Por Jorge Cadima, no sítio português O Diário:
O Banco Central Europeu deu uma prenda de Natal aos colegas banqueiros: a oferta ilimitada de crédito à banca por três anos, com juros de apenas 1%. A banca pode emprestar esse dinheiro – com juros bem maiores – aos governos, enchendo o sapatinho à custa do contribuinte. O retomar deste escandaloso negócio veio acompanhado de mais prendas: foram diminuídas as exigências de reservas (que a banca tem de ter na sua posse) e flexibilizadas as regras para as garantias bancárias junto do BCE (Telegraph, 20.12.11): a banca pode despejar no BCE mais «papel tóxico» de valor nulo.
Num único dia, mais de 500 bancos foram buscar quase 500 mil milhões de euros. Um economista citado no Telegraph (21.12.11) diz que o montante emprestado "é equivalente a quase 1,5 vezes os títulos de dívida que a Espanha e a Itália terão de emitir em 2012". Para os estados só há dinheiro com juros usurários, em troca de sangue, suor e lágrimas. Para a banca, o dinheiro corre como champanhe. Como seria de esperar, as bolsas e mercados "de risco" tiveram um dia de "exuberância" (Telegraph, 21.12.11).
Se o Natal da UE para os banqueiros foi uma borla no casino, para os povos é bem amargo. Os portugueses sabem-no bem. E a Comissão Europeia também: segundo o Financial Times (23.12.11) "um novo estudo encomendado pela Comissão Europeia […] afirma que as medidas de austeridade concretizadas em Portugal em 2010 foram 'claramente regressivas', fazendo com que nas famílias mais pobres a redução dos rendimentos disponíveis tenha sido maior, em proporção, do que nos lares mais ricos".
Um gráfico que acompanha a notícia indica que nas famílias mais pobres com crianças, a quebra foi da ordem dos 9%. Mas exigem mais. Dos martirizados gregos querem dezenas de milhares de despedimentos no sector público, mais cortes de salários e privatizações. Na Irlanda – onde já cortaram os salários da função pública em média 14% – haverá novos "cortes orçamentais de 3,8 mil milhões de euros – mais perturbações no sector público, cortes no subsídio de família, propinas estudantis drasticamente mais altas, e um aumento do IVA para 23%" (Telegraph, 5.12.11). A chanceler Merkel elogiou a Irlanda como um "magnífico exemplo" para a saída da crise. Mas os dados mais recentes referem uma queda do 1,9% no PIB do 3.o trimestre (12,5% desde o início da crise) e desemprego nos 14,3%.
Quem acredita na propaganda da UE não perceberá porque se insiste em políticas tão desastrosas. É simples. Há quem lucre com a miséria dos povos. A luta de classes, longe de ser uma coisa do passado, nunca foi tão intensa em solo europeu desde os tempos do nazi-fascismo. Mas há outro dado: as classes dominantes revelam-se incapazes de controlar a sua crise. Foi elucidativo o espectáculo de ataques mútuos entre ingleses e franceses após o fracasso da Cimeira Europeia (um vice-editor do Daily Telegraph, Jeremy Warner, fez um post de título «o único problema da França é que está cheia de franceses», 16.12.11).
Perante o desastre anunciado, todos sacodem a água do capote. O «pai da Europa» Jacques Delors diz agora que «o euro estava condenado desde o início» (Telegraph, 2.12.11). Até o CEMGFA dos EUA, General Dempsey, declara que «a zona euro está em grande risco» e que os EUA estão «muito preocupados […] com a possibilidade de distúrbios nas ruas e da desintegração da união» (Press TV, 9.12.11). Neste quadro, o MNE francês Juppé veio pôr água na fervura das relações franco-inglesas, frisando a convergência «na abordagem da crise na Líbia, Irão e Síria», anunciando uma cimeira militar bilateral, referindo os avanços na «criação de um drone [avião militar não tripulado] conjunto» e «de um programa conjunto de simulação de armas nucleares», domínio referido como estando «no coração do coração da soberania nacional» (Telegraph 22.12.11).
Pois. Quando não sabem o que fazer, preparam a guerra. A pretexto de programas (reais ou falsos) de armas nucleares que, nas mãos de terceiros são «intoleráveis», mas nas mãos dos estados controlados pelo grande capital financeiro são «o coração do coração da soberania nacional». Essa mesma soberania nacional que o presidente da UE, Van Rompuy, diz «ser preciso sacrificar para se estar numa zona euro credível» (Televideo RAI, 30.11.11). Tudo contraditório? Nem por isso. É preciso é ter os óculos certos para ver a realidade da UE do grande capital.
