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Agora o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), chama o ex-presidente Lula (PT) de “o maior canalha do País”.
Agora, em pleno evento que elegeu Aécio Neves presidente do PSDB nacional e o carimbou como o nome tucano para a disputa presidencial do ano que vem.
Antes, a história era outra. Houve um tempo em que Marconi até prometeu desafiar o seu partido para agradar Lula.
Histórias não faltam envolvendo o confronto entre os dois. Bem e mal contadas.
Tudo começou em 2004, quando Marconi decidiu mostrar a cara, em um fato de repercussão nacional, o mensalão, no momento em que Lula vivia um inferno astral e ele sonhava, Aécio Neves à parte, ser candidato a presidente.
Em um lance que hoje é defendido pelos seus aliados como de corajosa oportunidade, mas que os adversários veem como mero lance de pirotecnia oportunista, nasceu uma guerra que é reeditada e alimentada estrategicamente em ocasiões calculadas, sempre do mesmo lado, o de quem a criou.
Marconi Perillo seria a prova viva de que o na época presidente sabia do mensalão, embora negasse e continue negando.
Prova viva, porém, que só tinha a sua palavra de tucano contra a do petista.
Ficou o dito pelo não dito. Lula não foi condenado; foi reeleito. Marconi ganhou um palanque móvel.
Mas vamos por partes.
No princípio, Marconi governador e Lula presidente eram só bom entendimento. Nas visitas que o petista fez ao Estado no tempo em que ambos coincidiram no poder, sempre foi tratado com fartos elogios. E a recíproca era verdadeira.
Foi nesse clima de camaradagem, por exemplo, que Lula creditou a Marconi a união dos programas sociais do governo federal no Bolsa Família. A sugestão teria surgido durante uma reunião do presidente com governadores.
Lula foi generoso com Marconi. A contrapartida está registrada em vídeo e é repetida à exaustão nas campanhas marconistas como registro da grandeza do tucano frente ao petista copiador de boas ideias e programas alheios.
Quando das denúncias do mensalão, e da dúvida se Lula sabia ou não de tudo, o tucano se apresentou como prova viva de que sim, sabia.
E contou a sua história. Melhor: a primeira versão dela.
Garantiu, com veemência de quem tem a verdade absoluta, ter informado o presidente sobre a existência de um suposto esquema de pagamento de mesada a parlamentares. O mensalão.
A conversa entre os dois, de acordo com o tucano, aconteceu no dia 5 de março de 2004, durante visita do petista à fábrica da Perdigão, em Rio Verde. Eles estavam dentro do carro, no trajeto fábrica-aeroporto, com o motorista e o chefe de segurança presidencial por testemunhas.
Palavras do governador: "Relatei ao senhor presidente que ouvira rumores sobre a existência de mesada a parlamentares em conversas informais em Brasília, porém sem provas concretas."
Essa versão foi dada por escrito ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados.
O Conselho de Ética chegou a Marconi por conta de depoimento da deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO), que informou sobre o aviso do governador a Lula.
Raquel teria contado a Marconi Perillo que recebera proposta de R$ 1 milhão do deputado Sandro Mabel (então no PL, hoje no PMDB) para entrar para o seu partido. Mabel também teria oferecido de R$ 30 mil a R$ 50 mil mensais para Raquel votar a favor do governo na Câmara.
Pelas declarações do tucano, ele ficou sabendo de tudo ali pelo final de fevereiro, início de março de 2004.
A versão de Marconi: "A deputada me disse que havia ficado indignada e que teria repelido a proposta. Eu disse a ela que, se tivesse provas concretas, levaria o caso ao presidente da República, às autoridades judiciárias e ao conhecimento público. Fiquei extremamente preocupado e indignado com a tentativa de cooptação que me foi relatada."
Em vez de levar o caso à Justiça, o governador disse que avisou Lula. E o que aconteceu? "Como não tive mais informações a respeito, e certo de que havia levado o assunto a conhecimento da maior autoridade e mais alto magistrado do país, e como também não tinha provas testemunhais concretas, resolvi dar por encerrado o assunto."
Mabel desmentiu tudo. Segundo o próprio Marconi. "Quando soube que eu estava informado, o deputado Mabel telefonou-me desmentindo a versão da proposta de forma categórica. Depois, durante audiência na sede do governo estadual, voltou a desmentir e sugeriu uma conversa a três, incluindo a deputada Raquel. Achei que não era o caso", disse, no documento escrito enviado ao Conselho de Ética.
