Por Elaine Tavares, no sítio da Adital:
O Primeiro Curso Estadual de Comunicação Popular do Paraná, realizado nos dias 10 e 11 de maio em Curitiba, mostrou uma juventude ávida de conhecimento e de transformação. Muitos estudantes de jornalismo, muitos jornalistas e um bom número de sindicalistas anunciaram que o tema da comunicação popular e comunitária re-começa a povoar o imaginário de uma geração disposta a provocar mudanças. Organizado pelas entidades Jornal Brasil Fato, Cefuria - Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo, Central Única dos Trabalhadores (CUT), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Sindicato dos Bancários de Curitiba, Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (SISMUC) e produtora QuemTV, o curso apresentou os mais variados temas, todos voltados para a necessidade de uma nova práxis no campo comunicacional.
Nos dois dias, intensos, foram discutidas as questões emergentes do mundo das comunicações tais como a concentração dos meios, as novas tecnologias e as experiências vitoriosas de comunicação popular. O grande painel montado com a presença de gente de todo o sul do país, assim como do sudeste, mostra que a comunicação de resistência segue firme no Brasil e, potencializada a partir das novas tecnologias, apresenta grandes possibilidades de provocar o desejo de mudança.
É certo que ainda se discute comunicação comunitária e popular de forma bastante fragmentada, com os olhos pregados nas experiências pontuais, que são importantes, mas, às vezes, não tão eficazes. Comparadas com a força de transmissão dos grandes meios, as propostas populares ainda carecem de muita estrada. Daí a importância de encontros como esse realizado no Paraná.
Com a presença de uma geração mais nova, ávida por conhecer e criar, talvez seja chegada a hora de os movimentos avançarem na sistematização de uma totalidade necessária, para que as exitosas propostas de comunicação popular em andamento não se percam apenas na resistência, formem redes e se propaguem de forma capilar, buscando, muito mais do que sobreviver individualmente, tomar os grandes meios e assumir de vez o controle da comunicação de massas no Brasil. Como já ensinava Rosa de Luxemburgo, há que se fazer reforma e revolução. Nesse sentido, as propostas dos Movimentos Populares, que hoje resistem, precisam avançar para uma ofensiva totalizante. Não mais resistir, mas também ocupar, controlar e produzir nos grandes meios.
Assim como a grande política o debate nas comunicações também está muito permeado das duas grandes linhas de pensamento que se enfrentam nesse século: humanizar o capitalismo (reforma), ou transformação total do sistema (revolução). Os bens intencionados, que acreditam que é possível dar uma cara mais humana para o capitalismo, apostam em propostas conciliadoras, de convivência pacífica, com lutas pontuais. Assim, as ideias variam entre a formação de redes alternativas para oferecer outra visão das coisas e propostas de democratização das comunicações, esperando ganhar dentro do sistema monopólico um pouco mais de espaço para as questões populares. São ações importantes e necessárias, mas se esgotadas em si mesmas, acabam sendo muito redutoras.
Eu partilho de outra visão. Não creio que o sistema de propaganda montado pelo modo de produção capitalista –que tem nos meios massivos o seu motor de formação pedagógica– esteja disposto a conceder a tal ponto que permita um entreolhar na transformação. O máximo a que os grandes meios podem chegar é ao atendimento muito pontual e fragmento de algumas das reivindicações desse movimento de democratização. Colocar um negro como protagonista de uma novela –vez em quando– por exemplo. Mas, que ninguém se engane. Os grandes meios não permitirão que a voz dos trabalhadores, dos oprimidos, da comunidade das vitimas tenha seu espaço garantido nos veículos de comunicação. Acreditar nisso, ou é ingenuidade ou má-fé.
O sistema capitalista sobrevive sob uma máxima: para que um viva, outro tem de morrer. Não há como melhorar isso. Assim que por mais que se lute por democracia dentro do modelo comunicacional que aí está, estaremos sempre anos-luz de onde queremos chegar. A comunicação comunitária e popular precisa dar um passo à frente. Até agora tem cumprido bem a missão de ser resistência, mas já é chegada a hora de assumir o ataque ao sistema monopólico, com o intuito de transformar – não apenas a comunicação, mas o modo de organizar a vida, fora do modelo moderno/iluminista/liberal. Em outros países da América Latina isso vem sendo feito, tal qual na Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina. Por ali, os movimentos populares e indígenas, aliados a governos mais progressistas, vão dando passos mais ousados, talvez porque carreguem na memória a forma de organizar a vida dos povos antigos, outra lógica, diferente da do mundo capitalista.
