Por César Locatelli, no site Carta Maior:
O psicólogo e Nobel em economia em 2002, Daniel Kahneman, desconfiava bastante da intuição humana para certas questões estatísticas. Uma das concepções errôneas mais comuns, revelou ele em um artigo escrito há quase 50 anos, é que a maioria de nós acha que “mesmo pequenas amostras são altamente representativas das populações de onde são extraídas”.
Um viés que podemos exemplificar com afirmações do tipo: “o movimento da minha loja reflete o movimento da economia” ou “os membros da minha associação de lojistas, para os quais pedi opinião, representam a economia brasileira”, quiçá mundial, num arroubo digno de Odorico Paraguaçu.
A discussão acalorada, que embalou nosso final do ano, sobre o aquecimento ou a tibieza da economia brasileira talvez seja um exemplo da ausência de noções estatísticas no repertório de intuições das pessoas. Assim como pode, muito bem, revelar simples tentativas de apoiar ou criticar os atuais ocupantes do Executivo brasileiro. As críticas, claro, “devem ser obra da esquerda comunista, marronzista e badernenta”, ecoando também Odorico.
De todo modo, os primeiros dados para decidirmos quem tinha razão saíram em 31 de janeiro. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, PNAD para os mais íntimos das pesquisas feitas pelo IBGE, trouxe os dados de ocupação e desocupação, rendimento do trabalho, condições de formalidade ou informalidade, setores que empregaram mais ou que demitiram e muitos outros dados. Selecionamos alguns deles para começar a desenhar o quadro de como foi o ano de 2019.
O primeiro quadro, abaixo, traz dois conjuntos de dados: a taxa de desocupação e a taxa de subutilização da força de trabalho. As taxas são médias calculadas para cada ano.
Assim em média, no ano de 2019, tivemos 11,9% de desempregados, como mostra o gráfico à esquerda. Ou seja, tivemos em média 12 milhões e 575 mil pessoas desocupadas para uma força de trabalho média de 105 milhões e 964 mil pessoas. Notemos que depois de alguns anos circundando os 7%, o desemprego saltou para o entorno de 12% e lá ficou também durante 2019.
O lado direito do gráfico à direita mostra a subutilização da força de trabalho, pessoas dispostas a trabalhar ou a trabalhar mais, mas que não conseguem fazê-lo por falta de empregos ou da possibilidade de trabalhar mais horas. Integram esse grupo 27 milhões e 585 mil pessoas, que representa 24,2% do total de trabalhadores (força de trabalho ampliada), calculada em 113.985 mil pessoas.
Podemos dizer, desse modo, que um em cada quatro trabalhadores brasileiros está desempregado (12 milhões e 575 mil) ou deixou de procurar emprego por desalento (4 milhões e 761 mil) ou trabalha menos horas do que poderia e gostaria (6 milhões e 990 mil) ou pode e quer trabalhar mas não poderia começar na semana pesquisada (3 milhões e 260 mil).
O número de trabalhadores ocupados aumentou em 1 milhão e 819 mil trabalhadores na comparação entre 2018 e 2019. Como o número de desocupados se manteve praticamente igual, o resultado foi a queda na taxa de desocupação de 12,3% em 2018 para 11,9% em 2019.
Esse aumento de 1,8 milhão de pessoas entre os ocupados ocorreu, principalmente no setor privado e no trabalho por conta própria. Cerca de 802 mil foram contratado pelo setor privado, sendo 356 mil com carteira assinada e 446 mil sem carteira assinada. Ainda, 958 mil pessoas começaram a trabalhar por conta própria, sendo 373 mil com CNPJ e 586 mil sem CNPJ. O que indica que, dos empregos criados, 729 nil contam com proteção da Previdência Social e pouco mais de 1 milhão não têm essa proteção.
