Por Altamiro Borges
O vídeo de quase sete minutos em que Jô Soares faz duras críticas à Rede Globo (assista aqui) causou alvoroço no twitter. Muitos internautas replicaram e aproveitaram para tirar uma casquinha do famoso "Gordo", que hoje "é um servil funcionário" - esse foi o adjetivo mais leve - da famiglia Marinho.
Alguns internautas, inclusive, pediram a difusão do artigo de Jô Soares, publicado no Jornal do Brasil com o título "Agora falando sério". O texto pode ser encontrado no sítio Baú do Silvio e foi reproduzido pelo atento jornalista Marco Aurélio Mello, do blog DoLaDoDeLá, com o título irônico "Viva o Gordo! (Só se for daquela época)". É uma peça histórica:
*****
Em 1947, os grandes produtores de Hollywood se reuniram no hotel Waldorf-Astoria, em Nova Iorque, e resolveram que artistas com tendências políticas em desacordo com seu ideário não trabalhariam mais em filmes. Surgia a lista negra e a conseqüente caça às bruxas. Em pouco tempo, não somente radicais ou liberais eram perseguidos; qualquer artista que desagradasse aos chefes de estúdio era listado e não conseguia mais trabalho.
Com impecável senso de oportunidade, a TV Globo escolheu exatamente o momento da Constituinte no Brasil para inaugurar sua lista negra. Quem sair da emissora sem ter sido mandado embora corre o risco de não poder mais trabalhar em comerciais, sob a ameaça de que estes não serão lá veiculados. Como a rede detém quase o monopólio do mercado, os anunciantes não ousam nem pensar em artistas que possam desagradá-la.
Neste ponto, alguém pode achar que eu estou falando por interesse pessoal. Garanto que não.
Não falo pelo fato de os meus comerciais não poderem ser exibidos, nem pelo fato mais recente, das chamadas pagas do meu novo espetáculo no Scala 2 “O Gordo ao vivo” terem sido proibidas. Sou um artista muito bem remunerado e meus espetáculos têm outros meios de divulgação. Graças a Deus meus shows de humor já lotavam teatros antes que eu fosse para a Globo.
Que as chamadas de “O Gordo ao vivo” não passariam na emissora eu já sabia desde outubro, pelo próprio Boni, que me disse em sua sala quando fui me despedir:
– Já mandei tirar todos os seus comerciais do ar. Chamadas do seu novo show no Scala 2, também, esquece. Estou vendo como te proibir de usar a palavra ‘gordo’. – claro que esta última ameaça ficou meio difícil de cumprir: a megalomania ainda não é lei fora da Globo.
Logo, não é por isso que escrevo pela primeira vez sobre esse assunto. Saí da Globo, onde conservo grandes amigos, com a maior lisura, e nunca me aproveitei deste espaço, ou de nenhum espaço, em causa própria.
Escrevo, isso sim, porque atores que trabalham no meu programa, como Eliéser Mota, como Nina de Pádua, foram vetados em comerciais. As agências foram informadas, não oficialmente, é claro – como acontece em todas as listas negras – que suas participações não seriam aceitas.
É triste, nesse momento, em que se escreve diariamente a democracia no Congresso, que uma empresa que é concessão do Estado cerceie, impunemente, o artista brasileiro, de um modo geral já tão mal remunerado.
Finalmente, eu gostaria de dizer que Silvio Santos foi tremendamente injusto quando chamou Boni numa entrevista de “office-boy de luxo”. Nenhum office-boy consegue guardar tanto rancor no coração.
O vídeo de quase sete minutos em que Jô Soares faz duras críticas à Rede Globo (assista aqui) causou alvoroço no twitter. Muitos internautas replicaram e aproveitaram para tirar uma casquinha do famoso "Gordo", que hoje "é um servil funcionário" - esse foi o adjetivo mais leve - da famiglia Marinho.
