Foto: Fábio Condutta / Terra |
Se fosse um filme de horror, você acharia fantástico demais. Na manhã de domingo (10), David Santos de Souza, 21 anos, foi atropelado por Alex Siwek na Avenida Paulista. Alex estava alcoolizado, andando em ziguezague, de acordo com testemunhas. David estava de bicicleta na ciclofaixa. Com o impacto, seu braço foi decepado e ficou preso nos estilhaços do parabrisa. Ele se encaminhava para o trabalho, num prédio próximo ao HC. Está internado no Hospital das Clínicas e seu estado de saúde é estável. O motorista responde por tentativa de homicídio culposo.
“É tão absurdo que eu só consigo pensar que o cara estava em surto”, diz o cicloativista Daniel Guth. Um das vozes mais combativas nessa área, Guth atua com administração pública desde 2005. Foi assessor da Secretaria de Educação e coordenador da implantação de ciclofaixas de lazer em São Paulo. Ele é co-criador do Libvee, um movimento que enxerga as bikes como símbolo de civilidade.
Guth conversou com o Diário sobre o ocorrido com David de Souza.
Esse caso dá a dimensão da tragédia das mortes por causa de gente que dirige alcoolizada em São Paulo. Como é que alguém atropela uma pessoa, leva o braço dela, deixa o amigo em casa e depois tenta se livrar da “prova”? Estamos criando monstros dentro dos automóveis. É resultado de um século de dominação da indústria automobilística, com um histórico de impunidade. Não tem fiscalização ou polícia. A Justiça demora a ser feita.
Pior é culparem o ciclista. A ciclovia estava montada e funcionando. O artigo 58 do Código de Trânsito diz que o ciclista deve andar no bordo da via. Ele estava completamente legal.
Há uma tendência em culpar os ciclistas. Foi o que aconteceu com o Thor Batista, que estava acima de velocidade e matou uma pessoa. As pessoas precisam se lembrar de que o carro é uma arma.
A cidade vai conseguir conviver com as bicicletas?
São Paulo tem uma dívida histórica com o ciclismo. Passou do momento de ter uma solução. A Paulista não é dos carros. Ela tem as condições perfeitas para se pedalar. Alguém tem de chamar para si a responsabilidade por fazer esses espaços serem de convivência e não de guerra. O mundo está discutindo isso. Por que em São Paulo a coisa não avança?
Só em 2007 o planejamento cicloviário passou para a Secretaria de Transportes (era da Secretaria do Verde e Meio Ambiente). A melhor maneira de incluir a bicicleta no trânsito é fazer com que mais bicicletas circulem. Bogotá investiu em infra-estrutura e teve um resultado interessante. 5% do movimento do trânsito chegou a ser das bicicletas. Em São Paulo, segundo dados de 2007, eram 0,62%. Suponho que esse número cresceu, mas pouco. Quanto mais ciclistas nas vias, mais seguros ficaremos. Márcia Prado morreu há cinco anos na Paulista, atropelada por um ônibus. Júlia Dias morreu do mesmo jeito, no ano passado. Há soluções baratas e práticas.
Qual o modelo mais interessante que você viu recentemente?
O exemplo mais visível de convivência que eu vi, nos últimos anos, foi na capital do Vietnã, Ho-Chi-Minh City, antiga Hanoi. É uma bagunça. Carros, motos, bicicletas. Ninguém obedece os faróis. Mas todos se respeitam a andam juntos. É cultural.
De onde vem essa dependência do automóvel?
São Paulo ainda tem a cultura da rodovia, da highway, do Minhocão… É preciso superar essa visão. A classe média que mora longe do trabalho sofre com isso. Eu moro a 3 quilômetros do trabalho e posso ir de bike. Há projetos completamente equivocados. A ciclovia da Radial Leste, para ficar em apenas um, liga o nada a lugar nenhum. Não dá para sair dela!
Precisamos deixar de ser autistas e enxergar o que acontece lá fora. Esses carros SUV são uma aberração. É fundamental incluir o ciclista, ao invés de vê-lo como um invasor. Acho que, hoje, nem os motoristas querem mais isso.
“É tão absurdo que eu só consigo pensar que o cara estava em surto”, diz o cicloativista Daniel Guth. Um das vozes mais combativas nessa área, Guth atua com administração pública desde 2005. Foi assessor da Secretaria de Educação e coordenador da implantação de ciclofaixas de lazer em São Paulo. Ele é co-criador do Libvee, um movimento que enxerga as bikes como símbolo de civilidade.
Guth conversou com o Diário sobre o ocorrido com David de Souza.
