Por Leonardo Sakamoto, em seu blog:
Nenhum indicador é perfeito. Afinal de contas, é extremamente complexo mensurar qualidade de vida, fugindo das armadilhas da subjetividade e considerando uma miríade de variáveis. Isso sem contar que, não raro, utilizas-se como referência a qualidade de vida de determinada sociedade, pasteurizando o bem-estar mundial.
Portanto, um indicador não pode ser usado solitariamente para entender o que acontece em um país.
O Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios brasileiros, baseado em medidas de expectativa de vida, escolaridade e renda per capita, subiu 47,5% em duas décadas, passando do patamar “muito baixo” para “alto”.
O problema é que “renda per capita” dá margem a grandes distorções. Se uma única pessoa de uma comunidade ganha 50 e as outras 9 ganham, juntas, 50, a renda per capita é a mesma se todas as dez pessoas ganhassem 10. Qual comunidade é mais justa? Em qual há menos chance da convivência pacífica dar chabu?
De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o salário dos 10% mais pobres cresceu 91,2% entre 2000 e 2011, enquanto que a renda dos 10% mais ricos aumentou 16,6%. O Coeficente de Gini, que mede desigualdade social, vem caindo desde o início da década de 90 e estava em 0,527, em 2011, certamente estará menor quando saírem os números de 2012 (quanto mais próximo de zero, menor a desigualdade). Salários, Previdência Social, Bolsa Família contribuíram fundamentalmente para que isso acontecesse.
Porém, mesmo com as mudanças, a maior parte das riquezas continua na mão de pouca gente. Ainda estamos entre os 12 países mais desiguais do mundo.
Pois você acredita que qualidade de vida significa apenas ter cidadania pelo consumo, alcançando eletrodomésticos, carros populares e iogurte? Ótimo, você até comprou uma TV de LED, mas está endividado por ter que pagar o plano de saúde mequetrefe que te deixa na mão (porque não é mais “pobre” e não quer enfrentar a fila do SUS) e com a corda no pescoço pela dívida contraída com a sua faculdade caça-níqueis de qualidade duvidosa (educação básica universalizou, mas a qualidade não acompanhou). Afinal, você não tinha dinheiro para pagar um colégio particular e, portanto, não conseguiu entrar em uma universidade pública para fazer aquele sonhado curso de medicina.
Ou seja, foi importante o que avançamos. Mas isso ainda é migalha se comparado com os recursos que deveriam ser investidos para garantir serviços públicos de saúde e educação de qualidade, por exemplo.
Agora, vamos para o campo: de acordo com os dados do último Censo Agropecuário disponível (2006), do IBGE, o grau de concentração de terras no país permaneceu praticamente inalterado desde 1985. O Coeficente de Gini para o campo registra 0,854 pontos, patamar próximo aos dados verificados nas duas pesquisas anteriores: 0,856 (1995-1996) e 0,857 (1985). Quanto mais perto essa medida está do número 1, maior é a concentração na estrutura fundiária.
Isso confirma a estrutura agrária nacional como uma das mais desiguais do mundo. Enquanto os estabelecimentos rurais de menos de 10 hectares ocupam 2,7% da soma de propriedades rurais, as fazendas com mais de 1 mil hectares concentram 43% da área total.
Mas parece que muita gente, inclusive quem se diz de esquerda, esqueceu que indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caiçaras, camponeses, comunidades de fundo de pasto e trabalhadores rurais passam por um inferno por conta desses números acima. Gente que nunca deixou de protestar e ir às ruas levar bala da polícia, tendo que aguentar os beicinhos desabonadores de apresentadores de telejornais que leem notícias de ocupações de terrano teleprompter.
Enfim, ainda fazemos parte do seleto grupo de países ricos com altíssima concentração de riqueza e respeito insuficiente aos direitos humanos. Situação que não vai mudar tão cedo, tendo em vista que a estrutura que a sustenta muda muito lentamente. Não importa o quão forte torturemos os números, fazendo leituras descotextualizadas, para acelerar o processo.
Em tempo: estava com medo de parecer fora de moda ao falar de desigualdade social, mas aí o Itaú Unibanco divulgou, nesta terça (30), que lucrou R$ 7,055 bilhões no primeiro semestre deste ano. Matéria bem sacada do UOL mostra que esse valor é maior que a economia de 33 países. Ou seja, nenhuma crítica à desigualdade social é pesada demais neste contexto.
