Por Marcelo Zero, no blog Viomundo:
A demissão sumária do explicitamente nazista Alvim, nulidade intelectual plagiadora de Goebbels, pode ter dado a impressão de que o governo Bolsonaro não compartilha do ideário nazifascista.
Engano crasso. O inacreditável ex-secretário de cultura não diverge do bestiário fascista que é o governo do capitão.
Ele foi colocado à frente da pasta da cultura justamente para cumprir com a agenda nazistoide de promover uma suposta “cultura nacional” pura e reprimir quaisquer manifestações culturais divergentes.
Ele citou Goebbels porque a agenda cultural do capitão é a mesma do ministro nazista da propaganda.
O governo Bolsonaro teve de demitir Alvim apenas porque esse não soube manter as aparências. Com isso, provocou escândalo nacional e a pronta reação de Israel, um dos poucos governos do mundo que é aliado do infame governo do capitão.
A agenda cultural nazistoide, porém, prosseguirá, provavelmente sob a gestão temerária de destemida atriz.
Da mesma forma, prosseguirão todas as ouras agendas autoritárias do governo do capitão, especialmente na área econômica.
Entretanto, o chamado “centro” político do Brasil, ou a velha direita, agora faz de conta que não tem nada a ver com a barbárie política que tomou conta do país. Compreende-se. O bestiário bolsonarista é constrangedor para quem tem um mínimo de pudor.
Mas não pode fazê-lo.
Em primeiro lugar, porque foram eles, partidos políticos tradicionais, mídia corporativa, sistema financeiro, agronegócio, patronato industrial etc. que colocaram Bolsonaro no poder.
Estimularam, cevaram e apoiaram o bolsonarismo, o antipetismo e o antiesquerdismo, da mesma forma que a direita tradicional alemã acabou fazendo com Hitler.
O intuito maior era evitar que o PT e seus aliados voltassem ao poder e, dessa maneira, impor a agenda das reformas ultraneoliberais.
Não adianta agora, que a caixa de Pandora foi aberta, vir reconhecer tardiamente que Bolsonaro é nazista, como faz o Estadão.
O Estadão e todos os outros apoiadores sabiam muito bem, há bastante tempo, que Bolsonaro era um fascista declarado.
Em segundo lugar, porque o bolsonarismo é o regime político apropriado para a imposição da agenda ultraneoliberal, que eles tanto apoiam. Um não pode ser dissociado da outra.
Bertold Brecht tem um pequeno texto, datado de 1935, que me parece esclarecedor sobre as relações entre nazifascismo e capitalismo.
Intitula-se “O Fascismo é a verdadeira face do Capitalismo”. Nele, Brecht critica a visão ingênua de que o nazifascismo podia ser dissociado do estágio do capitalismo naquele tempo e naquelas circunstâncias.
Escreveu ele:
De acordo com essa visão, o fascismo é um terceiro poder novo ao lado (e acima) do capitalismo e do socialismo; não apenas o movimento socialista, mas também o capitalismo teriam sobrevivido sem a intervenção do fascismo. E assim por diante. Esta é, obviamente, uma reivindicação fascista; aderir a isso é uma capitulação ao fascismo.
O fascismo é uma fase histórica do capitalismo; neste sentido, é algo novo e ao mesmo tempo antigo. Nos países fascistas, o capitalismo continua a existir, mas apenas na forma de fascismo; e o fascismo apenas pode ser combatido como capitalismo, como a forma de capitalismo mais nua, sem vergonha, mais opressiva e mais traiçoeira.
(…)
Aqueles que são contra o fascismo sem serem contra o capitalismo, que lamentam a barbárie que sai da barbárie, são como pessoas que desejam comer carne de vitela sem matar o bezerro.
Eles estão dispostos a comer o bezerro, mas não gostam da visão de sangue. Eles ficam satisfeitos com facilidade se o açougueiro lavar as mãos antes de pesar a carne.
Eles não são contra as relações de propriedade que geram a barbárie; eles são apenas contra a própria barbárie.
Claro está que o capitalismo também pode florescer em outros regimes políticos, inclusive os democráticos.
Não obstante, naquelas circunstâncias históricas específicas, de ampla crise econômica, social e política e de avanço dos movimentos dos trabalhadores, os regimes nazifascistas se constituíram nas formas ideais, talvez as necessárias, naqueles países, para assegurar a continuidade da acumulação capitalista.
Algo semelhante aconteceu no Brasil.
Ante a profunda crise, o medo da volta do “lulismo” e o desejo imperioso de fazer vingar a “pinguela para o passado”, escolheu-se o bolsonarismo, que impõe a agenda ultraneoliberal e, ao mesmo tempo, se encarrega de reprimir quaisquer movimentos para combatê-la.
O bolsonarismo tem (ou tinha) a “virtude” de manter as esquerdas e os movimentos populares na defensiva, cooptando vastos setores das camadas populares para o campo da direita, pela sua linha ideológica, religiosa e comportamental.
O “centro político” do Brasil, na realidade um bolsonarismo envergonhado, é extremamente hipócrita.
