Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:
As interpretações sobre a contratação do blogueiro da revista Veja Reinaldo Azevedo pelo jornal Folha de São Paulo foram unânimes – até entre o antipetismo – e óbvias: o jornal trouxe para o seu time de colunistas um militante antipetista com vistas a combater com maior ímpeto e virulência a reeleição de Dilma Rousseff, ano que vem.
Ao pé do primeiro artigo do dito “pit bull” do “jornalismo” de direita no Brasil, a Folha como que oferece uma argumentação contra a tese de que teria “endireitado” com a presença de Azevedo em suas páginas. Enumera o time de colunistas do caderno Poder (política) em cada dia da semana. Ficou assim:
Segunda-feira: Ricardo Melo
Terça-feira: Janio de Freitas
Quarta-feira: Elio Gaspari
Quinta-feira: Janio de Freitas
Sexta-feira: Reinaldo Azevedo
Sábado: Demétrio Magnoli
Domingo: Janio de Freitas e Elio Gaspari
A Folha, obviamente, argumenta contra a tese de ter “endireitado” com o espaço maior (3 artigos na semana) dado a Janio de Freitas – que, apesar de ter em seu currículo fortes críticas ao PT, é acusado hoje pela direita de ser “petista” por ter divergido da forma como se deu o julgamento do mensalão.
O fato inescapável é o de que, à exceção de Azevedo, nenhum dos outros colunistas do caderno Poder da Folha pode ser considerado militante político, ainda que todos, à exceção de Janio, tendam para o antipetismo. Mas atuam no estilo uma no cravo e outra na ferradura. Mesmo Demétrio Magnoli, o segundo mais antipetista, mantém as aparências…
O que é significativo na contratação de Azevedo, portanto, é que, agora, a Folha tem um militante político em seu time de colunistas. Azevedo não faz jornalismo, faz política – o que é legítimo desde que seja bem explicado e assumido por quem faz e pelo veículo que lhe dá espaço, o que não foi feito.
A obviedade da razão da contratação de Azevedo, portanto, dispensa mais comentários. O que se quer aqui, então, é mostrar o péssimo exemplo que o novo colunista da Folha e ela mesma dão aos jovens jornalistas.
Para chegar ao ponto central deste texto temos que voltar a 2000, no estertor do governo Fernando Henrique Cardoso. Naquele momento, o ex-ministro das Comunicações (daquele governo) Luiz Carlos Mendonça de Barros funda a revista Primeira Leitura e contrata dois jornalistas para tocá-la: Rui Nogueira e Reinaldo Azevedo.
Primeira Leitura foi criada para vender teses neoliberais, para atacar o PT – que já se aproximava perigosamente de eleger o próximo presidente da República – e para combater, no PSDB, o grupo do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, que era combatido por José Serra no âmbito da guerra entre “desenvolvimentistas” e conservadores (uma redundância) no governo tucano.
Em 2000, todos conheciam jornalistas como Clóvis Rossi, Eliane Cantanhêde, Dora Kramer, José Nêumanne Pinto, Elio Gaspari, Janio de Freitas e tantos outros, mas Azevedo era um ilustre desconhecido. Passou rapidamente pela Folha de São Paulo na década de 1990, onde teve atuação apagada – foi editor-adjunto de política.
Naquele ano, a revista Primeira Leitura e seu site chamaram atenção pelo nome de seu criador, o polêmico Mendonça de Barros, defenestrado do governo FHC no âmbito de um escândalo que, “no limite da irresponsabilidade”, deu visibilidade ao que ficaria conhecido como “A Privataria Tucana”.
Azevedo, então com 38 anos – e que hoje vem sendo tão festejado pela direita “nacional” –, tinha um perfil muito diferente do atual, quando se coloca quase como uma “divindade”, dizendo-se acima de seus críticos menos eminentes ou desconhecidos, conferindo a si mesmo a importância de uma “celebridade” ou coisa que o valha.
À época da Primeira Leitura, no limiar do novo século, porém, ele era um dos encarregados de mediar os comentários de leitores no site de Primeira Leitura – veja só, leitor…. E foi ali que nos “conhecemos” virtualmente.
Reconheçamos que Azevedo já era antipetista, à época. Era antipetista quando o PT era oposição e continuou sendo quando virou situação – mas deixou de ser governista quando o PSDB perdeu o poder, claro.
