Por Saul Leblon, no sítio Carta Maior:
Carta Maior não tem por hábito reproduzir textos da mídia conservadora, mas abre uma exceção hoje pelo elevado teor pedagógico que o caso encerra.
A guerra das expectativas, como se sabe, orienta a pauta dominante nos dias que correm.
O julgamento-espetáculo do chamado ‘mensalão’, um notável esforço de desossar o campo progressista a ponto de torna-lo incapaz de se equilibrar em um palanque, proporcionou retorno abaixo do esperado.
A sofreguidão midiática, e um desempenho excessivamente desfrutável das togas, atravessou o Rubicão a partir do qual o discernimento enxerga a mão do cambalacho.
A cavalaria do jornalismo econômico assumiu, desde então, o comando das operações.
Justifica-se.
Se a meta é estrangular o horizonte das esperanças nacionais, e por extensão quem conduz há 12 anos a agenda do desenvolvimento socialmente progressista, a guerra das expectativas é o instrumento competente.
A frota mais adestrada nesse campo de batalha é o jornalismo econômico.
Filho dileto da ditadura, quando exorbitou na narrativa áulica do regime, firmou-se desde então como a editoria predileta dos donos de jornais, por razões imagináveis de tesouraria e prestígio.
Ainda hoje, é a área das redações em que vigoram os mais altos salários, e aquela mais coesa na genuflexão à agenda neoliberal.
Da vassalagem ao intervencionismo fardado, que arrochava salários com a repressão aos sindicatos, o noticioso econômico baldeou-se sem escala para a defesa incondicional dos mercados desregulados, em especial, o financeiro.
Talvez haja mais coerência do que se imagina nessa dupla militância.
O que antes se esmagava, literalmente, com instrumentos e métodos rudimentares, hoje se dobra de joelhos com a sofisticada hegemonia assegurada às leis de mercado.
Ou não será essa a essência da recorrente defesa de um Banco Central independente --do Estado, da democracia e das urgências da sociedade?
O cerco em curso, portanto, está em mãos habilitadas. Trata-se de elevar ao paroxismo a incerteza intrínseca aos detentores da riqueza.
Instados permanentemente a optar entre a alocação do capital em investimento de longo curso (infraestrutura , por exemplo), ou a opção mórbida pela liquidez rentista de curto prazo, eles são o alvo da esférica e convicta fuzilaria das redações.
Induzir o dinheiro graúdo à primeira opção, associada a um projeto social que o conduza, constitui o desafio de vida ou morte do governo.
Abortar as chances de que isso aconteça, adicionando diuturnamente caçambas de incerteza ao estoque endógeno dos detentores da riqueza, é a missão à qual se dedica de corpo e alma a o noticioso econômico conservador com suas certezas graníticas sobre o que é melhor para o país, a sua gente e o seu desenvolvimento.
O troféu em jogo é o escrutínio de 2014, quando opções mais amigáveis, tingidas de verde ou rosa, podem assumir o bastão ao intervencionismo petista.
Não se pode dizer que o campo seja desfavorável ao time das redações.
O Brasil vive uma travessia de ciclo de desenvolvimento que agrega a vulnerabilidades de lavra própria (o câmbio valorizado, por exemplo), outras decorrentes da transição na economia mundial.
Não há receita de custo zero capaz de impulsionar o passo seguinte do desenvolvimento nesse campo movediço.
Debater as opções em curso, escrutinar seus ônus e bônus, sedimentar assim um chão mais firme e um protagonista social que o percorra, é o que dará coerência à macroeconomia do país de agora em diante.
Os centuriões encarregados de exacerbar a incerteza interditam esse debate e vetam as soluções progressistas cogitadas (leia a nota deste blog ‘A urgência à procura de um debate’).
Seu exclusivo, e ansioso, interesse é acelerar a contagem regressiva do tempo que falta para o país se revelar uma nação aos cacos, à espera do cola-tudo capaz de saneá-la: uma boa purga de arrocho fiscal e um choque de juros.
Essa pauta latejava sua sofreguidão nesta 4ª feira, quando o governo resolveu rebater, com números, o necrológio fiscal do país estampado nas páginas de alguns dos principais veículos conservadores.
Foi com o evidente propósito de avalizar esse diagnóstico que o jornal Valor Econômico se preparou para lançar uma pá de cal na cova teimosamente recusada pelo governo.
Um quadro de prestígio da ortodoxia nativa, o economista Joaquim Levy, foi escolhido para ser o principal entrevistado sobre o tema na edição da 4ª feira quente.
Não foi uma escolha aleatória.
Levy carrega predicados de peso. Formado em Chicago, meca do neoliberalismo, atuou como Secretário do Tesouro Nacional do governo Lula, durante a gestão de Antonio Palocci na Fazenda.
