quinta-feira, 3 de maio de 2012

Quero um "sonegômetro"

Por Leonardo Sakamoto, em seu blog:

Acho sen-sa-cio-nal haver um “impostômetro” mostrando quanto os brasileiros pagaram de impostos federais, estaduais, municipais e distritais desde o início do ano. Mantido pela Associação Comercial de São Paulo na rua Boa Vista, Centro da capital paulista, ele atingiu hoje a marca de R$ 500 bilhões, dois dias antes que no ano passado.


Mas mais sen-sa-cio-nal ainda seria a criação de um painel gigante, luminoso, hype, com um “sonegômetro”, apontando quanto as empresas e contribuintes deveriam ter pago mas, no cumprimento da Lei de Gérson, fizeram de conta que não era com eles e vestiram a cara de paisagem. Ia ser uma briga boa, um painel eletrônico ao lado do outro, pau a pau, feito os cavalinhos do Bozo.

(Um “sonegômetro” é mantido na internet pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial.)

Se algumas empresas não sonegassem impostos ou, na melhor das hipóteses, não empurrassem seus débitos com o INSS com a barriga, o “déficit” previdenciário não seria do tamanho que é, por exemplo. Como já disse aqui, é possível rebaixar a contribuição de trabalhadores e empregadores ao INSS, compensando com a tributação do faturamento de empresas que não são intensivas em mão-de-obra ou que não fazem recolhimento per capita do INSS de seus empregados, como instituições do sistema financeiro ou empresas que usam alta tecnologia. Quem contrata mais, deveria recolher menos à Previdência do que os que contratam menos. Uma redistribuição dos tributos também cai bem, zerando os que recaem sobre a cesta básica, por exemplo. Ou seja, há o que ser feito. Mas isso não justificar que empresas, ainda mais as lucrativas, passem a perna no Estado (ou seja, em todo mundo) sob justificativas mil que desaguam na pura cara-de-pau.

Com uma sonegação menor, haveria mais recursos em caixa para contratar técnicos do Incra e combater a grilagem de terras na Amazônia – mãe do desmatamento ilegal. Ou mais médicos e enfermeiros em postos de saúde. Mais professores e pedagogos em escolas do ensino básico ao superior. Defensores públicos para ajudar quem não tem nada a usar o sistema de Justiça. Fiscais para recolher impostos.

O Estado gasta mal nosso dinheiro, isso não temos dúvida. Repartições inchadas e inúteis, “aspones” jogando paciência no computador o dia inteiro, gente que pede propina para dizer “bom dia”, enfim, todo mundo já deve ter formado uma imagem na cabeça do que estou falando. Mas lembremos que atrás de fiscais corruptos também há empresários corruptores que raramente são expostos e condenados, até porque fazem parte da fina nata da sociedade. Aos corrompidos, pão e água; aos corruptores, vinhos caros.

Só interessa um Estado que não tem como cumprir suas funções a quem tem dinheiro para suprir suas necessidades. Ou quem sai perdendo com um Estado eficiente. Para que, então, financiar algo que vai me prejudicar ou para o qual não dou a mínima?

3 comentários:

Daniel chp disse...

Alem da sonegação, os defensores do Impostômetro, ignoram o fato de que a arrecadação aumentou sem a necessidade de elevar nenhuma alíquota. Pelo contrário, houve até redução de impostos com o fim da CPMF. Foi apenas necessário estimular o crescimento da economia e a redução da informalidade. Por outro lado seria mais justo fomentar uma diminuição de tributos sobre produtos e serviços básicos (que penalizam os mais pobres) em favor de impostos sobre bens e renda (como ocorrem nos países mais desenvolvidos) o que estimularia ainda mais a indústria e comércio. Iniciativa essa barrada por quem busca enriquecer sem trabalhar, incluindo muitos dos que alardeiam os números do painel que mostra apenas que ao contrário de outros tempos o governo ficou mais endinheirado unicamente porque o país ficou mais rico.

Ignez disse...

Sakamoto, excelente post! Adorei que o blog do Miro o apresentasse, também. A lógica perversa do capital é, da mesma forma, cínica. Os bandidos travestidos de defensores do povo estão exatamente querendo que os únicos a pagar imposto seja o assalariado. Aliás, quem realmente paga é o assalariado. O SONEGRÔMETRO" devia ficar bem em frente ao "impostômetro" para que o povo visse quem realmente rouba o DIREITO DO POVO: a cidadania.

José Medeiros disse...

Perfeito. Um SONEGÔMETRO. Exatamente postado em frente ao impostômetro, olhando e iluminando a sede dos salafras que juntamente com a turma da banca (da bufufa) são os que mais sonegam. Os dois painéis, bem iluminados,um de frente para o outro, a provarem, um e outro que os números que constam do impostômetro do sr. Afif são diretamente proporcionais aos do sonegômetro. Ou seja, se cair a sonegação os impostos poderiam ser menos vorazes com o pequeno contribuinte e os menos favorecidos.Porque rico, lá este não paga quase nada de nada e ainda se apropria dos benefícios.