Em 2000, eu já era simpatizante do PT e fustigava o veículo chapa-branca em que Azevedo trabalhava através dos meus comentários de leitor. Por ser um veículo pequeno e inexpressivo, os dois editores da revista (Azevedo e Nogueira) mediavam os comentários e chegavam a responder aos comentaristas – que diferença do Azevedo de hoje, não?
Aliás, Azevedo chegava a enviar e-mails aos comentaristas. Por conta disso, eu e ele passamos a trocar mensagens, o que durou quase um ano – toda semana, mais de uma vez.
Este blogueiro, à época, já fazia um trabalho que hoje você confere na Blogosfera, mas que, à época, era feito via lista de e-mails. Eu tinha uma lista com centenas e centenas de endereços e, assim, incluí Azevedo, que, vira e mexe, comentava o que eu escrevia – e tenho tudo isso no HD de um computador velho e quebrado, que um dia irei resgatar.
Posso garantir que nunca, nos debates por e-mail que travei com Azevedo, senti-me perdedor. E, aliás, uma vez senti-me vencedor. Tanto que o próprio tratou de me oferecer espaço no site da Primeira Leitura para rebater o texto que eu e ele debatêramos por e-mail.
Eu, claro, não aceitei. Disse a Azevedo que não tinha interesse de me dirigir àquele leitorado reacionário e antipetista que, tal qual ocorre hoje em seu blog, infestava a caixa de comentários do site de Primeira Leitura. Mas considerei a oferta do então humanizado Azevedo – que trocava ideias com qualquer um – uma vitória moral naquele debate.
Azevedo não era ninguém. Era, isso sim, um ilustre desconhecido. Mas isso iria mudar.
Mesmo com ajuda do PSDB, a revista Primeira Leitura não vingou. Morreria em 2006 apesar de o governo tucano de São Paulo, então comandado por Geraldo Alckmin – que, naquele ano, disputaria a Presidência com Lula –, ter inundado o veículo com dinheiro público, como mostrou o Escândalo Nossa Caixa.
Em 2004, Azevedo e Nogueira “comprariam” a revista de Mendonça de Barros em “suaves prestações”. Tudo ia bem até que, em 2005, ventilou-se que o governo tucano de São Paulo enchia aquela revista, entre outros veículos, de dinheiro público. Logo em seguida, estourou o escândalo Nossa Caixa. Dali em diante, a fonte secou e, um ano depois, Primeira Leitura foi pro brejo.
Apesar de até 2005 ou 2006 Azevedo ter sido um jornalista apagado, nunca deixei de reconhecer sua capacidade retórica. Além de dominar muito bem o idioma, ele conhece todas as táticas dos grandes teóricos do debate e, assim, é capaz de manipular ideias separando frases, buscando pontos fracos em argumentações que distorce em favor de seus objetivos.
A “capacidade” de Azevedo foi logo vista pelo PSDB, via Mendonça de Barros. Assim, foi recomendado à Veja, que o tirou do ostracismo dando-lhe uma coluna na revista e um blog no seu portal na internet. A partir dali, devido ao imenso espaço que sua opção política lhe garantiu, tornou-se amplamente popular entre o que há de mais atrasado na sociedade.
Reinaldo Azevedo se tornaria, pois, o “herói” das viúvas da ditadura, dos homofóbicos, dos preconceituosos de todo tipo, enfim, de uma elite que não suporta a ascensão social e a redução da desigualdade, da pobreza e da miséria que se produziu no Brasil ao longo da última década.
O substantivo masculino carreirismo, para quem não sabe, deriva do adjetivo de dois gêneros carreirista. Segundo o Houaiss, o carreirista é “Aquele que, para vencer na vida com rapidez, usa de métodos moralmente condenáveis”. Com efeito, apresentar-se como “jornalista” em vez de militante político, como faz Azevedo, é moralmente condenável.
O novo colunista da Folha chegou aos 40 anos sem se projetar na profissão que escolhera. Então, resolveu se tornar um pistoleiro político e se deu bem.
A ascensão de Azevedo, que agora tem espaço no dito “maior jornal do país”, porém, é péssimo exemplo para jovens jornalistas. Coroa método de subir na profissão que afronta sua natureza. Em vez de assumir sua militância política, como faço, os Azevedos do jornalismo tentam enganar o público dizendo-se “isentos”.
Mesmo que não enganem a ninguém.