Levy encarnava então aquilo que muitos chegaram a classificar como a rendição do PT ao neoliberalismo.
Era a mão do arrocho fiscal na goela dos ideais e compromissos petistas.
Capacitou-se para isso diretamente na fonte servindo no FMI por sete anos (1992/1999).
Hoje, dirige um braço de gestão de recursos de investimento do Bradesco (BRAM).
Foi desse poleiro privilegiado do mercado que ele falou ao Valor.
Bem, o que disse – sem renunciar às diretrizes ortodoxas - desagradou profundamente a pauta preconcebida para corroborar o diagnóstico de um Brasil em marcha batida para o abismo.
A entrevista de Levy e as negativas do governo em aceitar a autópsia midiática elevariam a temperatura no ambiente do jornalismo isento.
Tanto assim que no site do jornal Valor, na mesma 4ª feira, guardiões do desastre iminente postaram uma acalorada nota no blog apropriadamente chamado: ‘Casa das Caldeiras’.
O pito no governo e em um Levy não nominado foi quase uma descompostura. Um sabão em quem resiste, ainda, em enxergar aquilo que o jornal tanto se esforça por demonstrar e difundir: ‘se não for hoje, de amanhã o Brasil não passa’. Ou, como diz o post do alto de sua condição de alter ego do mercado ,e como tal, sempre ancorado em um estratégico off de fonte inexcedível em saber e fazer: “É inegável que a piora dos indicadores e das expectativas estão agendando por bom tempo juro alto, inflação alta e baixo crescimento. Neste ano, sabemos que a agricultura e os investimentos darão fôlego à atividade. E no ano que vem? Como ficamos no ano que vem, com a desconfiança crescente entre financiadores e potenciais investidores...”
Repita-se, Carta Maior não tem por hábito transcrever a mídia conservadora . Mas os excertos abaixo, da entrevista mencionada e da admoestação professoral da parte ofendida, merecem ser coligidos.
Trata-se do testemunho de um garrote e de um tempo em que o jornalismo conservador assumiu a frente da guerra. Para salvar os livres mercados deles mesmos. E do governo que os ameaça.
Seguem-se excertos dessa jornada pedagógica de isenção das redações.
Primeiro, a entrevista de Joaquim Levy:
*****
Levy descarta abismo fiscal, mas defende metas claras
Valor Econômico 06-11-2013
De São Paulo
O Brasil não está à beira do abismo, como o debate acalorado acerca das estratégias de política econômica às vezes pode indicar, mas é certo que falta ao governo esclarecer quais são seus objetivos no médio prazo, especialmente na área fiscal, avalia Joaquim Levy, secretário do Tesouro Nacional durante o governo Lula e hoje diretor-superintendente da Bradesco Asset Management (BRAM).
Segundo Levy, que também já fez parte do Fundo Monetário Internacional (FMI) entre 1992 e 1999, a "métrica" usada pelo governo não precisa ser necessariamente o superávit primário, mas é fundamental que exista uma e que seja bem explicada.
"Talvez o mais importante seja recuperar um pouco a visibilidade", diz. "Acho que o superávit primário, principalmente se ele for bem simplesinho é uma métrica poderosa, mas eu posso considerar outras. Só precisa ter clareza. Se for preciso adivinhar, gera mais dúvidas."
Questionado se a política fiscal preocupa mais do que outros temas, como a inflação ou o baixo crescimento, Levy rema um pouco contra a maré do mercado ao dizer que "há perspectivas positivas nas três áreas". Diferentemente do que o discurso menos agressivo poderia indicar, no entanto, Levy avalia que a discussão sobre trazer a inflação para mais próximo da meta e, eventualmente, trazer a meta um pouco mais para baixo parece o que chama de "firula teórica", mas não é. Segundo ele, seria um ingrediente fundamental para reduzir os juros reais e elevar investimentos, inclusive o produtivo.
Ao comentar a possibilidade de o Federal Reserve (o banco central americano) começar a reduzir os estímulos à economia do país entre o fim deste ano e o início do ano que vem, o executivo afirma que "quando o mundo se normaliza, a gente deixa de ser a única atração da cidade", em referência ao fim do cenário de juros globais mais baixos. Mas o Brasil, diz, ainda tem o que mostrar, especialmente no campo das concessões em infraestrutura.
Doutor pela Universidade de Chicago, Levy encerra a entrevista incorporando ao discurso temas outrora pouco comuns ao mercado financeiro, como conectividade, sustentabilidade e inclusão. "Se tivermos esse modelinho, o mundo pode dar cambalhotas que o Brasil vai continuar navegando", afirma. "É isso que o investidor olha e diz, eu quero estar ali". A seguir, os principais trechos da entrevista:
Valor: Há cerca de dois anos falava-se em uma nova era de juros mais baixos, que mudaria a cara dos investimentos feitos no país, mas, recentemente, os juros voltaram a subir. O que aconteceu?