Constrange-se com as menores barbáries ideológicas, culturais, políticas e gramaticais de gente como Alvim, Weintraub, Damares e o próprio Bolsonaro, mas não sente o menor pudor em apoiar entusiasticamente a grande barbárie de atirar dezenas de milhões de brasileiros no lodaçal hediondo da miséria, da desigualdade, da desesperança e do abandono do Estado mínimo.
Não vê o menor problema em eliminar direitos trabalhistas e previdenciários ou em restringir os serviços públicos dos quais os pobres mais dependem.
Não sente pejo também em vender o Brasil, em retornar o país à condição de colônia e em torná-lo pequeno e submisso. Vale tudo, desde que não se atropele o vernáculo e as aparências sejam mantidas.
Voltando à metáfora de Brecht, se lambuzam com a vitela das taxas de lucros aumentadas, mas não querem saber do bezerro sacrificado, inclusive do bezerro da democracia, imolado pelo golpe, a lawfare e o crescente regime de exceção.
Contudo, como assinalava Brecht, uma coisa não pode ser dissociada da outra.
O bolsonarismo existe para pavimentar a implantação de um ultraneoliberalismo pinochetista. As constrangedoras barbáries do bolsonarismo existem para permitir a grande selvageria ultraneoliberal. Bolsonaro et caterva existem para propiciar um bom trabalho para Guedes.
Assim, nosso Hitler não é propriamente Bolsonaro, como diz o Estadão, mas o Guedes que eles apoiam.
Evidentemente, não o Guedes pessoa física, mas a sua agenda selvagem, grotesca e anticivilizatória, a qual promete criar uma sociedade baseada na desigualdade extrema, na miséria, na exclusão de dezenas de milhões de cidadãos e no cada um por si.
Uma sociedade de “empreendedores” individuais, desde o grande banqueiro até o entregador de Uber Eats. Um grande e falido Chile.
Bolsonaro, por mais constrangedor que seja, não passa do retrato de Dorian Grey das nossas oligarquias, as quais nunca sentiram vergonha em submeter a população ao que Gandhi chamava de “a pior forma de violência”: a miséria.
Ele é a feiura que as nossas elites horrendas tentam esconder.
Por conseguinte, como diria Brecht, não dá para combater o bolsonarismo sem se lutar contra o ultraneoliberalismo. Não dá para se eliminar a barbárie sem se lutar contra a causa última da barbárie.
Não há ultraneoliberalismo pulcro, democrático e civilizado. O que é há é muita hipocrisia.
A demissão sumária do explicitamente nazista Alvim, nulidade intelectual plagiadora de Goebbels, pode ter dado a impressão de que o governo Bolsonaro não compartilha do ideário nazifascista.
Engano crasso. O inacreditável ex-secretário de cultura não diverge do bestiário fascista que é o governo do capitão.
Ele foi colocado à frente da pasta da cultura justamente para cumprir com a agenda nazistoide de promover uma suposta “cultura nacional” pura e reprimir quaisquer manifestações culturais divergentes.
Ele citou Goebbels porque a agenda cultural do capitão é a mesma do ministro nazista da propaganda.
O governo Bolsonaro teve de demitir Alvim apenas porque esse não soube manter as aparências. Com isso, provocou escândalo nacional e a pronta reação de Israel, um dos poucos governos do mundo que é aliado do infame governo do capitão.
A agenda cultural nazistoide, porém, prosseguirá, provavelmente sob a gestão temerária de destemida atriz.
Da mesma forma, prosseguirão todas as ouras agendas autoritárias do governo do capitão, especialmente na área econômica.
Entretanto, o chamado “centro” político do Brasil, ou a velha direita, agora faz de conta que não tem nada a ver com a barbárie política que tomou conta do país. Compreende-se. O bestiário bolsonarista é constrangedor para quem tem um mínimo de pudor.
Mas não pode fazê-lo.
Em primeiro lugar, porque foram eles, partidos políticos tradicionais, mídia corporativa, sistema financeiro, agronegócio, patronato industrial etc. que colocaram Bolsonaro no poder.
Estimularam, cevaram e apoiaram o bolsonarismo, o antipetismo e o antiesquerdismo, da mesma forma que a direita tradicional alemã acabou fazendo com Hitler.
O intuito maior era evitar que o PT e seus aliados voltassem ao poder e, dessa maneira, impor a agenda das reformas ultraneoliberais.
Não adianta agora, que a caixa de Pandora foi aberta, vir reconhecer tardiamente que Bolsonaro é nazista, como faz o Estadão.
O Estadão e todos os outros apoiadores sabiam muito bem, há bastante tempo, que Bolsonaro era um fascista declarado.
Em segundo lugar, porque o bolsonarismo é o regime político apropriado para a imposição da agenda ultraneoliberal, que eles tanto apoiam. Um não pode ser dissociado da outra.
Bertold Brecht tem um pequeno texto, datado de 1935, que me parece esclarecedor sobre as relações entre nazifascismo e capitalismo.
