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Uma capa recente do Estadão resumiu de forma enxuta os caminhos pelos quais a oposição brasileira pode enveredar para tentar interromper aos 12 anos o domínio da coalizão encabeçada pelo PT no governo federal.
De um lado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sugeria renovação do discurso do PSDB.
De outro, um novo depoimento de Marcos Valério no qual ele teria citado o nome do ex-presidente Lula:
Valério foi espontaneamente a Brasília em setembro acompanhado de seu advogado Marcelo Leonardo. No novo relato, citou os nomes de Lula e do ex-ministro Antonio Palocci, falou sobre movimentações de dinheiro no exterior e afirmou ter dados sobre o assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel.
Curiosamente, no dia seguinte acompanhei de perto uma conversa entre quatro senhores de meia idade em São Paulo, a capital brasileira do antipetismo, na qual um deles argumentou que Fernando Haddad, do PT, foi eleito novo prefeito da cidade por causa do maior programa de compra de votos já havido na República, o Bolsa Família. Provavelmente leitor da Veja, ele também mencionou entrevista “espírita” dada por Marcos Valério à revista, na qual Lula teria sido apontado como chefe e mentor do mensalão.
Isso me pôs a refletir sobre os caminhos expressos naquelas manchetes que dividiram a capa do Estadão.
Sobre a renovação do discurso do PSDB sugerida pelo ex-presidente FHC, pode até acontecer, mas não terá efeito eleitoral. O PT encampou a social democracia tucana e, aliado ao PMDB, ocupou firmemente o centro que sempre conduziu o projeto de modernização conservadora do Brasil. Ao PSDB, como temos visto em eleições recentes, sobrou o eleitorado de direita, o eleitorado antipetista representado pelos quatro senhores de meia idade e classe média que testemunhei conversando no Pacaembu.
Estimo que o eleitorado antipetista represente cerca de 30% dos votos em São Paulo, capital, talvez o mesmo em outras metrópoles. Ele alimenta e é alimentado pelos grandes grupos de mídia, acredita e reproduz tudo o que escrevem e dizem os colunistas políticos dos grandes jornais e emissoras de rádio e TV. Há, no interior deste grupo de 30% dos eleitores, um núcleo duro dos que militam no antipetismo, escrevendo cartas aos jornais, ‘trabalhando’ nas mídias sociais e participando daquelas manifestações geralmente fracassadas que recebem grande cobertura da mídia do Instituto Millenium.
Este processo de retroalimentação entre a mídia e os militantes do antipetismo é importante, na medida em que permite sugerir a existência de uma opinião pública que reflete a opinião publicada. É por isso que os mascarados de Batman, imitadores de Joaquim Barbosa, aparecem com tanta frequência na capa de jornais; é por isso que os jornais escalam repórteres e fotógrafos para acompanhar os votos de José Dirceu e José Genoíno e geram um clima de linchamento público contra os condenados pelo STF; é por isso que os votos de Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski nas recentes eleições foram usados de forma teatral para refletir a reação da “opinião pública” (de dois ou três, diga-se) ao “mocinho” e ao “bandido” do julgamento do mensalão. Curiosamente, ninguém se interessou em acompanhar os votos de Luiz Fux e Rosa Weber.
O antipetismo é alimentado pelo pensamento binário do nós contra eles, pelo salvacionismo militante segundo o qual do combate às saúvas lulopetistas dependem a Família, a Pátria e a Liberdade.
Criar essa realidade paralela é importante. Em outras circunstâncias históricas, foi ela que permitiu vender a ideia de que um governo popular estava sitiado pela população. Sabe-se hoje, por exemplo, que João Goulart, apeado do poder pelo golpe cívico-militar de 1964 com suporte dos Estados Unidos, tinha apoio de grande parcela da população brasileira, conforme demonstram pesquisas feitas na época pelo Ibope mas nunca divulgadas (por motivos óbvios).
[Ver aqui sobre o apoio a Jango]
Hoje, o mais coerente partido de oposição do Brasil, a mídia controlada por meia dúzia de famílias, forma, dissemina e mede o impacto das opiniões da militância antipetista. O consórcio midiático, no dizer da Carta Maior, produz a norma, abençoa os que se adequam a ela (mais recentemente a ministra Gleisi Hoffmann, que colocou seus interesses particulares de candidata ao governo do Paraná adiante dos do partido ao qual é filiada) e pune com exílio os que julga “inadequados” (o ministro Lewandowski, por exemplo).
Diante deste quadro, o Partido dos Trabalhadores, governando em coalizão, depende periodicamente de vitórias eleitorais como uma espécie de salvo conduto para enfrentar a barulhenta militância antipetista.
Esta sonha com as imagens da prisão de José Dirceu, mas quer mais: o ex-presidente Lula é a verdadeira encarnação do Mal. É a fonte da contaminação do universo político — de onde brotam águas turvas, estelionatos como o Bolsa Família e postes eleitorais que só servem para disseminar o Mal.
O antipetismo é profundamente antidemocrático, uma vez que julga corrompidos ou irracionais os eleitores do PT. Corrompidos pelo “estelionato eleitoral” do Bolsa Família ou incapazes de resistir à retórica demagoga e populista do ex-presidente Lula e seus apaniguados.
A mitificação do poder de Lula, como se emanasse de alguém sobre-humano, é essencial ao antipetismo. Permite afastar o ex-presidente de suas raízes históricas, dos movimentos sociais aos quais diz servir, desconectar Lula de seu papel de agente de transformação social. O truque da desconexão tem serventia dupla: os antipetistas podem posar de defensores do Bem sem responder a perguntas inconvenientes. Quem são? A quem servem? A que classe social pertencem? Qual é seu projeto político? Quais são suas ideias?
