Por Marcelo Salles, no blog Escrevinhador:
As últimas pesquisas de intenção de voto e sobre a aprovação do governo federal devem ser vistas com cautela. Apesar da ampla vantagem da presidenta Dilma Rousseff, o quadro atual dista 18 meses das eleições, tempo suficiente pra que quase tudo possa acontecer.
Em sua última pesquisa, o Ibope aponta uma aprovação recorde do governo: 92% dos entrevistados o aprovam, sendo que 63% deles o consideram bom ou ótimo e apenas 7% o reprovam (ruim ou péssimo). Outros 27% o enquadram na categoria “regular”.
Já a pesquisa de intenção de votos Datafolha divulgada na sexta-feira (22) aponta uma vantagem gigantesca para a presidenta da República. Dilma Rousseff aparece com 58% da preferência dos eleitores, seguida de Marina Silva (16%), Aécio Neves (10%) e Eduardo Campos (6%). Ou seja, se a eleição fosse hoje a presidenta estaria 26 pontos percentuais à frente de seus principais concorrentes somados.
Mas ainda falta muito para o dia do pleito. Isso não significa que as pesquisas devem ser desconsideradas; por outro lado, também não podem ser super-dimensionadas. As pesquisas são retratos de um momento, que pode se consolida ou mudar completamente, a depender de inúmeras variáveis. Por isso não convém entrar no clima do “já ganhou”.
Pra início de conversa, existem alguns aspectos que devem ser levados em consideração, para além do econômico – que conta muito, mas não está sozinho.
Primeiro, devemos dar uma olhada no calendário eleitoral. Daqui até outubro de 2014 faltam 18 meses, os quais podemos dividir em três faixas de tempo. A primeira vai daqui até outubro desse ano, quando os partidos que pretendem concorrer devem estar devidamente registrados e as pessoas filiadas aos partidos pelos quais querem disputar uma vaga. É importante lembrar que vamos eleger, além da presidenta (ou presidente), governadores, senadores e deputados (estaduais e federais).
A compreensão desse primeiro momento é fundamental, pois isso significa, entre outras coisas, que somente ao chegarmos em outubro deste ano saberemos efetivamente quais partidos políticos conseguiram reunir as assinaturas para serem criados, assim como quais pessoas estarão filiadas em quais partidos e, consequentemente, aptas a concorrer um ano depois, em outubro de 2014.
A segunda faixa de tempo transcorre entre outubro de 2013 e março de 2014, quando se encerra o prazo para a desincompatibilização de cargos públicos. Vale, por exemplo, para os ministros e prefeitos que pretendem se candidatar. Nesse momento, com os pré-candidatos definidos, começa, de fato, a campanha, que seria a terceira e última faixa de tempo – aqui as alianças até então delineadas necessariamente se descortinam e a corrida eleitoral chega a seu sprit final.
Ao longo do processo, existem elementos objetivos que ocorrem em cada uma dessas faixas de tempo, enquanto outros, subjetivos, as atravessam. Entre esses últimos creio que dois podem fazer uma grande diferença daqui até outubro de 2014.
O primeiro deles é a mídia. Sem dúvida nenhuma jogará papel decisivo nas eleições. Como dizia o filósofo francês Gilles Deleuze, a mídia é uma das instituições com maior poder de produzir e reproduzir subjetividades. Ou seja, na sociedade contemporânea tvs, rádios e jornais possuem meios de influir nas formas de sentir e agir das pessoas. Conceitos e valores estão em jogo, não apenas nas manchetes jornalísticas, mas também em novelas, filmes e demais produções de entretenimento.
O segundo elemento que devemos observar é a mescla do comportamento da assim chamada nova classe média com o crescimento das religiões protestantes no país. Em “Os sentidos do lulismo”, lançado ano passado, André Singer deixa muito claro que, se é verdade que o PT ganhou votos entre as classes mais pobres, esse voto não está, necessariamente, imbuído de ideologia. Segundo o autor, seria um voto conquistado muito mais pelo acesso inaudito à sociedade de consumo do que qualquer outra coisa.