Joaquim Levy: Por razões domésticas, e também internacionais, estamos em um momento de subida de taxa de juros. Estudos que fizemos demonstram que parte da queda dos juros domésticos se explicava pela queda de juros globais. Essa queda de juros internacional já está mais ou menos programada para voltar, o que também é um bom sinal, de normalização da economia americana. Aqui no Brasil, o importante é a queda histórica [da taxa básica de juros] continuar. A ideia de que não teríamos mais ciclos não se mostrou exatamente realista. Há riscos, e hora em que isso aperta um pouco mais, hora que afrouxa. O importante é a tendência. O desafio é ver se as políticas domésticas no Brasil vão ajudar ou atrapalhar a moderação da taxa de juros.
Valor: Quais são essas políticas?
Levy: Tem a política fiscal, tem a questão da política de oferta. Desde o fim do ano passado, quando a taxa de juros estava chegando ao seu piso, o Banco Central vinha sendo bastante claro em dizer que o problema do Brasil não era mais de demanda, mas de oferta e a política dele seria pautada por essa percepção. Então, acho que temos que ter políticas de flexibilização da economia que incitem as pessoas a tomar mais risco, como, por exemplo, ter uma visibilidade fiscal cada vez mais importante
(...)
Valor: O que seria uma boa política de oferta?
Levy: Vamos viver com o mercado de trabalho um pouco mais apertado, o que significa que são necessários ganhos de produtividade expressivos, ou vai ser difícil continuar a manter taxa de crescimento da renda muito alta. Isso pode acabar gerando inflação. Há um princípio muito básico que vale a pena ressaltar: a economia tem quatro fontes de "folga": os salários, o setor externo, o lucro das empresas e a produtividade. Para que os salários continuem crescendo precisamos de ganhos de produtividade. Se não existirem, dependeremos ou de uma deterioração da conta corrente, o que não é bom, ou de um aperto no lucro das empresas. Se isso ocorrer sistematicamente, as empresas param de investir. Logo, ganhos de produtividade são importantes para garantir o crescimento dos salários, já que as outras opções não são sustentáveis. E produtividade é uma politica de oferta.
"O investidor sabe que o Brasil tem todas as condições para navegar nem que seja com um pouquinho de vento contrário"
Valor: Nesse sentido avançamos muito pouco?
Levy: A gente pode mais. A infraestrutura é uma maneira de aumentar a produtividade da economia (...) o que é essencial para que os salários continuem crescendo sem pressão inflacionária.
Valor: O governo está no caminho certo?
Levy: Tem todo um esforço nesse sentido. Não é uma tarefa fácil ter que simplificar os seus objetivos. Mas qualquer engenheiro ou matemático sabe que, ao se traçar muitos objetivos com muitas restrições, a equação pode ficar sem uma raiz. Acho que alguns movimentos, como essa questão do BNDES dar mais espaço para infraestrutura e para instrumentos de financiamento de infraestrutura, com as famosas debêntures, são passos importantes. Tem que ver a velocidade desses passos. O mercado de capitais brasileiro está aumentando e estamos apostando bastante nessa história de debêntures de infraestrutura. Para financiamentos, vamos precisar de inflação na meta e tudo, mas acho que é um mercado que vai deslanchar.
Valor: Olhando para a economia hoje, o que preocupa mais, as pressões inflacionárias, o crescimento baixo ou a política fiscal?
Levy: Acho que temos perspectivas positivas nas três áreas. A preocupação de a inflação ultrapassar o teto da meta é menor do que no passado. Por outro lado, uma inflação de 6% ou 6,5%, acho que todo mundo concorda, é uma inflação bastante alta (...) essa discussão de trazer a inflação para mais próximo da meta e, eventualmente, trazer a meta um pouco mais para baixo parece firula teórica, mas não é. É um ingrediente para baixar as taxas de juros reais, que são importantes para ter investimento de longo prazo. E isso vale tanto o investidor de uma NTN-B [título indexado à inflação] quanto para aquele que vai desenhar o financiamento de uma fábrica.
Valor: E temos outros desafios também, como um taxa de poupança muito baixa...
Levy: A China é um país de inflação baixa. Por quê? Uma das razões é que o país tem poupança. O Brasil precisa aumentar a sua taxa de poupança. O problema é que muitas vezes as pessoas descobrem que, para aumentar a taxa de poupança, é preciso consumir menos. O investimento cresceu mais que o consumo, é fato. Mas boa parte do investimento foi financiado pela conta externa. E à medida que a conta externa não pode continuar crescendo vai ser preciso outro meio para aumentar a poupança. Ao mesmo tempo, é preciso entender também que, no momento em que se dá maior estabilidade, as pessoas poupam mais (...)
