sábado, 19 de abril de 2014

A tentativa de assassinato de reputação

Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo:

Os blogueiros sujos resistiram firmemente a mais uma tentativa de assassinato de reputação. Esta, aparentemente coordenada internamente nas Organizações Globo.

Quem é leitor diário da blogosfera pode abandonar a leitura aqui, já que este artigo é para os milhares de novos leitores que nos procuram, segundos estatísticas de nossa audiência, em função de recentes - e falsas - acusações, que envolvem também o nome do Viomundo.

Os que acompanham mais de perto a disputa judicial entre o bravo blogueiro Luís Nassif e a revista Veja, da Editora Abril, da família Civita, sabem exatamente do que estou falando. Nassif teve a coragem de denunciar as falcatruas da revista em sua série sobre os métodos da publicação. O trabalho de Nassif foi confirmado mais tarde, quando a Polícia Federal desmontou a associação entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres e aliados. Eles entregavam suas “produções” jornalísticas de bastidores, contra adversários, para a publicação da Abril.

As armações tinham o objetivo clássico da mídia empresarial brasileira: o “assassinato de reputação” com objetivos políticos, ideológicos ou comerciais. Tirar vantagem enfraquecendo os outros com denúncias falsas ou artificialmente turbinadas.

Ao deixar a TV Globo, mais tarde, em 2006, o hoje blogueiro Rodrigo Vianna, do Escrevinhador, teve a coragem de fazer o mesmo: denunciar publicamente a emissora. Foi dado por alguns como doido. Porém, abriu os olhos de uma pequena parcela da opinião pública e hoje há, sem medo de errar, dezenas de milhares de brasileiros capazes de identificar com clareza os métodos da cobertura política global, que foram modulados para evitar os casos de manipulação mais evidente — hoje rapidamente denunciáveis — e trabalhar a pauta do que é ou, principalmente, não é oferecido aos leitores, ouvintes e telespectadores das Organizações Globo, dando ênfase às notícias que interessam e escondendo as que não interessam.

Este é hoje o principal motivo de os blogueiros terem se tornado, eles próprios, alvos de contínuas tentativas de “assassinato de reputação” ou “destruição de caráter”.

Eles rompem o tabu dos assuntos proibidos, muitos dos quais envolvem as próprias empresas de mídia, o que ficou bem nítido no recente aniversário de 50 anos do golpe de 1964, por exemplo, aqui e aqui.

Se você é um jovem leitor ou chegou recentemente a este espaço, calma! Sabemos que há muitas novidades para você no que escrevo. Despreocupe-se. Vá seguindo os links e acumulando informação. Eventualmente, você vai se dar conta do que lerá, verá e ouvirá repetidamente na blogosfera: a grande mídia tem lado, apesar de se dizer “neutra”, “isenta” e “imparcial”.

O lado dela ficou claro no golpe que instalou a ditadura militar em 1964. Com raríssimas exceções, que pagaram caro por isso, a mídia apoiou os golpistas que agiram com ajuda material dos Estados Unidos e censuraram, torturaram, mataram e sumiram com os corpos de adversários. Alguns dos donos da mídia se envolveram diretamente na articulação golpista; outros deram publicidade ou apoio material a ações específicas da ditadura; muitos lucraram enormemente durante o período.

São, grosseiramente, os mesmos que sempre se opuseram a governos de caráter trabalhista ou popular, que chamam de “populistas”. Os mesmos que apoiam, sempre, governos elitistas voltados acima de tudo para o lucro das elites, sem que uma migalha sequer seja concedida aos de baixo, aos mais pobres, aos assalariados.

Entendeu agora o motivo de nos detonarem?

A ocasião mais recente foi a entrevista do ex-presidente Lula a blogueiros de esquerda, ou “progressistas”, por apoiarem uma série de medidas políticas e econômicas que representariam progresso social e material para os trabalhadores, os assalariados, os mais pobres — como o Bolsa Família, as cotas para negros e sociais nas universidades, o Sistema Único de Saúde.

Como jornalista com mais de 40 anos de experiência, sendo pelo menos 30 em emissoras de televisão, sustento que uma entrevista vale pelas notícias que produz. No caso de que tratamos aqui, a entrevista de Lula produziu numerosas manchetes, inclusive em toda a chamada mídia corporativa, ou seja, ligada ou defensora dos interesses das corporações que a patrocinam.

Lula falou de todos os assuntos relevantes daquele momento: as denúncias contra o deputado André Vargas, contra a Petrobras, a campanha para que ele seja candidato a presidente em 2014, os rumos da economia no governo Dilma, a Copa do Mundo, os protestos na rua do Brasil, a lei antiterrorismo, o financiamento da saúde pública, etc.