O Banco Central Europeu deu uma prenda de Natal aos colegas banqueiros: a oferta ilimitada de crédito à banca por três anos, com juros de apenas 1%. A banca pode emprestar esse dinheiro – com juros bem maiores – aos governos, enchendo o sapatinho à custa do contribuinte. O retomar deste escandaloso negócio veio acompanhado de mais prendas: foram diminuídas as exigências de reservas (que a banca tem de ter na sua posse) e flexibilizadas as regras para as garantias bancárias junto do BCE (Telegraph, 20.12.11): a banca pode despejar no BCE mais «papel tóxico» de valor nulo.
Num único dia, mais de 500 bancos foram buscar quase 500 mil milhões de euros. Um economista citado no Telegraph (21.12.11) diz que o montante emprestado "é equivalente a quase 1,5 vezes os títulos de dívida que a Espanha e a Itália terão de emitir em 2012". Para os estados só há dinheiro com juros usurários, em troca de sangue, suor e lágrimas. Para a banca, o dinheiro corre como champanhe. Como seria de esperar, as bolsas e mercados "de risco" tiveram um dia de "exuberância" (Telegraph, 21.12.11).
Se o Natal da UE para os banqueiros foi uma borla no casino, para os povos é bem amargo. Os portugueses sabem-no bem. E a Comissão Europeia também: segundo o Financial Times (23.12.11) "um novo estudo encomendado pela Comissão Europeia […] afirma que as medidas de austeridade concretizadas em Portugal em 2010 foram 'claramente regressivas', fazendo com que nas famílias mais pobres a redução dos rendimentos disponíveis tenha sido maior, em proporção, do que nos lares mais ricos".
Um gráfico que acompanha a notícia indica que nas famílias mais pobres com crianças, a quebra foi da ordem dos 9%. Mas exigem mais. Dos martirizados gregos querem dezenas de milhares de despedimentos no sector público, mais cortes de salários e privatizações. Na Irlanda – onde já cortaram os salários da função pública em média 14% – haverá novos "cortes orçamentais de 3,8 mil milhões de euros – mais perturbações no sector público, cortes no subsídio de família, propinas estudantis drasticamente mais altas, e um aumento do IVA para 23%" (Telegraph, 5.12.11). A chanceler Merkel elogiou a Irlanda como um "magnífico exemplo" para a saída da crise. Mas os dados mais recentes referem uma queda do 1,9% no PIB do 3.o trimestre (12,5% desde o início da crise) e desemprego nos 14,3%.
Quem acredita na propaganda da UE não perceberá porque se insiste em políticas tão desastrosas. É simples. Há quem lucre com a miséria dos povos. A luta de classes, longe de ser uma coisa do passado, nunca foi tão intensa em solo europeu desde os tempos do nazi-fascismo. Mas há outro dado: as classes dominantes revelam-se incapazes de controlar a sua crise. Foi elucidativo o espectáculo de ataques mútuos entre ingleses e franceses após o fracasso da Cimeira Europeia (um vice-editor do Daily Telegraph, Jeremy Warner, fez um post de título «o único problema da França é que está cheia de franceses», 16.12.11).
Perante o desastre anunciado, todos sacodem a água do capote. O «pai da Europa» Jacques Delors diz agora que «o euro estava condenado desde o início» (Telegraph, 2.12.11). Até o CEMGFA dos EUA, General Dempsey, declara que «a zona euro está em grande risco» e que os EUA estão «muito preocupados […] com a possibilidade de distúrbios nas ruas e da desintegração da união» (Press TV, 9.12.11). Neste quadro, o MNE francês Juppé veio pôr água na fervura das relações franco-inglesas, frisando a convergência «na abordagem da crise na Líbia, Irão e Síria», anunciando uma cimeira militar bilateral, referindo os avanços na «criação de um drone [avião militar não tripulado] conjunto» e «de um programa conjunto de simulação de armas nucleares», domínio referido como estando «no coração do coração da soberania nacional» (Telegraph 22.12.11).
Pois. Quando não sabem o que fazer, preparam a guerra. A pretexto de programas (reais ou falsos) de armas nucleares que, nas mãos de terceiros são «intoleráveis», mas nas mãos dos estados controlados pelo grande capital financeiro são «o coração do coração da soberania nacional». Essa mesma soberania nacional que o presidente da UE, Van Rompuy, diz «ser preciso sacrificar para se estar numa zona euro credível» (Televideo RAI, 30.11.11). Tudo contraditório? Nem por isso. É preciso é ter os óculos certos para ver a realidade da UE do grande capital.
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