Valor: A questão fiscal é preocupante? Os últimos números apontam uma economia para pagamento de juros ainda menor.
Levy: (...) O Brasil está em perigo à beira do abismo? Acho que não está. Mas qual é, afinal, o objetivo fiscal do governo? É diminuir a dívida? Ou é imprimir uma trajetória para o gasto corrente? Algo que dê uma visibilidade de três, quatro, cinco anos. Acho que isso é o mais importante. Qual é o objetivo para os próximos três anos? Não precisa ser o superávit primário, pode ser outra métrica. Mas tem que ter uma explicação, do tipo essa é a métrica que eu acho importante, e os motivos pelos quais ela é importante, e quais vantagens trará.
Valor: Corremos o risco de ver o rating do país rebaixado em razão da política fiscal?
Levy: Acho que a gente não tem motivo nenhum para ter rating rebaixado (...) O papo tem que ser o que fazer para aumentar o rating. E é um papo de sociedade, não só de governo, mas Congresso, economistas e diálogo com as próprias agências. Acho que, comparados com alguns países, estamos bem. Por exemplo, a Polônia tem rating A, uma dívida que não é tão melhor do que a nossa, mas fica ao lado da Alemanha, o que pode ajudar. Esse é o papo legal. Brasil é isso, é ir para frente. Quando converso com investidores, é o que querem ouvir.
Valor: O humor desses investidores deu uma melhorada?
Levy: O investidor tem convicção que o Brasil tem coisas muito boas e que se a gente não cometer equívocos, essas coisas vão continuar produzindo resultados. O investidor talvez tenha percebido que, mais uma vez, se a gente se antecipar a certos movimentos, como o Banco Central fez recentemente, tem condições de navegar um eventual aperto monetário com relativa segurança. Pode chacoalhar um pouquinho, aderna, mas não emborca. (...) Quando o investidor olha outros países emergentes, sabe que o Brasil tem todas as condições para navegar nem que seja com um pouquinho de vento contrário, como a alta dos juros internacionais.
Valor: Além da alta dos juros lá fora, quais são os principais riscos que podem atingir o Brasil no ano que vem?
Levy: Quando o mundo se normaliza, a gente deixa de ser a única atração da cidade. Mas a gente ainda tem um showzinho bacana. E se continuar treinando bem, desenvolvendo alguns quadros novos, continuaremos como atração bacana. A questão global é que é um mundo competitivo, temos que estar nos fortalecendo. À medida que infraestrutura continuar avançando isso dá sinalizações muito importantes para o investidor (...)
***
Aqui, o ‘ pito’ não nominado, dirigido ao governo e a Joaquim Levy, postado no blog do Valor, ‘Casa das Caldeiras’.
Casa das Caldeiras
Site do Valor Econômico 06-11-2013
“Deterioração de expectativa é mais inflação e juro com PIB menor
A antecipação do calendário eleitoral antecipou também a exaustão dos espectadores com a reprise de provocações e declarações de boa intenção para o futuro governo que, de novidade, os virtuais candidatos à Presidência da República têm pouco a apresentar no momento. Pior, a antecipação do calendário eleitoral ante resultados que o governo Dilma Rousseff tem dificuldade em entregar está fazendo um estrago nas expectativas e indicadores econômicos e financeiros. A incerteza quanto à economia que o governo pretende fazer para sinalizar o pagamento de juros da dívida, equivalente ao superávit primário, não coloca o país num quadro de insolvência, mas vem minando fundamentos. E negar essa evidência é um erro. É conspirar contra os acertos.
A deterioração fiscal e a projeção para a inflação ao final de doze meses, instalada no patamar de 6,2% desde o início de setembro, tornam-se poderosas alavancas para as taxas de juros, que, no mercado futuro, já sinalizam Taxa Selic de 12,75% ao ano em 2015, permanecendo nesse patamar nos anos seguintes. A arrancada do dólar frente ao real, com essa dupla encostada em R$ 2,30 e alta de 7% em quinze dias, pode sinalizar tudo, menos um futuro tranquilo para qualquer governo – venha de onde vier o presidente.
“Supor que o ambiente em que estamos vivendo neste momento não afeta ou não afetará o Brasil é um equívoco. De cara, os juros estão nas máximas alcançadas neste ano e isso significa, no mínimo, custo de financiamento mais caro para o Tesouro Nacional e para tomadores de crédito de prazo mais longo. É inegável que a piora dos indicadores e das expectativas estão agendando por bom tempo juro alto, inflação alta e baixo crescimento. Neste ano, sabemos que a agricultura e os investimentos darão fôlego à atividade. E no ano que vem? Como ficamos no ano que vem, com a desconfiança crescente entre financiadores e potenciais investidores no país. E não só financeiros?”, pergunta, e não aguarda resposta, o experiente executivo de uma instituição financeira nacional”.