Nenhum indicador é perfeito. Afinal de contas, é extremamente complexo mensurar qualidade de vida, fugindo das armadilhas da subjetividade e considerando uma miríade de variáveis. Isso sem contar que, não raro, utilizas-se como referência a qualidade de vida de determinada sociedade, pasteurizando o bem-estar mundial.
Portanto, um indicador não pode ser usado solitariamente para entender o que acontece em um país.
O Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios brasileiros, baseado em medidas de expectativa de vida, escolaridade e renda per capita, subiu 47,5% em duas décadas, passando do patamar “muito baixo” para “alto”.
O problema é que “renda per capita” dá margem a grandes distorções. Se uma única pessoa de uma comunidade ganha 50 e as outras 9 ganham, juntas, 50, a renda per capita é a mesma se todas as dez pessoas ganhassem 10. Qual comunidade é mais justa? Em qual há menos chance da convivência pacífica dar chabu?
De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o salário dos 10% mais pobres cresceu 91,2% entre 2000 e 2011, enquanto que a renda dos 10% mais ricos aumentou 16,6%. O Coeficente de Gini, que mede desigualdade social, vem caindo desde o início da década de 90 e estava em 0,527, em 2011, certamente estará menor quando saírem os números de 2012 (quanto mais próximo de zero, menor a desigualdade). Salários, Previdência Social, Bolsa Família contribuíram fundamentalmente para que isso acontecesse.
Porém, mesmo com as mudanças, a maior parte das riquezas continua na mão de pouca gente. Ainda estamos entre os 12 países mais desiguais do mundo.
Pois você acredita que qualidade de vida significa apenas ter cidadania pelo consumo, alcançando eletrodomésticos, carros populares e iogurte? Ótimo, você até comprou uma TV de LED, mas está endividado por ter que pagar o plano de saúde mequetrefe que te deixa na mão (porque não é mais “pobre” e não quer enfrentar a fila do SUS) e com a corda no pescoço pela dívida contraída com a sua faculdade caça-níqueis de qualidade duvidosa (educação básica universalizou, mas a qualidade não acompanhou). Afinal, você não tinha dinheiro para pagar um colégio particular e, portanto, não conseguiu entrar em uma universidade pública para fazer aquele sonhado curso de medicina.
Ou seja, foi importante o que avançamos. Mas isso ainda é migalha se comparado com os recursos que deveriam ser investidos para garantir serviços públicos de saúde e educação de qualidade, por exemplo.
Agora, vamos para o campo: de acordo com os dados do último Censo Agropecuário disponível (2006), do IBGE, o grau de concentração de terras no país permaneceu praticamente inalterado desde 1985. O Coeficente de Gini para o campo registra 0,854 pontos, patamar próximo aos dados verificados nas duas pesquisas anteriores: 0,856 (1995-1996) e 0,857 (1985). Quanto mais perto essa medida está do número 1, maior é a concentração na estrutura fundiária.
Isso confirma a estrutura agrária nacional como uma das mais desiguais do mundo. Enquanto os estabelecimentos rurais de menos de 10 hectares ocupam 2,7% da soma de propriedades rurais, as fazendas com mais de 1 mil hectares concentram 43% da área total.
Mas parece que muita gente, inclusive quem se diz de esquerda, esqueceu que indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caiçaras, camponeses, comunidades de fundo de pasto e trabalhadores rurais passam por um inferno por conta desses números acima. Gente que nunca deixou de protestar e ir às ruas levar bala da polícia, tendo que aguentar os beicinhos desabonadores de apresentadores de telejornais que leem notícias de ocupações de terrano teleprompter.
Enfim, ainda fazemos parte do seleto grupo de países ricos com altíssima concentração de riqueza e respeito insuficiente aos direitos humanos. Situação que não vai mudar tão cedo, tendo em vista que a estrutura que a sustenta muda muito lentamente. Não importa o quão forte torturemos os números, fazendo leituras descotextualizadas, para acelerar o processo.
Em tempo: estava com medo de parecer fora de moda ao falar de desigualdade social, mas aí o Itaú Unibanco divulgou, nesta terça (30), que lucrou R$ 7,055 bilhões no primeiro semestre deste ano. Matéria bem sacada do UOL mostra que esse valor é maior que a economia de 33 países. Ou seja, nenhuma crítica à desigualdade social é pesada demais neste contexto.
0 comentários:
Postar um comentário