domingo, 6 de janeiro de 2013

Por que o público foge da TV aberta

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

Conforme notícia divulgada pela Folha de São Paulo nesta semana, a Rede Globo fechou o ano passado com a pior audiência de sua história. Segundo dados do Ibope, em 2012 ela teve, em média, 14,7 pontos (cada ponto equivale a 60 mil domicílios).

A emissora ainda amarga o pior índice em seu principal programa jornalístico, o Jornal Nacional, que, ano passado, teve média de 28,1 pontos contra o pico de audiência, que ocorreu em 2006, de 36,4 pontos.

Todavia, é equivocada a percepção de muitos de que se trata de um problema isolado da Globo. Houve queda de audiência de todas as TVs abertas no ano que passou em relação a 2011.

Apesar de a Globo ter fechado 2012 com 14,7 pontos contra 16,3 em 2011, a Record teve 6,2 pontos contra 7, 2, o SBT 5,6 pontos contra 5,7, a Band 2,5 pontos contra 2,5 e a Rede TV! liderou a queda, tendo perdido 37% de sua audiência no ano passado, tendo cravado 0,9 pontos contra 1,4 em 2011.

E não foi só. O número de aparelhos ligados em televisões abertas caiu perto de 5%.

O resultado negativo mais “vistoso”, claro, foi o da Globo, que, ao longo da última década, vem perdendo mais audiência do que as concorrentes, sobretudo devido ao avanço da Record e à forte perda de audiência do Jornal Nacional.

Sobre o ainda mais assistido telejornal do país, a perda de audiência acima da média certamente se deve, em boa parte, à utilização do informativo como arma na incessante guerra da Globo contra o governo federal e o PT.

A cobertura do julgamento do mensalão, por exemplo, irritou profundamente até o público que não gosta do PT. Tentando influir a qualquer preço na eleição municipal do ano passado, sobretudo na de São Paulo, o núcleo de jornalismo da Globo, às vésperas do segundo turno, produziu um dos maiores absurdos que se viu na televisão brasileira.

Em 23 de outubro, a uma semana do segundo turno, logo após o horário eleitoral gratuito, o Jornal Nacional levou ao ar uma matéria que teve duração só comparável às coberturas de grandes catástrofes como a de 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque, nos Estados Unidos, quando terroristas derrubaram as Torres Gêmeas do World Trade Center

Dos 32 minutos de duração da edição do JN naquele dia, 18 minutos foram gastos com o julgamento. E o que é pior: não houvera absolutamente nada de especial, naquele dia. Assim, o telejornal se limitou a importunar o telespectador com “melhores momentos” do julgamento.

Aliás, o ineditismo do tempo gasto na reportagem foi de tal monta que virou até matéria de jornal no dia seguinte, na Folha de São Paulo, e ainda gerou representação da ONG Movimento dos Sem Mídia ao Ministério Público Eleitoral acusando a emissora de fazer uso político de uma concessão pública em período eleitoral, contrariando a legislação.

O julgamento do mensalão foi tão martelado por toda a programação da Globo que passou a ser comum ouvir pessoas comentando que não agüentavam mais o assunto. Contudo, a queda mais pronunciada de audiência da Globo e do JN se deve a um processo mais amplo.

Outras emissoras não se beneficiaram da queda de audiência da Globo porque também incorrem em manipulação de notícias, mas, acima de tudo, porque todas as emissoras abertas insistem em uma programação que qualificar de medíocre soa até benevolente.

O público que pode, foge para a televisão a cabo. Quem não pode, recorre à internet. Sobretudo para se informar.

Agora, por exemplo, está sendo anunciado que o Brasil voltará a ser assolado por nada mais, nada menos do que a DÉCIMA TERCEIRA edição do Big Brother Brasil, com bebedeiras, promiscuidade e mediocridade invadindo nossos domicílios.

Alternativa ao BBB? A Record apresenta algo ainda pior, uma cópia malfeita, mais brega, ainda que menos promíscua: o reality show A Fazenda.

