Foto: Ricardo Stuckert/PR |
Quem se depara com os comentaristas de política da imprensa comercial falando ou escrevendo sobre a “crise” da relação do governo com o Congresso Nacional sai com a impressão de que projetos de importância crucial para Lula, como as novas regras fiscais e a reforma tributária, foram rejeitados pelo Legislativo.
Nada disso aconteceu. Até agora “as derrotas contundentes do governo" se limitam à não votação do PL das Fake News, que embora contasse com o apoio dos parlamentares da esquerda nunca foi do governo, mas sim de autoria do senador tucano Alessandro Vieira, e alguns decretos sobre saneamento assinados pelo presidente Lula.
Mas o tom do noticiário é de uma superficialidade e de uma pobreza de espírito de dar dó. A tese central a ser emplacada é que o governo tem sido incompetente nas relações com deputados e senadores. Na alça de mira da artilharia midiática, estão os ministros Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, e o da Casa Civil, Rui Costa.
Em que pese eu não tenha elementos e informações de bastidores sobre as tratativas do governo com as lideranças do Congresso, se percebe a existência de problemas nessa relação, que erros vêm sendo cometidos e devem ser corrigidos. O que é difícil de engolir é a parcialidade reducionista com a qual a mídia simplifica assunto tão complexo.
Como se fosse fácil lidar com o mais desqualificado parlamento de todos os tempos. A verdade é que até os mais brilhantes negociadores e estrategistas da história, guiados pela política mais acertada, encontrariam dificuldades com esse Congresso.
Como se fosse um passeio no parque trazer para o campo republicano um Congresso mal acostumado e cevado na mamata do orçamento secreto.
Como se não precisasse ser submetida à lupa a liberação de emendas individuais, de bancadas e de comissões, pois é fundamental que se comprove o real caráter público de projetos e obras, notadamente agora quando deputados e senadores parecem mais interessadas em emendas do que em cargos no governo.
Como se não provocasse engulhos negociar com alguns parlamentares, cuja conduta está mais para a vigarice pura e simples do que para a representação do povo.
Como se o governo não tivesse que defender sua estrutura e a máquina pública de pressões de claro viés chantagista.
Como se não fosse mais do que obrigação de um governo sério se proteger de investidas fundamentalistas e avessas aos direitos humanos mais comezinhos por parte das bancadas da bala, do boi e da bíblia.
Como se a soberania popular não impusesse ao governo o dever de salvaguardar o erário da ação de aproveitadores que só querem cargos federais para colocá-los a serviço de esquemas clientelistas de locupletação.
Ao governo, portanto, não cabe outra alternativa que não seja seguir negociando e engolindo sapos, afinal o mesmo eleitorado que elegeu Lula levou para Brasília uma grande quantidade de parlamentares de baixa extração.
Mas fica pela enésima vez a lição: ou o nosso eleitor valoriza seu voto, ou o Brasil está ferrado.
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