Por Umberto Martins, no sítio Vermelho:
O Banco Central Europeu (BCE) acaba de despejar mais 529 bilhões de euros no sistema financeiro da União Europeia, em socorro a centenas de bancos abalados pela crise da dívida na região. Os efeitos da iniciativa para a zona do euro são duvidosos e contraditórios. Mas não é difícil avaliar o que significa para a economia mundial. É mais lenha na fogueira da guerra cambial.
Não é a primeira vez que o recurso é usado. Em dezembro do ano passado, 523 bancos puderam desfrutar da derrama de 489 bilhões de euros feita pelo BCE. O Federal Reserve (FED, banco central dos EUA) também se valeu do mesmo expediente, através da política designada de relaxamento quantitativo.
Trilhões para os bancos
A experiência sugere que este tipo de medidas, muito conveniente aos bancos e grandes capitalistas, embora provoque espasmos de euforia nas bolsas, em pouco ou nada contribui para a recuperação do emprego e da produção. No caso da Europa, muito menos, visto que a recessão não se explica apenas pela anarquia dos mercados; é antes uma obra-prima da política neoliberal, ditada pela troika (FMI, BCE e UE), especialmente nos países endividados como Grécia, Portugal, Espanha e Itália, entre outros.
EUA e Europa já injetaram mais de 5 trilhões de dólares no sistema financeiro desde 2008, sem contar as generosas contribuições do erário, também na casa dos trilhões, que resultaram em crises das dívidas dos dois lados do Atlântico. A zona do euro está estagnada, com muitos países em recessão, e uma taxa média de desemprego superior a 10%. Os EUA, onde tudo começou, continuam com elevados índices de desocupação, apesar dos sinais de recuperação. A combinação da expansão monetária com arrocho fiscal não favorece a recuperação.
Efeitos colaterais
Já os efeitos colaterais das emissões realizadas pelos dois maiores bancos centrais do planeta não se restringem às fronteiras do velho continente e dos EUA. São sensíveis e deletérios em quase todo este vasto mundo. Emissões sem lastro na produção têm impacto inflacionário e, no caso, causam forte instabilidade nos mercados de moedas (câmbio).
Traduzem, efetivamente, uma política deliberada de desvalorização tanto do euro quanto do dólar.
O excesso de liquidez que resulta da política monetária expansiva é uma arma de destruição em massa na guerra cambial e esta se revela, por consequência, um subproduto da crise mundial do capitalismo e da ordem imperialista hegemonizada pelos EUA.
Parte significativa dos trilhões liberados para os bancos flui para o exterior sob diversas modalidades de investimento externo. Como de praxe no movimento do capital, este migra em busca do lucro máximo e a oportunidade deste lucro, no momento, não está em casa, onde impera a crise, mas na Ásia e em países emergentes.
Política cambial
O Brasil é uma das vítimas desta migração, mas devemos atribuir parte da culpa ao viés neoliberal da política econômica. O dinheiro tomado a custo zero na Europa e nos EUA ingressa em nosso território para especulação com taxas de juros (que são, lembremos, as mais altas do mundo) e câmbio, entre outras coisas. Os investidores se beneficiam da política de câmbio flutuante e da ampla liberdade concedida ao fluxo de capital estrangeiro. O resultado final disto é a valorização do real e o avanço da desindustrialização da economia nacional.
A instabilidade dos mercados de câmbio e a guerra cambial refletem os desequilíbrios insustentáveis da ordem (ou desordem) monetária internacional, ainda liderada pelo chamado padrão dólar flexível. Em médio prazo isto coloca a necessidade de uma nova moeda mundial (ou novas moedas), mas esta não é uma questão que se resolve da noite para o dia; tende a se arrastar por longos anos e não é em nada pacífica. Os desequilíbrios são visíveis especialmente nos déficits comercial e em conta corrente dos EUA e União Europeia (esta última apesar do elevado superávit alemão).
A China consegue se proteger do dilúvio de dólares e euros com uma política de câmbio administrado e controle do fluxo de capitais, o que desperta reações irritadas e também cínicas dos imperialistas estadunidenses e europeus. Eles acusam os chineses de manipular o câmbio, mas tratam de obscurecer o fato de que a política monetária expansiva que aplicam conduz à depreciação descarada de suas moedas e é a principal força motriz da guerra cambial.
O Brasil poderia seguir o caminho bem-sucedido da China, em vez de permanecer prisioneiro do câmbio flutuante, adotado como um dogma desde a carta aos banqueiros assinada por Lula em junho de 2002, e fazer coro ao império contra os chineses neste tema. As medidas relacionadas ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) são paliativas e claramente insuficientes para fazer frente à guerra cambial, apreciação do real e desindustrialização.