Ao mesmo Conselho de Ética, Mabel não só negou tudo, ratificando o que dissera a Marconi, como creditou todo o fato ao “jogo politico” para desestabilizar uma possível candidatura sua ao governo goiano.
Raquel, na época, também mirava o governo. Era uma das postulantes dentro do PSDB a ser a candidata de Marconi. Não foi.
Tais fatos ocorreram em julho de 2005. Mais de um ano depois, o já ex-governador e candidato a senador Marconi Perillo voltou ao assunto, em entrevista no aeroporto de Jataí, enquanto aguardava a chegada do presidenciável do seu partido, Geraldo Alkmin.
Além de confirmar a histórica contada antes, acrescentou um elemento novo – e picante.
“Não adianta ele (Lula) falar que não sabia do mensalão. Eu o avisei em Rio Verde e ele me falou: ‘Marconi, cuida dos seus deputados que eu cuido dos meus’”, disse.
Ou seja: diante de sua humilde atitude de avisar de um malfeito, o que recebeu em troca foi arrogância.
Daí em diante, sempre que visitava Goiás Lula se referia a Marconi de forma dura nos palanques, e com palavrões nas conversas reservadas com políticos aliados. Não era segredo para ninguém.
Mas sua raiva não era tamanha a ponto de não relevar a esperteza de Marconi.
Mostrou disposição de fazer isso tempos depois. Mas o que se viu foi mais motivo para a guerra prosperar.
Quem relata é Ricardo Noblat, a partir de informações publicadas em O Globo na sexta-feira, 14 de dezembro de 2007, e pelo jornalista Paulo Henrique Amorim:
Sabe o que Lula foi de fato fazer na casa do governador José Roberto Arruda (DEM), do Distrito Federal, quando se ofereceu para tomar café da manhã com ele na terça-feira (11)? Foi se encontrar às escondidas com o senador Marconi Perillo (PSDB). Pegava mal para Perillo se reunir com Lula no Palácio da Alvorada ou em outro espaço do governo.
Lula detesta Perillo. No auge do escândalo do mensalão, ele era governador de Goiás. E disse que advertira Lula sobre o esquema de compra de apoios de deputados. E que Lula nada fizera. Lula não o perdoa. Alveja-o com palavrões impublicáveis. De todo modo, viu na chance de se encontrar com ele uma maneira de tentar salvar a CPMF.
Foi Perillo quem propôs o encontro. Ele se ofereceu a Lula para ajudar a convencer senadores no PSDB e votarem com o governo. Naquele mesmo dia, à tarde, no seu apartamento, em Brasília, juntou os senadores Sérgio Guerra, presidente do partido; Arthur Virgílio (AM), o líder; e Tasso Jereissati (CE) com o deputado Antonio Palocci (PT) e o governador Eduardo Campos (PSB), de Pernambuco.
Ali foi combinado o que o governo ofereceria mais tarde ao PSDB – 100% da CPMF para a saúde e uma carta de Lula avalizando a oferta. O acordo deu chabu. Na sessão do Senado, Perillo fez contundente discurso contra a CPMF”.
Não se sabe como, mas a notícia vazou e praticamente todos os veículos de comunicação publicaram a reportagem. No Portal IG, o jornalista Paulo Henrique Amorim foi ainda mais contundente ao publicar um texto em que colocou o seguinte título: ‘Perillo traiu o PSDB, Lula e Goiás’. O texto é o seguinte:
“A assessoria do senador Marconi Perillo, confirmou ao Conversa Afiada a informação de o Globo. Preliminarmente: escondido de quem? Da reportagem do Globo, que não soube onde estava Lula? Mas, vamos ao que interessa. Segundo o Globo, Perillo propôs o encontro. Se alguém foi escondido, foi Marconi, que sugeriu que o encontro não fosse no Planalto nem no Alvorada, porque ‘pegava mal’.
“Perillo se ofereceu para ajudar a convencer senadores do PSDB. Ele se encontrou com alguns deles no seu próprio apartamento, além de interlocutores de Lula.
