Por Gabriel Bonis, no sítio da CartaCapital:
Em uma palestra sobre o atual jornalismo brasileiro na Faculdade Cásper Líbero, na segunda-feira 3, o jornalista Mino Carta, diretor de redação de CartaCapital, defendeu a regulamentação da mídia como forma de controlar os interesses dos proprietários de veículos do setor. “Quando se toca neste assunto, a mídia se apressa em dizer que está sendo tolhida. Porém, trabalhei fora do país em um lugar onde patrão não poderia ser diretor de redação por lei. É indispensável estabelecer esse limite”, disse Carta.
Aos 77 anos, o jornalista, criador das revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital e do Jornal da Tarde, afirmou a uma platéia lotada, principalmente por estudantes de jornalismo, que a profissão reflete os atrasos políticos e sociais do País. “Não tenho uma boa opinião do jornalismo brasileiro e isso não deve mudar a curto ou médio prazo”, alfinetou.
Porém, essa visão não desanima a estudante de jornalismo Helena Lima. “É uma análise bem realista, mas não chega a assustar”, observou. “Creio que essa análise pessimista é até comum entre os jornalistas de uma forma geral”, concordou a também estudante Carolina Salomão, de 21 anos.
Segundo Carta, “alguns senhores, donos de veículos de mídia, carregam a herança da Casa Grande. Mostram um país que eles gostariam de ver”. Como exemplo deste posicionamento, cita o episódio ocorrido com o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, na França, na última semana.
Na oportunidade, Lula recebeu o seu sétimo título de doutor honoris causa. A premiação era do Instituto de Estudos Políticos de Paris, o Sciences Po, que concedeu a honraria pela primeira vez a um latino-americano. O diretor de redação de CartaCapital destacou que alguns correspondentes brasileiros na coletiva de imprensa “encarnaram seus patrões e manifestam o ódio de classe”. “Questionaram a decisão de uma respeitada instituição que pesou prós e contras, perguntando como era possível alguém que nunca leu um livro receber um título de doutor.”
A estudante de jornalismo Renata Moura, de 21 anos, concordou com as críticas feitas por Carta à mídia nacional, e aos seus correspondentes a “encarnar seus patrões”. “Acredito que é importante debater esse aspecto de casa grande e senzala e os problemas do jornalismo brasileiro, entre eles o fato de que os donos não deveriam ser diretores de redação.”
O criador de CartaCapital também mostrou-se preocupado com fato de alguns veículos de imprensa não se conscientizarem da importância de levar aos leitores uma informação correta. “É preciso sempre manter a fidelidade canina à verdade factual, mas infelizmente o jornalismo brasileiro atual não a respeita e omite fatos quando não lhe convém que algo venha à tona. Isso quando não mente.”
Carta falou também sobre o dever da imprensa em fiscalizar o poder, que nem sempre está na política. “Entendemos sempre que a política é corrupta, mas há uma via de duas mãos, quem corrompe e quem é corrompido. Nessa operação não existe somente políticos, há os senhores do poder, não só deputados, ministros e senadores.” Em seguida, ironizou: “A nossa corrupção é a mais glamurosa do mundo.”
Opinião
Segundo Carta, há espaço para a opinião no jornalismo, desde que seja feita uma apuração apresentando todas as partes envolvidas. “O espírito crítico nos permite saber que estamos vivos, é uma dádiva”, declarou, apontando que o formato de CartaCapital difere das demais revistas semanais do Brasil por ter uma característica de análise.
Sobre sua carreira, ele destacou a liberdade técnica que teve para fundar o Jornal da Tarde, na década de 60. “O jornal saia às 12h no centro de São Paulo. Era corajoso, bem feito e valorizava as grandes reportagens, além do tom literário. Embora tenha que admitir, o jornal cresceu muito após a minha saída em 1968 para dirigir a Veja, tendo o seu ápice até 1973.”
Em relação à semanal que também fundou, Carta é enfático: “Criei um monstro”. Porém, mantém o bom humor ao ser questionado se, como ex-diretor da revista Quatro Rodas, uma publicação sobre carros, sabe dirigir. “Não sei a diferença entre um Fusca e uma Mercedes. Talvez por isso a revista tenha sido um grande sucesso”, brincou.
O jornalista também falou sobre a internet como ferramenta para buscar informações em mídias alternativas aos grandes veículos de imprensa. “É um instrumento excelente, mas depende de quem está usando”, declarou. “Já tive e abandonei um blog porque por trás desse negócio há uma questão moral. Quem escreve não se identifica, ofende e não mostra quem é ou o que quer.”
Uma característica que, segundo Moura, não deve ser encarada de forma negativa. “Se você é um Mino Carta ou Rubens Paiva, vai ser atacado, mas é importante continuar escrevendo, é apenas mais um aspecto desse meio.”