Alguns internautas, inclusive, pediram a difusão do artigo de Jô Soares, publicado no Jornal do Brasil com o título "Agora falando sério". O texto pode ser encontrado no sítio Baú do Silvio e foi reproduzido pelo atento jornalista Marco Aurélio Mello, do blog DoLaDoDeLá, com o título irônico "Viva o Gordo! (Só se for daquela época)". É uma peça histórica:
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Em 1947, os grandes produtores de Hollywood se reuniram no hotel Waldorf-Astoria, em Nova Iorque, e resolveram que artistas com tendências políticas em desacordo com seu ideário não trabalhariam mais em filmes. Surgia a lista negra e a conseqüente caça às bruxas. Em pouco tempo, não somente radicais ou liberais eram perseguidos; qualquer artista que desagradasse aos chefes de estúdio era listado e não conseguia mais trabalho.
Com impecável senso de oportunidade, a TV Globo escolheu exatamente o momento da Constituinte no Brasil para inaugurar sua lista negra. Quem sair da emissora sem ter sido mandado embora corre o risco de não poder mais trabalhar em comerciais, sob a ameaça de que estes não serão lá veiculados. Como a rede detém quase o monopólio do mercado, os anunciantes não ousam nem pensar em artistas que possam desagradá-la.
Neste ponto, alguém pode achar que eu estou falando por interesse pessoal. Garanto que não.
Não falo pelo fato de os meus comerciais não poderem ser exibidos, nem pelo fato mais recente, das chamadas pagas do meu novo espetáculo no Scala 2 “O Gordo ao vivo” terem sido proibidas. Sou um artista muito bem remunerado e meus espetáculos têm outros meios de divulgação. Graças a Deus meus shows de humor já lotavam teatros antes que eu fosse para a Globo.
Que as chamadas de “O Gordo ao vivo” não passariam na emissora eu já sabia desde outubro, pelo próprio Boni, que me disse em sua sala quando fui me despedir:
– Já mandei tirar todos os seus comerciais do ar. Chamadas do seu novo show no Scala 2, também, esquece. Estou vendo como te proibir de usar a palavra ‘gordo’. – claro que esta última ameaça ficou meio difícil de cumprir: a megalomania ainda não é lei fora da Globo.
Logo, não é por isso que escrevo pela primeira vez sobre esse assunto. Saí da Globo, onde conservo grandes amigos, com a maior lisura, e nunca me aproveitei deste espaço, ou de nenhum espaço, em causa própria.
Escrevo, isso sim, porque atores que trabalham no meu programa, como Eliéser Mota, como Nina de Pádua, foram vetados em comerciais. As agências foram informadas, não oficialmente, é claro – como acontece em todas as listas negras – que suas participações não seriam aceitas.
É triste, nesse momento, em que se escreve diariamente a democracia no Congresso, que uma empresa que é concessão do Estado cerceie, impunemente, o artista brasileiro, de um modo geral já tão mal remunerado.
Finalmente, eu gostaria de dizer que Silvio Santos foi tremendamente injusto quando chamou Boni numa entrevista de “office-boy de luxo”. Nenhum office-boy consegue guardar tanto rancor no coração.
4 comentários:
Bela lembrança, em especial nesses tempos onde o Jô vem usando o tempo de seu programa da maneira mais lamentável possível. Qualquer sombra de temas polêmicos passa longe daquele palco, e os convidados têm encontrado um apresentador, com frequência, entediado, desinformado e desatento às pautas que não se refiram a espetáculos de amigos. Um triste ocaso.
Terrível é ouvi-lo, agora, a cada vez que tem a oportunidade, defender a liberdade de imprensa no Brasil, como se a imprensa brasileira fosse livre! Que os magnatas da indústria imponham sua censura não tem problema, problema é se o governo, ou o povo conseguirem fazer valer o que pensam e se colocar acima desta corja.
É desse Jô que eu me lembro com carinho, o que está aí parece um arremedo do que já foi.
Jô Soares é um caso típico de um grande talento que diminuiu e perdeu o brilho.
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Provocativo, indagador, e portador de ironia educada produzia programas realmente interessantes. Uma vez contratado pela Toda Poderosa Rede Globo seus programas se tornaram chapa branca. Políticos deixaram de ser convidados e muito do mesmo mingau se tornou a regra.
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