Ali ficou combinado que Lula apresentaria uma carta em que se comprometia a destinar 100% da CPMF à saúde. Não deu certo e Perillo fez discurso veemente contra a aprovação da CPMF. Por que Perillo fez o discurso? Precisava? Perillo traiu três vezes: o Presidente Lula. O PSDB, já que foi se encontrar às escondidas com o Presidente Lula. E o mais importante: o povo de Goiás, que pensa que ele é o que diz, mas ele é o que não diz.”
Se Lula falava cobras e lagartos de Marconi Perillo, a partir desse episódio passou a falar isso e um pouco mais.
Em março de 2011, o tucano voltou a recorrer a Lula como ponte para o seu projeto de ser candidato a presidente mais à frente.
Durante evento do PSDB, discursou que se Lula fosse candidato em 2014, nem Aécio Neves nem Geraldo Alckmin teriam coragem de enfrentá-lo, e que, sendo assim, ele estaria pronto para a disputa.
Mais que isso. Se o candidato a presidente fosse mesmo Lula, ele não pensaria duas vezes: também seria. Palavras suas. Desafiadoras.
Uma disputa eleitoral indireta entre Lula e Marconi ocorreu em Goiás em 2010.
O caso mensalão foi explorado ao máximo pelos marconistas contra candidatos a prefeito do PT. Já Marconi foi mais incisivo: dizia nos palanques que estava enfrentando a máquina do governo federal e o ódio de Lula.
A verdade: Lula passou ao largo do Estado. Goiás não foi prioridade sua em nenhum momento. Basta conferir o noticiário da época.
A presença marcante do ex-presidente no Estado estava apenas na boca dos tucanos, acusando-o. No mais, ele deu as caras no programa eleitoral do PMDB, pedindo votos para Iris. Só.
E o que aconteceu. Mesmo longe, mesmo dedicando tão pouca atenção ao Estado de quem o acusava de ser seu algoz, aliados de Lula venceram nos três principais colégios eleitorais do Estado.
Em Goiânia (Paulo Garcia) e Anápolis (Antônio Gomide), petistas saíram vencedores, e em Aparecida de Goiás, ganhou o peemedebista Maguito Vilela. No geral, o PT cresceu no Estado. Foi um ano bom para os petistas, em particular.
Quem acompanha um pouco que seja o jogo político em Goiás, sabe: nem Lula, nem Dilma são aliados dos sonhos de PT e PMDB na guerra contra Marconi no Estado, embora o discurso marconista pregue que sim.
Basta reparar nos cerca de (ou mais de, porque os números se renovam rapidamente) R$ 10 bilhões que a União está emprestando ao Estado. Para reconstrução de estradas; programas e obras; reorganização das dívidas; recuperação da Celg etc.
Empréstimos que saem com generosidade e presteza que não eram destinadas ao governo anterior, de Alcides Rodrigues (PP), aliado de Lula/PT e adversário do tucano.
(Nem conseguir desencalacrar a renegociação da dívida da Celg – empresa de energia do Estado –, Alcides conseguiu, apesar de Lula pregar que estava fazendo tudo que podia; Marconi assumiu o governo não levou mais do que alguns poucos meses para sair como herói.)
Empréstimos para os próximos governadores pagarem, a começar pelo próximo, quem sabe o que saia da anunciada dobradinha PT/PMDB em 2014.
O que há: o governo Marconi está hoje sustentado em verbas federais. Nos últimos dois anos, é o governo petista do “canalha” Lula que tem dado sobrevida e sustentação à administração marconista.
A mágica do tucano para conseguir isso tem várias explicações. A principal delas, a visão republicana, técnica, da presidente Dilma.
Nessa direção, é comum acompanhar nas redes sociais, por exemplo, ataques duros dos assessores do governador a Lula e ao PT, com menções constantes ao mensalão e todas as mazelas que atormentam os petistas.
Ao mesmo tempo, Dilma é elogiada. Só não o é em ocasiões especiais, como a que envolve a venda da Celg. Para Marconi ser o herói, o governo federal tem que aparecer de vilão que não investe na empresa e, assim, ofende os goianos tão bem defendidos, em seus interesses públicos, pelo tucano.
Assim mesmo, o ataque é ao “governo federal”, nunca a Dilma. Técnica marconista avançada de tergiversação política.
Nessa toada, Marconi sobreviveu inclusive à Operação Monte Carlo, que revelou as ligações perigosas e nada republicanas de seu governo com o contraventor Carlinhos Cachoeira.
