Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:
Há mais ou menos um mês, sintomaticamente desde que se rememorou o aniversário de 50 anos do golpe militar de 1964, um preposto da Folha de S.Paulo tem atacado Mino Carta sem tréguas, e Mino tem respondido diretamente a ele em seus editoriais de CartaCapital, o que eu considero um equívoco. Como proprietário de um meio de comunicação, Mino deveria debater com os donos dos veículos que o atacam, e não com subordinados. Valente que é, porém, optou por defender a si próprio.
Até por isso, ele não me deu esta tarefa, mas eu vou tomá-la para mim apenas pelo desejo de demonstrar a desonestidade intelectual de um colunista que se diz intelectual. Não foi só na Folha; o “exquerdista” arrependido fez o mesmo em outros veículos: alugou sua pena para acusar Mino de, como fundador e diretor de redação de Veja nos primórdios, ter apoiado a ditadura militar, com base em trechos pinçados de editoriais da revista que apoiam a ditadura. Como é possível que gente que vocifera contra Stalin por recriar a história a seu bel-prazer tente fazer o mesmo com a reputação de alguém?
Me dirijo principalmente aos leitores que não conhecem a fundo o jornalismo. Entendam uma coisa: jornalistas sozinhos podem até apoiar golpes militares, mas não possuem o poder de levar um veículo a apoiá-los. Quem apoia golpes são os donos dos jornais, patrões dos jornalistas. Quando dirigiu Veja, por mais liberdade editorial que tivesse (e tinha muita, tanto é que a revista foi censurada várias vezes sob sua batuta, nunca depois), Mino era empregado dos Civita, assim como o colunista da Folha é empregado dos Frias.
Editoriais são a voz do dono. O que está escrito lá é o que o dono pensa. Ainda mais na Veja, onde até os os textos jornalísticos são modificados pelos editores ao sabor do pensamento dos donos, ainda que mantidas as assinaturas dos repórteres (leia aqui sobre minha péssima experiência na revista; estes textos que não escrevi também foram usados contra mim nas redes sociais).
Em minha opinião, dizer que todos aqueles editoriais de Veja correspondiam ao que Mino Carta pensava é uma falsidade, uma mentira. Só alguém que não conhece o funcionamento de uma revista seria capaz de dizê-lo –a não ser que seja alguém sem escrúpulos, disposto a imprimir mácula em quem não tem, talvez porque julgue Mino por si mesmo ou porque sua sede de agradar os donos dos jornais seja maior do que seu caráter. Bajuladores estão mesmo no patamar mais baixo da raça humana.
Dizer que um jornalista tem poder sobre a voz do dono (o editorial) seria o mesmo que dizer que o articulista da Folha é capaz de intervir nas posições editoriais do jornal. Não é. Nem mesmo o diretor de redação da Folha é capaz de modificar um editorial, simplesmente porque o que está ali é a tradução do pensamento do patrão, e o jornalista, não importa quão alto seja seu cargo, nada mais é que um funcionário. Assim como o redator-chefe de CartaCapital não tem nenhum poder de modificar o que o Mino escreve, porque ele –desculpa, Mino, você deve odiar a palavra– é nosso patrão.
Aos 80 anos, Mino Carta é, concorde-se ou não com ele, um dos maiores jornalistas do Brasil. E um dos homens mais coerentes que já conheci. Merece respeito. É perfeitamente legítimo o desprezo de Mino (ou o meu, ou o seu) pela grande mídia, que se incomoda com ele ao ponto de mandar subordinados cutucá-lo, tentando justamente deslegitimá-lo no direito que tem de exercer esta postura anti-donos do poder. Isto sim é incoerência: ao mesmo tempo que se dizem defensores da liberdade de expressão, tentam intimidar uma das poucas vozes dissonantes contra a meia dúzia de famílias que dominam os meios de comunicação em nosso País.
É também perfeitamente legítimo que os proprietários de veículos da chamada “grande” imprensa, desancados por Mino como apoiadores da ditadura que foram, respondam às suas críticas. Mas considero covarde que, em vez de fazê-lo de próprio punho, recorram a garotos de recado.
P.S.: Não falo em nome de Mino Carta. Apesar de estar hospedado no site de CartaCapital, este blog reflete apenas a minha opinião pessoal. Para ler os textos de Mino sobre sua passagem por Veja, clique aqui.
