Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
A crítica ao esforço do governo brasileiro para monitorar a ação de espiões norte-americanos e de outros países em nosso país é um típico exemplo de mentalidade colonizada.
Dizer que é uma medida equivalente ao esquema de espionagem da NSA no país é puro absurdo. A descoberta de que a NSA grampeava nossas autoridades, a começar pela presidente Dilma Rousseff, revelou um país que mantém uma diplomacia imperial.
É uma atitude preocupante, numa época em que se assiste a uma retomada de uma política intervencionista por parte de Washington, com apoio e sustentação a golpes de Estado contra governos eleitos, como ocorreu em Honduras e no Paraguai.
Neste caso, Washington não demonstrou lealdade ao agir com os brasileiros e precisava ser denunciado por isso. Não por essa razão, países em outra posição na diplomacia internacional, como a Alemanha, aliaram-se ao Brasil diante do mesmo problema. A ação da NSA deixou claro que a Casa Branca pratica uma diplomacia de hegemonia e domínio. Pode até ser útil para os interesses que dominam o governo americano mas não oferece benefícios aos países atingidos.
No outro caso, temos medidas – parciais, limitadas, atabalhoadas, muitas vezes pouco eficazes – do governo brasileiro para defender a soberania de um país, ameaçada por uma ação de força por parte uma potência externa. Todo esforço para proteger o território brasileiro neste caso não só é inteiramente legítimo, como deveria ser estimulado e ampliado.
Apenas uma visão moderninha em excesso, de quem desconhece um dado básico do fim dos impérios coloniais – a emergência dos interesses nacionais –, poderia imaginar que estamos diante de medidas equivalentes e igualmente condenáveis.
Implica em acreditar numa utopia juvenil segundo a qual com a abertura intensa do comercio internacional ocorrida nas últimas décadas o planeta teria entrado numa etapa madura de respeito e igualdade entre as nações.
A consequência dessa visão é aquele tipo de pós-modernidade de quem não se reconhece como brasileiro e procura ser neutro em conflitos internacionais.
É como se fosse feio ter nacionalidade e provinciano exibir prioridade nas questões em que o próprio país está envolvido. O passo seguinte, claro, é pensar o mundo de forma politicamente polivalente, como se todos os interesses fossem neutros e equivalentes.
Na realidade, este pensamento é parte de uma visão que considera conveniente a um país como o Brasil abrir mão de direitos e prerrogativas como nação na esperança de obter uma integração vantajosa com Washington. Essa visão deu base, por exemplo, a uma política externa que no passado levou o país a apoiar a proposta da ALCA, o esforço do governo dos Estados Unidos para criar uma zona de livre comercio no continente – sob sua hegemonia.
Em anos recentes, este ponto de vista raras vezes encontrou porta-vozes tão claros como André Lara Rezende, um dos principais conselheiros de Marina Silva, para quem “a questão do Estado-Nação ficou ultrapassada,” conforme ele admitiu no livro O que os Economistas pensam sobre Sustentabilidade (página 37).
Isso está errado, meus amigos. Se até a postura do craque Diego Costa, ora brasileiro, ora espanhol, causou estranheza em muita gente, não custa lembrar que ali estávamos falando de futebol e Copa do Mundo, certo?
Fingir que na vida real não existem conflitos e diferenças entre países diferentes, e que é legítimo a um governo assumir prioridades de seu país, é o caminho mais curto para se aliar a política do mais forte. O nome disso é raciocínio colonizado.
*****
Leia também:
- Dilma refuta visão colonizada da Folha
- Em meio à guerra, Folha defende o inimigo
- A vassalagem da Folha de S.Paulo
- FHC e a espionagem dos EUA
A crítica ao esforço do governo brasileiro para monitorar a ação de espiões norte-americanos e de outros países em nosso país é um típico exemplo de mentalidade colonizada.
Dizer que é uma medida equivalente ao esquema de espionagem da NSA no país é puro absurdo. A descoberta de que a NSA grampeava nossas autoridades, a começar pela presidente Dilma Rousseff, revelou um país que mantém uma diplomacia imperial.
É uma atitude preocupante, numa época em que se assiste a uma retomada de uma política intervencionista por parte de Washington, com apoio e sustentação a golpes de Estado contra governos eleitos, como ocorreu em Honduras e no Paraguai.
Neste caso, Washington não demonstrou lealdade ao agir com os brasileiros e precisava ser denunciado por isso. Não por essa razão, países em outra posição na diplomacia internacional, como a Alemanha, aliaram-se ao Brasil diante do mesmo problema. A ação da NSA deixou claro que a Casa Branca pratica uma diplomacia de hegemonia e domínio. Pode até ser útil para os interesses que dominam o governo americano mas não oferece benefícios aos países atingidos.
No outro caso, temos medidas – parciais, limitadas, atabalhoadas, muitas vezes pouco eficazes – do governo brasileiro para defender a soberania de um país, ameaçada por uma ação de força por parte uma potência externa. Todo esforço para proteger o território brasileiro neste caso não só é inteiramente legítimo, como deveria ser estimulado e ampliado.
Apenas uma visão moderninha em excesso, de quem desconhece um dado básico do fim dos impérios coloniais – a emergência dos interesses nacionais –, poderia imaginar que estamos diante de medidas equivalentes e igualmente condenáveis.
Implica em acreditar numa utopia juvenil segundo a qual com a abertura intensa do comercio internacional ocorrida nas últimas décadas o planeta teria entrado numa etapa madura de respeito e igualdade entre as nações.
A consequência dessa visão é aquele tipo de pós-modernidade de quem não se reconhece como brasileiro e procura ser neutro em conflitos internacionais.
É como se fosse feio ter nacionalidade e provinciano exibir prioridade nas questões em que o próprio país está envolvido. O passo seguinte, claro, é pensar o mundo de forma politicamente polivalente, como se todos os interesses fossem neutros e equivalentes.
Na realidade, este pensamento é parte de uma visão que considera conveniente a um país como o Brasil abrir mão de direitos e prerrogativas como nação na esperança de obter uma integração vantajosa com Washington. Essa visão deu base, por exemplo, a uma política externa que no passado levou o país a apoiar a proposta da ALCA, o esforço do governo dos Estados Unidos para criar uma zona de livre comercio no continente – sob sua hegemonia.
Em anos recentes, este ponto de vista raras vezes encontrou porta-vozes tão claros como André Lara Rezende, um dos principais conselheiros de Marina Silva, para quem “a questão do Estado-Nação ficou ultrapassada,” conforme ele admitiu no livro O que os Economistas pensam sobre Sustentabilidade (página 37).
Isso está errado, meus amigos. Se até a postura do craque Diego Costa, ora brasileiro, ora espanhol, causou estranheza em muita gente, não custa lembrar que ali estávamos falando de futebol e Copa do Mundo, certo?
Fingir que na vida real não existem conflitos e diferenças entre países diferentes, e que é legítimo a um governo assumir prioridades de seu país, é o caminho mais curto para se aliar a política do mais forte. O nome disso é raciocínio colonizado.
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Leia também:
- Dilma refuta visão colonizada da Folha
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- A vassalagem da Folha de S.Paulo
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