Poucas coisas são tão destrutivas quanto uma má iniciativa disfarçada de boa.
É o caso do Instituto Innovare, com o qual as organizações Globo mantêm relações abjetamente promíscuas com o sistema judiciário brasileiro.
O Innovare é uma iniciativa da Globo alegadamente dedicada a reconhecer boas práticas nos tribunais. O que ocorre no entanto é a negação da melhor prática que pode haver em qualquer justiça de qualquer país: a distância saudável e intransponível entre juízes e mídia.
O ministro Ayres Britto é o atual presidente do conselho superior do Innovare.
Ele saiu diretamente do supremo - no qual teve trágico papel no julgamento do mensalão - para os braços do Innovare, portanto da Globo.
Na última premiação do Innovare estavam presentes Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes e Roberto Irineu Marinho, presidente da Globo. A cerimônia recebeu uma cobertura extraordinariamente longa do Jornal Nacional. Foram 2 minutos e meio de reportagem.
Numa demonstração de quando é ambivalente a relação do governo com a Globo, também o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também estava lá. O Ministério da Justiça é um dos patrocinadores de uma entidade que conspurca a noção essencial de justiça.
Como você pode pretender que a justiça brasileira julgue qualquer processo da Globo com o mínimo de isenção? O fato é de que com seu estilo de não deixar feridos a Globo ocupou o judiciário brasileiro.
São vividas as lembranças de Ayres Britto abraçado a Merval Pereira, quando este lançou um livro sobre o mensalão. Era uma imagem repulsiva quando se pensa na independência que o judiciário tem que manter da mídia, mas mesmo assim, Ayres e Merval trataram de divulga-la alegremente.
Fora tudo o Innovare promove palestras – uma fonte certeira de dinheiro fácil.
E quem são os palestrantes em sua maior parte? Exatamente aqueles em que você está pensando, Barbosa, Mendes e por aí vai.
Qualquer prática na justiça brasileira é insignificante se ela não for precedida da mãe de todas a boas práticas – a independência, em relação à a mídia e por extensão ao poder econômico.
O Innovare, por isso, muito mais que uma premiação, é uma chaga para o país.
1 comentários:
[Assassinato sem morto; quadrilheiro sem quadrilha: o golpe jurídico-midiático! Parabéns, egrégio e competente jornalista Ricardo Melo! ENTENDA]
RICARDO MELO PEDE NOVO JULGAMENTO DA AP 470
Colunista diz que admissão pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa, de que penas foram elevadas artificialmente aumenta irregularidades; "é a única saída para o Supremo recuperar sua respeitabilidade"; segundo ele, há gente condenada e presa num processo que tem tudo para ser contestado: "O país continua sem saber realmente se houve e, se houve, o que foi realmente o chamado mensalão "
3 DE MARÇO DE 2014 ÀS 08:06
247 – O colunista Ricardo Melo sugere que o Supremo Tribunal Federal deve fazer um novo julgamento da AP 470 se quiser resgatar suas respeitabilidade.
Segundo ele, a admissão pelo presidente da Corte, Joaquim Barbosa, de que penas foram elevadas artificialmente para evitar a prescrição dos crimes, aumenta irregularidades. Ele cita a ocultação deliberada de investigações como a mais grave delas; entre elas, o inquérito 2474, sobre a Visanet, que derruba o argumento central do esquema do chamado “mensalão”.
“No final das contas, há gente condenada e presa num processo que tem tudo para ser contestado. O país continua sem saber realmente se houve e, se houve, o que foi realmente o chamado mensalão”, diz (leia *aqui o artigo).
*http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/154728-comecar-de-novo.shtml
FONTE: http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/132018/Ricardo-Melo-pede-novo-julgamento-da-AP-470.htm
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