Assim que o caso veio à tona, no final de fevereiro de 2012, a defesa de Marconi a todas as acusações foi uma só: tudo era obra do ódio e do rancor de Lula contra ele.
"Lula vai se arrepender amargamente de ter colocado Marconi Perillo no olho do furacão", ameaçou no twitter na noite de quarta-feira, 30 de maio, um assessor direto do tucano. Mais foi postado: "Perguntinha - E se pintar pato roco nas conversas de Carlinhos Cachoeira?"
‘Pato roco’?
No mesmo dia, Marconi tratou de ele próprio mandar seu recado, em discurso durante evento oficial: "Nós vivemos em um país em que algumas lideranças que se consideram acima do bem e do mal, se consideram verdadeiros deuses, não passam de lideranças de quinta categoria. Basta uma oportunidade para que as pessoas comecem a entender as coisas, a conhecer falsos líderes que se firmam na demagogia barata junto às pessoas menos esclarecidas."
O tucano nunca esclareceu nem explicou de forma convincente as denúncias, ligações e envolvimento de seu governo com Cachoeira. O que conseguiu foi ‘vender’ a ideia de que era tudo ilusão e vingança. E ser beneficiado por uma negociação de altos escalões que transformou a CPMI do Cachoeira em pizza, e calou o PT.
Apesar do desgaste político, a estratégia do tucano de defesa baseada no ataque ao arqui-inimigo Lula deu certo, porque ele sobreviveu politicamente. Sobrevive
Agora Marconi, redivivo, retoma a guerra. E declara: "Nunca foi tão difícil fazer oposição ao maior canalha deste país."
E faz isso bem no momento em que é alvo de mais uma denúncia, da revista Carta Capital.
Carta Capital vem desvendando uma rede de arapongagem em Goiás que tem como protagonista o governo Goiás e seus atrapalhados assessores e defensores.
A quem o tucano atribui tudo? A Lula. Ele, a vítima; Lula, o agente do mal que nada mais faz na vida a não ser tentar destruí-lo.
Marconi sabe o que faz. A oposição em Goiás, incluindo o PT, é que parece não saber o que fazer.
Só comemorou vitória quando o povo foi às urnas. Por seus méritos, perde todas para o tucano.
Enquanto isso, o tempo passa e a canalhice se estabelece como lhe convém. Canalhas são sempre os outros.
Novas eleições vêm aí. Marconi não está morto. Literalmente, Lula é sua razão de viver. E ele vive. Vive pra contar histórias.
Tudo começou em 2004, quando Marconi decidiu mostrar a cara, em um fato de repercussão nacional, o mensalão, no momento em que Lula vivia um inferno astral e ele sonhava, Aécio Neves à parte, ser candidato a presidente.
Em um lance que hoje é defendido pelos seus aliados como de corajosa oportunidade, mas que os adversários veem como mero lance de pirotecnia oportunista, nasceu uma guerra que é reeditada e alimentada estrategicamente em ocasiões calculadas, sempre do mesmo lado, o de quem a criou.
Marconi Perillo seria a prova viva de que o na época presidente sabia do mensalão, embora negasse e continue negando.
Prova viva, porém, que só tinha a sua palavra de tucano contra a do petista.
Ficou o dito pelo não dito. Lula não foi condenado; foi reeleito. Marconi ganhou um palanque móvel.
Mas vamos por partes.
No princípio, Marconi governador e Lula presidente eram só bom entendimento. Nas visitas que o petista fez ao Estado no tempo em que ambos coincidiram no poder, sempre foi tratado com fartos elogios. E a recíproca era verdadeira.
Foi nesse clima de camaradagem, por exemplo, que Lula creditou a Marconi a união dos programas sociais do governo federal no Bolsa Família. A sugestão teria surgido durante uma reunião do presidente com governadores.
Lula foi generoso com Marconi. A contrapartida está registrada em vídeo e é repetida à exaustão nas campanhas marconistas como registro da grandeza do tucano frente ao petista copiador de boas ideias e programas alheios.
Quando das denúncias do mensalão, e da dúvida se Lula sabia ou não de tudo, o tucano se apresentou como prova viva de que sim, sabia.
E contou a sua história. Melhor: a primeira versão dela.
Garantiu, com veemência de quem tem a verdade absoluta, ter informado o presidente sobre a existência de um suposto esquema de pagamento de mesada a parlamentares. O mensalão.