A crença de que vencer eleições, em si, será suficiente para diminuir o ímpeto antipetista poderá se revelar o mais profundo erro do próprio PT diante da conjuntura política. O antipetismo não depende de votos para existir ou se propagar. Estamos no campo do simbólico, do quase religioso.
Os quatro senhores do Pacaembu, aos quais aludi acima, estavam tomados por uma indignação quase religiosa contra Lula e o PT. Pareciam fazer parte de uma seita capaz de mobilizar todas as forças, constitucionais ou não, para praticar o exorcismo que é seu objetivo final. Como aconteceu às vésperas do golpe cívico-militar de 64, o que são as leis diante do imperativo moral de livrar a sociedade do Mal?
8 comentários:
Isto pode ser a reposta, sem cair no direitismo.
http://chat.anncoulter.com/phpBB3/viewtopic.php?f=2&t=101879
A conversa entre quatro senhores de meia idade em São Paulo, a capital brasileira do antipetismo, acompanhada pelo Azenha, na qual um deles argumentou que Fernando Haddad, do PT, foi eleito novo prefeito da cidade por causa do maior programa de compra de votos já havido na República, o Bolsa Família e a menção da entrevista “espírita” dada por Marcos Valério à revista Veja, na qual Lula teria sido apontado como chefe e mentor do mensalão, não é um "privilégio" de senhores de meia idade. Jovens leitores de Veja também emitem pérolas como essa.
A maior parte dos membros do Conselho de Notáveis depõem contra o Instituto João Goulart. Lamentável!!
Miro,
O PT tem que atacar em várias frentes:
1. Pressionar o governo para Alterar os Critérios da Divisão das Verbas de Publicidade do Governo e das Estatais;
2. Entrar no Congresso com várias Emendas para fazer uma Reforma Geral no Judiciário;
3. Levar a Público a Ley de Medios;
4. O Governo rever as Concessões das Comunicações e da Energia Elétrica;
5. ETC.
[SOBRE MORAL, GOLPE TELEVISIONADO E TRAGICOMÉDIA CHINFRIM!]
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O ministro Marco Aurélio Mello esperou a cena final do julgamento do mensalão para buscar o destaque que julgava merecido e não lhe era atribuído... Sob o foco dos holofotes da televisão, tirou a toga e desnudou o objetivo político do voto que deu. Falou para eleitores dos segundo turno das eleições municipais. Ele atacou o “abandono de *princípios e a perda de parâmetros” na última década no país. A década de Lula. Isso facilitou julgar o mensalão como o maior escândalo da República. O corte no tempo foi calculado. Em 1992, o primo dele, Fernando Collor de Mello, foi apeado da Presidência... O então presidente Collor deu a ele a cadeira no Supremo. É explicável [‘plausível’ – adendo nosso!] a retribuição. Ou Marco Aurélio Mello não conhece a história do Brasil ou administra a memória em causa própria. Talvez, por ambas, esqueceu-se das infâmias históricas orquestradas pela UDN (o PSDB de então) e executadas pela mídia em nome da moralidade. Foi o caso do “mar de lama” que, em 1954, levou o presidente Getúlio Vargas ao suicídio.
Por Maurício Dias – em Tragicômico, Cai a toga
Revista Carta Capital, 31/10/12, p.17
*os princípios, segundo declarações de um juiz de uma Corte “suprema”! Declarações proferidas a setores da imprensa no transcurso de um julgamento: “... Está na hora de o operador do mensalão [Marcos Valério] ‘desembuchar’, não falar em doses homeopáticas!... Depois da porta arrombada, não adianta colocar cadeado. Na área da delinquência, falo de forma geral, o jogo é pesado." Marco Aurélio Mello – o mesmo ministro do “supremoTF” autor da célebre [e reveladora!] frase: “A ditadura militar no Brasil foi um mal necessário!”
... Ah, se um mínimo de recato fosse parâmetro, senhor ministro “supremo”! Que bom seria, “supremo” Marco Aurélio Mello!...
NOTA FÚNEBRE: considerando ‘o domínio do fato’, seria ‘plausível’ que este “supremo” fosse condenado sumariamente pela Comissão da Verdade!
Que país é este, sô?! República Destes Bananas da [eterna] OPOSIÇÃO AO BRASIL, fascista, histriônica, terrorista, MENTEcapta, aloprada, alienada, MENTEcapta, néscia, histriônica, golpista de meia-tigela, antinacionalista, corrupta,... (“elite estúpida que despreza as próprias ignorâncias”, lembrando o enunciado lapidar do eminente escritor uruguaio Eduardo Galeano)
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo
Um texto para ler e refletir. A direita não precisa de votos, e o PT se deixa iludir com vitórias eleitorais. O PT se diz na luta enquanto a direita está numa guerra santa.
César José Hartmann, ontem a tade fui num bar, havia um homem lá que odiava o PT. E ódio dele lembra isto que você escreveu: "guerra santa". É algo que chega dar um pouco de medo, mas, sobretudo, nojo.
Paradoxalmente o movente de todo esse ódio é um imenso sentimento de culpa.
Pensem na tremenda crueldade social que ocorre no Brasil há tanto tempo!
Certas pessoas, diante do início de uma reparação, são inundadas de tanta culpa que psicotizam gravemente.
Quando isso se dá grupalmente a coisa é muitíssimo mais grave pois as piores barbaridades podem ser cometidas para evitar o prosseguimento do processo.
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