Ou seja, os entrevistadores atingiram seu objetivo sem usar grosserias, sem ofensas e sem embarcar no que chamamos de “antipetismo” movido pelo ódio. É um sentimento promovido por adversários políticos do PT, que querem negar direito de existência ao partido de Lula da mesma forma que os golpistas de 1964 negavam existência política a seus adversários. Depois do golpe, mesmo políticos que apoiaram a derrubada de João Goulart foram “extirpados” pelo militares, como o direitista Carlos Lacerda, que perdeu o direito de se candidatar.

Entenderam o paralelo entre os ditadores do passado e os “ditadores” de hoje? De formas distintas, tentam atingir os mesmos objetivos: negar o direito de expressão e organização àqueles dos quais discordam.

É nessa categoria que, em 2014, se encaixam os blogueiros, nove dos quais participaram da entrevista com o ex-presidente Lula. Para a mídia corporativa, são não-pessoas. A eles são negadas a individualidade, as características pessoais, os saberes específicos.

Você já andou por aí na blogosfera? Viu como concordamos em algumas coisas e discordamos em muitas? O Viomundo, por exemplo, apoia todas as manifestações de rua, inclusive as que estão sendo organizadas para o período da Copa do Mundo. O Eduardo Guimarães, do blog da Cidadania – para dar apenas um exemplo, discorda. Isso não nos impede de conviver democraticamente, ainda que expressando posições claramente distintas.

Não concordo com a postura do Eduardo em muitos outros pontos, porém defendo que ele participe, sim, de entrevistas com autoridades e políticos. Desde quando se convenciou que estas atividades devem ser exclusivas de jornalistas? Como representante comercial, exportador de autopeças e fã do Lula, o blogueiro não deixa de expressar o que pensa parte da opinião pública brasileira em relação ao ex-presidente.

Por outro lado, estavam presentes na mesma entrevista jornalistas com grande experiência, como a Conceição Lemes, deste site, com 33 anos de carreira. O que houve de errado com a pergunta que ela fez ao Lula sobre o financiamento da saúde pública? Lula culpou a extinção do imposto de cheque, promovida pelos adversários dele, pela falta de dinheiro para financiar o SUS. Acho que foi uma boa pergunta e que cabe ao leitor/ouvinte/telespectador decidir se concorda ou não com o ex-presidente.

Porém, os que negam direito de existência aos blogueiros no mundo da informação apagam a individualidade de cada um e o pluralismo da blogosfera, apelando para rótulos e acusações infundadas: seriam todos financiados pelo governo, hipnotizados por Lula ou defensores pagos do PT. Em uma palavra, “vendidos”.

Enfatizo: condenar “antipetismo” irracional não é o mesmo que ser petista. Não somos. Quer ler críticas ao PT/governos Lula e Dilma neste site? Comece por aqui, aqui, aqui, aqui ou aqui.

Minha sugestão? Frequente os blogs abaixo citados. Com o tempo, baseando-se na sua leitura e não no que dizem para você, estou certo de que você perceberá as nuances, as diferenças que existem entre todos eles, indistintamente: Blog do Miro, Cafezinho, Sul 21, Carta Maior, Escrevinhador, Tijolaço, Blog da Cidadania, Diário do Centro do Mundo (há muitos outros, mas estes estavam representados na entrevista).

Estou certo de que, ao fazer isso, você vai encontrar uma pluralidade de opiniões que não vê na chamada mídia corporativa!

Quando no título deste texto, falei em “assassinato de reputação”, é por acreditar que as críticas feitas aos blogueiros nas Organizações Globo tinham este objetivo.

Primeiro, na rádio CBN, que pertence às Organizações Globo, em rede nacional, o âncora Carlos Alberto Sardenberg (o mesmo do Jornal da Globo, na TV) e o comentarista Merval Pereira (o mesmo do jornal O Globo, do Rio) sugeriram que os blogueiros que participaram da entrevista com Lula eram “vendidos”.

Depois, o jornal O Globo, do mesmo grupo, onde escreve Merval, pretendeu fazer uma “investigação” sobre quem eram os entrevistadores. Coincidência, não?

O método foi o mesmo utilizado na primeira entrevista de Lula a blogueiros, quando ainda estava na presidência da República, em 2009. Naquela ocasião, o jornal O Globo estampou, junto com uma foto de Lula com os entrevistadores, o título “Lula recebe Cloaca e outros amigos no Planalto”. Cloaca é um blogueiro do Rio Grande do Sul, que não participou da entrevista de 2014 e a cloaca a que ele se refere ao nomear seu blog é a mídia representada pelos grupos Folha-Abril-Globo-Estadão, ou seja, a mídia conservadora, de direita, que faz propaganda dos interesses da elite brasileira.