Esse caso dá a dimensão da tragédia das mortes por causa de gente que dirige alcoolizada em São Paulo. Como é que alguém atropela uma pessoa, leva o braço dela, deixa o amigo em casa e depois tenta se livrar da “prova”? Estamos criando monstros dentro dos automóveis. É resultado de um século de dominação da indústria automobilística, com um histórico de impunidade. Não tem fiscalização ou polícia. A Justiça demora a ser feita.
Pior é culparem o ciclista. A ciclovia estava montada e funcionando. O artigo 58 do Código de Trânsito diz que o ciclista deve andar no bordo da via. Ele estava completamente legal.
Há uma tendência em culpar os ciclistas. Foi o que aconteceu com o Thor Batista, que estava acima de velocidade e matou uma pessoa. As pessoas precisam se lembrar de que o carro é uma arma.
A cidade vai conseguir conviver com as bicicletas?
São Paulo tem uma dívida histórica com o ciclismo. Passou do momento de ter uma solução. A Paulista não é dos carros. Ela tem as condições perfeitas para se pedalar. Alguém tem de chamar para si a responsabilidade por fazer esses espaços serem de convivência e não de guerra. O mundo está discutindo isso. Por que em São Paulo a coisa não avança?
Só em 2007 o planejamento cicloviário passou para a Secretaria de Transportes (era da Secretaria do Verde e Meio Ambiente). A melhor maneira de incluir a bicicleta no trânsito é fazer com que mais bicicletas circulem. Bogotá investiu em infra-estrutura e teve um resultado interessante. 5% do movimento do trânsito chegou a ser das bicicletas. Em São Paulo, segundo dados de 2007, eram 0,62%. Suponho que esse número cresceu, mas pouco. Quanto mais ciclistas nas vias, mais seguros ficaremos. Márcia Prado morreu há cinco anos na Paulista, atropelada por um ônibus. Júlia Dias morreu do mesmo jeito, no ano passado. Há soluções baratas e práticas.
Qual o modelo mais interessante que você viu recentemente?
O exemplo mais visível de convivência que eu vi, nos últimos anos, foi na capital do Vietnã, Ho-Chi-Minh City, antiga Hanoi. É uma bagunça. Carros, motos, bicicletas. Ninguém obedece os faróis. Mas todos se respeitam a andam juntos. É cultural.
De onde vem essa dependência do automóvel?
São Paulo ainda tem a cultura da rodovia, da highway, do Minhocão… É preciso superar essa visão. A classe média que mora longe do trabalho sofre com isso. Eu moro a 3 quilômetros do trabalho e posso ir de bike. Há projetos completamente equivocados. A ciclovia da Radial Leste, para ficar em apenas um, liga o nada a lugar nenhum. Não dá para sair dela!
Precisamos deixar de ser autistas e enxergar o que acontece lá fora. Esses carros SUV são uma aberração. É fundamental incluir o ciclista, ao invés de vê-lo como um invasor. Acho que, hoje, nem os motoristas querem mais isso.
3 comentários:
Em primeiro lugar, SP não é o centro do mundo e nem o centro do Brasil. As questões levantadas extrapolam SP. No RJ, por exemplo, houve um atropelamento há três semanas atrás e o ciclista e alpinista Fabio Muniz morreu. Assim como houve outros atropelamentos em outras cidades brasileiras no mesmo período recente. Esta semana o ex campeão mundial, Laurent Jalabert também foi atropelado e morto na França. Portanto, que bom se falar nesse assunto, mas o autor deve prestar atenção a seus possíveis leitores, pois que, se o assunto é discutido em outras partes do mundo, também é discutido em outras partes do Brasil. Uma pena que a abordagem do autor, resulte em um texto colonizado/colonizador, ou SP não é parte do Brasil? O problemas ocorrem contra os ciclistas nas maiores cidades do Brasil, e devemos pensar nas soluções conjuntamente e que sirvam a todos os brasileiros, a mentalidade é a mesma no trIansito e o Código Brasileiro de Trânsito é válido em todo o território nacional. Enfim, a matéria é altamente relevante, mas a abordagem é bairrista.
Interessante o comentário do Daniel Guth a respeito da ciclovia da Radial Leste em Sampa... me lembrou muito de uma construída em Porto Alegre que também leva a lugar nenhum, e que foi alvo de reclamações da população em geral. Com razão, aliás. O desrespeito e o descaso com os ciclistas é enorme, de modo geral. Nos locais onde há respeito e comprometimento com meios de transporte alternativo, o tráfego, a cidade e a população são os maiores beneficiados. Há experiências na Holanda e na Dinamarca (só para citar alguns) que deram resultados muito positivos nesse sentido. Com as devidas adaptações, é possível criar um ambiente urbano diferente, mais humanizado, e menos prepotente e violento, no Brasil.
cuma???
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