Em uma palestra sobre o atual jornalismo brasileiro na Faculdade Cásper Líbero, na segunda-feira 3, o jornalista Mino Carta, diretor de redação de CartaCapital, defendeu a regulamentação da mídia como forma de controlar os interesses dos proprietários de veículos do setor. “Quando se toca neste assunto, a mídia se apressa em dizer que está sendo tolhida. Porém, trabalhei fora do país em um lugar onde patrão não poderia ser diretor de redação por lei. É indispensável estabelecer esse limite”, disse Carta.
Aos 77 anos, o jornalista, criador das revistas Quatro Rodas, Veja e CartaCapital e do Jornal da Tarde, afirmou a uma platéia lotada, principalmente por estudantes de jornalismo, que a profissão reflete os atrasos políticos e sociais do País. “Não tenho uma boa opinião do jornalismo brasileiro e isso não deve mudar a curto ou médio prazo”, alfinetou.
Porém, essa visão não desanima a estudante de jornalismo Helena Lima. “É uma análise bem realista, mas não chega a assustar”, observou. “Creio que essa análise pessimista é até comum entre os jornalistas de uma forma geral”, concordou a também estudante Carolina Salomão, de 21 anos.
Segundo Carta, “alguns senhores, donos de veículos de mídia, carregam a herança da Casa Grande. Mostram um país que eles gostariam de ver”. Como exemplo deste posicionamento, cita o episódio ocorrido com o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, na França, na última semana.
Na oportunidade, Lula recebeu o seu sétimo título de doutor honoris causa. A premiação era do Instituto de Estudos Políticos de Paris, o Sciences Po, que concedeu a honraria pela primeira vez a um latino-americano. O diretor de redação de CartaCapital destacou que alguns correspondentes brasileiros na coletiva de imprensa “encarnaram seus patrões e manifestam o ódio de classe”. “Questionaram a decisão de uma respeitada instituição que pesou prós e contras, perguntando como era possível alguém que nunca leu um livro receber um título de doutor.”
A estudante de jornalismo Renata Moura, de 21 anos, concordou com as críticas feitas por Carta à mídia nacional, e aos seus correspondentes a “encarnar seus patrões”. “Acredito que é importante debater esse aspecto de casa grande e senzala e os problemas do jornalismo brasileiro, entre eles o fato de que os donos não deveriam ser diretores de redação.”
O criador de CartaCapital também mostrou-se preocupado com fato de alguns veículos de imprensa não se conscientizarem da importância de levar aos leitores uma informação correta. “É preciso sempre manter a fidelidade canina à verdade factual, mas infelizmente o jornalismo brasileiro atual não a respeita e omite fatos quando não lhe convém que algo venha à tona. Isso quando não mente.”
Carta falou também sobre o dever da imprensa em fiscalizar o poder, que nem sempre está na política. “Entendemos sempre que a política é corrupta, mas há uma via de duas mãos, quem corrompe e quem é corrompido. Nessa operação não existe somente políticos, há os senhores do poder, não só deputados, ministros e senadores.” Em seguida, ironizou: “A nossa corrupção é a mais glamurosa do mundo.”
Opinião
Segundo Carta, há espaço para a opinião no jornalismo, desde que seja feita uma apuração apresentando todas as partes envolvidas. “O espírito crítico nos permite saber que estamos vivos, é uma dádiva”, declarou, apontando que o formato de CartaCapital difere das demais revistas semanais do Brasil por ter uma característica de análise.
Sobre sua carreira, ele destacou a liberdade técnica que teve para fundar o Jornal da Tarde, na década de 60. “O jornal saia às 12h no centro de São Paulo. Era corajoso, bem feito e valorizava as grandes reportagens, além do tom literário. Embora tenha que admitir, o jornal cresceu muito após a minha saída em 1968 para dirigir a Veja, tendo o seu ápice até 1973.”
Em relação à semanal que também fundou, Carta é enfático: “Criei um monstro”. Porém, mantém o bom humor ao ser questionado se, como ex-diretor da revista Quatro Rodas, uma publicação sobre carros, sabe dirigir. “Não sei a diferença entre um Fusca e uma Mercedes. Talvez por isso a revista tenha sido um grande sucesso”, brincou.
O jornalista também falou sobre a internet como ferramenta para buscar informações em mídias alternativas aos grandes veículos de imprensa. “É um instrumento excelente, mas depende de quem está usando”, declarou. “Já tive e abandonei um blog porque por trás desse negócio há uma questão moral. Quem escreve não se identifica, ofende e não mostra quem é ou o que quer.”
Uma característica que, segundo Moura, não deve ser encarada de forma negativa. “Se você é um Mino Carta ou Rubens Paiva, vai ser atacado, mas é importante continuar escrevendo, é apenas mais um aspecto desse meio.”
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