Da leitura de Singer também era possível intuir a chegada de um novo partido que refletisse os anseios dessa parcela da população que ascendeu socialmente. E esse partido tem tudo para ser a Rede, de Marina Silva, que hoje aparece com 16% das intenções de voto. Além de beliscar os votos dos ambientalistas politicamente corretos, a ex-ministra, evangélica declarada, seria a fiel depositária da confiança da massa que professa essa religião.
Entre as características de parte expressiva dos evangélicos está o comportamento conservador, como demonstram suas posições em relação a temas como casamento homossexual e aborto, muitas vezes extrapolando em direção ao fundamentalismo racista/preconceituoso. Ou seja, ironicamente os avanços sociais promovidos pelos governos do PT renderiam, em parte, frutos a uma oposicionista (taí o pastor-ministro Crivella pedindo aplausos a Dilma e Lula pelo aumento do dízimo nas igrejas).
Por outro lado, em tese Aécio Neves, hoje com 10%, e Eduardo Campos, com 6%, têm mais margem numérica para crescer, já que são menos conhecidos. A grande dúvida é saber de quem eles irão tirar votos. Isso, claro, se eles forem mesmo confirmados candidatos.
Enquanto isso, repito, o mais importante é monitorar o comportamento dos meios de comunicação e dos evangélicos. Justamente a combinação explosiva que levou a eleição passada para o segundo turno, com a campanha suja contra Dilma que tomou conta da reta final.
As últimas pesquisas de intenção de voto e sobre a aprovação do governo federal devem ser vistas com cautela. Apesar da ampla vantagem da presidenta Dilma Rousseff, o quadro atual dista 18 meses das eleições, tempo suficiente pra que quase tudo possa acontecer.
Em sua última pesquisa, o Ibope aponta uma aprovação recorde do governo: 92% dos entrevistados o aprovam, sendo que 63% deles o consideram bom ou ótimo e apenas 7% o reprovam (ruim ou péssimo). Outros 27% o enquadram na categoria “regular”.
Já a pesquisa de intenção de votos Datafolha divulgada na sexta-feira (22) aponta uma vantagem gigantesca para a presidenta da República. Dilma Rousseff aparece com 58% da preferência dos eleitores, seguida de Marina Silva (16%), Aécio Neves (10%) e Eduardo Campos (6%). Ou seja, se a eleição fosse hoje a presidenta estaria 26 pontos percentuais à frente de seus principais concorrentes somados.
Mas ainda falta muito para o dia do pleito. Isso não significa que as pesquisas devem ser desconsideradas; por outro lado, também não podem ser super-dimensionadas. As pesquisas são retratos de um momento, que pode se consolida ou mudar completamente, a depender de inúmeras variáveis. Por isso não convém entrar no clima do “já ganhou”.
Pra início de conversa, existem alguns aspectos que devem ser levados em consideração, para além do econômico – que conta muito, mas não está sozinho.
Primeiro, devemos dar uma olhada no calendário eleitoral. Daqui até outubro de 2014 faltam 18 meses, os quais podemos dividir em três faixas de tempo. A primeira vai daqui até outubro desse ano, quando os partidos que pretendem concorrer devem estar devidamente registrados e as pessoas filiadas aos partidos pelos quais querem disputar uma vaga. É importante lembrar que vamos eleger, além da presidenta (ou presidente), governadores, senadores e deputados (estaduais e federais).
A compreensão desse primeiro momento é fundamental, pois isso significa, entre outras coisas, que somente ao chegarmos em outubro deste ano saberemos efetivamente quais partidos políticos conseguiram reunir as assinaturas para serem criados, assim como quais pessoas estarão filiadas em quais partidos e, consequentemente, aptas a concorrer um ano depois, em outubro de 2014.
