Na semana passada, os jornalões tradicionais e as emissoras de televisão deram enorme destaque para a festança de aniversário dos 30 anos da Associação Nacional de Jornais (ANJ). A “babação de ovo” foi deprimente. Parecia que a entidade patronal, fundada em 17 de agosto de 1979, fora a responsável pela redemocratização do país. Ela foi exibida como baluarte na defesa da “liberdade de expressão”, contra o Estado opressor. É certo que a ANJ é poderosa. Ela reúne 140 veículos e quase 90% da circulação dos diários no país. Mas a sua história não justifica tanta badalação. A mídia novamente tentou manipular a sociedade ao festejar o aniversário da associação patronal.
Entidade criada contra as greves
As mentiras sobre a história da ANJ incomodaram até o editor Alberto Dines, do Observatório da Imprensa, que sempre defendeu a “convivência harmoniosa” entre jornalistas e barões da mídia. No artigo “Para celebrar é preciso contar a verdade”, ele desmontou os “erros” difundidos sobre a entidade. “O principal deles: a ANJ não foi criada em 17 de agosto de 1979 para defender a liberdade de imprensa, como informa o título da matéria do Estadão. A associação foi criada como resposta direta à greve dos jornalistas de São Paulo, decidida pouco antes (17 de maio de 1979), efetivada dias depois (23/5) e, finalmente, encerrada após um rotundo fracasso (29/5)”.
Até então, os donos da mídia impressa eram “ferrenhos concorrentes” e não contavam com uma entidade para unificá-los. “A greve dos jornalistas assustou o empresariado” e acelerou a criação da associação, que já nasceu marcada pelo viés autoritário. “A ANJ foi criada para evitar novas greves de jornalistas, esta é a verdade. As suas primeiras ações não visaram a preservação da liberdade de expressão, que naquela época era uma remota aspiração. Sua iniciativa política mais consistente e estridente foi o início da cruzada contra obrigatoriedade do diploma específico, em 1985” – que só teve êxito com a recente decisão do STF, a partir do parecer do ministro Gilmar “Mentes”.
Liberdade de imprensa para quem?
Além das mentiras divulgadas na mídia sobre a história da ANJ, a entidade também anunciou a veiculação de uma campanha publicitária “chamando a atenção da sociedade para a importância dos jornais na construção da liberdade de imprensa e da cidadania”, informou a presidente da entidade, Judith Brito. O livro “A força dos jornais” também faz parte das comemorações dos 30 anos. Num suntuoso jantar no Brasília Palace Hotel, o deputado Miro Teixeira recebeu o Prêmio ANJ, por ser autor da ação no Supremo Tribunal Federal que resultou no fim da Lei de Imprensa – e beneficiou e alegrou os barões da mídia com a total “libertinagem das empresas”.
Como aponta o professor Venício de Lima, as festanças de aniversário da ANJ revelam bem o caráter desta entidade. Ela reúne os jornalões que apoiaram em uníssono o golpe militar e que hoje berram contra pretensas violações à liberdade de expressão. “Apesar de dizer que defende o Estado de Direito, a ANJ não aceita que cidadãos ou entidades que se considerem prejudicados pela ação dos jornais recorram à Justiça; também não aceita que ‘projetos de lei’ que considera contra os seus interesses tramitem no Congresso Nacional... Diante de tudo isso, talvez, na comemoração dos 30 anos da ANJ, o cidadão comum devesse questionar: quando a ANJ defende a ‘liberdade’, de quem é a liberdade que está sendo defendia? Contra que tipo de restrições? E a favor de quem?”.
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