O Banco Central Europeu (BCE) acaba de despejar mais 529 bilhões de euros no sistema financeiro da União Europeia, em socorro a centenas de bancos abalados pela crise da dívida na região. Os efeitos da iniciativa para a zona do euro são duvidosos e contraditórios. Mas não é difícil avaliar o que significa para a economia mundial. É mais lenha na fogueira da guerra cambial.
Não é a primeira vez que o recurso é usado. Em dezembro do ano passado, 523 bancos puderam desfrutar da derrama de 489 bilhões de euros feita pelo BCE. O Federal Reserve (FED, banco central dos EUA) também se valeu do mesmo expediente, através da política designada de relaxamento quantitativo.
Trilhões para os bancos
A experiência sugere que este tipo de medidas, muito conveniente aos bancos e grandes capitalistas, embora provoque espasmos de euforia nas bolsas, em pouco ou nada contribui para a recuperação do emprego e da produção. No caso da Europa, muito menos, visto que a recessão não se explica apenas pela anarquia dos mercados; é antes uma obra-prima da política neoliberal, ditada pela troika (FMI, BCE e UE), especialmente nos países endividados como Grécia, Portugal, Espanha e Itália, entre outros.
EUA e Europa já injetaram mais de 5 trilhões de dólares no sistema financeiro desde 2008, sem contar as generosas contribuições do erário, também na casa dos trilhões, que resultaram em crises das dívidas dos dois lados do Atlântico. A zona do euro está estagnada, com muitos países em recessão, e uma taxa média de desemprego superior a 10%. Os EUA, onde tudo começou, continuam com elevados índices de desocupação, apesar dos sinais de recuperação. A combinação da expansão monetária com arrocho fiscal não favorece a recuperação.
Efeitos colaterais
Já os efeitos colaterais das emissões realizadas pelos dois maiores bancos centrais do planeta não se restringem às fronteiras do velho continente e dos EUA. São sensíveis e deletérios em quase todo este vasto mundo. Emissões sem lastro na produção têm impacto inflacionário e, no caso, causam forte instabilidade nos mercados de moedas (câmbio).
Traduzem, efetivamente, uma política deliberada de desvalorização tanto do euro quanto do dólar.
O excesso de liquidez que resulta da política monetária expansiva é uma arma de destruição em massa na guerra cambial e esta se revela, por consequência, um subproduto da crise mundial do capitalismo e da ordem imperialista hegemonizada pelos EUA.
Parte significativa dos trilhões liberados para os bancos flui para o exterior sob diversas modalidades de investimento externo. Como de praxe no movimento do capital, este migra em busca do lucro máximo e a oportunidade deste lucro, no momento, não está em casa, onde impera a crise, mas na Ásia e em países emergentes.
Política cambial
O Brasil é uma das vítimas desta migração, mas devemos atribuir parte da culpa ao viés neoliberal da política econômica. O dinheiro tomado a custo zero na Europa e nos EUA ingressa em nosso território para especulação com taxas de juros (que são, lembremos, as mais altas do mundo) e câmbio, entre outras coisas. Os investidores se beneficiam da política de câmbio flutuante e da ampla liberdade concedida ao fluxo de capital estrangeiro. O resultado final disto é a valorização do real e o avanço da desindustrialização da economia nacional.
A instabilidade dos mercados de câmbio e a guerra cambial refletem os desequilíbrios insustentáveis da ordem (ou desordem) monetária internacional, ainda liderada pelo chamado padrão dólar flexível. Em médio prazo isto coloca a necessidade de uma nova moeda mundial (ou novas moedas), mas esta não é uma questão que se resolve da noite para o dia; tende a se arrastar por longos anos e não é em nada pacífica. Os desequilíbrios são visíveis especialmente nos déficits comercial e em conta corrente dos EUA e União Europeia (esta última apesar do elevado superávit alemão).
A China consegue se proteger do dilúvio de dólares e euros com uma política de câmbio administrado e controle do fluxo de capitais, o que desperta reações irritadas e também cínicas dos imperialistas estadunidenses e europeus. Eles acusam os chineses de manipular o câmbio, mas tratam de obscurecer o fato de que a política monetária expansiva que aplicam conduz à depreciação descarada de suas moedas e é a principal força motriz da guerra cambial.
O Brasil poderia seguir o caminho bem-sucedido da China, em vez de permanecer prisioneiro do câmbio flutuante, adotado como um dogma desde a carta aos banqueiros assinada por Lula em junho de 2002, e fazer coro ao império contra os chineses neste tema. As medidas relacionadas ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) são paliativas e claramente insuficientes para fazer frente à guerra cambial, apreciação do real e desindustrialização.
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