com prefácio emocionante da deputada Talíria Petrone, que homenageia Carolina Maria de Jesus, escritora negra, pobre e favelada e nome fundamental da literatura brasileira, mas pouco estudada, “e sua resistência silenciada”. Talíria finaliza o prefácio lembrando Marielle Franco e seu ativismo na causa feminista.
No livro, as autoras criticam o “feminismo do 1%”, o feminismo que impulsiona mulheres no mercado de trabalho a “fazer acontecer”, defendido por personalidades como Sheryl Sandberg, diretora de operações do facebook, mas que enxerga o feminismo, na verdade, como mero serviçal do capitalismo. “Querem um mundo onde a tarefa de administrar a exploração no local de trabalho e a opressão no todo seja compartilhada igualmente por homens e mulheres da classe dominante”, dizem as autoras.
“Embora condene a ‘discriminação’ e defenda a ‘liberdade de escolha’, o feminismo liberal se recusa firmemente a tratar das restrições socioeconômicas que tornam a liberdade e o empoderamento impossíveis para a ampla maioria das mulheres. Seu verdadeiro objetivo não é a igualdade e sim a meritocracia. Em vez de buscar abolir a hierarquia social, visa a ‘diversificá-la’, ‘empoderando’ mulheres ‘talentosas’ para ascender ao topo”, diz um trecho do manifesto.
Com o Feminismo para os 99%, as autoras propõem um feminismo mais abrangente, que alcance todas as classes e que lute por justiça social. “O feminismo para os 99% abarca a luta de classes e combate o racismo institucional. Concentra os interesse das mulheres da classe trabalhadora de todos os tipos: racializadas, migrantes ou brancas; cis, trans ou não alinhadas à conformidade de gênero; que se ocupam da casa ou são trabalhadoras sexuais; remuneradas por hora, semana, mês ou nunca remuneradas; subempregadas; jovens ou idosas. Incondicionalmente internacionalista, esse feminismo se opõe firmemente ao imperialismo e à guerra. O feminismo para os 99% não é apenas antineoliberal, mas também anticapitalista.”
Precisamos sim de mulheres na política. A presença de Tabata na Câmara fortalece a democracia quando oferece esse espaço de representatividade, mas a enfraquece quando a deputada opta por um caminho que contribui com a opressão da classes trabalhadora em vez de lutar por ela.
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