segunda-feira, 11 de março de 2013

Elites brasileiras detestam Chávez

Por João Sicsú, na revista CartaCapital:

Não pensei em escrever para homenagear Hugo Chávez. Ele merece. Mas já li tantas homenagens que me senti contemplado. Resolvi, contudo, escrever. O motivo: indignação.

Em uma rádio de grande audiência dedicada ao jornalismo, que vai ao ar no Rio e em São Paulo, todos os dias às 8h42 da manhã há uma sessão de humor. Quinta-feira, 7 de março, contaram piadas com muitas risadas sobre a morte do presidente venezuelano.

Esse é o tipo de jornalismo e humor que ofendem os bons humoristas e profissionais da comunicação. Duvido que fizessem essas piadas sobre a morte de seus milionários patrões que enriquecem no mercado concentrado de comunicação. A indignação e o repúdio ao desrespeito me levaram a coletar dados para explicar objetivamente porque as elites brasileiras detestam Chávez.

Certos jornalistas e humoristas não sabem o que o povo venezuelano sabe, sente e vive. Aliás, não sabem nada nem sobre o povo brasileiro. Outro dia, um de seus amigos pediu socorro para saber o significado de “povo, gente, emprego”. Mas o povo pobre da Venezuela sabe o que ganhou com Chávez.

Em uma publicação da ONU intitulada Habitat, lançada em agosto do ano passado, há números e gráficos comparativos do “estado das cidades na América Latina e no Caribe”. O relatório trata de muitos temas que interessam a pesquisadores, gestores e moradores de grandes cidades. Seus números ajudam a entender também por que o povo da Venezuela está nas ruas chorando por Chávez.

As análises contidas no documento da ONU têm qualidade. São comparações internacionais que possuem grande utilidade. Caracas e as cidades da Venezuela apresentam números que despertam interesse:

1) Em 1999, a Venezuela tinha 49% da sua população urbana em situação de pobreza e indigência. Em 2010, este percentual foi reduzido para 28%.

2) Entre 26 cidades selecionadas, o menor índice de Gini entre seus habitantes é o de Caracas, que é inferior a 0,40. No Brasil, é 0,5. Este índice mede a desigualdade de renda.

3) Nas cidades da Venezuela, mais de 80% das residências são ocupadas por seus proprietários. Na Colômbia, este número é inferior a 50%. A Venezuela é a melhor neste quesito; a Colômbia, a pior.

4) Na América Latina e no Caribe, a proporção de população urbana que tem saneamento está entre 80 e 85%. Na Venezuela, está próxima de 95%. Na Venezuela, 90% da população urbana recebem água encanada.

5) De 21 países selecionados, a maior cobertura de coleta de lixo urbana ocorre na Venezuela. A pior está no Paraguai.

6) Em 21 cidades selecionadas, mostra-se que o gasto médio mensal de um usuário regular de ônibus; em Caracas, é de 6% do salário mínimo. Em Buenos Aires, se gasta 5% e, em São Paulo e no Rio de Janeiro, 12%.

São esses números que os Jardins (em São Paulo) e o Leblon (no Rio) desconhecem. Nem fazem qualquer esforço para conhecê-los. Preferem ser informados pelos veículos que trazem conforto interno e energia para combater as possibilidades de mobilidade social – seja aqui, seja na Venezuela. Sãos os mesmos veículos que fazem piada com a dor do povo venezuelano.

2 comentários:

Ignez disse...

No que se refere à mídia no Brasil, há que se decretar "estado de emergência", de calamidade pública. As mentiras, as agressões, as manipulações são diárias e ininterruptas. Os canhões do oligopólio midiático estão direcionados a abater qualquer governo que não compactue - plenamente - com o neoliberalismo. Como meros fantoches os empregados dessas mídias reproduzem o que seus patrões desejam ouvir. O povo não pode ser informado da verdade. O Brasil precisa fazer a regulação da Mídia! O povo venezuelano teve mais sorte: Chavéz pode envolvê-los no processo de conscietização à respeito dos progressos de sua cidadania. Que os venezuelanos continuem a levar avante a Revolução bolivariana, à despeito dos achincalhes qeu se derramem pelas mídias da Espanha, do Brasil, dos EUA, etc.

Kelvin Liberto disse...

nenhum país pode prosperar nas mãos da direita, o povo é reduzido a miséria, o projeto de soberania abortado e as elites lucram alinhadas com os interesses imperialistas. a mídia velhaca, antro de golpistas e reacionários, vende a perversa lógica de mercado cinicamente enquanto nossos compatriotas morrem nos guetos e favelas, vitimas das estratégias sociopatas neoliberais fascistas