A segunda faixa de tempo transcorre entre outubro de 2013 e março de 2014, quando se encerra o prazo para a desincompatibilização de cargos públicos. Vale, por exemplo, para os ministros e prefeitos que pretendem se candidatar. Nesse momento, com os pré-candidatos definidos, começa, de fato, a campanha, que seria a terceira e última faixa de tempo – aqui as alianças até então delineadas necessariamente se descortinam e a corrida eleitoral chega a seu sprit final.
Ao longo do processo, existem elementos objetivos que ocorrem em cada uma dessas faixas de tempo, enquanto outros, subjetivos, as atravessam. Entre esses últimos creio que dois podem fazer uma grande diferença daqui até outubro de 2014.
O primeiro deles é a mídia. Sem dúvida nenhuma jogará papel decisivo nas eleições. Como dizia o filósofo francês Gilles Deleuze, a mídia é uma das instituições com maior poder de produzir e reproduzir subjetividades. Ou seja, na sociedade contemporânea tvs, rádios e jornais possuem meios de influir nas formas de sentir e agir das pessoas. Conceitos e valores estão em jogo, não apenas nas manchetes jornalísticas, mas também em novelas, filmes e demais produções de entretenimento.
O segundo elemento que devemos observar é a mescla do comportamento da assim chamada nova classe média com o crescimento das religiões protestantes no país. Em “Os sentidos do lulismo”, lançado ano passado, André Singer deixa muito claro que, se é verdade que o PT ganhou votos entre as classes mais pobres, esse voto não está, necessariamente, imbuído de ideologia. Segundo o autor, seria um voto conquistado muito mais pelo acesso inaudito à sociedade de consumo do que qualquer outra coisa.
Da leitura de Singer também era possível intuir a chegada de um novo partido que refletisse os anseios dessa parcela da população que ascendeu socialmente. E esse partido tem tudo para ser a Rede, de Marina Silva, que hoje aparece com 16% das intenções de voto. Além de beliscar os votos dos ambientalistas politicamente corretos, a ex-ministra, evangélica declarada, seria a fiel depositária da confiança da massa que professa essa religião.
Entre as características de parte expressiva dos evangélicos está o comportamento conservador, como demonstram suas posições em relação a temas como casamento homossexual e aborto, muitas vezes extrapolando em direção ao fundamentalismo racista/preconceituoso. Ou seja, ironicamente os avanços sociais promovidos pelos governos do PT renderiam, em parte, frutos a uma oposicionista (taí o pastor-ministro Crivella pedindo aplausos a Dilma e Lula pelo aumento do dízimo nas igrejas).
Por outro lado, em tese Aécio Neves, hoje com 10%, e Eduardo Campos, com 6%, têm mais margem numérica para crescer, já que são menos conhecidos. A grande dúvida é saber de quem eles irão tirar votos. Isso, claro, se eles forem mesmo confirmados candidatos.
Enquanto isso, repito, o mais importante é monitorar o comportamento dos meios de comunicação e dos evangélicos. Justamente a combinação explosiva que levou a eleição passada para o segundo turno, com a campanha suja contra Dilma que tomou conta da reta final.
2 comentários:
Tambem penso como voce. Teremos que ter cautela.
Ainda que se apresente como grande contradição, esse fenômeno da modernidade: majoração da questão religiosa em época de eleições, parece que se tornou praxe. Por que? Se o Estado é laico, por que se fala tanto de religião em época de eleições? Será porque alguns meios de comunicação são de propriedade de evangélicos? Será porque centenas de deputados do Congresso, e candidatos pertencem à claque evangélica? Será porque o reacionarismo mais chulo desses religiosos exalta e reforça que é na "teologia da prosperidade" que se encontra o progresso pessoal, e que este é fruto de pura "ação divina"? Parece-me que essa dicotomia só é favorável ao oportunismo da direita. O controle das mentes é sua meta. O poder da religião - seja qual for - pode nos jogar a todos na Idade Média. Muito mais que uma descarga da massa coronal do sol sobre a terra que queimaria todos os satélites deixando-nos sem comunicação. Será que os deuses vão mostrar seu poder? Ou será que ficaremos às escuras por causa desse saldão bíblico que nos assola? Regulação da Mídia entra no cardápio...
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