Por Alexandre Haubrich, no blog Jornalismo B:
A seletividade dos gritos por liberdade de imprensa deixa às claras o posicionamento político dos setores midiáticos brasileiros. Em mais uma disputa por terras, frequente em um Brasil de latifundiários nas cidades, na mídia e nos campos, um jornalista do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) teve seus equipamentos apreendidos pela Polícia Federal sem mandato e sem qualquer justificativa legal. O caso aconteceu em Sidrolândia (MS), onde seiscentas famílias indígenas Terena ocupam uma fazenda em uma área declarada em 2010 como de ocupação tradicional do povo Terena pelo Ministério da Justiça. O repórter Ruy Sposati teve confiscados um computador, um gravador e um leitor de cartões USB.
Os colunistas funcionários dos conglomerados de comunicação silenciaram, como silenciarão os autores dos editoriais dos grandes jornais. O Jornal Nacional também silenciou, assim como silenciaram portais de notícias. Os mesmos que gritam por liberdade de imprensa quando atingidos nada falam sobre o caso, provavelmente muitos dos mais cotados colunistas inclusive vibraram com o que costumam entender como direito da polícia a garantir a segurança.
Ruy Sposati trabalha para uma entidade que defende os direitos indígenas, algo pouco palatável para os setores mais conservadores – incluindo seus meios de comunicação e seus jornalistas. Pior ainda quando são indígenas que “ameaçam o progresso” ao “invadirem” terras cujos donos são “o motor da economia brasileira”, ou “o que garante a produção de alimentos”, ou seja, os grandes latifundiários que, como grande trabalho, possuem suas terras.
Para alguns setores midiáticos, para a mídia das elites, a liberdade de imprensa só interessa quando é a própria liberdade o que defendem. Em outros casos, o cerceamento à liberdade não importa, ou ainda é apoiado por esses setores. Há ainda casos em que os conglomerados são, pela via judicial, os próprios cerceadores. Sem falar no cerceamento à liberdade que a própria estrutura midiática brasileira carrega.
Casos de violência policial contra jornalistas se repetem pelo Brasil, e somam-se aos casos de violência judicial e à violência estrutural do monopólio da voz por um setor social. Ao silêncio das empresas junta-se inevitavelmente o silêncio de seus jornalistas, e a categoria segue violentada pela polícia, pela Justiça, pela estrutura midiática e pelos patrões, sem encontrar caminhos para a união que contribuiria na construção de um outro jornalismo, em condições de ser útil, comprometido e respeitado.
Cada um defende o direito à pseudoliberdade das grandes redações, defende seu salário e sua reserva de mercado, enquanto o outro, tão próximo de ser o próprio eu, é afastado, esquecido ou deliberadamente ignorado. Essa prática pode ser vista todos os dias nos veículos de comunicação dos conglomerados, em matérias sobre os mais diversos temas que, ao tratar de seres humanos, os retrata como mercadoria, como objeto para consumo. Perde-se a visão perspectiva, perde-se a noção da realidade, a noção das ruas. Por que seria diferente quando o outro é também um jornalista? Um a mais censurado, atacado, violentado, um a menos para concorrer comigo, uma notícia a mais ou que nem a isso chega. A não ser que seja eu.
* O mesmo jornalista, Ruy Sposati, já havia sido expulso do canteiro de obras do Sítio Belo Monte, próximo a Altamira, em mais uma ação de coerção que pouca ou nenhuma repercussão teve entre os veículos da mídia dominante.
Os colunistas funcionários dos conglomerados de comunicação silenciaram, como silenciarão os autores dos editoriais dos grandes jornais. O Jornal Nacional também silenciou, assim como silenciaram portais de notícias. Os mesmos que gritam por liberdade de imprensa quando atingidos nada falam sobre o caso, provavelmente muitos dos mais cotados colunistas inclusive vibraram com o que costumam entender como direito da polícia a garantir a segurança.
Ruy Sposati trabalha para uma entidade que defende os direitos indígenas, algo pouco palatável para os setores mais conservadores – incluindo seus meios de comunicação e seus jornalistas. Pior ainda quando são indígenas que “ameaçam o progresso” ao “invadirem” terras cujos donos são “o motor da economia brasileira”, ou “o que garante a produção de alimentos”, ou seja, os grandes latifundiários que, como grande trabalho, possuem suas terras.
Para alguns setores midiáticos, para a mídia das elites, a liberdade de imprensa só interessa quando é a própria liberdade o que defendem. Em outros casos, o cerceamento à liberdade não importa, ou ainda é apoiado por esses setores. Há ainda casos em que os conglomerados são, pela via judicial, os próprios cerceadores. Sem falar no cerceamento à liberdade que a própria estrutura midiática brasileira carrega.
Casos de violência policial contra jornalistas se repetem pelo Brasil, e somam-se aos casos de violência judicial e à violência estrutural do monopólio da voz por um setor social. Ao silêncio das empresas junta-se inevitavelmente o silêncio de seus jornalistas, e a categoria segue violentada pela polícia, pela Justiça, pela estrutura midiática e pelos patrões, sem encontrar caminhos para a união que contribuiria na construção de um outro jornalismo, em condições de ser útil, comprometido e respeitado.
Cada um defende o direito à pseudoliberdade das grandes redações, defende seu salário e sua reserva de mercado, enquanto o outro, tão próximo de ser o próprio eu, é afastado, esquecido ou deliberadamente ignorado. Essa prática pode ser vista todos os dias nos veículos de comunicação dos conglomerados, em matérias sobre os mais diversos temas que, ao tratar de seres humanos, os retrata como mercadoria, como objeto para consumo. Perde-se a visão perspectiva, perde-se a noção da realidade, a noção das ruas. Por que seria diferente quando o outro é também um jornalista? Um a mais censurado, atacado, violentado, um a menos para concorrer comigo, uma notícia a mais ou que nem a isso chega. A não ser que seja eu.
* O mesmo jornalista, Ruy Sposati, já havia sido expulso do canteiro de obras do Sítio Belo Monte, próximo a Altamira, em mais uma ação de coerção que pouca ou nenhuma repercussão teve entre os veículos da mídia dominante.
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