Há mais ou menos um mês, sintomaticamente desde que se rememorou o aniversário de 50 anos do golpe militar de 1964, um preposto da Folha de S.Paulo tem atacado Mino Carta sem tréguas, e Mino tem respondido diretamente a ele em seus editoriais de CartaCapital, o que eu considero um equívoco. Como proprietário de um meio de comunicação, Mino deveria debater com os donos dos veículos que o atacam, e não com subordinados. Valente que é, porém, optou por defender a si próprio.
Até por isso, ele não me deu esta tarefa, mas eu vou tomá-la para mim apenas pelo desejo de demonstrar a desonestidade intelectual de um colunista que se diz intelectual. Não foi só na Folha; o “exquerdista” arrependido fez o mesmo em outros veículos: alugou sua pena para acusar Mino de, como fundador e diretor de redação de Veja nos primórdios, ter apoiado a ditadura militar, com base em trechos pinçados de editoriais da revista que apoiam a ditadura. Como é possível que gente que vocifera contra Stalin por recriar a história a seu bel-prazer tente fazer o mesmo com a reputação de alguém?
Me dirijo principalmente aos leitores que não conhecem a fundo o jornalismo. Entendam uma coisa: jornalistas sozinhos podem até apoiar golpes militares, mas não possuem o poder de levar um veículo a apoiá-los. Quem apoia golpes são os donos dos jornais, patrões dos jornalistas. Quando dirigiu Veja, por mais liberdade editorial que tivesse (e tinha muita, tanto é que a revista foi censurada várias vezes sob sua batuta, nunca depois), Mino era empregado dos Civita, assim como o colunista da Folha é empregado dos Frias.
Editoriais são a voz do dono. O que está escrito lá é o que o dono pensa. Ainda mais na Veja, onde até os os textos jornalísticos são modificados pelos editores ao sabor do pensamento dos donos, ainda que mantidas as assinaturas dos repórteres (leia aqui sobre minha péssima experiência na revista; estes textos que não escrevi também foram usados contra mim nas redes sociais).
Em minha opinião, dizer que todos aqueles editoriais de Veja correspondiam ao que Mino Carta pensava é uma falsidade, uma mentira. Só alguém que não conhece o funcionamento de uma revista seria capaz de dizê-lo –a não ser que seja alguém sem escrúpulos, disposto a imprimir mácula em quem não tem, talvez porque julgue Mino por si mesmo ou porque sua sede de agradar os donos dos jornais seja maior do que seu caráter. Bajuladores estão mesmo no patamar mais baixo da raça humana.
Dizer que um jornalista tem poder sobre a voz do dono (o editorial) seria o mesmo que dizer que o articulista da Folha é capaz de intervir nas posições editoriais do jornal. Não é. Nem mesmo o diretor de redação da Folha é capaz de modificar um editorial, simplesmente porque o que está ali é a tradução do pensamento do patrão, e o jornalista, não importa quão alto seja seu cargo, nada mais é que um funcionário. Assim como o redator-chefe de CartaCapital não tem nenhum poder de modificar o que o Mino escreve, porque ele –desculpa, Mino, você deve odiar a palavra– é nosso patrão.
Aos 80 anos, Mino Carta é, concorde-se ou não com ele, um dos maiores jornalistas do Brasil. E um dos homens mais coerentes que já conheci. Merece respeito. É perfeitamente legítimo o desprezo de Mino (ou o meu, ou o seu) pela grande mídia, que se incomoda com ele ao ponto de mandar subordinados cutucá-lo, tentando justamente deslegitimá-lo no direito que tem de exercer esta postura anti-donos do poder. Isto sim é incoerência: ao mesmo tempo que se dizem defensores da liberdade de expressão, tentam intimidar uma das poucas vozes dissonantes contra a meia dúzia de famílias que dominam os meios de comunicação em nosso País.
É também perfeitamente legítimo que os proprietários de veículos da chamada “grande” imprensa, desancados por Mino como apoiadores da ditadura que foram, respondam às suas críticas. Mas considero covarde que, em vez de fazê-lo de próprio punho, recorram a garotos de recado.
P.S.: Não falo em nome de Mino Carta. Apesar de estar hospedado no site de CartaCapital, este blog reflete apenas a minha opinião pessoal. Para ler os textos de Mino sobre sua passagem por Veja, clique aqui.
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