Novelas? Apesar de Globo e Record, acima de todas, reunirem bons elencos, as tramas são sofríveis, repetitivas. As histórias são sempre as mesmas, com pequenas variações. Ainda que o público para essas porcarias ainda se mantenha, vem diminuindo percentualmente em relação ao conjunto da população.

O progressivo aumento do nível de escolarização e cultura do brasileiro vai provocando fuga de uma programação cuja produção chega a ser cara só para produzir lixo cultural em estado puro.

Para que se informar pelos telejornais se, pela internet, você fica sabendo antes das notícias e ainda pode ter acesso a diversos ângulos delas?

No Jornal Nacional, por exemplo, o espectador sofre tentativa de manipulação, com notícias distorcidas sob interesses políticos e econômicos e, em geral, não fica sabendo do outro lado da moeda.

Há cada vez mais gente, portanto, produzindo seus próprios informativos pela internet. Hoje você pode montar uma rede de sites e blogs nacionais e internacionais e se informar em muito maior profundidade.

Claro que ainda é restrito o contingente de pessoas que montam seu portfólio informativo com base em critérios mais racionais e via internet, mas esse contingente cresce de forma exponencial.

O que ocorre no Brasil é uma tendência mundial. Nos EUA, por exemplo, a televisão aberta tem baixa audiência, muito mais baixa do que no Brasil, percentualmente.

Agora, a cereja do bolo: nos próximos anos, as operadoras de telefonia deverão começar a produzir conteúdo para transmitirem via TV digital ou internet, inclusive em celulares. E sem uma regulação das comunicações eletrônicas, a Globo e congêneres estarão ferradas.

Explico: as teles vêm aí com arcas incontáveis de dinheiro para investir em conteúdo, com seus faturamentos dez vezes maiores do que das emissoras tradicionais, inclusive da Globo. Sem regulação do setor, até ela será engolida.

Talvez por conta disso vemos o governo Dilma impassível diante do clamor de setores da sociedade por uma “lei da mídia”, pois a tecnologia deverá levar Globo e companhia limitada a baterem na porta do governo pedindo regulação, por incrível que pareça.

Muitos – entre os quais me incluo – estão contrariados com a postura da presidente Dilma de renegar qualquer intenção de dar ao Brasil uma legislação moderna para esse setor tão crucial, até porque há medo de que os barões da mídia arranquem de um governo aparentemente acovardado uma regulação feita sob medida para os interesses deles.

Todavia, apesar de também ter essa preocupação, penso que a passividade do governo federal pode – apenas pode – ser uma estratégia para negociar em posição de força quando a própria família Marinho, entre outros, bater-lhe à porta pedindo uma “lei da mídia”.

A ver.

7 comentários:

Ordem do Saber disse...

Eu deixei há um bom tempo de ver tv aberta.
Mas acredito que seja algo mais pessoal, sempre preferi ver uma boa série ou um bom filme, além de bons documentários, ao invés da programação da tv aberta.

Claro que, sei que nem todos tês acesso à tv a cabo ou internet, e muitos outros nem têm tempo para isso, mas os dados apresentados neste post apenas demonstram que, no futuro, as tvs abertas estarão ferradas se não mudarem suas programações.

Abraços e um bom domingo.

Anônimo disse...

Gente, vejam se está acontecendo alguma coisa errada com o Blog do Conversa Afiada.Será que tem hacker alterando o conteúdo do blog? Alertem o PHA.Acessei o blog e pensei ter errado de endereço e entrado num blog de direita..SOCORRO...

sandra.prazeres disse...

Miro, meu filho...È isso aí..Pegastes os fio da meada.

José Carlos Lima disse...