*****
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Carta Maior não tem por hábito reproduzir textos da mídia conservadora, mas abre uma exceção hoje pelo elevado teor pedagógico que o caso encerra.
A guerra das expectativas, como se sabe, orienta a pauta dominante nos dias que correm.
O julgamento-espetáculo do chamado ‘mensalão’, um notável esforço de desossar o campo progressista a ponto de torna-lo incapaz de se equilibrar em um palanque, proporcionou retorno abaixo do esperado.
A sofreguidão midiática, e um desempenho excessivamente desfrutável das togas, atravessou o Rubicão a partir do qual o discernimento enxerga a mão do cambalacho.
A cavalaria do jornalismo econômico assumiu, desde então, o comando das operações.
Justifica-se.
Se a meta é estrangular o horizonte das esperanças nacionais, e por extensão quem conduz há 12 anos a agenda do desenvolvimento socialmente progressista, a guerra das expectativas é o instrumento competente.
A frota mais adestrada nesse campo de batalha é o jornalismo econômico.
Filho dileto da ditadura, quando exorbitou na narrativa áulica do regime, firmou-se desde então como a editoria predileta dos donos de jornais, por razões imagináveis de tesouraria e prestígio.
Ainda hoje, é a área das redações em que vigoram os mais altos salários, e aquela mais coesa na genuflexão à agenda neoliberal.
Da vassalagem ao intervencionismo fardado, que arrochava salários com a repressão aos sindicatos, o noticioso econômico baldeou-se sem escala para a defesa incondicional dos mercados desregulados, em especial, o financeiro.
Talvez haja mais coerência do que se imagina nessa dupla militância.
O que antes se esmagava, literalmente, com instrumentos e métodos rudimentares, hoje se dobra de joelhos com a sofisticada hegemonia assegurada às leis de mercado.
Ou não será essa a essência da recorrente defesa de um Banco Central independente --do Estado, da democracia e das urgências da sociedade?
O cerco em curso, portanto, está em mãos habilitadas. Trata-se de elevar ao paroxismo a incerteza intrínseca aos detentores da riqueza.
Instados permanentemente a optar entre a alocação do capital em investimento de longo curso (infraestrutura , por exemplo), ou a opção mórbida pela liquidez rentista de curto prazo, eles são o alvo da esférica e convicta fuzilaria das redações.
Induzir o dinheiro graúdo à primeira opção, associada a um projeto social que o conduza, constitui o desafio de vida ou morte do governo.
Abortar as chances de que isso aconteça, adicionando diuturnamente caçambas de incerteza ao estoque endógeno dos detentores da riqueza, é a missão à qual se dedica de corpo e alma a o noticioso econômico conservador com suas certezas graníticas sobre o que é melhor para o país, a sua gente e o seu desenvolvimento.
O troféu em jogo é o escrutínio de 2014, quando opções mais amigáveis, tingidas de verde ou rosa, podem assumir o bastão ao intervencionismo petista.
Não se pode dizer que o campo seja desfavorável ao time das redações.
O Brasil vive uma travessia de ciclo de desenvolvimento que agrega a vulnerabilidades de lavra própria (o câmbio valorizado, por exemplo), outras decorrentes da transição na economia mundial.
Não há receita de custo zero capaz de impulsionar o passo seguinte do desenvolvimento nesse campo movediço.
Debater as opções em curso, escrutinar seus ônus e bônus, sedimentar assim um chão mais firme e um protagonista social que o percorra, é o que dará coerência à macroeconomia do país de agora em diante.
Os centuriões encarregados de exacerbar a incerteza interditam esse debate e vetam as soluções progressistas cogitadas (leia a nota deste blog ‘A urgência à procura de um debate’).
Seu exclusivo, e ansioso, interesse é acelerar a contagem regressiva do tempo que falta para o país se revelar uma nação aos cacos, à espera do cola-tudo capaz de saneá-la: uma boa purga de arrocho fiscal e um choque de juros.
Essa pauta latejava sua sofreguidão nesta 4ª feira, quando o governo resolveu rebater, com números, o necrológio fiscal do país estampado nas páginas de alguns dos principais veículos conservadores.
Foi com o evidente propósito de avalizar esse diagnóstico que o jornal Valor Econômico se preparou para lançar uma pá de cal na cova teimosamente recusada pelo governo.
Um quadro de prestígio da ortodoxia nativa, o economista Joaquim Levy, foi escolhido para ser o principal entrevistado sobre o tema na edição da 4ª feira quente.
Não foi uma escolha aleatória.
Levy carrega predicados de peso. Formado em Chicago, meca do neoliberalismo, atuou como Secretário do Tesouro Nacional do governo Lula, durante a gestão de Antonio Palocci na Fazenda.