Das pessoas que começaram a trabalhar, apenas 13% (241 mil pessoas) conseguiram colocações na agricultura, na indústria ou na construção civil. Os outros 87% (1 milhão e 560 mil pessoas) foram para os serviços como comércio, transportes, alimentação, atividades financeiras ou administrativas.
O quado abaixo mostra que 62,9% da população ocupada contribuíram para a Previdência Social em 2019. Percentual que, se comparado com 2016, indica a queda de 2,7%. Ou seja, se considerarmos a população média ocupada em 2019, 93 milhões e 390 mil pessoas, tivemos um acréscimo de 2,5 milhões de pessoas no grupo sem cobertura da Previdência Social, entre 2016 e 2019. A queda de 2018 para 2019 foi de cerca de 470 mil pessoas.
O último gráfico, abaixo, mostra o rendimento médio do trabalho, ajustado pelo IPCA. Nota-se que o nível de rendimento do último trimestre de 2019 (R$ 2.340) ficou estável em relação aos trimestres anteriores. Como vimos anteriormente que a população ocupada cresceu, a massa de rendimento real (R$ 216,3 bilhões), englobando a renda de todos os trabalhadores, cresceu 1,9% na comparação entre o último trimestre de 2019 e o trimestre anterior e cresceu 2,5 % quando comparamos do com 2018.
As conclusões principais desse conjuntos de dados parecem ser, em primeiro lugar, que, se por um lado tivemos um aumento do número de postos de trabalho, por outro mais de 1 milhão desses novos postos são informais. Em segundo lugar, podemos perceber que ainda mantivemos uma parcela significativa dos trabalhadores desempregados (12 milhões e 575 mil) ou subutilizados (27 milhões e 585 mil). Trabalhadores ociosos por falta de demanda por trabalho (24,2%) e capacidade ociosa na indústria (22,2% conforme o Nível de Utilização da Capacidade Instalada - NUCI - de janeiro a novembro de 2019) indicam ausência de um impulso para o crescimento que já persiste há alguns anos. Nas condições atuais, só o governo federal poderia promover esse impulso.
O psicólogo e Nobel em economia em 2002, Daniel Kahneman, desconfiava bastante da intuição humana para certas questões estatísticas. Uma das concepções errôneas mais comuns, revelou ele em um artigo escrito há quase 50 anos, é que a maioria de nós acha que “mesmo pequenas amostras são altamente representativas das populações de onde são extraídas”.
Um viés que podemos exemplificar com afirmações do tipo: “o movimento da minha loja reflete o movimento da economia” ou “os membros da minha associação de lojistas, para os quais pedi opinião, representam a economia brasileira”, quiçá mundial, num arroubo digno de Odorico Paraguaçu.
A discussão acalorada, que embalou nosso final do ano, sobre o aquecimento ou a tibieza da economia brasileira talvez seja um exemplo da ausência de noções estatísticas no repertório de intuições das pessoas. Assim como pode, muito bem, revelar simples tentativas de apoiar ou criticar os atuais ocupantes do Executivo brasileiro. As críticas, claro, “devem ser obra da esquerda comunista, marronzista e badernenta”, ecoando também Odorico.
De todo modo, os primeiros dados para decidirmos quem tinha razão saíram em 31 de janeiro. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, PNAD para os mais íntimos das pesquisas feitas pelo IBGE, trouxe os dados de ocupação e desocupação, rendimento do trabalho, condições de formalidade ou informalidade, setores que empregaram mais ou que demitiram e muitos outros dados. Selecionamos alguns deles para começar a desenhar o quadro de como foi o ano de 2019.
O primeiro quadro, abaixo, traz dois conjuntos de dados: a taxa de desocupação e a taxa de subutilização da força de trabalho. As taxas são médias calculadas para cada ano.
Assim em média, no ano de 2019, tivemos 11,9% de desempregados, como mostra o gráfico à esquerda. Ou seja, tivemos em média 12 milhões e 575 mil pessoas desocupadas para uma força de trabalho média de 105 milhões e 964 mil pessoas. Notemos que depois de alguns anos circundando os 7%, o desemprego saltou para o entorno de 12% e lá ficou também durante 2019.
