sábado, 3 de setembro de 2011

PT defende regulação da mídia

Por Soraya Aggege, na CartaCapital:

O 4º Congresso Nacional do PT, que acontece neste final de semana, em Brasília, pretende aprovar uma proposta pontual para a regulação da mídia brasileira. O ponto principal do documento é a proibição da propriedade cruzada de meios de comunicação.

O domínio midiático de alguns grupos econômicos tolhe a democracia e tenta impor uma “versão única” para o Brasil, diz o texto. A ideia agora é que a regulação seja encaminhada pelas bancadas do partido no Congresso Nacional, sem que o Palácio do Planalto sofra mais desgastes com o plano.



O texto, revisado na noite desta sexta-feira (2) pelo presidente nacional do partido, Rui Falcão, e distribuído aos participantes, já é quase consenso no congresso petista. Não há, em nenhum momento, menção à criação de mecanismos de censura à imprensa, mas críticas aos abusos de grandes veículos.

Na mesma noite, os petistas fizeram um desagravo ao ex-ministro José Dirceu, alvo de matéria da revista Veja. Dirceu foi aplaudido de pé durante mais tempo que o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma Rousseff, aos gritos de “guerreiro do povo brasileiro” pelos 1.500 participantes do Congresso. Lula e Dilma fizeram críticas à mídia.

O ex-presidente chegou a defender Dirceu nominalmente: “Muitos que falam em democracia não exercem a democracia. Ficam especulando em alguns jornais e então eu vou dizer: o Zé Dirceu tem o meu aval”, disse, afirmando ainda que não é mais possível “dizerem as mentiras que querem e quem ainda tem que ficar se explicando diante disso é a gente”.

Dilma não citou Dirceu diretamente, mas fez uma longa pausa em sua saudação ao ex-ministro, provocando mais aplausos dos petistas ao ex-ministro. E também fez críticas às especulações de parte da imprensa.

Em seu discurso de abertura do Congresso Nacional do PT, Falcão também voltou a criticar a imprensa. Ele defendeu o marco regulatório e disse que o domínio midiático “por alguns grupos econômicos tolhe a democracia”. “A crescente parcialidade e a afronta aos fatos preocupa a todos os que lutam por meios de comunicação democráticos”, discursou.

Leia abaixo os trechos do projeto de resolução referentes à comunicação, que serão submetidos aos delegados do 4º Congresso Nacional do PT. O texto ainda pode sofrer emendas antes de ser votado, até o domingo (4):

73. Para o PT e para os movimentos sociais, a democratização dos meios de comunicação é tema relevante e um objetivo comum com os esforços de elaboração do governo Lula e os resultados da I Conferência Nacional de Comunicação, que evidenciou os grandes embates entre agentes políticos, econômicos e sociais de grande peso na sociedade brasileira. É urgente abrir o debate no Congresso Nacional sobre o marco regulador da comunicação social – ordenamento jurídico que amplie as possibilidades de livre expressão de pensamento e assegure o amplo acesso da população a todos os meios – sobretudo os mais modernos como a internet. Daí o nosso repúdio ao projeto de lei 84/99 que se originou e tramita no Senado Federal, o AI-5 digital, pois pretende reprimir a livre expressão na blogosfera.

74. Para nós, é questão de princípio repudiar, repelir e barrar qualquer tentativa de censura ou restrição à liberdade de imprensa. Mas o jornalismo marrom de certos veículos, que às vezes chega a práticas ilegais, deve ser responsabilizado toda vez que falsear os fatos ou distorcer as informações para caluniar, injuriar ou difamar. A inexistência de uma Lei de Imprensa, a não regulamentação dos artigos da Constituição que tratam da propriedade cruzada.

de meios, o desrespeito aos direitos humanos presente na mídia, o domínio midiático por alguns poucos grupos econômicos tolhem a democracia, silenciam vozes, marginalizam multidões, enfim criam um clima de imposição de uma única versão para o Brasil. E a crescente partidarização, a parcialidade, a afronta aos fatos como sustentação do noticiário preocupam a todos os que lutam por meios de comunicação que sejam efetivamente democráticos. Por tudo isso, o PT luta por um marco regulatório capaz de democratizar a mídia no País.

75. As reformas institucionais não estarão completas se não forem acompanhadas da mais profunda democratização da comunicação. Além de tudo isso, as mudanças tecnológicas e a convergência de mídias precisam se acompanhadas de medidas que ampliem o acesso, quebrem monopólios e garantam efetiva pluralidade de conteúdos.

76. Ainda no campo da comunicação, é preciso aprofundar as políticas públicas para a juventude, num contexto em que a própria noção de cidadania cultural se redesenha num cenário de convergência tecnológica, de economia e de serviços. Tais políticas devem voltar-se para a ampliação da fruição cultural e da qualidade da educação no Brasil.

2 comentários:

ELÓI ALVES disse...

Denunciar a corrupção, os abusos quaisquer que sejam, defender suas ideias, seus pensamentos (sem ofensas) deve ser um direito de todos os indivíduos, sejam por meios impressos, pela internet ..
Repressão jamais!

Eduardo Rodrigues disse...

e o que estás achando disso tudo, mano?