Levy encarnava então aquilo que muitos chegaram a classificar como a rendição do PT ao neoliberalismo.
Era a mão do arrocho fiscal na goela dos ideais e compromissos petistas.
Capacitou-se para isso diretamente na fonte servindo no FMI por sete anos (1992/1999).
Hoje, dirige um braço de gestão de recursos de investimento do Bradesco (BRAM).
Foi desse poleiro privilegiado do mercado que ele falou ao Valor.
Bem, o que disse – sem renunciar às diretrizes ortodoxas - desagradou profundamente a pauta preconcebida para corroborar o diagnóstico de um Brasil em marcha batida para o abismo.
A entrevista de Levy e as negativas do governo em aceitar a autópsia midiática elevariam a temperatura no ambiente do jornalismo isento.
Tanto assim que no site do jornal Valor, na mesma 4ª feira, guardiões do desastre iminente postaram uma acalorada nota no blog apropriadamente chamado: ‘Casa das Caldeiras’.
O pito no governo e em um Levy não nominado foi quase uma descompostura. Um sabão em quem resiste, ainda, em enxergar aquilo que o jornal tanto se esforça por demonstrar e difundir: ‘se não for hoje, de amanhã o Brasil não passa’. Ou, como diz o post do alto de sua condição de alter ego do mercado ,e como tal, sempre ancorado em um estratégico off de fonte inexcedível em saber e fazer: “É inegável que a piora dos indicadores e das expectativas estão agendando por bom tempo juro alto, inflação alta e baixo crescimento. Neste ano, sabemos que a agricultura e os investimentos darão fôlego à atividade. E no ano que vem? Como ficamos no ano que vem, com a desconfiança crescente entre financiadores e potenciais investidores...”
Repita-se, Carta Maior não tem por hábito transcrever a mídia conservadora . Mas os excertos abaixo, da entrevista mencionada e da admoestação professoral da parte ofendida, merecem ser coligidos.
Trata-se do testemunho de um garrote e de um tempo em que o jornalismo conservador assumiu a frente da guerra. Para salvar os livres mercados deles mesmos. E do governo que os ameaça.
Seguem-se excertos dessa jornada pedagógica de isenção das redações.
Primeiro, a entrevista de Joaquim Levy:
*****
Levy descarta abismo fiscal, mas defende metas claras
Valor Econômico 06-11-2013
De São Paulo
O Brasil não está à beira do abismo, como o debate acalorado acerca das estratégias de política econômica às vezes pode indicar, mas é certo que falta ao governo esclarecer quais são seus objetivos no médio prazo, especialmente na área fiscal, avalia Joaquim Levy, secretário do Tesouro Nacional durante o governo Lula e hoje diretor-superintendente da Bradesco Asset Management (BRAM).
Segundo Levy, que também já fez parte do Fundo Monetário Internacional (FMI) entre 1992 e 1999, a "métrica" usada pelo governo não precisa ser necessariamente o superávit primário, mas é fundamental que exista uma e que seja bem explicada.
"Talvez o mais importante seja recuperar um pouco a visibilidade", diz. "Acho que o superávit primário, principalmente se ele for bem simplesinho é uma métrica poderosa, mas eu posso considerar outras. Só precisa ter clareza. Se for preciso adivinhar, gera mais dúvidas."
Questionado se a política fiscal preocupa mais do que outros temas, como a inflação ou o baixo crescimento, Levy rema um pouco contra a maré do mercado ao dizer que "há perspectivas positivas nas três áreas". Diferentemente do que o discurso menos agressivo poderia indicar, no entanto, Levy avalia que a discussão sobre trazer a inflação para mais próximo da meta e, eventualmente, trazer a meta um pouco mais para baixo parece o que chama de "firula teórica", mas não é. Segundo ele, seria um ingrediente fundamental para reduzir os juros reais e elevar investimentos, inclusive o produtivo.
Ao comentar a possibilidade de o Federal Reserve (o banco central americano) começar a reduzir os estímulos à economia do país entre o fim deste ano e o início do ano que vem, o executivo afirma que "quando o mundo se normaliza, a gente deixa de ser a única atração da cidade", em referência ao fim do cenário de juros globais mais baixos. Mas o Brasil, diz, ainda tem o que mostrar, especialmente no campo das concessões em infraestrutura.
Doutor pela Universidade de Chicago, Levy encerra a entrevista incorporando ao discurso temas outrora pouco comuns ao mercado financeiro, como conectividade, sustentabilidade e inclusão. "Se tivermos esse modelinho, o mundo pode dar cambalhotas que o Brasil vai continuar navegando", afirma. "É isso que o investidor olha e diz, eu quero estar ali". A seguir, os principais trechos da entrevista:
Valor: Há cerca de dois anos falava-se em uma nova era de juros mais baixos, que mudaria a cara dos investimentos feitos no país, mas, recentemente, os juros voltaram a subir. O que aconteceu?
