Por Mino Carta, na revista CartaCapital:
O Instituto Lula está no lugar de sempre, ao lado do Museu do Ipiranga, não sei se no ponto em que D. Pedro I, do alto do seu muar, proclamou a Independência, não do Brasil, e sim de si próprio. E lá fui visitar meu velho e caríssimo amigo Lula, que regularmente comparece instalado no escritório do andar de cima. E o Instituto está como sempre esteve sob o olhar protetor de Paulo Okamoto, guardião fiel, embora o ex-presidente o chame afetuosamente de sovina.
A questão é a ausência de numerário, sobretudo nos bolsos de Lula, que até me convida generosamente a buscar com ele uma esquina propícia para em conjunto, assolados pelo mesmo problema, solicitar a esmola dos transeuntes. Mas ele não perde o bom humor e o otimismo em relação ao futuro do País. Fala sem animosidade, sem resquícios de raiva, pacatamente, de expressão serena.
Lula sabe que a pesquisa mais recente mostra que uma substanciosa maioria aprova a sua liberação da cadeia curitibana. E também acentua que a sua aposta não é a queda próxima de Jair Bolsonaro e do seu governo demente. Entende, contudo, que a própria situação econômica, a liquidação forçada do sindicalismo velho de guerra, o rentismo dos senhores da indústria, enquanto o desemprego cresce, levarão finalmente o povo a compreender a enrascada em que se meteu. Trata-se de uma perspectiva que exige paciência, mas inescapável.
Lula admite os erros cometidos e as lacunas do seu partido, que já foi muito mais firme na sua atuação. Está claro, porém, que não há a mais pálida possibilidade de negociação com aqueles que agora estão no poder e não desiste da ideia de voltar a visitar o País, a começar pelo Nordeste: “É a ponta de lança da Razão, simplesmente porque tem mais história do que o resto do Brasil”. Não falta o anátema contra o reacionarismo paulista, desde sempre centro indiscutível do atraso político e social, do ódio de classe, dos preconceitos, do racismo.
“O dia vai chegar – diz – e eu estou pronto para a guerra contra tudo isso, contra a fome e a miséria, contra este ódio desvairado, contra o entreguismo que pretende liquidar com a soberania brasileira.” E, a propósito de São Paulo, vem de imediato a lembrança de um largo período dominado pela lamentável figura de Paulo Maluf, a recordar como a desgraça paulista vem de longe. E de mais longe ainda, ao recordar a repressão feroz durante a estação das grandes greves comandadas pelos anarquistas entre 1907 e 1917, ao cabo encerrada pela deportação determinada por Altino Arantes de 400 cidadãos italianos.
Entra a infatigável secretária Cláudia, de hábito escalada para trazer um copo de cachaça ou uma garrafa de cerveja para mim, hoje vem somente com copos de água. Meu filho Gianni, em companhia de um cineasta francês, veio ao Brasil em 2017 para realizar um longo documentário sobre Lula, enriquecido com diferentes entrevistas do próprio e de outros políticos, sem contar o acompanhamento de várias caravanas, inclusive aquela em que o ônibus do ex-presidente levou três tiros, um deles alojado embaixo do assento de Gianni.
A questão é a ausência de numerário, sobretudo nos bolsos de Lula, que até me convida generosamente a buscar com ele uma esquina propícia para em conjunto, assolados pelo mesmo problema, solicitar a esmola dos transeuntes. Mas ele não perde o bom humor e o otimismo em relação ao futuro do País. Fala sem animosidade, sem resquícios de raiva, pacatamente, de expressão serena.
Lula sabe que a pesquisa mais recente mostra que uma substanciosa maioria aprova a sua liberação da cadeia curitibana. E também acentua que a sua aposta não é a queda próxima de Jair Bolsonaro e do seu governo demente. Entende, contudo, que a própria situação econômica, a liquidação forçada do sindicalismo velho de guerra, o rentismo dos senhores da indústria, enquanto o desemprego cresce, levarão finalmente o povo a compreender a enrascada em que se meteu. Trata-se de uma perspectiva que exige paciência, mas inescapável.
Lula admite os erros cometidos e as lacunas do seu partido, que já foi muito mais firme na sua atuação. Está claro, porém, que não há a mais pálida possibilidade de negociação com aqueles que agora estão no poder e não desiste da ideia de voltar a visitar o País, a começar pelo Nordeste: “É a ponta de lança da Razão, simplesmente porque tem mais história do que o resto do Brasil”. Não falta o anátema contra o reacionarismo paulista, desde sempre centro indiscutível do atraso político e social, do ódio de classe, dos preconceitos, do racismo.
“O dia vai chegar – diz – e eu estou pronto para a guerra contra tudo isso, contra a fome e a miséria, contra este ódio desvairado, contra o entreguismo que pretende liquidar com a soberania brasileira.” E, a propósito de São Paulo, vem de imediato a lembrança de um largo período dominado pela lamentável figura de Paulo Maluf, a recordar como a desgraça paulista vem de longe. E de mais longe ainda, ao recordar a repressão feroz durante a estação das grandes greves comandadas pelos anarquistas entre 1907 e 1917, ao cabo encerrada pela deportação determinada por Altino Arantes de 400 cidadãos italianos.
Entra a infatigável secretária Cláudia, de hábito escalada para trazer um copo de cachaça ou uma garrafa de cerveja para mim, hoje vem somente com copos de água. Meu filho Gianni, em companhia de um cineasta francês, veio ao Brasil em 2017 para realizar um longo documentário sobre Lula, enriquecido com diferentes entrevistas do próprio e de outros políticos, sem contar o acompanhamento de várias caravanas, inclusive aquela em que o ônibus do ex-presidente levou três tiros, um deles alojado embaixo do assento de Gianni.
O documentário está pronto, falta apenas uma última entrevista com este Lula guerreiro dos dias de hoje. Logrará muito sucesso na Europa, onde a verdade factual do bolsonarismo ecoará para dilatar ainda mais a ojeriza mundial em relação a quem tornou a demência forma de governo. Caberá ao Marcola do Instituto, límpida personagem chamada de fato Marco Aurélio, para marcar a data da entrevista. Quem há um tempo nunca deixa de acompanhar Lula é a noiva Rosângela da Silva, uma senhora doce e encantadora.
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