O Globo negou, então, credibilidade à entrevista. Agora, faz o mesmo usando métodos parecidos. Também usou uma foto dos blogueiros ao lado de Lula. E tascou, baseado em uma única declaração (a que aparece entre aspas), de um dos nove presentes: Café e bolotas de queijo, Conversa de Amigo; ‘Ninguém teve a intenção de ser isento’, Conversa de Camaradas.

É algo comum no jornalismo acusatório: tomar a parte pelo todo. Pega a opinião de um, destaca e com isso tenta desqualificar o todo.

Porém, onde foram publicadas as críticas específicas de O Globo às perguntas feitas pelos blogueiros? Quais as impropriedades jornalísticas cometidas durante a entrevista? Faltou notícia na entrevista de Lula?

A resposta, como as manchetes dos dias subsequentes na mídia corporativa deixaram claro: Não!

O que Lula antecipou aos blogueiros, inclusive, começou a acontecer: Dilma assumiu a defesa da Petrobras e anunciou ajustes futuros na economia brasileira. Tudo isso apenas confirma a relevância da entrevista em si.

Como jornalista com ampla experiência, percebi que O Globo montava uma armadilha para os blogueiros ao ler as perguntas endereçadas à Conceição Lemes. Se a entrevistadora do Viomundo não tivesse formação de jornalista ou não tivesse currículo, a inexperiência para enfrentar uma raposa politica como Lula seria destacada. Se tivesse tido qualquer despesa paga pelo Instituto Lula para ir até a entrevista, seria mencionada por isso. Seriam formas de desqualificar o trabalho de Conceição, já que o Viomundo não recebe propaganda oficial, seja de governos federal, estaduais ou municipais, seja de empresas públicas/estatatais — incluindo aí o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.

Fazemos isso porque batalhamos pela extinção de tais gastos públicos, a não ser em casos de estrita necessidade, como campanhas de vacinação, para que o dinheiro seja aplicado em creches, hospitais e salários de funcionários públicos, não necessariamente nesta ordem. Quando governador do Paraná, o hoje senador Roberto Requião, do PMDB, fez isso e deu muito certo.

Finalmente, acrescento minha própria experiência como vítima de tentativa de assassinato de reputação, obviamente mal sucedida, caso contrário você não teria vindo ler o Viomundo.

Foi na campanha eleitoral de 2010, quando eu já havia pedido a extinção antecipada de meu contrato com a TV Globo.

Na ocasião, o jornal O Globo envolveu meu nome de forma infundada numa falsa denúncia contra a TV Brasil, que havia prorrogado - dentro de todas as normas legais - um contrato com a produtora Baboon, de São Paulo, que produzia o programa Nova África depois de ter ganho uma concorrência pública. Que eu saiba, foi o primeiro e único programa de TV no Brasil que foi resultado de uma concorrência pública!

Eu era empregado da Baboon, assalariado, para cumprir função em minha área de especialidade! No entanto, O Globo juntou meu nome com a cifra milionária de um contrato do qual eu não era parte e não tinha assinado - não sendo dono, nem sócio, nem gerente da Baboon, que pertence aos empresários Henry Ajl e Markus Bruno.

Viu como funciona? O Globo juntou meu nome com um valor milionário que nunca recebi e conseguiu produzir uma falsa denúncia contra um jornalista assalariado de uma produtora que havia ganho uma concorrência pública! No entanto, foi tudo tão transparente que, subsequentemente, a Baboon se classificou para disputar uma segunda concorrência e perdeu, ocasião em que o blogueiro Reinaldo Azevedo voltou a usar meu nome para me acusar… de perder a concorrência!

É assim que a direita age, entendeu?

Se você ficou curioso sobre o programa, clique aqui.

Portanto, expresso aqui minha solidariedade aos nove blogueiros vítimas da tentativa de assassinato de reputação movida pelas Organizações Globo por conta da mais recente entrevista do presidente Lula.

Sugiro a você, finalmente, jovem ou novo leitor do Viomundo, que dê uma olhada na tabela abaixo, publicada por Fernando Rodrigues em seu blog do UOL e na íntegra da entrevista do ex-presidente aos colegas blogueiros:



Agora nos diga: quem é mesmo que embolsa bilhões em dinheiro público?

1 comentários:

Eduardo Lourenço disse...

Belíssima e, o que é mais importante, pedagógica colocações a aqueles que estão se "introduzindo" neste mundo da blogosfera. O texto foi colocado com muito cuidado, facultando todos os espectros de possibilidades para os "iniciantes", sem em nenhum momento ser invasivo em suas mentes. O texto cria uma plataforma de links que propiciarão para todos, a busca da verdade factual dos acontecimentos dentro de uma opinião equilibrada, dando oportunidade ao leitor de formar sua própria opinião. Parabéns!
Eduardo Lourenço - https://www.facebook.com/groups/jfpolitica