A conversa entre os dois, de acordo com o tucano, aconteceu no dia 5 de março de 2004, durante visita do petista à fábrica da Perdigão, em Rio Verde. Eles estavam dentro do carro, no trajeto fábrica-aeroporto, com o motorista e o chefe de segurança presidencial por testemunhas.
Palavras do governador: "Relatei ao senhor presidente que ouvira rumores sobre a existência de mesada a parlamentares em conversas informais em Brasília, porém sem provas concretas."
Essa versão foi dada por escrito ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados.
O Conselho de Ética chegou a Marconi por conta de depoimento da deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO), que informou sobre o aviso do governador a Lula.
Raquel teria contado a Marconi Perillo que recebera proposta de R$ 1 milhão do deputado Sandro Mabel (então no PL, hoje no PMDB) para entrar para o seu partido. Mabel também teria oferecido de R$ 30 mil a R$ 50 mil mensais para Raquel votar a favor do governo na Câmara.
Pelas declarações do tucano, ele ficou sabendo de tudo ali pelo final de fevereiro, início de março de 2004.
A versão de Marconi: "A deputada me disse que havia ficado indignada e que teria repelido a proposta. Eu disse a ela que, se tivesse provas concretas, levaria o caso ao presidente da República, às autoridades judiciárias e ao conhecimento público. Fiquei extremamente preocupado e indignado com a tentativa de cooptação que me foi relatada."
Em vez de levar o caso à Justiça, o governador disse que avisou Lula. E o que aconteceu? "Como não tive mais informações a respeito, e certo de que havia levado o assunto a conhecimento da maior autoridade e mais alto magistrado do país, e como também não tinha provas testemunhais concretas, resolvi dar por encerrado o assunto."
Mabel desmentiu tudo. Segundo o próprio Marconi. "Quando soube que eu estava informado, o deputado Mabel telefonou-me desmentindo a versão da proposta de forma categórica. Depois, durante audiência na sede do governo estadual, voltou a desmentir e sugeriu uma conversa a três, incluindo a deputada Raquel. Achei que não era o caso", disse, no documento escrito enviado ao Conselho de Ética.
Ao mesmo Conselho de Ética, Mabel não só negou tudo, ratificando o que dissera a Marconi, como creditou todo o fato ao “jogo politico” para desestabilizar uma possível candidatura sua ao governo goiano.
Raquel, na época, também mirava o governo. Era uma das postulantes dentro do PSDB a ser a candidata de Marconi. Não foi.
Tais fatos ocorreram em julho de 2005. Mais de um ano depois, o já ex-governador e candidato a senador Marconi Perillo voltou ao assunto, em entrevista no aeroporto de Jataí, enquanto aguardava a chegada do presidenciável do seu partido, Geraldo Alkmin.
Além de confirmar a histórica contada antes, acrescentou um elemento novo – e picante.
“Não adianta ele (Lula) falar que não sabia do mensalão. Eu o avisei em Rio Verde e ele me falou: ‘Marconi, cuida dos seus deputados que eu cuido dos meus’”, disse.
Ou seja: diante de sua humilde atitude de avisar de um malfeito, o que recebeu em troca foi arrogância.
Daí em diante, sempre que visitava Goiás Lula se referia a Marconi de forma dura nos palanques, e com palavrões nas conversas reservadas com políticos aliados. Não era segredo para ninguém.
Mas sua raiva não era tamanha a ponto de não relevar a esperteza de Marconi.
Mostrou disposição de fazer isso tempos depois. Mas o que se viu foi mais motivo para a guerra prosperar.
Quem relata é Ricardo Noblat, a partir de informações publicadas em O Globo na sexta-feira, 14 de dezembro de 2007, e pelo jornalista Paulo Henrique Amorim:
Sabe o que Lula foi de fato fazer na casa do governador José Roberto Arruda (DEM), do Distrito Federal, quando se ofereceu para tomar café da manhã com ele na terça-feira (11)? Foi se encontrar às escondidas com o senador Marconi Perillo (PSDB). Pegava mal para Perillo se reunir com Lula no Palácio da Alvorada ou em outro espaço do governo.
Lula detesta Perillo. No auge do escândalo do mensalão, ele era governador de Goiás. E disse que advertira Lula sobre o esquema de compra de apoios de deputados. E que Lula nada fizera. Lula não o perdoa. Alveja-o com palavrões impublicáveis. De todo modo, viu na chance de se encontrar com ele uma maneira de tentar salvar a CPMF.
