Por Marcelo Semer, no blog Sem Juízo:
Quando peruas de transmissão da Rede Globo começaram a ser vistas em comícios da campanha das Diretas-Já, em 1984, as pessoas entoavam canto que ficou célebre: o povo não é bobo.
O início da campanha das Diretas havia sido completamente ignorado nos telejornais da emissora. Se dependesse apenas de suas imagens, os brasileiros não saberiam o tamanho do movimento político que percorria o Brasil.
Trinta anos depois, de uma forma um pouco mais explícita, mas também para pegar carona na onda de manifestações, a Globo divulgou avaliação de que seu apoio ao golpe militar foi um erro e que a crítica ‘das ruas’ a esse respeito estava certa.
“A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura”.
Provavelmente ainda a estaria apoiando se ela tivesse continuado no poder. O ato da emissora, agora, é mais ou menos como o arrependimento de um réu, que só se dá após sofrer as consequências de seu ato.
A admissão do ‘erro’ não passou, todavia, de uma meia culpa, pois em vários momentos o jornal tenha eximir-se da própria responsabilidade ao fazê-lo.
Primeiro, alegando que vários outros órgãos de imprensa também emprestaram o seu apoio, como se isto de alguma forma lhe isentasse de culpa.
Depois, justifica-se a si própria, utilizando hoje a tese propagada pelos militares de então: a absurda concepção de que o golpe foi dado para proteger a democracia. Uma espécie enviesada de legítima defesa de uma agressão que jamais ocorreu.
E enfim, de forma canhestra, o texto afirma que a reflexão sequer é nova, porque o próprio patrono da organização, que cresceu como nenhuma outra empresa de comunicação nos anos de chumbo, já havia feito anteriormente discursos críticos.
Mas o artigo que o editorial reproduz, duas décadas após o início da ditadura, afirma que Roberto Marinho “deixava clara a sua crença de que a intervenção fora imprescindível para a manutenção da democracia e, depois, para conter a irrupção da guerrilha urbana” e ainda revelava uma relação da emissora de apoio duradouro ao regime, mantendo-se fiel “ao espírito da revolução”. Isso já em 1984…
O fato mais grave nem é que um grande empresário, como vários outros, tenha aderido de corpo e alma a um golpe contra a democracia. Sem eles, aliás, a ditadura jamais teria se imposto.
Mas que, em se tratando de um órgão de comunicação, tenha sepultado a sua própria razão de existir ao fazê-lo, pois para manter-se fiel ao espírito da ‘revolução’ (ou seja, golpe), impediu que muitas informações viessem à tona, mesmo depois do fim da censura.
Não foi por outra razão que a campanha das Diretas desaparecia das telas da Globo, como viria mais tarde a acontecer com a manipulação do debate que antecedeu a eleição de Collor e tantos outros fatos que a emissora optou em ocultar como se agisse na condução de um partido político –com a agravante de se tratar de uma concessão outorgada pelo Estado brasileiro.
Como nunca é tarde para admitir erros, o mínimo que a empresa de comunicação poderia fazer, para buscar agora a sua compliance, seria aderir integralmente, sem meios termos, aos propósitos da Comissão Nacional da Verdade e ajudar a reescrever a história devolvendo o turbilhão de informações que nos foram sonegadas nesses anos todos.
Em especial, abrindo os arquivos da promíscua relação entre imprensa e poder, que ajudou a dar longevidade à ditadura.
Menos do que isso, não passará de mais um oportunismo de ocasião. E como o povo não é bobo…
Quando peruas de transmissão da Rede Globo começaram a ser vistas em comícios da campanha das Diretas-Já, em 1984, as pessoas entoavam canto que ficou célebre: o povo não é bobo.
O início da campanha das Diretas havia sido completamente ignorado nos telejornais da emissora. Se dependesse apenas de suas imagens, os brasileiros não saberiam o tamanho do movimento político que percorria o Brasil.
Trinta anos depois, de uma forma um pouco mais explícita, mas também para pegar carona na onda de manifestações, a Globo divulgou avaliação de que seu apoio ao golpe militar foi um erro e que a crítica ‘das ruas’ a esse respeito estava certa.
“A verdade é dura, a Globo apoiou a ditadura”.
Provavelmente ainda a estaria apoiando se ela tivesse continuado no poder. O ato da emissora, agora, é mais ou menos como o arrependimento de um réu, que só se dá após sofrer as consequências de seu ato.
A admissão do ‘erro’ não passou, todavia, de uma meia culpa, pois em vários momentos o jornal tenha eximir-se da própria responsabilidade ao fazê-lo.
Primeiro, alegando que vários outros órgãos de imprensa também emprestaram o seu apoio, como se isto de alguma forma lhe isentasse de culpa.
Depois, justifica-se a si própria, utilizando hoje a tese propagada pelos militares de então: a absurda concepção de que o golpe foi dado para proteger a democracia. Uma espécie enviesada de legítima defesa de uma agressão que jamais ocorreu.
E enfim, de forma canhestra, o texto afirma que a reflexão sequer é nova, porque o próprio patrono da organização, que cresceu como nenhuma outra empresa de comunicação nos anos de chumbo, já havia feito anteriormente discursos críticos.
Mas o artigo que o editorial reproduz, duas décadas após o início da ditadura, afirma que Roberto Marinho “deixava clara a sua crença de que a intervenção fora imprescindível para a manutenção da democracia e, depois, para conter a irrupção da guerrilha urbana” e ainda revelava uma relação da emissora de apoio duradouro ao regime, mantendo-se fiel “ao espírito da revolução”. Isso já em 1984…
O fato mais grave nem é que um grande empresário, como vários outros, tenha aderido de corpo e alma a um golpe contra a democracia. Sem eles, aliás, a ditadura jamais teria se imposto.
Mas que, em se tratando de um órgão de comunicação, tenha sepultado a sua própria razão de existir ao fazê-lo, pois para manter-se fiel ao espírito da ‘revolução’ (ou seja, golpe), impediu que muitas informações viessem à tona, mesmo depois do fim da censura.
Não foi por outra razão que a campanha das Diretas desaparecia das telas da Globo, como viria mais tarde a acontecer com a manipulação do debate que antecedeu a eleição de Collor e tantos outros fatos que a emissora optou em ocultar como se agisse na condução de um partido político –com a agravante de se tratar de uma concessão outorgada pelo Estado brasileiro.
Como nunca é tarde para admitir erros, o mínimo que a empresa de comunicação poderia fazer, para buscar agora a sua compliance, seria aderir integralmente, sem meios termos, aos propósitos da Comissão Nacional da Verdade e ajudar a reescrever a história devolvendo o turbilhão de informações que nos foram sonegadas nesses anos todos.
Em especial, abrindo os arquivos da promíscua relação entre imprensa e poder, que ajudou a dar longevidade à ditadura.
Menos do que isso, não passará de mais um oportunismo de ocasião. E como o povo não é bobo…
1 comentários:
A justiça tem que fechar essa organização criminosa.
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