O deprimido Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, pode apodrecer na cadeia sozinho e esquecido. O jornal O Globo destaca neste domingo (2) que “à medida que as investigações da Polícia Federal avançam, ele fica mais enrolado. De todos os lados. Em relação à ‘minuta do golpe’, mais uma discrepância foi apurada. O ex-ministro disse que o documento golpista foi entregue a ele por sua secretária. Ela, no entanto, foi taxativa em seu depoimento: ‘Nunca entreguei nada’”.
Segundo o colunista Lauro Jardim, outro foco de complicações do presidiário é seu envolvimento direto com o processo eleitoral. A PF achou um “boletim de inteligência” elaborado pela então diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar. “O documento foi produzido em outubro. Detalhava os locais em que Lula havia sido mais votado no primeiro turno. Para os investigadores, o material serviu para que Anderson Torres botasse de pé a tentativa de atrapalhar a chegada de eleitores a locais de votação nestas regiões, com a célebre operação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em 30 de outubro. Marília Alencar, aliás, tentou apagar o documento do seu celular, mas a PF recuperou parte do material”.
Atos terroristas do 8 de janeiro
Em 16 de março, em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-ministro afirmou que desconhecia a origem e os autores da “minuta do golpe” – rascunho elaborado para embasar uma ação golpista do fascista. Ele classificou o documento “folclórico” e “lixo”, mas não explicou porque estava na estante de sua residência. Ele também não explicou porque viajou de férias aos EUA após assumir a Secretaria de Segurança do DF e bem na véspera dos atos de vandalismo em Brasília em 8 de janeiro. Na sequência, ele foi exonerado do cargo e, desde 14 de janeiro, está preso no Batalhão de Aviação Operacional, da Polícia Militar do Distrito Federal.
O Supremo Tribunal Federal (STF) até tem sido generoso com o ex-serviçal do “capetão”. O ministro Alexandre de Moraes já autorizou que ele ficasse em silêncio em depoimentos à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada na Câmara Legislativa do DF. “Observo que a condução de Anderson Gustavo Torres, que se encontra preso preventivamente, deverá ser feita mediante escolta policial e somente ocorrerá se houver sua prévia concordância, uma vez que essa Corte Suprema declarou a inconstitucionalidade de conduções coercitivas de investigados ou réus para interrogatórios/depoimentos”, sentenciou o afável ministro no mês passado.
Mas a situação de Anderson Torres, abandonado na cadeia pelo clã Bolsonaro e por suas milícias, complica-se a cada dia. No início de março, os advogados que faziam sua defesa no STF deixaram o caso. Segundo noticiou o site UOL na ocasião, “a causa da saída não foi informada no documento apresentado ao Supremo. O grupo incluía o ex-senador Demóstenes Torres, que teve seu mandado cassado pelo Senado em 2012 por quebra de decoro parlamentar. Além dele, outros dez advogados do Distrito Federal faziam parte da defesa”.
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