Por Luis Nassif, em seu blog:
Apesar de surpreender a gregos e troianos, a estratégia política de Lula-Dilma Rousseff é relativamente fácil de desvendar.
A primeira peça do jogo é não imaginar Dilma dissociada de Lula. Não existe hipótese para ciumeiras, rompimentos. A diferença de estilo entre ambos não é semente para futuras disputas, mas peça essencial na sua estratégia.
Primeiro, vamos às afinidades políticas e à continuidade de ambos os governos.
Ambos são sociais-democratas. Não se exija perfil revolucionário, nem mesmo estatizante, embora estejam longe de se constituir em neoliberais.
São políticos focados em resultados sociais, como peça central de legitimação política, Dilma dando mais atenção à gestão, Lula à política (mesmo porque tinha Dilma para cuidar da gerência).
Na política econômica, a prioridade absoluta é o controle da inflação. Câmbio, desindustrialização, juros, é resto. E resto é resto. Embora Dilma tenha formação desenvolvimentista, a realpolitik se sobrepôs às demais prioridades. Se a crise internacional piorar, pode criar vulnerabilidades nessa parte da estratégia.
No plano político, a lógica não é do confronto, mas da soma. Dilma aprendeu com Lula a dividir os contrários em dois grupos: os adversários e os inimigos. O primeiro grupo é para ser cativado ou cooptado.
Diferenças periféricas
As diferenças de estilo entre Lula e o Dilma são periféricas, embora importantes na montagem da estratégia política. No plano econômico e ideológico, são governos de continuidade.
Muitos analistas – à direita e à esquerda – tomam a nuvem por Juno, as diferenças periféricas pelas essenciais. E acabam se confundindo na análise do governo Dilma e de sua estratégia política.
Os fatores utilizados pela velha mídia para desgastar Lula (fazendo muito barulho, embora influenciando apenas 5% do eleitorado) são desimportantes e nada tem a ver com as peças centrais de sua política.
No plano político, nos últimos anos desenterrou fantasmas da guerra fria que se supunham extintos desde os anos 60. Na diplomacia, a questão iraniana. Na política interna, o pesado véu de preconceito contra Lula e o enfrentamento nos últimos anos. As críticas contra as políticas sociais foram devidamente enterradas pelos fatos.
Ao assumir, sem comprometer os pontos centrais de sua política, Dilma definiu um estilo diferente de Lula na forma, embora muito similar no conteúdo – inclusive surpreendendo os que supunham que partiria para um confronto direto com adversários.
Colocou a questão dos direitos humanos como foco da diplomacia, deu atenção a FHC, compareceu ao aniversário da Folha, nos últimos dias convidou jornalistas brasilienses para conversas no Palácio, respondeu rapidamente às denúncias consistentes.
Completa-se assim a estratégia.
Dilma se incumbe do establishment, que rejeita Lula. No plano midiático, blogosfera para ela é como a Telebrás – serve apenas para ajudar a regular a mídia. O mesmo ocorre com movimentos sociais e sindicatos.
Já Lula garante os movimentos populares, o sindicalismo, a blogosfera e a ala esquerda. E estende sua sombra sobre os adversários. Se endurecerem muito com Dilma, entra na briga. Se Dilma não se sair bem no governo, ele volta.
Perto dessa estratégia, a oposição só tem perna de pau: um guru que ensarilhou as armas – FHC -, um político esperto mas sem ideias – Aécio Neves – e um desatinado – José Serra.
Cumprir-se-á o vaticínio do sábio José Sarney, de que a nova oposição sairá das entranhas do governo.
Linhas programáticas
Em relação à continuidade, é importante não confundir algumas linhas de ação que permanecem as mesmas desde o governo Lula – mas que têm dado margem a confusões..
A primeira, o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). Criou-se a ideia de que, com Lula, a Telebrás assumiria todo o trabalho de levar a banda larga até a última milha (a casa do ccidadão). Nunca foi essa a ideia. A Telebrás foi ressuscitada com o objetivo de levar linhas de transmissão ligando cidades, atendendo provedores independentes, fortalecendo as linhas de transmissão, mas sem a pretensão de atuar no varejo. A possibilidade de atuar no varejo foi acenada apenas para demover as resistências das operadoras em aderir ao plano.
Não significa que seja um bom plano. 300 mb de tráfego por mês a 35 reais é brincadeira. Tem que se aprimorar a negociação. Mas a estratégia de amarrar as teles a compromissos de universalização é correta.
O segundo ponto é a chamada "lei dos meios". Criou-se a ideia de que o projeto de Franklin Martins imporia limites aos abusos da mídia. A radicalização de Franklin foi muito mais no discurso do que propriamente nas propostas. A não ser a questão limitada da propriedade cruzada, o projeto era muito mais uma defesa dos grupos nacionais contra as grandes corporações internacionais e as teles.
A cegueira da velha mídia a impediu de entender a lógica do plano.
Apesar de surpreender a gregos e troianos, a estratégia política de Lula-Dilma Rousseff é relativamente fácil de desvendar.