As interpretações sobre a contratação do blogueiro da revista Veja Reinaldo Azevedo pelo jornal Folha de São Paulo foram unânimes – até entre o antipetismo – e óbvias: o jornal trouxe para o seu time de colunistas um militante antipetista com vistas a combater com maior ímpeto e virulência a reeleição de Dilma Rousseff, ano que vem.
Ao pé do primeiro artigo do dito “pit bull” do “jornalismo” de direita no Brasil, a Folha como que oferece uma argumentação contra a tese de que teria “endireitado” com a presença de Azevedo em suas páginas. Enumera o time de colunistas do caderno Poder (política) em cada dia da semana. Ficou assim:
Segunda-feira: Ricardo Melo
Terça-feira: Janio de Freitas
Quarta-feira: Elio Gaspari
Quinta-feira: Janio de Freitas
Sexta-feira: Reinaldo Azevedo
Sábado: Demétrio Magnoli
Domingo: Janio de Freitas e Elio Gaspari
A Folha, obviamente, argumenta contra a tese de ter “endireitado” com o espaço maior (3 artigos na semana) dado a Janio de Freitas – que, apesar de ter em seu currículo fortes críticas ao PT, é acusado hoje pela direita de ser “petista” por ter divergido da forma como se deu o julgamento do mensalão.
O fato inescapável é o de que, à exceção de Azevedo, nenhum dos outros colunistas do caderno Poder da Folha pode ser considerado militante político, ainda que todos, à exceção de Janio, tendam para o antipetismo. Mas atuam no estilo uma no cravo e outra na ferradura. Mesmo Demétrio Magnoli, o segundo mais antipetista, mantém as aparências…
O que é significativo na contratação de Azevedo, portanto, é que, agora, a Folha tem um militante político em seu time de colunistas. Azevedo não faz jornalismo, faz política – o que é legítimo desde que seja bem explicado e assumido por quem faz e pelo veículo que lhe dá espaço, o que não foi feito.
A obviedade da razão da contratação de Azevedo, portanto, dispensa mais comentários. O que se quer aqui, então, é mostrar o péssimo exemplo que o novo colunista da Folha e ela mesma dão aos jovens jornalistas.
Para chegar ao ponto central deste texto temos que voltar a 2000, no estertor do governo Fernando Henrique Cardoso. Naquele momento, o ex-ministro das Comunicações (daquele governo) Luiz Carlos Mendonça de Barros funda a revista Primeira Leitura e contrata dois jornalistas para tocá-la: Rui Nogueira e Reinaldo Azevedo.
Primeira Leitura foi criada para vender teses neoliberais, para atacar o PT – que já se aproximava perigosamente de eleger o próximo presidente da República – e para combater, no PSDB, o grupo do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, que era combatido por José Serra no âmbito da guerra entre “desenvolvimentistas” e conservadores (uma redundância) no governo tucano.
Em 2000, todos conheciam jornalistas como Clóvis Rossi, Eliane Cantanhêde, Dora Kramer, José Nêumanne Pinto, Elio Gaspari, Janio de Freitas e tantos outros, mas Azevedo era um ilustre desconhecido. Passou rapidamente pela Folha de São Paulo na década de 1990, onde teve atuação apagada – foi editor-adjunto de política.
Naquele ano, a revista Primeira Leitura e seu site chamaram atenção pelo nome de seu criador, o polêmico Mendonça de Barros, defenestrado do governo FHC no âmbito de um escândalo que, “no limite da irresponsabilidade”, deu visibilidade ao que ficaria conhecido como “A Privataria Tucana”.
Azevedo, então com 38 anos – e que hoje vem sendo tão festejado pela direita “nacional” –, tinha um perfil muito diferente do atual, quando se coloca quase como uma “divindade”, dizendo-se acima de seus críticos menos eminentes ou desconhecidos, conferindo a si mesmo a importância de uma “celebridade” ou coisa que o valha.
À época da Primeira Leitura, no limiar do novo século, porém, ele era um dos encarregados de mediar os comentários de leitores no site de Primeira Leitura – veja só, leitor…. E foi ali que nos “conhecemos” virtualmente.
Reconheçamos que Azevedo já era antipetista, à época. Era antipetista quando o PT era oposição e continuou sendo quando virou situação – mas deixou de ser governista quando o PSDB perdeu o poder, claro.
