Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
A carta de um general do Exército publicada no site da Sociedade Militar, onde ele fala abertamente em intervenção militar e pede a opinião pública para se mobilizar em favor de um movimento neste sentido, nos obriga a algumas reflexões e ações de caráter emergencial.
Arrisco algumas razões para o surgimento desses ovos de serpente e sugiro, humildemente, algumas reações.
1) Há uma falha histórica do Brasil, onde os valores democráticos vieram impostos de cima. Temos séculos e séculos de autoritarismo e apenas poucos anos de democracia. Seria preciso um investimento mais assertivo em valores democráticos, a ser disseminado pelo sistema de educação pública e pelas redes de TV. O governo poderia aproveitar os 50 anos de golpe para elaborar spots para a TV aberta com aulas sobre democracia, contendo denúncias contra a ditadura, em horário nobre.
2) A questão da mídia é novamente central aqui. Nossa mídia ainda é a mídia da ditadura. Quem detêm os meios de comunicação no país ainda são as mesmas forças que impuseram o regime militar. As forças da redemocratização tiveram espaço aberto na mídia a partir dos anos 80, mas a propriedade permaneceu em mãos dos mesmos de antes. Eles agora estão voltando a botar as manguinhas de fora para mostrar quem é que manda na comunicação social brasileira.
3) Assim como antes, acena-se com o fantasma do comunismo para assombrar setores manipulados da classe média. É preciso uma resposta de alto nível, explicando que essa é uma tática enganosa. Soa até ridículo falar isso, mas enfim, alguém precisa esclarecer a esse povo que o Brasil não caminha para nenhuma ditadura comunista. O partido no poder, o PT, nasceu sob a égide da democracia, em oposição às vertentes autoritárias da esquerda.
4) Talvez a coisa mais importante a fazer é mostrar, de maneira mais simples e popular, que a ditadura brasileira foi fundamentalmente corrupta. Hoje sabemos, aliás, que o golpe de 64 foi comprado. A cúpula militar se vendeu por propinas milionárias. Generais estavam no bolso de empresários, e houve inclusive muito financiamento estrangeiro. Até um intérprete semi-conservador do golpe, como Elio Gaspari, que escreveu alguns livros sobre a ditadura, mostra claramente que o regime foi corrupto até os ossos. Corrupto, caótico e incompetente.
5) Nestes 50 anos do golpe, o Brasil que acredita na democracia se vê diante de um desafio que precisa ser superado. As comissões de verdade precisam de um apoio maior. A luta contra a ditadura agora é simbólica, e não menos importante.
6) A pregação por uma nova intervenção militar é um movimento apenas hipocritamente apartidário, porque bebe sua força no ódio ao PT. Assim como, em 1964, se alimentava do ódio ao PTB, ao varguismo e ao movimento sindical. A reeleição de Dilma Rousseff, portanto, precisará se politizar também neste sentido, como uma reafirmação dos valores democráticos contra aqueles que não aceitam ser derrotados pelo voto. A vitória de Dilma, reafirmando a liderança e popularidade do PT junto ao grande eleitorado, será uma vitória também contra esse monstro bizarro que fugiu de seu túmulo: o golpismo anti-povo, que não aceita que nenhum partido de esquerda assuma o poder, e se assumir o poder, que se mantenha nele por muito tempo.
7) Não pode haver medo. As instituições democráticas precisam reagir com mais rigor e severidade contra esse tipo de agitação.
8) A grande mídia, sobretudo aquela voltada para uma suposta classe média esclarecida, vai agir com bem mais discrição hoje, até porque ainda tem imagem queimada pelo que fez em 1964, mas não podemos nos enganar de que lado ela está. Observe que o general, em sua carta, dá destaque à “profissionais da mídia que ainda ousam remar contra a correnteza”, referindo-se aos conservadores cuja única função nos jornais é bater no PT. A mídia apoiará o golpe, de maneira subreptícia num primeiro momento, abertamente num segundo.
9) A crise na Venezuela e a postura do governo brasileiro estão sendo muito distorcidos por uma suja campanha de desinformação. Hoje, Eliane Cantanhede, parece querer jogar o Itamaraty e as Forças Armadas (!) contra o governo. “O Itamaraty, como as Forças Armadas, bate continência [para o governo, para Dilma?]“, escreve Cantanhede, sugerindo que a nossa política externa está a serviço do PT. A colunista questiona, de maneira ignorante e desrespeitosa, a legitimidade do governo e do próprio PT, que é o partido que governa o país porque foi eleito para isso.
Ao final de sua coluna, diz que “resta saber se essa posição do governo é também a do próprio Brasil – ou seja, a dos brasileiros”, novamente questionando a legitimidade do Executivo num ponto que é, eminente e exclusivamente, uma questão de governo. De governo eleito, reitere-se. Não se faz plebiscito ou pesquisa Datafolha para se saber qual será a política externa nacional. Pode-se fazer um plebiscito, eventualmente, para se saber se devemos entrar numa guerra ou não. Mas no caso da crise venezuelana, a obrigação do governo brasileiro é apoiar o regime democrático constituído, ou seja, o governo eleito daquele país, que mantém o poder através do sufrágio universal, em eleições limpas, o governo de Nicolás Maduro.
