Por
Ana Flávia Marx
A operação Monte Carlo que deflagrou a CPI de Carlinhos Cachoeira evidenciou o que muita gente já sabia: o laço da revista Veja através de seu editor-chefe de Brasília, Policarpo Junior, é muito mais estreito do que mera relação com uma fonte.
Não é a primeira vez que um órgão da imprensa pode ser investigado nos trabalhos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Aliás, a primeira CPI brasileira teve como objeto principal o jornal Última Hora do jornalista Samuel Wainer.
Obviamente, por motivos adversos ao de Veja, a Resolução da Câmara dos Deputados nº. 313, de 1953 buscava incriminar Samuel Wainer por dumping, de obter empréstimos do Banco do Brasil – que não era privilégio somente seu – e de não ser brasileiro.
Fúria golpista
Samuel foi o primeiro a adjetivar esses grupos como “Imprensa Golpista” ou “Sindicato da Mentira” e denunciou em negrito e letras garrafais o plano de golpe ao governo de Getúlio Vargas.
Ele também incomodava os tubarões da mídia com o sucesso editorial do jornal e por conseguir furar o cerco midiático. Até o surgimento de seu jornal, o mercado de jornal impresso era dominado pelos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, que dominava o mercado na base antipopular; O Correio do Povo, da família Caldas; O Estado de S. Paulo, da família Mesquita. O Correio da Manhã, A Tarde, da família Simões; e o Jornal do Comércio, da família Queirós Lima.
Segundo o Anuário Brasileiro de Imprensa (1950-57) e o Anuário de Imprensa, Rádio e Televisão (1958-60), a tiragem do jornal sobressaiu de 70 mil exemplares em 1952 para 117 mil em 1960, à medida que a Tribuna da Imprensa tombou de 25 para 18 mil, A Notícia de 130 para 56 mil e o Diário da Noite, do famoso Assis Chateaubriand, foi de 129 para 40 mil.
O sucesso de Ultima Hora feria interesses políticos e econômicos dos adversários de Vargas. A reação não tardou. A conspiração do silêncio seria quebrada, mas com resultados funestos para Ultima Hora, pois contra ele se uniram todos esses interesses que se sentiram ameaçados na maior campanha que se tem notícia na história da imprensa.
O objetivo do velho PIG era claro: desestabilizar o governo de Getúlio Vargas e para isso intensificaram sua atuação na primeira CPI da história do país.
Desafio à Veja
Qual será o posicionamento da revista Veja se tiver sua participação confirmada na CPI de Carlinhos Cachoeira? Vale a pena contrastar com a posição de Samuel Wainer e desafiá-la?
Em um cenário de extrema polarização na CPI do jornal Última Hora, que durou mais de dois anos, Samuel Wainer fez dela palco de defesa de um projeto nacional desenvolvimento e tratou logo de expor as questões essenciais de que se tratava aquele inquérito.
Uma dessas questões era a regulamentação da mídia brasileira. O jornalista em seu primeiro depoimento à CPI disse que a responsabilização da atividade jornalística devia ser regra e não exceção. “(...) Ainda nisso, estamos servindo tão somente à causa da boa imprensa, aquela que não vive do escândalo nem da venda do silêncio, nem das ligações inconfessáveis”.
Para a revista Veja, a possibilidade de depor na CPI de Carlinhos Cachoeira é um “verdadeiro atentado à liberdade de expressão” e que fortalece assim, o discurso anti-imprensa. Defensiva ou tergiversação?
O alvo deles é o Brasil
Outra questão essencial era o ataque ao país. Wainer respondeu na edição 1.333 de seu jornal, que sua defesa não era pessoal ou do jornal Última Hora e, sim a defesa do Brasil, do povo e da economia. “Estou defendendo o futuro, contra a cobiça dos interesses monopolistas internacionais – o que de resto constitui o centro de toda essa onda conspirativa contra as nossas instituições democráticas”.
Em outro editorial, o jornalista continua: “Pois o alvo dos atiradores é outro, é o Brasil, exatamente quando o nosso país se encontra em ponto de transformar-se de nação de economia semi-colonial em nação de economia industrial (...)”, esclarece Samuel Wainer.
Para o jornalista o centro do inquérito e o objetivo da imprensa golpista era a disputa entre “um Brasil jovem, contra o Brasil que queria fazer-se velho e impedir os prósperos ventos da conjuntura nacional”, alertou novamente.
Terá a Veja coragem para defender o seu projeto de nação no microfone da CPI do Carlinhos Cachoeira?
Deixa o Brasil trabalhar
Para o editor do jornal, a imprensa golpista fazia uma crítica sobre a economia e a recente exploração do petróleo infundada e sem base real. No artigo, “O Brasil quer trabalhar”, o jornal dizia que a única coisa que o povo brasileiro reclamava naquele período era de trabalhar em paz.
A situação atual do país não é muito diferente. Enquanto o país alcança o patamar de sexta economia mundial, no curso de uma crise econômica do capital, falta base real para a crítica apresentada pelo PIG sobre a situação política nacional.
Porém o fundo dessa crítica rasa é há muito tempo conhecida, como foi anunciada pelo jornal Última Hora, em artigo de Samuel Wainer, intitulado “O Partido do Pessimismo”.
“Eles não acreditam em Brasil, em povo brasileiro, em capacidade brasileira, em democracia brasileira, em capitais brasileiros. Sofrem um fascínio absoluto do que é estrangeiro e operam eficientemente, pertinazmente, convictamente, à base de um pessimismo irrecuperável (...). Eles trabalham contra o Brasil, e proclamam isso como um mérito, como única saída, como a solução natural”.
Último questionamento: Terá a Veja capacidade de mostrar ao povo brasileiro suas relações sombrias?