Foi Perillo quem propôs o encontro. Ele se ofereceu a Lula para ajudar a convencer senadores no PSDB e votarem com o governo. Naquele mesmo dia, à tarde, no seu apartamento, em Brasília, juntou os senadores Sérgio Guerra, presidente do partido; Arthur Virgílio (AM), o líder; e Tasso Jereissati (CE) com o deputado Antonio Palocci (PT) e o governador Eduardo Campos (PSB), de Pernambuco.
Ali foi combinado o que o governo ofereceria mais tarde ao PSDB – 100% da CPMF para a saúde e uma carta de Lula avalizando a oferta. O acordo deu chabu. Na sessão do Senado, Perillo fez contundente discurso contra a CPMF”.
Não se sabe como, mas a notícia vazou e praticamente todos os veículos de comunicação publicaram a reportagem. No Portal IG, o jornalista Paulo Henrique Amorim foi ainda mais contundente ao publicar um texto em que colocou o seguinte título: ‘Perillo traiu o PSDB, Lula e Goiás’. O texto é o seguinte:
“A assessoria do senador Marconi Perillo, confirmou ao Conversa Afiada a informação de o Globo. Preliminarmente: escondido de quem? Da reportagem do Globo, que não soube onde estava Lula? Mas, vamos ao que interessa. Segundo o Globo, Perillo propôs o encontro. Se alguém foi escondido, foi Marconi, que sugeriu que o encontro não fosse no Planalto nem no Alvorada, porque ‘pegava mal’.
“Perillo se ofereceu para ajudar a convencer senadores do PSDB. Ele se encontrou com alguns deles no seu próprio apartamento, além de interlocutores de Lula.
Ali ficou combinado que Lula apresentaria uma carta em que se comprometia a destinar 100% da CPMF à saúde. Não deu certo e Perillo fez discurso veemente contra a aprovação da CPMF. Por que Perillo fez o discurso? Precisava? Perillo traiu três vezes: o Presidente Lula. O PSDB, já que foi se encontrar às escondidas com o Presidente Lula. E o mais importante: o povo de Goiás, que pensa que ele é o que diz, mas ele é o que não diz.”
Se Lula falava cobras e lagartos de Marconi Perillo, a partir desse episódio passou a falar isso e um pouco mais.
Em março de 2011, o tucano voltou a recorrer a Lula como ponte para o seu projeto de ser candidato a presidente mais à frente.
Durante evento do PSDB, discursou que se Lula fosse candidato em 2014, nem Aécio Neves nem Geraldo Alckmin teriam coragem de enfrentá-lo, e que, sendo assim, ele estaria pronto para a disputa.
Mais que isso. Se o candidato a presidente fosse mesmo Lula, ele não pensaria duas vezes: também seria. Palavras suas. Desafiadoras.
Uma disputa eleitoral indireta entre Lula e Marconi ocorreu em Goiás em 2010.
O caso mensalão foi explorado ao máximo pelos marconistas contra candidatos a prefeito do PT. Já Marconi foi mais incisivo: dizia nos palanques que estava enfrentando a máquina do governo federal e o ódio de Lula.
A verdade: Lula passou ao largo do Estado. Goiás não foi prioridade sua em nenhum momento. Basta conferir o noticiário da época.
A presença marcante do ex-presidente no Estado estava apenas na boca dos tucanos, acusando-o. No mais, ele deu as caras no programa eleitoral do PMDB, pedindo votos para Iris. Só.
E o que aconteceu. Mesmo longe, mesmo dedicando tão pouca atenção ao Estado de quem o acusava de ser seu algoz, aliados de Lula venceram nos três principais colégios eleitorais do Estado.
Em Goiânia (Paulo Garcia) e Anápolis (Antônio Gomide), petistas saíram vencedores, e em Aparecida de Goiás, ganhou o peemedebista Maguito Vilela. No geral, o PT cresceu no Estado. Foi um ano bom para os petistas, em particular.
Quem acompanha um pouco que seja o jogo político em Goiás, sabe: nem Lula, nem Dilma são aliados dos sonhos de PT e PMDB na guerra contra Marconi no Estado, embora o discurso marconista pregue que sim.
Basta reparar nos cerca de (ou mais de, porque os números se renovam rapidamente) R$ 10 bilhões que a União está emprestando ao Estado. Para reconstrução de estradas; programas e obras; reorganização das dívidas; recuperação da Celg etc.
