Por Vivian Fernandes, no sítio do MST:
Da praça da Sé à praça da República, cerca de 1 mil jovens percorreram as ruas do centro da cidade de São Paulo, nesta terça-feira (26), em defesa da ampliação de recursos para educação, do fim da violência contra os jovens pobres, especialmente negros, da democratização dos meios de comunicação e da Reforma Agrária.
A marcha, que encobriu com seus gritos e canções o som do trânsito paulistano por toda a manhã, faz parte da Jornada de Nacional de Lutas da Juventude. As organizações que promovem jornada, que vai até 11 abril, realizarão ações em mais de 15 estados do país.
As bandeiras que os jovens traziam em punho representavam as várias organizações que construíram o ato, como a União Nacional dos Estudantes (UNE), o Levante Popular da Juventude, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Nação Hip Hop Brasil, o Fora do Eixo, a Marcha Mundial das Mulheres e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES).
O presidente da UNE, Daniel Iliescu, defendeu a unidade política dos movimentos sociais para a construção da jornada. "Os jovens estão unidos na rua, porque os seus sonhos são generosos, porque o que se tem no coração e nas mentes é a convicção de mudar o país”, disse.
O coordenador do coletivo de juventude do MST em São Paulo, Gerson de Souza, denunciou em frente ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo “a criminalização de vários militantes, não só do MST, mas de vários movimentos sociais, que estão proibidos de fazer luta, de fazer ocupações e marchas”. Ele apontou ainda que a democratização do Estado só será possível a partir das manifestações e lutas políticas.
Educação, genocídio e cotas
No cruzamento da avenida São João com o largo do Paissandú, os jovens realizaram uma intervenção artística para chamar a atenção para o extermínio da população negra em São Paulo.
Enquanto manifestantes carregavam caixões de cartolina negra com cruzes brancas, a militante do Levante Popular da Juventude, Beatriz Lourenço, apresentou dados sobre o genocídio da população negra em São Paulo.
“O Mapa da Violência de 2012 diz que enquanto o homicídio de jovens brancos caiu 25%, o de jovens negros aumentou 30%. E a cada dez jovens assassinados no país, sete são negros”, disse Beatriz.
Ela ainda comparou o número de assassinatos decorrentes da ditadura militar com o extermínio da juventude negra e pobre pela Polícia Militar nos últimos anos, que atingiu índices maiores. Os jovens puxaram palavras de ordem para denunciar o racismo e violência da polícia sob controle do governador Geraldo Alckmin.
O ato terminou na praça da República, onde fica a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Os manifestantes criticaram o sistema de inclusão nas universidades estaduais proposto por Alckmin.
O Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público (Pimesp), voltada para USP, Unesp e Unicamp foi rechaçado pelas organizações juvenis, que classificaram como “elitista”.
Os jovens afirmam que o programa de Alckmin trata o aluno cotista como “estudante de segunda classe”, por obrigar que passem dois anos em um curso de reforço para ingressar nas universidades públicas paulistas.
Os jovens manifestantes também criticaram o governador por retirar as disciplinas de História, Geografia e Ciências dos anos iniciais do Ensino Fundamental. A medida faz parte da reformulação curricular das escolas em tempo integral e já chegou a 297 colégios da rede estadual.
A manifestação terminou com apresentações de grupos de rap.
Audiências
Delegações de representantes das diversas organizações e movimentos de juventude se reuniram com a Prefeitura de São Paulo e com a Secretaria de Educação do governo do Estado de São Paulo.
Na prefeitura, os jovens foram recebidos pelo secretário de governo, Antônio Donato, pelo responsável pela coordenadoria de juventude, Gabriel Medida, e pelo chefe de gabinete do prefeito Fernando Haddad, Gustavo Vidigal.
Os movimentos sociais cobraram medidas da prefeitura para enfrentar o extermínio da juventude da periferia, fazendo um contraponto à ação da Política Militar do governo Geraldo Alckmin. Além disso, pautaram a implementação do passe livre no transporte público para os estudantes que ingressaram na universidade pelo Programa Universidade para Todos (Prouni).
Donato fez o compromisso de levar as demandas para o prefeito e propôs a realização de uma audiência dos movimentos juvenis com Haddad. Ele disse também que Haddad tem compromisso com o financiamento da educação, por meio dos 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em nível federal, 50% do fundo soberano do pré-sal e 100% dos royalties do petróleo.
Na audiência com o secretário estadual de Educação, Herman Jacobus Cornelis Voorwald, as organizações apresentaram críticas ao Pimesp, cobraram a ampliação de recursos para o financiamento da educação, a manutenção das escolas do campo já existentes e construção de novas unidades para garantir a permanência da juventude no campo.
Os movimentos defenderam passe livre para estudantes do Prouni e o investimento em laboratórios e equipamentos tecnológicos para elevar a qualidade da educação pública. As entidades estudantis, principalmente secundaristas, cobraram a livre organização nas escolas e participação no Conselho Estadual de Educação.
O secretário Herman Voorwald enfatizou que o programa de cotas das universidades estaduais paulistas não está sob sua responsabilidade, mas se comprometeu a mediar uma audiência das organizações da juventude com o Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (CRUESP).
“O momento é de construção de uma resposta concreta à demanda da sociedade, e o fato das universidades estarem discutindo uma proposta é sem dúvida um grande avanço”, disse o secretário.
O secretário-adjunto da Educação, Palma Filho,que também é vice-presidente do Conselho Estadual de Educação, afirmou apoiar a participação das entidades estudantis no Conselho.
“Esta pauta está em discussão, mas precisa haver o entendimento por parte do colegiado, que é formado por 24 pessoas”, ponderou.
“Essa reunião representa um avanço no sentido de podermos apresentar essas reivindicações de forma coletiva, reflexo da unificação das pautas das diferentes organizações que articularam nossa jornada”, avaliou a integrante da coordenação estadual do MST de São Paulo, Jade Percassi.
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