O lado direito do gráfico à direita mostra a subutilização da força de trabalho, pessoas dispostas a trabalhar ou a trabalhar mais, mas que não conseguem fazê-lo por falta de empregos ou da possibilidade de trabalhar mais horas. Integram esse grupo 27 milhões e 585 mil pessoas, que representa 24,2% do total de trabalhadores (força de trabalho ampliada), calculada em 113.985 mil pessoas.
Podemos dizer, desse modo, que um em cada quatro trabalhadores brasileiros está desempregado (12 milhões e 575 mil) ou deixou de procurar emprego por desalento (4 milhões e 761 mil) ou trabalha menos horas do que poderia e gostaria (6 milhões e 990 mil) ou pode e quer trabalhar mas não poderia começar na semana pesquisada (3 milhões e 260 mil).
O número de trabalhadores ocupados aumentou em 1 milhão e 819 mil trabalhadores na comparação entre 2018 e 2019. Como o número de desocupados se manteve praticamente igual, o resultado foi a queda na taxa de desocupação de 12,3% em 2018 para 11,9% em 2019.
Esse aumento de 1,8 milhão de pessoas entre os ocupados ocorreu, principalmente no setor privado e no trabalho por conta própria. Cerca de 802 mil foram contratado pelo setor privado, sendo 356 mil com carteira assinada e 446 mil sem carteira assinada. Ainda, 958 mil pessoas começaram a trabalhar por conta própria, sendo 373 mil com CNPJ e 586 mil sem CNPJ. O que indica que, dos empregos criados, 729 nil contam com proteção da Previdência Social e pouco mais de 1 milhão não têm essa proteção.
Das pessoas que começaram a trabalhar, apenas 13% (241 mil pessoas) conseguiram colocações na agricultura, na indústria ou na construção civil. Os outros 87% (1 milhão e 560 mil pessoas) foram para os serviços como comércio, transportes, alimentação, atividades financeiras ou administrativas.
O quado abaixo mostra que 62,9% da população ocupada contribuíram para a Previdência Social em 2019. Percentual que, se comparado com 2016, indica a queda de 2,7%. Ou seja, se considerarmos a população média ocupada em 2019, 93 milhões e 390 mil pessoas, tivemos um acréscimo de 2,5 milhões de pessoas no grupo sem cobertura da Previdência Social, entre 2016 e 2019. A queda de 2018 para 2019 foi de cerca de 470 mil pessoas.
O último gráfico, abaixo, mostra o rendimento médio do trabalho, ajustado pelo IPCA. Nota-se que o nível de rendimento do último trimestre de 2019 (R$ 2.340) ficou estável em relação aos trimestres anteriores. Como vimos anteriormente que a população ocupada cresceu, a massa de rendimento real (R$ 216,3 bilhões), englobando a renda de todos os trabalhadores, cresceu 1,9% na comparação entre o último trimestre de 2019 e o trimestre anterior e cresceu 2,5 % quando comparamos do com 2018.
As conclusões principais desse conjuntos de dados parecem ser, em primeiro lugar, que, se por um lado tivemos um aumento do número de postos de trabalho, por outro mais de 1 milhão desses novos postos são informais. Em segundo lugar, podemos perceber que ainda mantivemos uma parcela significativa dos trabalhadores desempregados (12 milhões e 575 mil) ou subutilizados (27 milhões e 585 mil). Trabalhadores ociosos por falta de demanda por trabalho (24,2%) e capacidade ociosa na indústria (22,2% conforme o Nível de Utilização da Capacidade Instalada - NUCI - de janeiro a novembro de 2019) indicam ausência de um impulso para o crescimento que já persiste há alguns anos. Nas condições atuais, só o governo federal poderia promover esse impulso.
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