A primeira peça do jogo é não imaginar Dilma dissociada de Lula. Não existe hipótese para ciumeiras, rompimentos. A diferença de estilo entre ambos não é semente para futuras disputas, mas peça essencial na sua estratégia.
Primeiro, vamos às afinidades políticas e à continuidade de ambos os governos.
Ambos são sociais-democratas. Não se exija perfil revolucionário, nem mesmo estatizante, embora estejam longe de se constituir em neoliberais.
São políticos focados em resultados sociais, como peça central de legitimação política, Dilma dando mais atenção à gestão, Lula à política (mesmo porque tinha Dilma para cuidar da gerência).
Na política econômica, a prioridade absoluta é o controle da inflação. Câmbio, desindustrialização, juros, é resto. E resto é resto. Embora Dilma tenha formação desenvolvimentista, a realpolitik se sobrepôs às demais prioridades. Se a crise internacional piorar, pode criar vulnerabilidades nessa parte da estratégia.
No plano político, a lógica não é do confronto, mas da soma. Dilma aprendeu com Lula a dividir os contrários em dois grupos: os adversários e os inimigos. O primeiro grupo é para ser cativado ou cooptado.
Diferenças periféricas
As diferenças de estilo entre Lula e o Dilma são periféricas, embora importantes na montagem da estratégia política. No plano econômico e ideológico, são governos de continuidade.
Muitos analistas – à direita e à esquerda – tomam a nuvem por Juno, as diferenças periféricas pelas essenciais. E acabam se confundindo na análise do governo Dilma e de sua estratégia política.
Os fatores utilizados pela velha mídia para desgastar Lula (fazendo muito barulho, embora influenciando apenas 5% do eleitorado) são desimportantes e nada tem a ver com as peças centrais de sua política.
No plano político, nos últimos anos desenterrou fantasmas da guerra fria que se supunham extintos desde os anos 60. Na diplomacia, a questão iraniana. Na política interna, o pesado véu de preconceito contra Lula e o enfrentamento nos últimos anos. As críticas contra as políticas sociais foram devidamente enterradas pelos fatos.
Ao assumir, sem comprometer os pontos centrais de sua política, Dilma definiu um estilo diferente de Lula na forma, embora muito similar no conteúdo – inclusive surpreendendo os que supunham que partiria para um confronto direto com adversários.
Colocou a questão dos direitos humanos como foco da diplomacia, deu atenção a FHC, compareceu ao aniversário da Folha, nos últimos dias convidou jornalistas brasilienses para conversas no Palácio, respondeu rapidamente às denúncias consistentes.
Completa-se assim a estratégia.
Dilma se incumbe do establishment, que rejeita Lula. No plano midiático, blogosfera para ela é como a Telebrás – serve apenas para ajudar a regular a mídia. O mesmo ocorre com movimentos sociais e sindicatos.
Já Lula garante os movimentos populares, o sindicalismo, a blogosfera e a ala esquerda. E estende sua sombra sobre os adversários. Se endurecerem muito com Dilma, entra na briga. Se Dilma não se sair bem no governo, ele volta.
Perto dessa estratégia, a oposição só tem perna de pau: um guru que ensarilhou as armas – FHC -, um político esperto mas sem ideias – Aécio Neves – e um desatinado – José Serra.
Cumprir-se-á o vaticínio do sábio José Sarney, de que a nova oposição sairá das entranhas do governo.
Linhas programáticas
Em relação à continuidade, é importante não confundir algumas linhas de ação que permanecem as mesmas desde o governo Lula – mas que têm dado margem a confusões..
A primeira, o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). Criou-se a ideia de que, com Lula, a Telebrás assumiria todo o trabalho de levar a banda larga até a última milha (a casa do ccidadão). Nunca foi essa a ideia. A Telebrás foi ressuscitada com o objetivo de levar linhas de transmissão ligando cidades, atendendo provedores independentes, fortalecendo as linhas de transmissão, mas sem a pretensão de atuar no varejo. A possibilidade de atuar no varejo foi acenada apenas para demover as resistências das operadoras em aderir ao plano.
Não significa que seja um bom plano. 300 mb de tráfego por mês a 35 reais é brincadeira. Tem que se aprimorar a negociação. Mas a estratégia de amarrar as teles a compromissos de universalização é correta.
O segundo ponto é a chamada "lei dos meios". Criou-se a ideia de que o projeto de Franklin Martins imporia limites aos abusos da mídia. A radicalização de Franklin foi muito mais no discurso do que propriamente nas propostas. A não ser a questão limitada da propriedade cruzada, o projeto era muito mais uma defesa dos grupos nacionais contra as grandes corporações internacionais e as teles.
A cegueira da velha mídia a impediu de entender a lógica do plano.
1 comentários:
Oportuno e pertinente esse artigo de Luis Nassif. O que mais me agradou na leitura foi a forma como o autor se referiu ao caráter político-ideológico de Lula e Dilma: "ambos sociais-democratas". Com essa identificação, afasta-se a imagem de esquerda que o PT teve um dia mas que não tem desde o final dos anos 90 e reafirma o aspecto reformista do sistema capitalista tão característico da social democracia.
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