O Nassif havia adiantado que a tática do pig-psdb-mpf-stf agora é detonar Dilma a partir de ataques à Petrobrás, PAC...Nâo deu outra: Neste domingo, ao dirigir-me até a praça para comer um sanduiche, me deparo com o Fantástico detonando a Petrobrás. Lá na praça vi também que o lobo tá bem equipado: A TV que transmitia o Fantástico usava a tecnologia digital que, como se sabe, com o seu advento deste recurso não mudou nada o monopólio, pelo contrário, piorou quando imaginei que viesse a diversidade, que tivéssemos mais opções quando dentro de um ônibus ou táxis, o que não ocorreu. Fiquei só observando as várias famílias olhando a reportagem da Grobo sem o menor senso crítico, sem se antenar, sem se tocarem, sem desconfiômetro mesmo, assim como se fossem, e eram, bovinos sendo levados para o matadouro. Alguém sabe me informar pq o advento do mundo digital não mudou em nada esse monopólio tosco da comunicação? Os táxis usam GPS que captam os canais de TV digitais, com um detalhe: Só pega a Globo e mais os canais de duas ou 3 familias que ficaram com uma beirada do setor. Acabei de comprar uma TV LED que pega digital mas achei de uma porcaria sem tamanho pq é tudo muito restrito: Só pega a Grobo, o TV do Bispo, SBT e Bandeirantes, ah e a TV de Bento 16, a Rede Vida, enfim, pelo conteúdo, eu deveria ter ficado com meu antigo caixotão e ter jogado a LED no lixo, prá que mesmo essa novidade se não me acrescentou nada, a não ser uma imagem mais definida prá ver o pig, nem a TV Brasil pega. Prá que serve essa tecnologia digital? Lembro-me que a Globo conseguiu impor sua vontade quando do advento da tecnologia digital no país, mas não sei exatamente o que ocorreu para que chegássemos a isso, só sei que é uma lástima esse monopólio da comunicação, a única diferença com o México é que lá o Carlos Slim coneguiu abocanhar tudo, se tornando o homem mais rico do mundo, por aqui há um quartel, digo cartel, o bolo foi dividido entre quatro famílias mas, como funcionam em pool[com a Globo se apropriando de 70% desse mercado], não difere do império de Carlos Slim.

P.S- Agora é torcer prá ver se muda alguma coisa com a entrada das teles na produção de conteúdo para nossos celulares, esta é a última esperança, se a Globo não brecar e, prá isso não titubeará e poderá até derrubar Dilma pela causa claro, mesmo se sabendo que o pig, por conta da Privataria, ficou com pedaços das teles. Esse artigo é de 2006, alguém tem alguma novidade sobre o assunto?


http://revistahometheater.uol.com.br/site/tec_artigos_02.php?id_lista_txt=2162

Anônimo disse...

Fui induzida a fazer assinatura de tv a cabo, assinei um pacote mínimo mesmo sendo contrária a ter de pagar para assistir tv. A maioria dos canais estrangeiros tem programação de péssimo nível e, além disso, ela se repete constantemente. Com certeza é uma tática para induzir o consumidor a comprar um pacote maior de canais e bem mais caro. Ou seja, com certeza o marco regulatório da tv aberta é uma necessidade, mas não podemos esquecer de fiscalizar os canais pagos, pois como ficam os que recorrem a estes veículos, como afirma o deputado. e se deparam com mais lixo?

blog do oscar disse...

A DILMA NÃO VEIO DE UMA REUNIÃO COM GOVERNADORES EM RECIFE DIRETO PARA SÃO PAULO PARA PRESTIGIAR O ANIVERSÁRIO DA "FOLHA"?

NÃO FEZ QUESTÃO DE NÃO COMPARECER A UM ENCONTRO DOS BLOGUEIROS "SUJOS" EM BRASÍLIA MESMO?

O LULA NÃO DEU UM PITO PÚBLICO NO ENTÃO GOVERNADOR DO PARANÁ ROBERTO REQUIÃO POR QUE ELE OUSOU CRITICAR A GRANDE IMPRENSA?

TER ESPERANÇAS NO MÍNIMO DE CORAGEM DE GOVERNOS PETISTAS É O MESMO QUE ESPERAR PAPAI NOEL NA PÁSCOA.

Igor.rf disse...

Concordo em gênero número e grau. Eu mesmo já não assisto TV desde 2005. Na internet, tanto as melhores fontes vão direto ao ponto, quanto é muito mais fácil checar a veracidade das notícias.