Em 2000, eu já era simpatizante do PT e fustigava o veículo chapa-branca em que Azevedo trabalhava através dos meus comentários de leitor. Por ser um veículo pequeno e inexpressivo, os dois editores da revista (Azevedo e Nogueira) mediavam os comentários e chegavam a responder aos comentaristas – que diferença do Azevedo de hoje, não?
Aliás, Azevedo chegava a enviar e-mails aos comentaristas. Por conta disso, eu e ele passamos a trocar mensagens, o que durou quase um ano – toda semana, mais de uma vez.
Este blogueiro, à época, já fazia um trabalho que hoje você confere na Blogosfera, mas que, à época, era feito via lista de e-mails. Eu tinha uma lista com centenas e centenas de endereços e, assim, incluí Azevedo, que, vira e mexe, comentava o que eu escrevia – e tenho tudo isso no HD de um computador velho e quebrado, que um dia irei resgatar.
Posso garantir que nunca, nos debates por e-mail que travei com Azevedo, senti-me perdedor. E, aliás, uma vez senti-me vencedor. Tanto que o próprio tratou de me oferecer espaço no site da Primeira Leitura para rebater o texto que eu e ele debatêramos por e-mail.
Eu, claro, não aceitei. Disse a Azevedo que não tinha interesse de me dirigir àquele leitorado reacionário e antipetista que, tal qual ocorre hoje em seu blog, infestava a caixa de comentários do site de Primeira Leitura. Mas considerei a oferta do então humanizado Azevedo – que trocava ideias com qualquer um – uma vitória moral naquele debate.
Azevedo não era ninguém. Era, isso sim, um ilustre desconhecido. Mas isso iria mudar.
Mesmo com ajuda do PSDB, a revista Primeira Leitura não vingou. Morreria em 2006 apesar de o governo tucano de São Paulo, então comandado por Geraldo Alckmin – que, naquele ano, disputaria a Presidência com Lula –, ter inundado o veículo com dinheiro público, como mostrou o Escândalo Nossa Caixa.
Em 2004, Azevedo e Nogueira “comprariam” a revista de Mendonça de Barros em “suaves prestações”. Tudo ia bem até que, em 2005, ventilou-se que o governo tucano de São Paulo enchia aquela revista, entre outros veículos, de dinheiro público. Logo em seguida, estourou o escândalo Nossa Caixa. Dali em diante, a fonte secou e, um ano depois, Primeira Leitura foi pro brejo.
Apesar de até 2005 ou 2006 Azevedo ter sido um jornalista apagado, nunca deixei de reconhecer sua capacidade retórica. Além de dominar muito bem o idioma, ele conhece todas as táticas dos grandes teóricos do debate e, assim, é capaz de manipular ideias separando frases, buscando pontos fracos em argumentações que distorce em favor de seus objetivos.
A “capacidade” de Azevedo foi logo vista pelo PSDB, via Mendonça de Barros. Assim, foi recomendado à Veja, que o tirou do ostracismo dando-lhe uma coluna na revista e um blog no seu portal na internet. A partir dali, devido ao imenso espaço que sua opção política lhe garantiu, tornou-se amplamente popular entre o que há de mais atrasado na sociedade.
Reinaldo Azevedo se tornaria, pois, o “herói” das viúvas da ditadura, dos homofóbicos, dos preconceituosos de todo tipo, enfim, de uma elite que não suporta a ascensão social e a redução da desigualdade, da pobreza e da miséria que se produziu no Brasil ao longo da última década.
O substantivo masculino carreirismo, para quem não sabe, deriva do adjetivo de dois gêneros carreirista. Segundo o Houaiss, o carreirista é “Aquele que, para vencer na vida com rapidez, usa de métodos moralmente condenáveis”. Com efeito, apresentar-se como “jornalista” em vez de militante político, como faz Azevedo, é moralmente condenável.
O novo colunista da Folha chegou aos 40 anos sem se projetar na profissão que escolhera. Então, resolveu se tornar um pistoleiro político e se deu bem.
A ascensão de Azevedo, que agora tem espaço no dito “maior jornal do país”, porém, é péssimo exemplo para jovens jornalistas. Coroa método de subir na profissão que afronta sua natureza. Em vez de assumir sua militância política, como faço, os Azevedos do jornalismo tentam enganar o público dizendo-se “isentos”.
Mesmo que não enganem a ninguém.
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