Intitula-se “O Fascismo é a verdadeira face do Capitalismo”. Nele, Brecht critica a visão ingênua de que o nazifascismo podia ser dissociado do estágio do capitalismo naquele tempo e naquelas circunstâncias.
Escreveu ele:
De acordo com essa visão, o fascismo é um terceiro poder novo ao lado (e acima) do capitalismo e do socialismo; não apenas o movimento socialista, mas também o capitalismo teriam sobrevivido sem a intervenção do fascismo. E assim por diante. Esta é, obviamente, uma reivindicação fascista; aderir a isso é uma capitulação ao fascismo.
O fascismo é uma fase histórica do capitalismo; neste sentido, é algo novo e ao mesmo tempo antigo. Nos países fascistas, o capitalismo continua a existir, mas apenas na forma de fascismo; e o fascismo apenas pode ser combatido como capitalismo, como a forma de capitalismo mais nua, sem vergonha, mais opressiva e mais traiçoeira.
(…)
Aqueles que são contra o fascismo sem serem contra o capitalismo, que lamentam a barbárie que sai da barbárie, são como pessoas que desejam comer carne de vitela sem matar o bezerro.
Eles estão dispostos a comer o bezerro, mas não gostam da visão de sangue. Eles ficam satisfeitos com facilidade se o açougueiro lavar as mãos antes de pesar a carne.
Eles não são contra as relações de propriedade que geram a barbárie; eles são apenas contra a própria barbárie.
Claro está que o capitalismo também pode florescer em outros regimes políticos, inclusive os democráticos.
Não obstante, naquelas circunstâncias históricas específicas, de ampla crise econômica, social e política e de avanço dos movimentos dos trabalhadores, os regimes nazifascistas se constituíram nas formas ideais, talvez as necessárias, naqueles países, para assegurar a continuidade da acumulação capitalista.
Algo semelhante aconteceu no Brasil.
Ante a profunda crise, o medo da volta do “lulismo” e o desejo imperioso de fazer vingar a “pinguela para o passado”, escolheu-se o bolsonarismo, que impõe a agenda ultraneoliberal e, ao mesmo tempo, se encarrega de reprimir quaisquer movimentos para combatê-la.
O bolsonarismo tem (ou tinha) a “virtude” de manter as esquerdas e os movimentos populares na defensiva, cooptando vastos setores das camadas populares para o campo da direita, pela sua linha ideológica, religiosa e comportamental.
O “centro político” do Brasil, na realidade um bolsonarismo envergonhado, é extremamente hipócrita.
Constrange-se com as menores barbáries ideológicas, culturais, políticas e gramaticais de gente como Alvim, Weintraub, Damares e o próprio Bolsonaro, mas não sente o menor pudor em apoiar entusiasticamente a grande barbárie de atirar dezenas de milhões de brasileiros no lodaçal hediondo da miséria, da desigualdade, da desesperança e do abandono do Estado mínimo.
Não vê o menor problema em eliminar direitos trabalhistas e previdenciários ou em restringir os serviços públicos dos quais os pobres mais dependem.
Não sente pejo também em vender o Brasil, em retornar o país à condição de colônia e em torná-lo pequeno e submisso. Vale tudo, desde que não se atropele o vernáculo e as aparências sejam mantidas.
Voltando à metáfora de Brecht, se lambuzam com a vitela das taxas de lucros aumentadas, mas não querem saber do bezerro sacrificado, inclusive do bezerro da democracia, imolado pelo golpe, a lawfare e o crescente regime de exceção.
Contudo, como assinalava Brecht, uma coisa não pode ser dissociada da outra.
O bolsonarismo existe para pavimentar a implantação de um ultraneoliberalismo pinochetista. As constrangedoras barbáries do bolsonarismo existem para permitir a grande selvageria ultraneoliberal. Bolsonaro et caterva existem para propiciar um bom trabalho para Guedes.
Assim, nosso Hitler não é propriamente Bolsonaro, como diz o Estadão, mas o Guedes que eles apoiam.
Evidentemente, não o Guedes pessoa física, mas a sua agenda selvagem, grotesca e anticivilizatória, a qual promete criar uma sociedade baseada na desigualdade extrema, na miséria, na exclusão de dezenas de milhões de cidadãos e no cada um por si.
Uma sociedade de “empreendedores” individuais, desde o grande banqueiro até o entregador de Uber Eats. Um grande e falido Chile.
Bolsonaro, por mais constrangedor que seja, não passa do retrato de Dorian Grey das nossas oligarquias, as quais nunca sentiram vergonha em submeter a população ao que Gandhi chamava de “a pior forma de violência”: a miséria.
Ele é a feiura que as nossas elites horrendas tentam esconder.
Por conseguinte, como diria Brecht, não dá para combater o bolsonarismo sem se lutar contra o ultraneoliberalismo. Não dá para se eliminar a barbárie sem se lutar contra a causa última da barbárie.
Não há ultraneoliberalismo pulcro, democrático e civilizado. O que é há é muita hipocrisia.
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