Charge: Lu Lingxing |
Há duas ilusões em curso sobre efeitos do confronto que arde entre a Rússia e a Ucrânia.
Uma, no campo do dinheiro: a de que o processo de degradação da economia provocada pelas sanções econômicas, apenas desestabilizará a Rússia, pondo a ponto de cair o governo Putin.
Pode até vir a ser, mas há muita crise, inflação e estagnação econômica global pela frente.
Ontem, o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, anunciou uma expectativa de crescimento do PIB do país com crescimento de 5,5% em 2022.
Alto para os nossos padrões, é, porém, moderadamente baixo para o ritmo chinês.
Preços em alta, comércio internacional em baixa, cadeias de suprimento – que já andavam capengas – mais desorganizadas e precárias e fretes mais caros.
É tão grave que não foi posta em prática, com a Alemanha e os EUA mantendo a importação de petróleo e gás da Rússia intacta.
A apreciação do real registrada no último mês vai na contramão dos fundamentos da aversão ao risco que corre pelo mundo e, francamente, a ideia de que a atratividade da taxa de juros que oferecemos ao capital estrangeiro vá nos fazer destino dos capitais desalojados do Leste da Europa e da Rússia é mais um conto da carochinha que uma análise econômica, ainda mais com um processo eleitoral em frente.
A outra crise é e será política.
Com qualquer resultado da guerra, a Europa tem um súbito líder político, sem nenhuma convicção e experiência: Volodimir Zelensky, que está transformando os planos anti-Russia do Ocidente em uma alavanca que multiplica sua liderança sobre toda a Europa e até aos EUA, como a sua triunfal transformação em influencer do mundo, cobrando mais sanções econômicas e exigindo batalhas aéreas entre a Otan e a Rússia.
Isso vai influir na política interna dos países europeus numa medida em que ainda não pode ser avaliada plenamente, mas que seguramente é muito forte.
Ouvir, num documentário da Al Jazeera (ótimo, por sinal), portugueses gritando “Zelensky é nosso presidente” é quase um desenho para enternder.
A direita europeia foi reciclada e temos uma “revolução colorida” 2.0.
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