Foto: Felipe Trueba (Efe) |
O 11 de setembro da América Latina está completando 40 anos. Trata-se de uma data trágica que corresponde ao golpe comandado pelo general Augusto Pinochet que derrubou o Presidente constitucional Salvador Allende. Muito se denunciou sobre a participação dos Estados Unidos comprovada por inúmeros documentos oficiais demonstrando a culpa no cartório do então Secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger.
Nestes dias, documentos da chancelaria do Chile tornados públicos confirmam a participação também do Governo do então ditador de plantão Garrastazu Médici no golpe sangrento. A embaixada brasileira tornou-se inclusive num espaço de apoio aos golpistas. O chefe da representação diplomática, embaixador Câmara Canto, esteve de braços dados com militares que transformaram o Chile numa espécie de sucursal do inferno. Tanto assim que quando se confirmou a vitória dos golpistas, Câmara Canto comemorou com seus asseclas abrindo champagne.
Logo após o golpe, o governo brasileiro colaborou financeiramente com a ditadura e assim sucessivamente. Mesmo antes do golpe, a ditadura civil militar vigente no Brasil respaldava os chilenos de extrema direita. Documentos tornados públicos no Chile comprovam a participação de brasileiros em apoio a grupos extremistas de direita como o Patria y Libertad.
Matéria do jornal O Estado de S. Paulo informa que em julho de 1973, o Brasil concedeu asilo político a Eduardo Roberto Keymer Aguirre, identificado como integrante do Patria y Libertad. A concessão ocorreu quatro dias depois que os extremistas assassinaram um ajudante de ordens de Allende, o capitão Arturo Araya Peeters.
Os vínculos da extrema direita chilena com extremistas brasileiros não se resumiram a este fato. Anos atrás, o cientista político René Dreifuss em seu livro “A Internacional capitalista” revelou que o jornalista Aristóteles Drummond, uma figura nefasta vinculada até hoje a antigos golpistas da pior espécie, fornecia armas para os extremistas do Patria y Libertad. Há tempos este espaço democrático divulgou a informação veiculada no importante trabalho de pesquisa de René Dreifuss sobre o extremista brasileiro acusado inclusive de responsável pela explosão de uma bomba numa exposição soviética no Rio de Janeiro.
Pois bem, na reportagem do Estadão sobre os documentos divulgados nestes dias no Chile aparece novamente o nome de Aristóteles Drumond como um dos brasileiros que teria transportado recursos para os chilenos que preparavam o golpe contra Salvador Allende.
Questionado pelo jornal paulista, Aristóteles Drummond preferiu não assumir diretamente a ajuda fornecida, mas a sua resposta é um reconhecimento da ajuda. Analisem bem o que disse este senhor que todo ano aparece no Clube Militar para comemorar o golpe que levou o Brasil a ingressar numa noite escura de 21 anos. "Eu não levei, mas teria levado. Tenho o sentimento de que os brasileiros amigos do Chile tenham (enviado dinheiro). Sou de classe média, mas, se corresse uma lista aqui para dar US$ 500 (a grupos anti-Allende), eu daria do meu bolso. Acho que o general Pinochet foi decisivo para evitar a criação de uma sucursal de Cuba no Pacífico. Pinochet salvou o Chile, assim como os militares salvaram o Brasil."
Aristóteles Drummond, que chegou a ocupar um cargo de confiança no governo Negrão de Lima na área de habitação, não foi perguntado pelo Estadão sobre a denúncia de René Dreifuss do fornecimento de armas ao grupo Patria y Libertad, Mas se em algum momento for perguntado sobre o tema, provavelmente não confirmará integralmente a ação, mas o teor da reposta será nos moldes da que deu ao Estadão.
Tais fatos são importantes de serem conhecidos pela opinião pública e ajudarão também à Comissão da Verdade a concluir seu relatório sobre os trágicos acontecimentos ocorridos no Brasil depois do golpe de estado que derrubou o Presidente constitucional João Goulart.
O caso de Aristóteles Drumond é bastante emblemático e não será nenhuma surpresa se outros documentos a serem tornados públicos apontarem a participação de outros brasileiros que seguiram impunes ao longo do tempo. É também uma demonstração concreta segundo a qual o golpe no Brasil não foi apenas de conotação militar, mas civil também
Por estas e muitas outras não bastam apenas autocríticas de estilo marqueteiro, como fez recentemente O Globo, sobre o golpe de 64. No caso das Organizações Globo, que ao longo dos anos se transformaram numa espécie de diário oficial dos detentores de fato do poder, teria que acontecer um reconhecimento que além do “erro editorial” do apoio ao golpe, o grupo midiático então comandado por Roberto Marinho, como diria Leonel Brizola, engordou na estufa da ditadura.
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