Na Venezuela, o avanço no campo comunicacional veio mais cedo que na Argentina e no Equador (proposta bastante discutida por esses dias). Na lei RESORTE, promulgada em 2009, depois de um longo debate popular, estão garantidas as condições concretas para a produção de conteúdo comunitário nas regiões mais remotas do país, nas comunidades de periferia. E vai além: garante também a reprodução. Ou seja, o que as comunidades criam e formulam aparece em televisão aberta, todo mundo pode ver. Nós, no Brasil, estamos na retaguarda desse luta e atrasados também na formulação. Falta ousadia e criatividade. Ainda estamos amarrados ao velho sistema, ainda que muitas sejam as críticas a ele.
Um exemplo bem claro da domesticação do setor comunicacional combativo é a falta de uma campanha nacional contra o "latifúndio” da informação. A Federação dos Jornalistas segue na lógica da democratização, visando melhorar o que aí está. Os movimentos populares estão enredados nas suas lutas cotidianas e também assumem uma atitude reativa ou de resistência. Em Santa Catarina, o Sindicato dos Jornalistas, na gestão comandada pelo jornalista Rubens Lunge (2010/2011), fez uma grande campanha contra o oligopólio da RBS no Estado, mas acabou sozinho, sem o engajamento dos sindicatos ou dos movimentos combativos, e a ação movida contra o grupo RBS se perdeu no vazio. Ao que parece, para grande parte das lideranças, o discurso contra a concentração dos meios não passa de palavras ao vento.
Penso que os movimentos sociais precisam dar uma virada. No Paraná isso começou. A própria ideia de juntar várias entidades para discutir o papel estratégico da comunicação popular e comunitária já é um bom sinal. Agora, o próximo passo é sair do particularismo. Avançar para o universal. E isso significa discutir a comunicação no contexto geral do país, a sua relação com todas as forças e seu papel transformador. A comunicação é uma disputa renhida dentro do processo de luta de classe. Se os movimentos seguem com a visão de dar uma melhorada no "monstro”, nada mais fazem do que se adequar a uma proposta conciliadora, meramente reformista. Mas, se passam à ofensiva, criando redes, abolindo os egos dos dirigentes e pensando na possibilidade concreta de assumir o controle dos grandes meios, aí o papo é outro.
Nos dois dias, intensos, foram discutidas as questões emergentes do mundo das comunicações tais como a concentração dos meios, as novas tecnologias e as experiências vitoriosas de comunicação popular. O grande painel montado com a presença de gente de todo o sul do país, assim como do sudeste, mostra que a comunicação de resistência segue firme no Brasil e, potencializada a partir das novas tecnologias, apresenta grandes possibilidades de provocar o desejo de mudança.
É certo que ainda se discute comunicação comunitária e popular de forma bastante fragmentada, com os olhos pregados nas experiências pontuais, que são importantes, mas, às vezes, não tão eficazes. Comparadas com a força de transmissão dos grandes meios, as propostas populares ainda carecem de muita estrada. Daí a importância de encontros como esse realizado no Paraná.
Com a presença de uma geração mais nova, ávida por conhecer e criar, talvez seja chegada a hora de os movimentos avançarem na sistematização de uma totalidade necessária, para que as exitosas propostas de comunicação popular em andamento não se percam apenas na resistência, formem redes e se propaguem de forma capilar, buscando, muito mais do que sobreviver individualmente, tomar os grandes meios e assumir de vez o controle da comunicação de massas no Brasil. Como já ensinava Rosa de Luxemburgo, há que se fazer reforma e revolução. Nesse sentido, as propostas dos Movimentos Populares, que hoje resistem, precisam avançar para uma ofensiva totalizante. Não mais resistir, mas também ocupar, controlar e produzir nos grandes meios.
Assim como a grande política o debate nas comunicações também está muito permeado das duas grandes linhas de pensamento que se enfrentam nesse século: humanizar o capitalismo (reforma), ou transformação total do sistema (revolução). Os bens intencionados, que acreditam que é possível dar uma cara mais humana para o capitalismo, apostam em propostas conciliadoras, de convivência pacífica, com lutas pontuais. Assim, as ideias variam entre a formação de redes alternativas para oferecer outra visão das coisas e propostas de democratização das comunicações, esperando ganhar dentro do sistema monopólico um pouco mais de espaço para as questões populares. São ações importantes e necessárias, mas se esgotadas em si mesmas, acabam sendo muito redutoras.
Eu partilho de outra visão. Não creio que o sistema de propaganda montado pelo modo de produção capitalista –que tem nos meios massivos o seu motor de formação pedagógica– esteja disposto a conceder a tal ponto que permita um entreolhar na transformação. O máximo a que os grandes meios podem chegar é ao atendimento muito pontual e fragmento de algumas das reivindicações desse movimento de democratização. Colocar um negro como protagonista de uma novela –vez em quando– por exemplo. Mas, que ninguém se engane. Os grandes meios não permitirão que a voz dos trabalhadores, dos oprimidos, da comunidade das vitimas tenha seu espaço garantido nos veículos de comunicação. Acreditar nisso, ou é ingenuidade ou má-fé.