10) Os golpistas de hoje estão surfando nas barbaridades midiáticas cometidas durante o julgamento do mensalão. A criminalização da política, em especial do partido dos trabalhadores, feita pela mídia, é o pano de fundo desse movimento em apoio a uma nova intervenção militar. Os discursos golpistas de alguns ministros, aplaudidos pela mídia, repercutiram profundamente em setores conservadores (ou seja, quase todos) das Forças Armadas. Qualquer movimento do STF no sentido de reverter os arbítrios absurdos cometidos na Ação Penal 470 agora se tornam pretexto para soluções de força antidemocráticas.
A carta de um general do Exército publicada no site da Sociedade Militar, onde ele fala abertamente em intervenção militar e pede a opinião pública para se mobilizar em favor de um movimento neste sentido, nos obriga a algumas reflexões e ações de caráter emergencial.
Arrisco algumas razões para o surgimento desses ovos de serpente e sugiro, humildemente, algumas reações.
1) Há uma falha histórica do Brasil, onde os valores democráticos vieram impostos de cima. Temos séculos e séculos de autoritarismo e apenas poucos anos de democracia. Seria preciso um investimento mais assertivo em valores democráticos, a ser disseminado pelo sistema de educação pública e pelas redes de TV. O governo poderia aproveitar os 50 anos de golpe para elaborar spots para a TV aberta com aulas sobre democracia, contendo denúncias contra a ditadura, em horário nobre.
2) A questão da mídia é novamente central aqui. Nossa mídia ainda é a mídia da ditadura. Quem detêm os meios de comunicação no país ainda são as mesmas forças que impuseram o regime militar. As forças da redemocratização tiveram espaço aberto na mídia a partir dos anos 80, mas a propriedade permaneceu em mãos dos mesmos de antes. Eles agora estão voltando a botar as manguinhas de fora para mostrar quem é que manda na comunicação social brasileira.
3) Assim como antes, acena-se com o fantasma do comunismo para assombrar setores manipulados da classe média. É preciso uma resposta de alto nível, explicando que essa é uma tática enganosa. Soa até ridículo falar isso, mas enfim, alguém precisa esclarecer a esse povo que o Brasil não caminha para nenhuma ditadura comunista. O partido no poder, o PT, nasceu sob a égide da democracia, em oposição às vertentes autoritárias da esquerda.
4) Talvez a coisa mais importante a fazer é mostrar, de maneira mais simples e popular, que a ditadura brasileira foi fundamentalmente corrupta. Hoje sabemos, aliás, que o golpe de 64 foi comprado. A cúpula militar se vendeu por propinas milionárias. Generais estavam no bolso de empresários, e houve inclusive muito financiamento estrangeiro. Até um intérprete semi-conservador do golpe, como Elio Gaspari, que escreveu alguns livros sobre a ditadura, mostra claramente que o regime foi corrupto até os ossos. Corrupto, caótico e incompetente.
5) Nestes 50 anos do golpe, o Brasil que acredita na democracia se vê diante de um desafio que precisa ser superado. As comissões de verdade precisam de um apoio maior. A luta contra a ditadura agora é simbólica, e não menos importante.
6) A pregação por uma nova intervenção militar é um movimento apenas hipocritamente apartidário, porque bebe sua força no ódio ao PT. Assim como, em 1964, se alimentava do ódio ao PTB, ao varguismo e ao movimento sindical. A reeleição de Dilma Rousseff, portanto, precisará se politizar também neste sentido, como uma reafirmação dos valores democráticos contra aqueles que não aceitam ser derrotados pelo voto. A vitória de Dilma, reafirmando a liderança e popularidade do PT junto ao grande eleitorado, será uma vitória também contra esse monstro bizarro que fugiu de seu túmulo: o golpismo anti-povo, que não aceita que nenhum partido de esquerda assuma o poder, e se assumir o poder, que se mantenha nele por muito tempo.
7) Não pode haver medo. As instituições democráticas precisam reagir com mais rigor e severidade contra esse tipo de agitação.
8) A grande mídia, sobretudo aquela voltada para uma suposta classe média esclarecida, vai agir com bem mais discrição hoje, até porque ainda tem imagem queimada pelo que fez em 1964, mas não podemos nos enganar de que lado ela está. Observe que o general, em sua carta, dá destaque à “profissionais da mídia que ainda ousam remar contra a correnteza”, referindo-se aos conservadores cuja única função nos jornais é bater no PT. A mídia apoiará o golpe, de maneira subreptícia num primeiro momento, abertamente num segundo.