Joaquim Levy: Por razões domésticas, e também internacionais, estamos em um momento de subida de taxa de juros. Estudos que fizemos demonstram que parte da queda dos juros domésticos se explicava pela queda de juros globais. Essa queda de juros internacional já está mais ou menos programada para voltar, o que também é um bom sinal, de normalização da economia americana. Aqui no Brasil, o importante é a queda histórica [da taxa básica de juros] continuar. A ideia de que não teríamos mais ciclos não se mostrou exatamente realista. Há riscos, e hora em que isso aperta um pouco mais, hora que afrouxa. O importante é a tendência. O desafio é ver se as políticas domésticas no Brasil vão ajudar ou atrapalhar a moderação da taxa de juros.
Valor: Quais são essas políticas?
Levy: Tem a política fiscal, tem a questão da política de oferta. Desde o fim do ano passado, quando a taxa de juros estava chegando ao seu piso, o Banco Central vinha sendo bastante claro em dizer que o problema do Brasil não era mais de demanda, mas de oferta e a política dele seria pautada por essa percepção. Então, acho que temos que ter políticas de flexibilização da economia que incitem as pessoas a tomar mais risco, como, por exemplo, ter uma visibilidade fiscal cada vez mais importante
(...)
Valor: O que seria uma boa política de oferta?
Levy: Vamos viver com o mercado de trabalho um pouco mais apertado, o que significa que são necessários ganhos de produtividade expressivos, ou vai ser difícil continuar a manter taxa de crescimento da renda muito alta. Isso pode acabar gerando inflação. Há um princípio muito básico que vale a pena ressaltar: a economia tem quatro fontes de "folga": os salários, o setor externo, o lucro das empresas e a produtividade. Para que os salários continuem crescendo precisamos de ganhos de produtividade. Se não existirem, dependeremos ou de uma deterioração da conta corrente, o que não é bom, ou de um aperto no lucro das empresas. Se isso ocorrer sistematicamente, as empresas param de investir. Logo, ganhos de produtividade são importantes para garantir o crescimento dos salários, já que as outras opções não são sustentáveis. E produtividade é uma politica de oferta.
"O investidor sabe que o Brasil tem todas as condições para navegar nem que seja com um pouquinho de vento contrário"
Valor: Nesse sentido avançamos muito pouco?
Levy: A gente pode mais. A infraestrutura é uma maneira de aumentar a produtividade da economia (...) o que é essencial para que os salários continuem crescendo sem pressão inflacionária.
Valor: O governo está no caminho certo?
Levy: Tem todo um esforço nesse sentido. Não é uma tarefa fácil ter que simplificar os seus objetivos. Mas qualquer engenheiro ou matemático sabe que, ao se traçar muitos objetivos com muitas restrições, a equação pode ficar sem uma raiz. Acho que alguns movimentos, como essa questão do BNDES dar mais espaço para infraestrutura e para instrumentos de financiamento de infraestrutura, com as famosas debêntures, são passos importantes. Tem que ver a velocidade desses passos. O mercado de capitais brasileiro está aumentando e estamos apostando bastante nessa história de debêntures de infraestrutura. Para financiamentos, vamos precisar de inflação na meta e tudo, mas acho que é um mercado que vai deslanchar.
Valor: Olhando para a economia hoje, o que preocupa mais, as pressões inflacionárias, o crescimento baixo ou a política fiscal?
Levy: Acho que temos perspectivas positivas nas três áreas. A preocupação de a inflação ultrapassar o teto da meta é menor do que no passado. Por outro lado, uma inflação de 6% ou 6,5%, acho que todo mundo concorda, é uma inflação bastante alta (...) essa discussão de trazer a inflação para mais próximo da meta e, eventualmente, trazer a meta um pouco mais para baixo parece firula teórica, mas não é. É um ingrediente para baixar as taxas de juros reais, que são importantes para ter investimento de longo prazo. E isso vale tanto o investidor de uma NTN-B [título indexado à inflação] quanto para aquele que vai desenhar o financiamento de uma fábrica.
Valor: E temos outros desafios também, como um taxa de poupança muito baixa...
Levy: A China é um país de inflação baixa. Por quê? Uma das razões é que o país tem poupança. O Brasil precisa aumentar a sua taxa de poupança. O problema é que muitas vezes as pessoas descobrem que, para aumentar a taxa de poupança, é preciso consumir menos. O investimento cresceu mais que o consumo, é fato. Mas boa parte do investimento foi financiado pela conta externa. E à medida que a conta externa não pode continuar crescendo vai ser preciso outro meio para aumentar a poupança. Ao mesmo tempo, é preciso entender também que, no momento em que se dá maior estabilidade, as pessoas poupam mais (...)
