quinta-feira, 17 de agosto de 2023

O fim melancólico da CPI do MST

Foto: Tarcísio Nascimento/MST
Por Igor Carvalho, no jornal Brasil de Fato:


Quem ainda se interessa pela CPI do MST, após três meses de falta de conteúdo consistente que justificasse a existência da mesma, deve se atentar aos próximos passos da comissão.

O aguardado depoimento de João Pedro Stedile, dirigente nacional e um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, na última terça-feira (15), que durou mais seis horas, escancarou a falta de habilidade política e preparo técnico e intelectual do núcleo bolsonarista que habita a comissão e que não consegue ir além dos chavões sobre “comunismo” e “invasões de terra”.

Aqui em Brasília, havia um consenso sobre o depoimento de Stedile: vai colocar fogo na CPI ou enterrar de vez a comissão, que desde o dia 23 de maio deste ano tenta produzir notícias para as manchetes dos portais e jornais e conteúdos para as redes sociais.

Na prática, o que se viu foi a CPI do MST eclipsada pela CPMI do 8 de janeiro, que investiga os atos golpistas do começo deste ano; pela agenda do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principalmente nas áreas econômica e social; além das diversas investigações que têm como alvo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ou seus aliados, como os casos das joias e as revelações sobre o assassinato de Marielle Franco.

E agora?

O Palácio do Planalto parece se mover para enterrar de vez as pretensões da comissão. Na semana passada, uma movimentação do União Brasil, Republicanos, MDB e PP, partidos que podem integrar a base do governo e ganhar ministérios em uma eventual reforma ministerial, fez com que a CPI, que estava sob controle da oposição, passasse a ter uma base mais comprometida com o movimento. Ou, ao menos, não tão arredia aos sem-terra.

Outro movimento do governo para obstaculizar a CPI veio ainda durante o depoimento de Stedile na comissão. Carlos Fávaro, ministro da Agricultura, que havia confirmado que iria depor na próxima quinta-feira (17), anunciou que mudou de ideia e recusou o convite.

Em tom de prece, o presidente da comissão, o deputado federal Zucco (Republicanos-RS), pediu ao também deputado federal Nilton Tatto (PT-SP) que tente convencer Fávaro a comparecer na CPI. “Quando ele quiser”, insistiu o bolsonarista.

A CPI do MST tem prazo de funcionamento até 14 de setembro. Duas semanas atrás, quando ainda eram maioria, os deputados federais Zucco (Republicanos-RS) e Ricardo Salles (PL-SP), presidente e relator da CPI, respectivamente, ensaiaram pedir uma prorrogação de 30 dias, mas recuaram após perder o controle da comissão.

Até mesmo o relatório final da CPI corre o risco de não ser aprovado sem maioria estabelecida. Espera-se que Salles produza um documento recheado de impropérios sobre o MST. Haverá, também, uma sugestão do relator: o “pacote invasão zero”, para punir pessoas e movimentos que ocuparem terras no país.

Enquanto tateia no escuro, sem que os bolsonaristas se deem conta, a CPI serve de palco para a defesa da reforma agrária, feita por convidados como o professor da Universidade de Brasília (UnB) Geraldo de Souza Júnior; João Pedro Stedile, líder do MST; José Rainha, coordenador da Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL); e Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário.

Com dificuldade para aprovar requerimentos e convocar membros do governo, sem estatura intelectual dos opositores ao MST e carente de habilidade política dos que precisam manter viva a comissão, a CPI parece cada vez mais próxima de um fim melancólico. Mas quando? Como? Os próximos dias serão decisivos para responder a essas perguntas. Por aqui, seguimos de olho.

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