A operação Monte Carlo que deflagrou a CPI de Carlinhos Cachoeira evidenciou o que muita gente já sabia: o laço da revista Veja através de seu editor-chefe de Brasília, Policarpo Junior, é muito mais estreito do que mera relação com uma fonte.
Não é a primeira vez que um órgão da imprensa pode ser investigado nos trabalhos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Aliás, a primeira CPI brasileira teve como objeto principal o jornal Última Hora do jornalista Samuel Wainer.
Obviamente, por motivos adversos ao de Veja, a Resolução da Câmara dos Deputados nº. 313, de 1953 buscava incriminar Samuel Wainer por dumping, de obter empréstimos do Banco do Brasil – que não era privilégio somente seu – e de não ser brasileiro.
Fúria golpista
Samuel foi o primeiro a adjetivar esses grupos como “Imprensa Golpista” ou “Sindicato da Mentira” e denunciou em negrito e letras garrafais o plano de golpe ao governo de Getúlio Vargas.
Ele também incomodava os tubarões da mídia com o sucesso editorial do jornal e por conseguir furar o cerco midiático. Até o surgimento de seu jornal, o mercado de jornal impresso era dominado pelos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, que dominava o mercado na base antipopular; O Correio do Povo, da família Caldas; O Estado de S. Paulo, da família Mesquita. O Correio da Manhã, A Tarde, da família Simões; e o Jornal do Comércio, da família Queirós Lima.
Segundo o Anuário Brasileiro de Imprensa (1950-57) e o Anuário de Imprensa, Rádio e Televisão (1958-60), a tiragem do jornal sobressaiu de 70 mil exemplares em 1952 para 117 mil em 1960, à medida que a Tribuna da Imprensa tombou de 25 para 18 mil, A Notícia de 130 para 56 mil e o Diário da Noite, do famoso Assis Chateaubriand, foi de 129 para 40 mil.
O sucesso de Ultima Hora feria interesses políticos e econômicos dos adversários de Vargas. A reação não tardou. A conspiração do silêncio seria quebrada, mas com resultados funestos para Ultima Hora, pois contra ele se uniram todos esses interesses que se sentiram ameaçados na maior campanha que se tem notícia na história da imprensa.
O objetivo do velho PIG era claro: desestabilizar o governo de Getúlio Vargas e para isso intensificaram sua atuação na primeira CPI da história do país.
Desafio à Veja
Qual será o posicionamento da revista Veja se tiver sua participação confirmada na CPI de Carlinhos Cachoeira? Vale a pena contrastar com a posição de Samuel Wainer e desafiá-la?
Em um cenário de extrema polarização na CPI do jornal Última Hora, que durou mais de dois anos, Samuel Wainer fez dela palco de defesa de um projeto nacional desenvolvimento e tratou logo de expor as questões essenciais de que se tratava aquele inquérito.
Uma dessas questões era a regulamentação da mídia brasileira. O jornalista em seu primeiro depoimento à CPI disse que a responsabilização da atividade jornalística devia ser regra e não exceção. “(...) Ainda nisso, estamos servindo tão somente à causa da boa imprensa, aquela que não vive do escândalo nem da venda do silêncio, nem das ligações inconfessáveis”.
Para a revista Veja, a possibilidade de depor na CPI de Carlinhos Cachoeira é um “verdadeiro atentado à liberdade de expressão” e que fortalece assim, o discurso anti-imprensa. Defensiva ou tergiversação?
O alvo deles é o Brasil
Outra questão essencial era o ataque ao país. Wainer respondeu na edição 1.333 de seu jornal, que sua defesa não era pessoal ou do jornal Última Hora e, sim a defesa do Brasil, do povo e da economia. “Estou defendendo o futuro, contra a cobiça dos interesses monopolistas internacionais – o que de resto constitui o centro de toda essa onda conspirativa contra as nossas instituições democráticas”.
Em outro editorial, o jornalista continua: “Pois o alvo dos atiradores é outro, é o Brasil, exatamente quando o nosso país se encontra em ponto de transformar-se de nação de economia semi-colonial em nação de economia industrial (...)”, esclarece Samuel Wainer.
Para o jornalista o centro do inquérito e o objetivo da imprensa golpista era a disputa entre “um Brasil jovem, contra o Brasil que queria fazer-se velho e impedir os prósperos ventos da conjuntura nacional”, alertou novamente.
Terá a Veja coragem para defender o seu projeto de nação no microfone da CPI do Carlinhos Cachoeira?
Deixa o Brasil trabalhar
Para o editor do jornal, a imprensa golpista fazia uma crítica sobre a economia e a recente exploração do petróleo infundada e sem base real. No artigo, “O Brasil quer trabalhar”, o jornal dizia que a única coisa que o povo brasileiro reclamava naquele período era de trabalhar em paz.
A situação atual do país não é muito diferente. Enquanto o país alcança o patamar de sexta economia mundial, no curso de uma crise econômica do capital, falta base real para a crítica apresentada pelo PIG sobre a situação política nacional.
Porém o fundo dessa crítica rasa é há muito tempo conhecida, como foi anunciada pelo jornal Última Hora, em artigo de Samuel Wainer, intitulado “O Partido do Pessimismo”.
“Eles não acreditam em Brasil, em povo brasileiro, em capacidade brasileira, em democracia brasileira, em capitais brasileiros. Sofrem um fascínio absoluto do que é estrangeiro e operam eficientemente, pertinazmente, convictamente, à base de um pessimismo irrecuperável (...). Eles trabalham contra o Brasil, e proclamam isso como um mérito, como única saída, como a solução natural”.
Último questionamento: Terá a Veja capacidade de mostrar ao povo brasileiro suas relações sombrias?
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