Valor: A questão fiscal é preocupante? Os últimos números apontam uma economia para pagamento de juros ainda menor.
Levy: (...) O Brasil está em perigo à beira do abismo? Acho que não está. Mas qual é, afinal, o objetivo fiscal do governo? É diminuir a dívida? Ou é imprimir uma trajetória para o gasto corrente? Algo que dê uma visibilidade de três, quatro, cinco anos. Acho que isso é o mais importante. Qual é o objetivo para os próximos três anos? Não precisa ser o superávit primário, pode ser outra métrica. Mas tem que ter uma explicação, do tipo essa é a métrica que eu acho importante, e os motivos pelos quais ela é importante, e quais vantagens trará.
Valor: Corremos o risco de ver o rating do país rebaixado em razão da política fiscal?
Levy: Acho que a gente não tem motivo nenhum para ter rating rebaixado (...) O papo tem que ser o que fazer para aumentar o rating. E é um papo de sociedade, não só de governo, mas Congresso, economistas e diálogo com as próprias agências. Acho que, comparados com alguns países, estamos bem. Por exemplo, a Polônia tem rating A, uma dívida que não é tão melhor do que a nossa, mas fica ao lado da Alemanha, o que pode ajudar. Esse é o papo legal. Brasil é isso, é ir para frente. Quando converso com investidores, é o que querem ouvir.
Valor: O humor desses investidores deu uma melhorada?
Levy: O investidor tem convicção que o Brasil tem coisas muito boas e que se a gente não cometer equívocos, essas coisas vão continuar produzindo resultados. O investidor talvez tenha percebido que, mais uma vez, se a gente se antecipar a certos movimentos, como o Banco Central fez recentemente, tem condições de navegar um eventual aperto monetário com relativa segurança. Pode chacoalhar um pouquinho, aderna, mas não emborca. (...) Quando o investidor olha outros países emergentes, sabe que o Brasil tem todas as condições para navegar nem que seja com um pouquinho de vento contrário, como a alta dos juros internacionais.
Valor: Além da alta dos juros lá fora, quais são os principais riscos que podem atingir o Brasil no ano que vem?
Levy: Quando o mundo se normaliza, a gente deixa de ser a única atração da cidade. Mas a gente ainda tem um showzinho bacana. E se continuar treinando bem, desenvolvendo alguns quadros novos, continuaremos como atração bacana. A questão global é que é um mundo competitivo, temos que estar nos fortalecendo. À medida que infraestrutura continuar avançando isso dá sinalizações muito importantes para o investidor (...)
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Aqui, o ‘ pito’ não nominado, dirigido ao governo e a Joaquim Levy, postado no blog do Valor, ‘Casa das Caldeiras’.
Casa das Caldeiras
Site do Valor Econômico 06-11-2013
“Deterioração de expectativa é mais inflação e juro com PIB menor
A antecipação do calendário eleitoral antecipou também a exaustão dos espectadores com a reprise de provocações e declarações de boa intenção para o futuro governo que, de novidade, os virtuais candidatos à Presidência da República têm pouco a apresentar no momento. Pior, a antecipação do calendário eleitoral ante resultados que o governo Dilma Rousseff tem dificuldade em entregar está fazendo um estrago nas expectativas e indicadores econômicos e financeiros. A incerteza quanto à economia que o governo pretende fazer para sinalizar o pagamento de juros da dívida, equivalente ao superávit primário, não coloca o país num quadro de insolvência, mas vem minando fundamentos. E negar essa evidência é um erro. É conspirar contra os acertos.
A deterioração fiscal e a projeção para a inflação ao final de doze meses, instalada no patamar de 6,2% desde o início de setembro, tornam-se poderosas alavancas para as taxas de juros, que, no mercado futuro, já sinalizam Taxa Selic de 12,75% ao ano em 2015, permanecendo nesse patamar nos anos seguintes. A arrancada do dólar frente ao real, com essa dupla encostada em R$ 2,30 e alta de 7% em quinze dias, pode sinalizar tudo, menos um futuro tranquilo para qualquer governo – venha de onde vier o presidente.
“Supor que o ambiente em que estamos vivendo neste momento não afeta ou não afetará o Brasil é um equívoco. De cara, os juros estão nas máximas alcançadas neste ano e isso significa, no mínimo, custo de financiamento mais caro para o Tesouro Nacional e para tomadores de crédito de prazo mais longo. É inegável que a piora dos indicadores e das expectativas estão agendando por bom tempo juro alto, inflação alta e baixo crescimento. Neste ano, sabemos que a agricultura e os investimentos darão fôlego à atividade. E no ano que vem? Como ficamos no ano que vem, com a desconfiança crescente entre financiadores e potenciais investidores no país. E não só financeiros?”, pergunta, e não aguarda resposta, o experiente executivo de uma instituição financeira nacional”.
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