Empréstimos que saem com generosidade e presteza que não eram destinadas ao governo anterior, de Alcides Rodrigues (PP), aliado de Lula/PT e adversário do tucano.
(Nem conseguir desencalacrar a renegociação da dívida da Celg – empresa de energia do Estado –, Alcides conseguiu, apesar de Lula pregar que estava fazendo tudo que podia; Marconi assumiu o governo não levou mais do que alguns poucos meses para sair como herói.)
Empréstimos para os próximos governadores pagarem, a começar pelo próximo, quem sabe o que saia da anunciada dobradinha PT/PMDB em 2014.
O que há: o governo Marconi está hoje sustentado em verbas federais. Nos últimos dois anos, é o governo petista do “canalha” Lula que tem dado sobrevida e sustentação à administração marconista.
A mágica do tucano para conseguir isso tem várias explicações. A principal delas, a visão republicana, técnica, da presidente Dilma.
Nessa direção, é comum acompanhar nas redes sociais, por exemplo, ataques duros dos assessores do governador a Lula e ao PT, com menções constantes ao mensalão e todas as mazelas que atormentam os petistas.
Ao mesmo tempo, Dilma é elogiada. Só não o é em ocasiões especiais, como a que envolve a venda da Celg. Para Marconi ser o herói, o governo federal tem que aparecer de vilão que não investe na empresa e, assim, ofende os goianos tão bem defendidos, em seus interesses públicos, pelo tucano.
Assim mesmo, o ataque é ao “governo federal”, nunca a Dilma. Técnica marconista avançada de tergiversação política.
Nessa toada, Marconi sobreviveu inclusive à Operação Monte Carlo, que revelou as ligações perigosas e nada republicanas de seu governo com o contraventor Carlinhos Cachoeira.
Assim que o caso veio à tona, no final de fevereiro de 2012, a defesa de Marconi a todas as acusações foi uma só: tudo era obra do ódio e do rancor de Lula contra ele.
"Lula vai se arrepender amargamente de ter colocado Marconi Perillo no olho do furacão", ameaçou no twitter na noite de quarta-feira, 30 de maio, um assessor direto do tucano. Mais foi postado: "Perguntinha - E se pintar pato roco nas conversas de Carlinhos Cachoeira?"
‘Pato roco’?
No mesmo dia, Marconi tratou de ele próprio mandar seu recado, em discurso durante evento oficial: "Nós vivemos em um país em que algumas lideranças que se consideram acima do bem e do mal, se consideram verdadeiros deuses, não passam de lideranças de quinta categoria. Basta uma oportunidade para que as pessoas comecem a entender as coisas, a conhecer falsos líderes que se firmam na demagogia barata junto às pessoas menos esclarecidas."
O tucano nunca esclareceu nem explicou de forma convincente as denúncias, ligações e envolvimento de seu governo com Cachoeira. O que conseguiu foi ‘vender’ a ideia de que era tudo ilusão e vingança. E ser beneficiado por uma negociação de altos escalões que transformou a CPMI do Cachoeira em pizza, e calou o PT.
Apesar do desgaste político, a estratégia do tucano de defesa baseada no ataque ao arqui-inimigo Lula deu certo, porque ele sobreviveu politicamente. Sobrevive
Agora Marconi, redivivo, retoma a guerra. E declara: "Nunca foi tão difícil fazer oposição ao maior canalha deste país."
E faz isso bem no momento em que é alvo de mais uma denúncia, da revista Carta Capital.
Carta Capital vem desvendando uma rede de arapongagem em Goiás que tem como protagonista o governo Goiás e seus atrapalhados assessores e defensores.
A quem o tucano atribui tudo? A Lula. Ele, a vítima; Lula, o agente do mal que nada mais faz na vida a não ser tentar destruí-lo.
Marconi sabe o que faz. A oposição em Goiás, incluindo o PT, é que parece não saber o que fazer.
Só comemorou vitória quando o povo foi às urnas. Por seus méritos, perde todas para o tucano.
Enquanto isso, o tempo passa e a canalhice se estabelece como lhe convém. Canalhas são sempre os outros.
Novas eleições vêm aí. Marconi não está morto. Literalmente, Lula é sua razão de viver. E ele vive. Vive pra contar histórias.
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