9) A crise na Venezuela e a postura do governo brasileiro estão sendo muito distorcidos por uma suja campanha de desinformação. Hoje, Eliane Cantanhede, parece querer jogar o Itamaraty e as Forças Armadas (!) contra o governo. “O Itamaraty, como as Forças Armadas, bate continência [para o governo, para Dilma?]“, escreve Cantanhede, sugerindo que a nossa política externa está a serviço do PT. A colunista questiona, de maneira ignorante e desrespeitosa, a legitimidade do governo e do próprio PT, que é o partido que governa o país porque foi eleito para isso.
Ao final de sua coluna, diz que “resta saber se essa posição do governo é também a do próprio Brasil – ou seja, a dos brasileiros”, novamente questionando a legitimidade do Executivo num ponto que é, eminente e exclusivamente, uma questão de governo. De governo eleito, reitere-se. Não se faz plebiscito ou pesquisa Datafolha para se saber qual será a política externa nacional. Pode-se fazer um plebiscito, eventualmente, para se saber se devemos entrar numa guerra ou não. Mas no caso da crise venezuelana, a obrigação do governo brasileiro é apoiar o regime democrático constituído, ou seja, o governo eleito daquele país, que mantém o poder através do sufrágio universal, em eleições limpas, o governo de Nicolás Maduro.
10) Os golpistas de hoje estão surfando nas barbaridades midiáticas cometidas durante o julgamento do mensalão. A criminalização da política, em especial do partido dos trabalhadores, feita pela mídia, é o pano de fundo desse movimento em apoio a uma nova intervenção militar. Os discursos golpistas de alguns ministros, aplaudidos pela mídia, repercutiram profundamente em setores conservadores (ou seja, quase todos) das Forças Armadas. Qualquer movimento do STF no sentido de reverter os arbítrios absurdos cometidos na Ação Penal 470 agora se tornam pretexto para soluções de força antidemocráticas.
7 comentários:
O alerta é necessário,sendo você um
blogueiro progressista,mas since-
ramente não creio que agora,2ª dé-
cada do 3º milênio, volte a aconte-
cer algo como aquele do qual infe-
lizmente guardo tão tristes lem-
branças dos meus 20 anos.Deus nos
livre e guarde.
O tal generaleco era lambe-botas do celerado Newton Cruz, daí a gente nota que não pode estar na melhor faculdade mental.
RIDÍCULA E INOPORTUNA A DECLARAÇÃO DO GENERAL PAULO CHAGAS NA PAGINA DA REVISTA SOCIEDADE MILITAR. ALGUNS DE NOS JÁ VIMOS ESTAS "ARMAÇÕES" ANTES E A POPULAÇÃO DEVE REPELIR ESTAS TENTATIVAS DE DESESTABILIZAÇÃO.
A OPOSIÇÃO NÃO CONSEGUE NO VOTO E SE ALIA AGORA A ALGUNS SETORES DA CASERNA TENTANDO (eles sim) SUBVERTER A ORDEM E AUTORIDADE CONSTITUÍDA.
OS TEMPOS SÃO OUTROS E QUALQUER MANIFESTAÇÃO CONTRÁRIA AO REGIME DEMOCRÁTICO, SERÁ REPELIDA PELOS BRASILEIROS CONSCIENTES.
A POPULAÇÃO NÃO TOLERARÁ NENHUM TIPO DE RETROCESSO AOS AVANÇOS ALCANÇADOS.
Continuo dizendo e repetindo: "Num estalar de dedos dos EUA (CIA-NSA-AIPAC-USAID-NED), somos (ñ é seremos, SOMOS MESMO) a Ucrânia de amanhã, e, "COM CAÇAS AS BRUXAS" (com mortes e tortura). O GAFE taí, PSDB/DEM/ ... tão aí, general é o que não falta, embromados de plantão tá cheio, enganadores já estão todos prontos. A mim não enganam! Qdo o golpe sair, vamos chorar lágrimas de sangue, não só pelo retrocesso mas também pelas vítimas. Aguardem.
Miro, sugiro que vcs, da mídia alternativa, tentem contato com o governo e o PT Nacional e coloquem a situação. Vcs como jornalistas , que conhecem o meio , têm extrema importância neste momento.Vcs são a imprensa que de fato denuncia, avisa esclarece. Acho que isso tudo deve chegar aos grandes líderes da esquerda. PT, PC DO B,....
Não podemos deixar isso crescer , calados e inertes , como fizemos na farsa do mentirão.
Obrigada,
Fernanda
Concordo plenamente com o Miguel. Tenho ouvido zum-zum-zum londrinense
contra a Dilma, PT e "mensaleiros".
Mas, ontem, ouvi, pela primeira vez um grupo falando num bar,em alto e bom som sobre a necessidade de uma intervenção militar.
Para mim é preocupante.
Tomara que eles tentem! Seria a grande oportunidade para nos livrarmos desse corja fascista para sempre. Não adianta dialogo nem negociação,contra a violência, a agressão e o terrorismo da direita só agindo de forma enérgica. Direitista bom é direitista.....
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