O sistema capitalista sobrevive sob uma máxima: para que um viva, outro tem de morrer. Não há como melhorar isso. Assim que por mais que se lute por democracia dentro do modelo comunicacional que aí está, estaremos sempre anos-luz de onde queremos chegar. A comunicação comunitária e popular precisa dar um passo à frente. Até agora tem cumprido bem a missão de ser resistência, mas já é chegada a hora de assumir o ataque ao sistema monopólico, com o intuito de transformar – não apenas a comunicação, mas o modo de organizar a vida, fora do modelo moderno/iluminista/liberal. Em outros países da América Latina isso vem sendo feito, tal qual na Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina. Por ali, os movimentos populares e indígenas, aliados a governos mais progressistas, vão dando passos mais ousados, talvez porque carreguem na memória a forma de organizar a vida dos povos antigos, outra lógica, diferente da do mundo capitalista.
Na Venezuela, o avanço no campo comunicacional veio mais cedo que na Argentina e no Equador (proposta bastante discutida por esses dias). Na lei RESORTE, promulgada em 2009, depois de um longo debate popular, estão garantidas as condições concretas para a produção de conteúdo comunitário nas regiões mais remotas do país, nas comunidades de periferia. E vai além: garante também a reprodução. Ou seja, o que as comunidades criam e formulam aparece em televisão aberta, todo mundo pode ver. Nós, no Brasil, estamos na retaguarda desse luta e atrasados também na formulação. Falta ousadia e criatividade. Ainda estamos amarrados ao velho sistema, ainda que muitas sejam as críticas a ele.
Um exemplo bem claro da domesticação do setor comunicacional combativo é a falta de uma campanha nacional contra o "latifúndio” da informação. A Federação dos Jornalistas segue na lógica da democratização, visando melhorar o que aí está. Os movimentos populares estão enredados nas suas lutas cotidianas e também assumem uma atitude reativa ou de resistência. Em Santa Catarina, o Sindicato dos Jornalistas, na gestão comandada pelo jornalista Rubens Lunge (2010/2011), fez uma grande campanha contra o oligopólio da RBS no Estado, mas acabou sozinho, sem o engajamento dos sindicatos ou dos movimentos combativos, e a ação movida contra o grupo RBS se perdeu no vazio. Ao que parece, para grande parte das lideranças, o discurso contra a concentração dos meios não passa de palavras ao vento.
Penso que os movimentos sociais precisam dar uma virada. No Paraná isso começou. A própria ideia de juntar várias entidades para discutir o papel estratégico da comunicação popular e comunitária já é um bom sinal. Agora, o próximo passo é sair do particularismo. Avançar para o universal. E isso significa discutir a comunicação no contexto geral do país, a sua relação com todas as forças e seu papel transformador. A comunicação é uma disputa renhida dentro do processo de luta de classe. Se os movimentos seguem com a visão de dar uma melhorada no "monstro”, nada mais fazem do que se adequar a uma proposta conciliadora, meramente reformista. Mas, se passam à ofensiva, criando redes, abolindo os egos dos dirigentes e pensando na possibilidade concreta de assumir o controle dos grandes meios, aí o papo é outro.
Reforma e revolução. As coisas tem de ser feitas simultaneamente, sob pena de sermos apenas mais uma peça do sistema. É certo que transformar e revolucionar exige um pouco mais de todos. Há preços a pagar. Mas, é algo que os movimentos podem empreender. É chegada a hora de exigir mais do que a democratização dos meios, é tempo de construir soberania popular no campo da comunicação e na vida política como um todo. O velho Marx já dizia que a emancipação política sozinha não é suficiente. É preciso que venha a emancipação social. Isso significa que não basta termos mais espaços nos meios, temos de controlá-los, colocá-los a nosso serviço.
O Paraná começou essa caminhada e tem aí um desafio. Nós, em Santa Catarina também estamos nisso, buscando avançar para além da reivindicação cidadã (emancipação política). Isso não basta. O grupo que envolve os jornalistas e comunicadores sociais da Rede Popular Catarinense de Comunicação já realizou vários encontros pelo estado inteiro, tem acumulado forças, vai dando passos seguros na direção da transformação real e total. Ainda somos poucos, mas já fazemos barulho. Resistindo e avançando, reformando e revolucionando, assim tem de ser.
O Paraná começou essa caminhada e tem aí um desafio. Nós, em Santa Catarina também estamos nisso, buscando avançar para além da reivindicação cidadã (emancipação política). Isso não basta. O grupo que envolve os jornalistas e comunicadores sociais da Rede Popular Catarinense de Comunicação já realizou vários encontros pelo estado inteiro, tem acumulado forças, vai dando passos seguros na direção da transformação real e total. Ainda somos poucos, mas já fazemos barulho. Resistindo e avançando, reformando e revolucionando, assim tem de ser.
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